Precariedade dos presídios brasileiros e incidência de candidíase em mulheres reclusas
Abstract
Introdução: Candida albicans é um fungo oportunista e componente da microbiota normal das membranas das mucosas do trato genital feminino. Em indivíduos imunocompetentes não provoca doença, mas pode fazê-lo naqueles com deficiência defensiva. As infecções causadas por esses microrganismos são mais frequentes em pacientes com péssimas condições sanitárias, com ausência de higienização e vida sexual ativa. Objetivo: Descrever a incidência de candidíase em mulheres privadas de liberdade e as condições sanitárias dos presídios brasileiros. Metodologia: Foi realizada revisão bibliográfica nas bases de dados Scielo, PubMed e Google Acadêmico a partir dos descritores “candidíase” ou “Candida albicans” ou “candidíase vulvovaginal” e “prisões” ou “prisioneiras”, publicados no período de 2007 a 2016. Resultados: De acordo com Queiroz (2015), na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre (RS), as detentas recebem no máximo 16 unidades de absorventes por mês e, para conter um fluxo menstrual mais intenso, optam por utilizar miolo de pão como absorvente íntimo. O Centro de Reintegração e Inclusão Social de Mulheres Apenadas, na Cidade de São Luís (MA), após aplicação de questionário e coleta de material cérvico-uterino de 38 mulheres, constatou que 24 apresentaram positividade para a presença de Candida sp. e Thichomonas vaginallis (D’EÇA et al., 2011). Evidenciam-se péssimas condições de higiene no ambiente em que essas pessoas são mantidas. Varella (2017), ao estudar uma amostra de 2.000 detentas abrigadas na Penitenciária Feminina da Capital de São Paulo, por meio do retrato da rotina dessas mulheres e consultas ginecológicas, comprovou que a candidíase aparece na ausência de higienização; em certas etapas do ciclo menstrual; com a diminuição do pH vaginal; e com o uso abusivo de fármacos injetáveis e/ou de cateteres endovenosos de uso prolongado. Ainda, há proliferação patológica desses fungos da microbiota vaginal em decorrência da deficiência do sistema imunológico ou por fatores externos. Percebe-se que pessoas submetidas a tratamentos precários têm quantidade elevada de Candida albicans e, portanto, estão suscetíveis ao desenvolvimento de candidíase vulvovaginal. Tal informação vai ao encontro das condições sub-humanas verificadas nos presídios brasileiros que, em razão da marginalização dos indivíduos privados de liberdade e da superlotação, servem de meio para proliferação dessa patologia evitável. Conclusão: Faz-se necessária a criação de políticas públicas efetivas visando à melhoria dos presídios para, com isso, diminuir a incidência de vulvovaginite por Candida albicans.
Palavras-chave: Candidíase. Patógenos. Saneamento básico. Doença oportunista. Prisões.
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References
D’EÇA, Junior A. et al. Câncer cérvico uterino: estudo com mulheres em cárcere. Revista de Enfermagem UFPE online, Pernambuco, v. 5, n. 9, p. 2175-2181, nov. 2011.
QUEIROZ, N. Presos que menstruam: a brutal vida das mulheres – tratadas como homens – nas prisões brasileiras. 1. ed. Rio de Janeiro: Record, 2015. Disponível em: <https://goo.gl/8t394V>. Acesso em: 29 set 2017.
VARELLA, D. Prisioneiras. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.