ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO À BARBÁRIE NO AMBIENTE ESCOLAR
Resumo
Este trabalho buscou uma maior compreensão acerca do fenômeno da “barbárie”, tal como o entendiam os teóricos da Escola de Frankfurt, e também certa tradição psicologista que vem desde Freud. Tal ampliação, por nós ajustada, estendeu-se para os confins da política e pôde averiguar que, em um cenário de radicalização neoliberal, dessindicalização, encilhamento de políticas sociais e garantias trabalhistas, além de ataques sistemáticos ao funcionalismo público e uma pauta predatória a ideologias ditas subordinadas à dominante, a barbárie deixa de ser um acontecimento factício e antinatural para tornar-se deliberado e premeditado. A finalidade do estudo foi entender o mal-estar moderno e os grandes acontecimentos (chacinas, massacres, violência política) como desordens iatrogênicas produzidas por políticas estatais de cunho liberal-fascista, que ignoram as diferenças, dessarte naturais, ao custo de vidas humanas estatística e geograficamente localizadas, tudo às expensas da produção de subjetividades capitalistas. Nesse sentido, buscou-se contrapor às necropolíticas fascistas a literatura, entendida como produtora de diferenças e vazante do pensamento crítico e humanitário. A metodologia utilizada foi extensa pesquisa bibliográfica, em livros de filosofia, antropologia e ciências sociais. Acompanhou-se as intervenções no município de Saudades, palco da chacina ocorrida no dia 4 de maio de 2021 para problematizar o conceito de barbárie, entendendo por sinônimo de “neoliberalismo” mudanças agudas na gramática psicoafetiva dos sujeitos, levando-os à condução da possibilidade de exercício de práticas primitivas e violentas. Observou-se que o Estado brasileiro (e por Estado entenda-se um promotor de políticas públicas e dispositivo supramoral de garantia da cidadania) age através de uma lei pós-inscritiva, através da qual as barbáries tornam-se não só positivas como lucrativas, isso pela óptica de que o capitalismo regala-se de crises para se sustentar, e que antes de só superá-las, é necessário produzi-las. Por aí que, para o Estado burguês, estatísticas negativas entre parcelas discriminadas da população são sempre vistas como positivas, pois reforçam um poder institucionalizado. Assim, prevenção e assistência são colocadas em segundo plano e são induzidos, por sua vez, estados de anomia social, donde os conflitos, guerras, chacinas e extermínios em escolas, favelas, periferias e frente à ação de milícias organizadas, por vezes pelo próprio Estado, segue os interesses disso que a literatura trata por “neoliberalismo”, e que faz frente ao déroulement de acontecimentos bárbaros, dos quais o Estado se retrai e atua sempre tarde demais. Assim, o neoliberalismo leva o sujeito neoliberal a desejar a barbárie — sob as condições de que se falou —, fazer as vezes do opressor para fins de um desejo metonímico localizado numa agenda mercadológica e subjetiva da qual a prevenção e o cuidado são imprevistos de fazer parte. O caso de Saudades, Santa Catarina, é, talvez, equivocado, mas não deixa de ser curioso pela silvícola e primitiva parecença com o que Adorno e Horkheimer chamam de “fascismo” na perspectiva do Estado, o puro exercício de violência se desenvolvendo, não sem surpresa, sob crises cíclicas do capital.