Proteção da personalidade no ambiente digital: uma análise à luz do caso do assim chamado Direito ao Esquecimento no Brasil

Autores

  • Ingo Wolfgang Sarlet

DOI:

https://doi.org/10.18593/ejjl.v19i2.17557

Palavras-chave:

Direitos de personalidade, Internet, Direito ao esquecimento, Tribunais superiores brasileiros

Resumo

Tendo em conta que os direitos da personalidade são particularmente vulneráveis no contexto da assim chamada era digital, designadamente em face do impacto das cada vez mais sofisticadas tecnologias de informação, e que a capacidade do Direito, na condição de estrutura normativo-regulatória, de fornecer respostas com a necessária rapidez e um mínimo de eficácia, também está cada vez mais colocada à prova. Um dos problemas que tem sido, também no caso brasileiro, de particular atualidade e relevância, diz respeito ao conflito entre as liberdades de expressão e de informação e os direitos de personalidade, assumindo aqui destaque a controvérsia em torno do reconhecimento do assim chamado direito ao esquecimento. Nessa perspectiva, partindo da premissa de que tal direito encontra fundamento na ordem jurídica brasileira na condição de um direito fundamental implícito, com o presente texto visa-se, mediante uma análise crítica das principais decisões dos Tribunais Superiores brasileiros, discutir e avaliar os aspectos mais relevantes concernentes ao conteúdo e limites do direito ao esquecimento na internet e dos critérios utilizados para a sua aplicação em casos concretos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ingo Wolfgang Sarlet

Doutor em Direito pela Ludwig Maximillians Universität de Munique, Alemanha. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito - Mestrado e Doutorado. Professor Titular da Faculdade de Direito e dos Programas de Mestrado e Doutorado em Direito e em Ciências Criminais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Coordenador do GEDF (Grupo de Estudos e Pesquisas em Direitos Fundamentais - CNPq). Desembargador do TJRS.

Referências

ALBERS, Marion; SCHIMKE, Anna. Vergessen im Internet. 2018.

ANDRADE, Fábio Siebeneichler de. Considerações sobre a tutela dos direitos da personalidade no Código Civil de 2002. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Coord.). O novo Código Civil e a Constituição. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006.

BARROSO, Luís Roberto. Liberdade de expressão versus direitos de personalidade. Colisão de direitos fundamentais e critérios de ponderação. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Coord.). Direitos fundamentais, informática e comunicação: algumas aproximações. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.

BOTELHO, Catarina Santos. Novo ou velho direito? – O direito ao esquecimento e o princípio da proporcionalidade no constitucionalismo global. Ab Instantia, a. V, n. 7, 2017.

BRANCO, Sérgio. Memória e esquecimento na internet. Porto Alegre: Arquipélago, 2007.

BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 abr. 2014.

BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, 16 jul. 1990.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1334097/RJ. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão. Órgão Julgador: Quarta Turma. Julgamento em 28 maio 2013. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=chacina+da+candelaria&b=ACOR&p=true&l=10&i=1>. Acesso em: 05 fev. 2018.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp. 1407271/SP. Relator: Ministra Nancy Andrighi. Órgão Julgador: Terceira Turma. Julgamento em 29 nov. 2013. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=resp+1407271&b=ACOR&p=true&t=JURIDICO&l=10&i=4>. Acesso em: 05 fev. 2018.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp. 1593873/SP. Relator: Ministra Nancy Andrighi. Julgamento em 10 nov. 2016. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=resp+1593873&&tipo_visualizacao=RESUMO&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true>. Acesso em: 06 fev. 2018.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp. 1642560/SP. Relator: Ministro Marco Aurélio Belizze. Julgamento em 12 set. 17. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=resp+1642560&&tipo_visualizacao=RESUMO&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true>. Acesso em: 05 fev. 2018.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC nº 82424. Relator: Ministro Moreira Alves. Relator p/ Acórdão: Ministro Maurício Corrêa. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Julgamento em 17 set. 2003. Disponível em: <http://stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=82424&classe=HC&codigoClasse=0&origem=JUR&recurso=0&tipoJulgamento=M>. Acesso em: 05 fev. 2018.

BUCHHOLZ, Gabriele. Das “Recht auf Vergessen im Internet – Eine Herausforderung für den demokratischen Rechtstaat”. Archiv des öffentlichen Rechts (AÖR), Tübingen: Mohr-Siebeck, v. 140, 2015.

CACHAPUZ, Maria Cláudia Mércio; CARELLO, Clarissa Pereira. O Direito ao Esquecimento no âmbito das relações entre particulares. In: SANTOS, Ricardo Soares Stersi dos; FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser; VILAS BOAS, Daniel Rivorêdo (Coord.). Direito Privado, Formas de Resolução de Controvérsias e Direitos Fundamentais. Florianópolis: CONPEDI, 2015.

CARELLO, Clarissa Pereira. Direito ao Esquecimento. Parâmetros Jurisprudenciais. Portão: Prismas, 2018.

CARO, Maria Álvares. Derecho al Olvido en Internet: el nuevo paradigma de la privacidad en la era digital. Madrid: Editorial Reus, 2015.

CONSALTER, Zilda Mara. Direito ao Esquecimento. Proteção da intimidade e ambiente virtual. Curitiba: Juruá, 2017.

DECHENAUD, David. Le droit à l’oubli numérique: donnés normatives – approche comparée. Bruxelles: Éditions Larcier, 2015.

DIESTERHÖFT, M. Das Recht auf medialen Neubeginn: Die »Unfähigkeit des Internets zu vergessen« als Herausforderung für das allgemeine Persönlichkeitsrecht. Beiträge zum Informationsrecht. Freiburg: Duncker & Humblot, 2014. v. 33.

ESPOSITO, Elena. Algorithmic memory and the right to be forgotten on the web. Big Data & Society, n. 2, p. 1-11, jan./fev. 2017. doi: 10.1177/2053951717703996

FERREIRA NETO, Arthur M. Direito ao Esquecimento na Alemanha e no Brasil. In: MARQUES, Claudia Lima; BENICKE, C Christoph; JAEGER JUNIOR, Augusto. (Coord.). Diálogo entre o Direito Brasileiro e o Direito Alemão. Fundamentos, métodos e desafios de ensino, pesquisa e extensão em tempos de cooperação internacional. Porto Alegre: RJR, 2016.

GONÇALVES, Luciana Helena. O direito ao esquecimento na era digital: desafios da regulação de desvinculação de URLs prejudiciais a pessoas naturais nos índices de pesquisa dos buscadores horizontais. Dissertação (Mestrado em Direito e Desenvolvimento)–Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2016. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/16525>. Acesso em: 06 fev. 2018.

HASSLER, Théo. Droits de la personnalité: rediffusion et droit à l’oubli. Recueil Dalloz, n. 40, p. 2829-2832, 2007.

HEYLLIARD, Charlotte. Le droit à l’oubli sur Internet. Mémoire de Master 2 recherche, Universite Paris-Sud, Faculté Jean Monnet – Droit, Économie, Gestion, 04 dez. 2012. Disponível em: . Acesso em 14 fev. 2018.

HOFFMANN-RIEM, Wolfgang. Regulierte Selbstregulierung im digitalen Kontext. In:FEHLING, Michael; SCHLIESKY, Utz. (Ed.). Neue Macht- und Verantwortungsstrukturen in der digitalen Welt. Baden-Baden: Nomos, 2016. p. 27-51. Disponível em: . Acesso em 14 fev. 2018.

HOFFMANN-RIEM, Wolfgang; LADEUR, Karl-Heinz; TRUTE, Hans-Heinrich (Coord.). Innovationsoffenne Regulierung des Internets. Baden-Baden: Nomos, 2003.

HOFMANN-RIEM, Wolfgang. Reclaim Autonomy: Die Macht digitaler Konzerne. In: AUGSTEIN, Jakob (Ed.). Reclaim Autonomy. Selbstermächtigung in der digitalen Weltordnung. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2017.

HOLZNAGEL, Bernd; HARTMANN Sarah. Das ‘Recht auf Vergessenwerden’ als Reaktion auf ein grenzenloses Internet – Entgrenzung der Kommunikation und Gegenbewegung. MMR, 2016.

KELLY, Michael J.; SATOLA, David. The Right to be Forgotten. Law Review, University of Illinois, n. 1, p. 1-65, 2017.

LEPAGE, Agathe. Droit á L’oubli: une jurisprudence tâtonnante. Recuiel Dalloz, 2001.

MALDONADO, Viviane Nóbrega. Direito ao Esquecimento. São Paulo: Novo Século, 2017.

MARTINELLI, Silvia. Diritto all’oblio e motori di ricerca. Milano: Giuffré, 2017.

MARTINEZ, Pablo Dominguez. Direito ao Esquecimento: A Proteção da Memória Individual na Sociedade da Informação. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014.

MAYER-SCHÖNBERGER, Viktor. Delete. The Virtue of Forgetting in the Internet. 2. ed. Princeton: Princeton University Press, 2011.

MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à pessoa humana. Uma leitura civil-constitucional dos danos morais. 2. ed. Rio de Janeiro: Processo, 2003.

NOLTE, Norbert. Das Recht auf Vergessenwerden – mehr als nur ein Hype? NJW, n. 31, p. 2238-2242, 2014.

RODOTÀ, Stefano. Il Mondo nella rete. Quali i diritti, quali i vincoli. Roma: Editori Laterza, 2014.

RODRIGUES JUNIOR, Otávio Luiz. Brasil debate o direito ao esquecimento desde 1990. CONJUR – Consultor Jurídico, 27 nov. 2013. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2013-nov-27>. Acesso em: 06 fev. 2018.

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos Direitos Fundamentais. Uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 12. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015.

SARLET, Ingo Wolfgang. Direitos Fundamentais em Espécie. In: SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luis Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.

SARLET, Ingo Wolfgang. Vale a pena relembrar o que estamos fazendo com o direito ao esquecimento. Revista Consultor Jurídico – CONJUR, 26 jan. 2018. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2018-jan-26/direitos-fundamentais-vale-pena-relembrar-fizemos-direito-esquecimento>. Acesso em: 06 fev. 2018.

SARMENTO, Daniel. Liberdades Comunicativas e “Direito ao Esquecimento” na ordem constitucional brasileira, parecer consultivo. Revista Brasileira de Direito Civil, v. 7, p. 190-232, jan./mar. 2016. Disponível em: <https://rbdcivil.ibdcivil.org.br/rbdc/article/view/76/70>. Acesso em: 06 fev. 2018.

SCHLIESKY, Utz. Schutzpflichten und Drittwirkung im Internet. Das Grundgesetz im digitalen Zeitalter. Baden-Baden: Nomos, 2014.

SCHREIBER, Anderson. As três correntes do direito ao esquecimento. JOTA, 18 jun. 2017a. Disponível em: <https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/as-tres-correntes-do-direito-ao-esquecimento-18062017>. Acesso em: 05 fev. 2018.

SCHREIBER, Anderson. Direito ao esquecimento: críticas e respostas. Jornal Carta Forense, 04 set. 2017b. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/direito-ao-esquecimento-criticas-e-respostas/17830 >. Acesso em: 05 fev. 2018.

SCHREIBER, Anderson. Direitos da Personalidade. 3. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2014.

SOLOVE, Daniel. Speech, Privacy and reputation on the internet. In: NUSSBAUM, Martha; LEVMORE, Saul (Coord.). The Offensive Internet: Speech, Privacy and Reputation. Cambridge: Harvard University Press, 2011.

STEHMEIER, Marinus; SCHIMKE, Anna. Internet-Suchmaschinen und Datenschutz. Zugleich eine Besprechung von EUGH C-131/12 Google Spain und Google. UFITA. Archiv für Uhrheber-und Medienrecht. Sonderdruck aus Band 2014/III, Bern: Stämpfli Verlag AG, 2014.

TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.

UNESCO. Online Privacy and Freedom of Expression. IDPC – The International Programme for the Development of Communication. Paris, nov. 2014. Disponível em: <https://unesdoc.unesco.org/images/0022/002301/23017E.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2018.

UNIÃO EUROPEIA. Parlamento Europeu e Conselho. Regulamento (UE) 2016/679 do Parlamento Europeu e do Conselho de 27 de abril de 2016, relativo à proteção das pessoas singulares no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais e à livre circulação desses dados e que revoga a Diretiva 95/46/CE (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados). Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/eli/reg/2016/679/oj>. Acesso em: 06 fev. 2018.

WEISMANTEL, Jan. Das “Recht auf Vergessenwerden” im Internet nach dem “Google-Urteil” des EuGH – Begleitung eines offenen Prozesses. Berlin: Duncker & Humblot, 2017.

Downloads

Publicado

16-08-2018

Como Citar

Sarlet, I. W. (2018). Proteção da personalidade no ambiente digital: uma análise à luz do caso do assim chamado Direito ao Esquecimento no Brasil. Espaço Jurídico Journal of Law [EJJL], 19(2), 491–530. https://doi.org/10.18593/ejjl.v19i2.17557

Edição

Seção

Direitos Fundamentais Civis