Cafés especiais, governo e mercado: reflexões para a implementação de políticas de valorização da marca “Cafés do Brasil”
DOI:
https://doi.org/10.18593/race.v17i2.16588Resumo
Resumo: O objetivo com este artigo foi fazer um levantamento histórico descritivo dos fatores que podem afetar o posicionamento da marca “Cafés do Brasil” como símbolo de qualidade, sabores, diversidade de origens e sustentabilidade dos cafés produzidos nas diferentes regiões do País. Para tanto, recorreu-se a uma revisão de literatura – livros e revistas que abordaram o histórico de políticas públicas aplicadas à cafeicultura e seus preponentes – atrelada à revisão acerca de análise de política pública, para fazer inferências. Observou-se que a monopolização política, econômica e social exercida pelo café no início do século XIX favorecia a ação direta do Estado. Ao contrário do que acontecia no passado, atualmente o café é apenas outra atividade econômica, que requer condições políticas favoráveis ao desenvolvimento de habilidades que ampliem a vantagem competitiva local. Conclui-se que a implementação de políticas públicas na cadeia do café passou a ser dependente da dinâmica institucional nas regiões produtoras. Assim, as políticas que negam esse paradigma estão sujeitas à ineficiência e, consequentemente, demandam esforços para reorientá-las.
Palavras-chave: Análise política. Fatores históricos políticos. Grupos de interesse. Agronegócio.
Special cafés, government and market: reflections for the implementation of valuation policies of “Cafés do Brasil”
Abstract: The objective of this article was to make a descriptive historical survey of the factors that may affect the positioning of the "Cafés do Brasil" brand as a symbol of quality, flavors, diversity of origins and sustainability of the coffee produced in different regions of the country. To do so, we resorted to a literature review – books and journals that addressed the history of public policies applied to coffee and its preponents – linked to the review about public policy analysis, to make inferences. It was observed that the political, economic and social monopolization exerted by the coffee in the early nineteenth century favored the direct action of the State. Contrary to what happened in the past, coffee is now just another economic activity, which requires political conditions conducive to the development of skills that enhance local competitive advantage. It is concluded that the implementation of public policies in the coffee chain has become dependent on the institutional dynamics in the producing regions. Thus, policies that deny this paradigm are subject to inefficiency and, consequently, require efforts to reorient them.
Keywords: Political analysis. Political historical factors. Interestgroups. Agribusiness.
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