POSSÍVEIS CAUSAS DO AUMENTO DO USO DE METILFENIDATO NAS CRIANÇAS BRASILEIRAS

Authors

  • Julia Pastorello Universidade do Oeste de Santa Catarina
  • Amanda Pastorello Rodrigues Universidade do Oeste de Santa Catarina
  • Cristiane de Oliveira Universidade do Oeste de Santa Catarina
  • Emanuelle Bernardi Mozzer Universidade do Oeste de Santa Catarina

Abstract

Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um distúrbio que se manifesta na infância, com sintomas de hiperatividade, impulsividade e desatenção, e sua prevalência em crianças varia de 2 a 18%. O tratamento farmacológico do TDAH é feito com metilfenidato, considerado uma das escolhas pelo seu perfil de tolerância e eficácia. No Brasil, os dados apontam para um aumento de 775% no consumo desse psicoestimulante em 10 anos, inclusive sendo recomendadas restrições ao uso e prescrição da droga. Objetivou-se, neste estudo, descrever as possíveis causas do aumento do uso de metilfenidato nas crianças brasileira. Trata-se de uma revisão bibliográfica nas bases nos dados PubMed, UpToDate, Liliacs, Scielo, revistas e jornais. O diagnóstico de TDAH exige os critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Os sintomas de TDAH se sobrepõem com uma série de outras condições, incluindo variações de desenvolvimento neurológico, distúrbios emocionais e comportamentais, fatores psicossociais e ambientais e diagnósticos médicos; a avaliação de TDAH é clínica e não requer outro tipo de exame complementar (FUENTES et al., 2014). O metilfenidato é um estimulante do sistema nervoso central, usado em crianças e adolescentes, os mais afetados pelo TDAH; ele auxilia no desempenho de tarefas escolares, aumentando a concentração, além de atuar como atenuador da fadiga (SILVA et al., 2012). O psicoestimulante possui um alto potencial para abuso e dependência, associado a várias interações medicamentosas, contraindicações e reações adversas, incluindo priapismo, acidentes vasculares e alopecia (SIQUEIRA, 2013). Seu uso excessivo pode estar relacionado a um aumento no diagnóstico de TDAH (ITABORAHY; ORTEGA, 2013); à influência da mídia, que explica o transtorno de forma simplista e pode influenciar o diagnóstico inadequado (SILVA et al., 2012); à busca do diagnóstico como explicação para o comportamento infantil e à tendência familiar de negligenciar a educação da criança, responsabilizando outros profissionais pelo seu desenvolvimento biopsicossocial (DECOTELLI et al., 2013). Para especialistas, a alta no uso do medicamento reflete maior conhecimento da doença e aumento de diagnósticos, mas também levanta o alerta de uso indevido da substância, inclusive por pessoas saudáveis que buscam aumentar o rendimento em atividades intelectuais (CABRICOLLI, 2014). Conclui-se que dentro do contexto atual, houve um aumento no consumo de metilfenidato no Brasil, e suas causas podem não estar diretamente relacionadas ao TDAH, em razão de diagnósticos pouco criteriosos, maior valorização da farmacoterapia e desatenção a outras condições médicas. É necessário estabelecer uma relação racional entre os riscos e os benefícios dos medicamentos, aos critérios diagnósticos, intervenções não medicamentosas e as novas variantes de comportamento em crianças e adolescentes.

Palavras-chave: Metilfenidato. Hiperatividade. Farmacoterapia. Psicoestimulante.

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References

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Published

2016-10-26

How to Cite

Pastorello, J., Rodrigues, A. P., de Oliveira, C., & Mozzer, E. B. (2016). POSSÍVEIS CAUSAS DO AUMENTO DO USO DE METILFENIDATO NAS CRIANÇAS BRASILEIRAS. Anais De Medicina. Retrieved from https://periodicos.unoesc.edu.br/anaisdemedicina/article/view/12057

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Resumos