ESTUDO DOUTORAL: O COTIDIANO DE APOSENTADOS NOS ESPAÇOS URBANOS DA CIDADE DE FLORIANÓPOLIS
Resumo
A vivência da aposentadoria pode ser acompanhada de transformações identitárias e no cotidiano dos sujeitos, entre elas mudanças no habitar. No presente trabalho apresentam-se os resultados de estudo doutoral do ano 2015, em que se objetivou compreender as relações estabelecidas por pessoas aposentadas, em seus cotidianos, nos espaços urbanos da Cidade de Florianópolis. Tendo como aporte teórico o pensamento marxista de Henri Lefèbvre, empregou-se o método regressivo-progressivo, proposto pelo referido autor, em três momentos: a descrição do visível, a análise regressiva-progressiva e a progressão histórico-genética. No primeiro momento, por meio de análise documental e observação de campo, compreendeu-se que os espaços urbanos de Florianópolis passaram por significativas transformações, especialmente nas últimas três décadas, alterando-se os modos de vida e o cotidiano de seus moradores. Verificou-se que as pessoas aposentadas, muitas vezes, compõem o cenário urbano em lugares demarcados, sintoma de segregação associado ao modelo capitalista de produção. No segundo momento, por meio de entrevistas e elaboração de registros fotográficos, identificou-se que o trabalho se constituía como central no estabelecimento das relações cotidianas nos espaços urbanos e, após a aposentadoria, há dificuldades de participação na Cidade. Na progressão histórico-genética, percebeu-se que, aposentados e agora “libertos” de suas obrigações e dos horários, “de posse de suas vidas”, os interlocutores experimentaram-se “sem lugar” e “inativos” na construção de seu habitar, passando a buscar um pertencimento inacessível. Desse modo, as estratégias do cotidiano na aposentadoria caracterizam-se pelo isolamento, pelo presente vivido por meio das lembranças do passado, pelos rompimentos com a noção do espaço-tempo e por projetos de vida irrealizáveis no contexto urbano florianopolitano. Compreendeu-se, por fim, que os espaços vinculados ao trabalho conferem aos sujeitos uma “identidade urbana”, e que a aposentadoria pode significar rupturas e descontinuidades dessa identidade, corroborando a ausência de lugares sociais e do próprio cotidiano.
Palavras-chave: Aposentadoria. Cotidiano. Espaços urbanos. Cidade.