Currículo de Ciências: a alquimia das disciplinas escolares e a produção da autonomia docente
DOI:
https://doi.org/10.18593/r.v46i.23827Palavras-chave:
Currículo, Disciplina escolar, Ciências, Formação de professores, Alquimia das disciplinas escolares, Autonomia docenteResumo
O trabalho investiga a produção do currículo da disciplina escolar Ciências em uma escola municipal que recebe licenciandos de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro para as atividades de estágio supervisionado. Focaliza, especialmente, o modo como licenciandos se constituem professores em meio à experiência de produzir esse currículo. Para realizar essa tarefa, associamos as nossas observações durante o estágio supervisionado com a realização de uma roda de conversa com os licenciandos que atuaram, durante o ano de 2019, em uma instituição escolar específica. No diálogo com Michel Foucault e Thomas Popkewitz, investimos na ideia de que os processos alquímicos que transformam as ciências de referência em conhecimentos escolares também produzem, simultaneamente, os professores bons e adequados (assim como os não tão bons e pouco adequados) para ensiná-los. Na análise, percebemos o quanto a noção de autonomia docente foi assumida como central no processo formativo, em um movimento que articulou a construção curricular em torno dos conhecimentos, materiais didáticos e avaliações. Aspectos como o uso de atividades práticas e a criatividade foram enunciados como participando da constituição desse bom professor, capaz de ressignificar a escola pública e seus sujeitos e de subverter os modos de regulação e controle impostos pelas políticas centralizadas. No processo formativo, além dos conhecimentos científicos, os enunciados de cunho pedagógico foram assumidos como bastante significativos na constituição de um profissional capaz de fugir à norma, participando da construção do currículo de forma ativa, criativa e autônoma.
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