O DESAFIO DIAGNÓSTICO DA OTOSSÍFILIS: RELATO DE CASO
Resumen
A Otossífilis é uma complicação rara da infecção crônica pelo espiroqueta Treponema pallidum. O diagnóstico e o tratamento apresentam dificuldades e existem divergências na literatura. O objetivo neste trabalho foi expor um relato de caso e discutir essas particularidades por meio de prontuário médico e revisão de literatura. A paciente, do sexo feminino, 63 anos, procurou atendimento neurológico com quadros episódicos de vertigem há cerca de um ano. Em uso de prótese auditiva no ouvido direito há quatro anos em razão de hipoacusia e acufenos, com 15 anos de evolução. O exame otoneurológico demonstrou a presença de lesão neurossensorial unilateral à direita, de grau moderado, acompanhada de ausência de reflexos estapedianos ipsi e contralaterais, além de índices percentuais de reconhecimento de fala muito baixos e alterações vestibulares centrais no exame de vectoeletronistagmografia (prova optocinética assimétrica). Os exames sorológicos revelaram Anticorpos Totais Anti Treponema positivos e FTA-ABS reagente. A paciente relatou ser casada há 38 anos e que, um ano após o casamento, cursou com DST, contudo, não se recorda do diagnóstico e do tratamento na época. Passou a apresentar lesões cutâneas próximas à virilha, também sem diagnóstico específico na época. Solicitou-se, então, exame do líquor (citologia quantitativa e qualitativa e bioquímica, todos sem anormalidades, e pesquisa de VDRL e FTA-Abs negativos), bem como a tomografia e a ressonância magnética de crânio e ouvido interno, que não apresentaram alterações. Em discussão conjunta com o infectologista e o otorrinolaringologista, a paciente foi diagnosticada com sífilis latente tardia e tratada com Penicilina Benzatina 2.400.000 UI por semana, durante três semanas. O marido foi encaminhado ao urologista; visto que sua sorologia era também positiva para Lues, recebeu o mesmo esquema terapêutico. O diagnóstico da otossífilis depende de alto nível de suspeição e da correta solicitação e interpretação de exames sorológicos (BARROS et al., 2005). Ainda assim o diagnóstico costuma ser presuntivo (YIMTAE et al., 2007; CHOTMONGKOL et al., 2012) e pode ocorrer em qualquer fase da doença. Apesar de divergências na literatura, normalmente quando o líquor é normal, a doença não é classificada como sífilis terciária, e o tratamento pode ser feito com Penicilina Benzatina. Quando o líquor é anormal, o tratamento é feito com penicilina cristalina e corticoesteróides (DARMSTADT; HARRIS, 1989). A otossífilis deve ser sempre incluída como hipótese diagnóstica em pacientes com sinais de disfunção vestíbulo-coclear (hipoacusia, tinnitus, vertigem) sem causa aparente e testes sorológicos positivos para sífilis.
Palavras-chave: Sífilis. Otossifilis. Hipoacusia neurosensorial.
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Citas
BARROS, A. M. et al. Neurossífilis: Revisão clínica e laboratorial. Arquivos de Medicina, v. 19, p. 121-129, 2005. ISSN 0871-3413. Disponível em: < http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-34132005000200005&nrm=iso >. Acesso em 07/09/2016.
CHOTMONGKOL, V. et al. Doxycycline treatment of otosyphilis with hearing loss. Sex Transm Infect, v. 88, n. 3, p. 177-8, Apr 2012. ISSN 1368-4973. Disponível: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22287531>. Acesso em: 07/09/2016.
DARMSTADT, G. L.; HARRIS, J. P. Luetic hearing loss: clinical presentation, diagnosis, and treatment. Am J Otolaryngol, v. 10, n. 6, p. 410-21, Nov-Dec 1989. ISSN 0196-0709 (Print) 0196-0709. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2688445>. Acesso em 07/09/2016.
YIMTAE, K.; SRIROMPOTONG, S.; LERTSUKPRASERT, K. Otosyphilis: a review of 85 cases. Otolaryngol Head Neck Surg, v. 136, n. 1, p. 67-71, Jan 2007. ISSN 0194-5998 (Print) 0194-5998. Disponível em:< http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17210336>. Acesso em: 07/09/2016.