Educação na lógica do Banco Mundial: formação para a Sociabilidade Capitalista
DOI:
https://doi.org/10.18593/r.v44i3.23206Palavras-chave:
Estado, Banco Mundial, Educação, Formação humana, Brasil (2000-2014)Resumo
Este artigo discute o projeto de formação humana presente em publicações do Banco Mundial para a Educação, de modo geral, e para o Brasil, com recorte temporal entre 2000 e 2014. Tais publicações objetivavam produzir consenso acerca de suas propostas político-educacionais e construir uma compreensão falaciosa da realidade objetiva por meio de ampla desqualificação do professor e da escola pública. A narrativa de desqualificação precede recomendações para projetos de Educação que alinham a formação da classe trabalhadora aos moldes flexíveis da sociabilidade capitalista. Na lógica do Banco Mundial a Educação é responsável pelo alívio da pobreza e pelo desenvolvimento econômico, devendo ser pautada pela noção de competências e pela Teoria do Capital Humano revisitada. Desse modo, promoveria uma educação de “classe mundial” para as demandas (do capital) do século XXI. Ademais, elide o real movimento econômico no século XXI, compreendido no conceito de capital-imperialismo, em que a dominação interna do capital necessita e se complementa por sua expansão externa, incidindo diretamente na relação capital-trabalho. Com a intenção de legitimar a barbárie do projeto educativo do capital, uma grande ofensiva ideológica foi colocada em curso a fim de sustentar o modo de organização política e econômica e sua necessária sociabilidade.
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