SINAL DE LÁZARO – UM MOVIMENTO NO PACIENTE COM MORTE ENCEFÁLICA
Resumen
A morte encefálica representa o estado clínico irreversível em que as funções cerebrais (telencéfalo e diencéfalo) e do tronco encefálico estão irremediavelmente comprometidas. Baseia-se na presença concomitante de coma sem resposta ao estímulo externo, inexistência de reflexos do tronco encefálico e apneia (MORATO, 2009). No Brasil a morte encefálica é confirmada somente se houver irresponsividade aos sinais clínicos e ausência de atividade elétrica cerebral ou ausência de atividade metabólica cerebral ou ausência de perfusão sanguínea cerebral (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 1997). Mesmo com a positividade de todos os testes, uma série de movimentos involuntários foram relatados, incluindo o Sinal de Lázaro (HAN et al., 2006). O objetivo com este estudo foi descrever os aspectos históricos, fisiopatológicos e epidemiológicos de pacientes com morte cerebral que apresentam o Sinal de Lázaro. Realizou-se pesquisa na literatura e em artigos científicos previamente publicados nos sites PubMed e Scielo. O Sinal de Lázaro foi descrito e nomeado por Ropper em 1984 em seu estudo com cinco pacientes. Em quatro deles o reflexo surgiu após a interrupção da ventilação mecânica e em um, durante o teste de apneia (MORATO et al., 2009). Esse sinal é caracterizado por flexão bilateral de membros superiores, adução dos braços, elevação dos membros superiores e entrecruzamento das mãos. O Sinal de Lázaro representa a exacerbação e a autonomia dos reflexos espinhais sem o controle suprassegmentar, e costuma ser dramático para o observador. No entanto, não se pode deixar que isso interfira no resultado do diagnóstico de morte encefálica (CHAVES; FINKELSZTEJN; STEFANI, 2008, p. 505). Esses movimentos foram observados principalmente dentro das primeiras 24 horas após a declaração de morte encefálica (JAIN; SAMAY; DEGEORGIA, 2005). Foi realizada uma pesquisa na Central de Transplantes de Órgãos no Centro Médico Samsung, Seoul, Coreia do Sul, na qual se observaram inúmeros movimentos involuntários, entre eles o Sinal de Lázaro, em cinco pacientes dos 26 diagnósticados com morte encefálica (HAN et al., 2006). Há muitas teorias referentes às causas desse movimento no paciente com morte cerebral; no entanto o real mecanismo ainda continua obscuro. Uma explicação proposta foi a atividade neuronal medular cervical ser induzida por hipercapnia durante o teste de hipóxia (componente do teste neurológico), ou, ainda, foi levantada a hipótese de que a mecânica de compressão/descompressão da raiz espinhal ou medula espinhal cervical por flexão do pescoço/extensão pode gerar movimento (JAIN; SAMAY; DEGEORGIA, 2005). A frequência dos movimentos reflexos da coluna vertebral não é rara, e o entendimento desses movimentos pode prevenir atrasos no diagnóstico e erroneas interpretações do paciente com morte cerebral (HAN et al., 2006). Ou seja, movimentos complexos reflexos, como o Sinal de Lázaro, não inviabilizam o diagnóstico da morte encefálica, é importante estimular a promoção desse conhecimento entre os diversos profissionais atuantes no diagnóstico de morte encefálica a fim de evitar equívocos (MORATO et al., 2009). Diante do exposto, é sensato difundir o conhecimento sobre as características e circunstâncias que levam o cadáver a esboçar tais movimentos involuntários, a fim de evitar erros no diagnóstico do paciente com morte cerebral e, ainda, fornecer a base teórica para o profissional explicar para a família que o movimento do paciente, nesse caso, não tem relação alguma com o verdadeiro quadro de óbito.
Palavras-chave: Reflexo. Morte encefálica. Unidade de terapia intensiva. Neurocirurgia.