CUIDADOS PALIATIVOS: AUTONOMIA E DIFICULDADES
Resumo
A doença e a morte são temas-tabu (COELHO; FERREIRA, 2015). O envelhecimento da população aumentou a prevalência de doenças crônico-degenerativas e, com isso, surgiu a demanda por cuidados paliativos (AMORIM et al., 2014), sobretudo, em fim de vida. O fato de a formação médica ser baseada na preservação da vida (SILVA, 2015) dificulta a aceitação de tratamentos não curativos. Neste trabalho visou-se apontar os conflitos éticos envolvidos na aceitação dos cuidados paliativos pelos profissionais da saúde. Foi realizada uma pesquisa descritiva-exploratória por meio de revisão bibliográfica de artigos da base de dados Scielo e Revista Bioética. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2002), cuidado paliativo é a abordagem destinada a melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares em face de uma doença que põe em risco a continuidade da vida, mediante prevenção e alívio do sofrimento (CARVALHO; PARSONS, 2012). Os cuidados paliativos enfrentam a morte como um evento natural sem prolongá-la (CHAVES et al., 2011). Com a implantação desse conceito, criou-se uma lacuna na formação acadêmica (CARVALHO; PARSONS, 2012) e surgiu um desafio às equipes, pois na saúde considera-se a ausência de cura um fracasso (PAIVA; ALMEIDA JÚNIOR; DAMÁSIO, 2014). Por outro lado, apareceu um dilema ético: o paciente terminal é submetido ao paternalismo médico (CHAVES et al., 2011) e recebe intervenções para prorrogação de vida sem expressar sua autonomia (COELHO; FERREIRA, 2015). Conclui-se que o prolongamento da expectativa de vida foi acompanhado pelo aumento das doenças crônico-degenerativas e gerou a necessidade de promover mais conforto ao paciente em fim de vida. No entanto, a formação em saúde tende a considerar a cura sinônimo de sucesso terapêutico, dificultando a aceitação de que os cuidados paliativos sejam a opção de morte digna. Diante disso, é possível que o paciente acabe submetido a tratamentos fúteis para a prorrogação da vida, sem que possa expressar sua vontade.
Palavras-chave: Cuidados paliativos. Ética médica. Morte.
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Referências
COELHO, Maria Emidia de Melo; FERREIRA, Amauri Carlos. Cuidados paliativos: narrativas do sofrimento na escuta do outro. Revista Bioética, Brasília, v. 23, n. 2, p. 340-348. 2015.
AMORIM, Rosendo de Freitas et al. A formação acadêmica dos profissionais de saúde numa perspectiva da humanização dos cuidados paliativos: uma metassíntese. In: Anais do Congresso Internacional de Humanidades e Humanização em Saúde. São Paulo: Editora Blucher, v. 1, n. 2, p. 192. Março/2014. Disponível em: DOI: 10.5151/medpro-cihhs-10540. Acesso em: 15/08/2015.
SILVA, Luiz Felipe da Cunha e. Crônica de uma morte adiada: o tabu da morte e os limites não científicos da ciência. Revista Bioética, Brasília, v.23, n. 2, p. 331-339. 2015.
ACADEMIA NACIONAL DE CUIDADOS PALIATIVOS. Manual de cuidados paliativos. 2 ed. 2012. Disponível em: www.paliativo.org.br/dl.php?bid=146. Acesso em: 15/08/2015.
CHAVES, José Humberto Belmino et al. Cuidados paliativos na prática médica: contexto bioético. Revista Dor, São Paulo, v. 12, n. 3, jul/set 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-00132011000300011&script=sci_arttext. Acesso em: 15/08/2015.
PAIVA, Fabianne Christine Lopes de; ALMEIDA JÚNIOR, José Jailton de; DAMÁSIO, Anne Christine. Ética em cuidados paliativos: concepções sobre o fim da vida. Revista Bioética, Brasília, v. 22, n. 3, p. 550-560. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/bioet/v22n3/v22n3a19.pdf. Acesso em: 15/08/2015.