INSEGURANÇA ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL DE ESCOLARES DURANTE A PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS (COVID-19)
Resumo
Introdução: As mudanças sociocomportamentais vivenciadas no cenário
pandêmico afastaram 1,5 bilhões de crianças das escolas segundo a Organização
Mundial da Saúde. Neste contexto, as alterações educacionais influenciaram de
forma direta a rotina e hábito dos escolares, gerando possíveis impactos na
alimentação e nutrição dos mesmos. Objetivo: Avaliar a insegurança alimentar e o
estado nutricional de crianças e adolescentes das escolas municipais de ensino
infantil e fundamental na cidade de Joaçaba, Santa Catarina (SC) durante a
pandemia do COVID-19. Método: O presente estudo foi delineado de forma
transversal, analisando seis escolas municipais da cidade supracitada no período de
julho de 2021à março de 2022. A coleta de dados foi realizada através de
questionário sobre hábitos de vida e marcadores de saúde enviados aos
responsáveis de cada escolar, além de medidas antropométricas aferidas aos
estudantes em ambiente escolar. A insegurança alimentar (IA) foi caracterizada de
acordo com a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – EBIA, que consiste em 14
perguntas sobre restrição alimentar devido às limitações econômicas nos últimos três
meses, gerando uma classificação de insegurança alimentar leve a grave. O projeto
foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Unoesc (parecer n° 9.941290).
Resultados: A amostra do estudo contabilizou 425 estudantes. Pouco mais da metade
eram do sexo feminino (51,5%), 29,9% tinham entre 6 a 8 anos, e 32,5% eram
préescolares. Cerca de 39,4% apresentou alguma forma de insegurança alimentar,
sendo 34,4% IA leve, 3.3% IA moderada e 1,7% IA grave. O menor número de
moradores no domicílio, renda familiar mensal inferior a 1,5 salários mínimos e a
presença de familiar desempregado no último ano aumentaram o risco de
insegurança alimentar leve (p<0,05). Em relação à IA moderada ou grave, esta
esteve associada à menor escolaridade do responsável (até 8 anos), à cor da pele
do responsável parda ou preta, ao menor número de moradores no domicílio, à
renda de até 1,5 salários mínimos, à presença de familiar desempregado no último,
ao tempo sem ir à escola superior a13 meses, e à piora de algum problema de saúde
do escolar (p<0,05). Destaca-se que entre os escolares de 4 a 5 anos, a prevalência de magreza foi de 4,7%, enquanto que o risco de sobrepeso foi de 23,6%, e a 11,3%
a prevalência de sobrepeso/obesidade. Entre os escolares com 6 anos ou mais, a
prevalência de magreza foi de 2,9%, o sobre peso 18,2%, enquanto a obesidade
alcançou 22,0%. O risco de IA leve não diferiu muito entre os grupos do estado
nutricional, contudo, a risco de IA moderada/grave foi substancialmente maior entre
os escolares com magreza (RP=3,59), sendo ainda maior entre aqueles obesos
(RP=8,51). Conclusão: Quatro em cada dez crianças apresentaram algum nível de
insegurança alimentar durante a pandemia. Isso foi ainda mais evidente quando o
nível socioeconômico das famílias foi desfavorável. Ademais, a obesidade infantil e
a magreza foram bastante prevalentes na amostra. A implementação de leis com
assessoria às escolas e famílias com educação básica nutricional, seria um grande
avanço, principalmente considerando tempos adversos.