Entrada em campo, Etnografia e Educação: desafios éticos e metodológicos
DOI:
https://doi.org/10.18593/r.v49.34822Palavras-chave:
Etnografia, Antropologia e Educação, Ética em Pesquisa, Métodos Qualitativos, Trabalho de CampoResumo
A etnografia em educação tem sido longamente debatida por pesquisadores, tanto por aqueles mais vinculados estritamente às ciências sociais e à antropologia em particular, quanto por aqueles vinculados estritamente ao campo educacional. Apesar de sua popularização, bem como das abordagens qualitativas de modo geral, é pouco recorrente a discussão em profundidade acerca das diferentes etapas da pesquisa etnográfica, bem como de seus dilemas éticos. Este artigo tem como objetivo trazer o debate sobre ética na pesquisa etnográfica em educação no processo de trabalho de campo, compreendendo que as questões éticas devem nortear toda a reflexão da pesquisa, mas que se tornam ainda mais agudas em campo, quando estamos aprendendo com o outro, produzindo conhecimento com nossos sujeitos de pesquisa. Compreendo que a etnografia possui uma singularidade em relação à sua forma de produção de conhecimento, que envolve o estar com o outro, o que nos coloca diante de distintos debates éticos, como, por exemplo: o que fazer com as conversas informais? Trata-se de um ensaio reflexivo voltado principalmente para as pessoas que estão dando seus primeiros passos na pesquisa etnográfica em educação. Pode-se concluir a partir das reflexões desenvolvidas que o principal desafio ético à pesquisa etnográfica em educação reside na indissociabilidade entre sujeito e objeto, e na centralidade que as relações sociais para esse tipo de pesquisa, indo para além dos formulários demandados pelos comitês de ética em pesquisa.
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