A experiência como perturbação à prescrição na política curricular
DOI:
https://doi.org/10.18593/r.v46i0.23890Palavras-chave:
Política curricular, Experiência, AlteridadeResumo
O texto compõe-se de reflexões produzidas no âmbito de uma pesquisa realizada em uma escola pública municipal no processo de formação continuada, com a participação de professores dos anos iniciais e finais do ensino fundamental, visando explicitar a não simplicidade de uma suscitada adesão à Base Nacional Comum Curricular pelas escolas. Apoiadas no pensamento de Jacques Derrida, inicialmente apresentamos as noções de différance e tradução como importantes para pensar a educação. Em seguida, as noções de experiência e alteridade nos ajudam a deslocar a perspectiva de investigação com narrativas autobiográficas de uma tradição caracterizada pela linearidade e transparência baseada na evidência para a consideração da experiência como o terreno do impossível, porque feita de alteridade. Uma reconstituição das cenas da formação de professores na escola ocupa a discussão na terceira seção, como parte da empiria da pesquisa com a qual buscamos realçar os excessos atinentes à vida e à educação. Assim, assinalamos que, na educação, não se pode prescindir da experiência, tentando demonstrar como, mesmo quando a prescrição é reiterada como desejável e possível, num jogo que também bloqueia interpretações não restritivas de currículo e condições dignas de trabalho, ela não produz a precisão e a mesmidade requeridas pela BNCC. Defendemos, neste prisma, a irredutibilidade da experiência à prescrição, a perturbá-la como dimensão sem a qual nem a educação existiria, nem necessidade da política haveria.
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