INFLUÊNCIA DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DO COLOSTRO NOS CASOS DE DIARREIA NEONATAL EM BEZERRAS E CARACTERIZAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE Escherichia coli FRENTE AOS ANTIMICROBIANOS

Resumo

Introdução

O colostro é fundamental para a transferência de imunidade passiva aos neonatos, e sua qualidade pode ser influenciada por fatores intrínsecos à vaca e ao manejo de colostragem. A diarreia neonatal, comum nas primeiras quatro semanas de vida, é frequentemente tratada com antimicrobianos; contudo, o uso indiscriminado desses fármacos leva ao surgimento de cepas bacterianas resistentes, comprometendo a eficácia dos tratamentos.

Objetivo

Caracterizar a resistência de cepas de Escherichia coli frente a antimicrobianos, além de avaliar a influência da qualidade microbiológica do colostro na ocorrência de diarreia em bezerras.

Métodos

Foram coletadas 118 amostras de colostro de vacas e 115 de fezes de bezerras. As amostras de colostro foram obtidas em três etapas do processo de aleitamento, antes do fornecimento ao neonato. Realizaram-se análises de Brix por refratômetro e contagem bacteriana total (CBT) pelo método de plaqueamento em profundidade. As amostras de fezes foram coletadas da ampola retal e, no laboratório, inoculadas em Ágar Sangue ovino 5%, Ágar MacConkey e Ágar Eosina Azul de Metileno, incubando-se a 37°C por 48 horas. A identificação de Escherichia coli baseou-se em características morfo-tintoriais, e o teste de suscetibilidade antimicrobiana foi realizado por disco difusão em ágar, com os seguintes antimicrobianos: ácido nalidíxico, amoxicilina, ampicilina, azitromicina, cefalexina, ceftiofur, colistina, enrofloxacina, gentamicina, marbofloxacina, neomicina, norfloxacina, sulfazotrim e tetraciclina. Classificaram-se os isolados como sensíveis ou resistentes, sendo calculado o índice de resistência múltipla aos antimicrobianos (IRMA). CEUA Nº 15/2023.

Resultados

Na avaliação de Brix, 69,49% das amostras apresentaram valores ≥ 22%, indicando boa qualidade do colostro e adequada concentração de IgG. Contudo, 72,88% das amostras tiveram CBT ≥ 100.000 UFC/mL, com média de 3.966.666 UFC/mL, indicando baixa qualidade microbiológica e risco de diarreia neonatal. Registraram-se 23 casos de diarreia, dos quais 65,21% dos animais haviam recebido colostro com CBT alta. Apenas 26,08% dos casos em que observou-se diarreia apresentaram Brix < 22%. E. coli foi detectada nas fezes de 52,17% das bezerras com diarreia e o IRMA dos isolados de fezes variou de 0,14 à 0,86. Ainda, constatou-se multirresistência em 91% dos isolados de E. coli de fezes e colostro.

Conclusão

A qualidade do colostro é essencial e está associada à ocorrência de diarreias, pois a maioria das amostras de colostro de bezerras com diarreia apresentou alta CBT, sendo fundamental o correto manejo de colostragem. A alta resistência observada em E. coli ressalta a importância da adoção de práticas que minimizem a resistência antimicrobiana e os riscos à saúde humana.