Epidemiologia dos acidentes por aranhas e escorpiões no Estado de Santa Catarina
Resumo
Introdução: Trata-se de um estudo epidemiológico retrospectivo, descritivo e analítico. Estudos epidemiológicos revelam informações que permitem entender o passado e tentar prever cenários futuros, e descrever precisamente sua ocorrência na população, sendo um passo essencial para o estudo de uma doença. No Brasil, em relação aos acidentes com aranhas e escorpiões, encontram-se três gêneros de aranhas que podem causar envenenamentos no ser humano: Latrodectus, Loxosceles e Phoneutria, e apenas um gênero de escorpião: Tityus. Objetivo: Avaliar aspectos epidemiológicos dos acidentes por aranhas e escorpiões ocorridos no Estado de Santa Catarina no período de 2007 a 2015. Metodologia: Obtiveram-se informações por meio dos dados notificados no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) e autorização do Comitê de ética em Pesquisa sob o número de CAAE 62836016.1.0000.5367. Resultado: Durante o período estudado foram notificados 50.399 acidentes causados por aranhas peçonhentas e não peçonhentas e 1.994 acidentes causados por escorpiões peçonhentos e não peçonhentos, com maior ocorrência na região Oeste do estado. Em 99,9% do total de acidentes com aranha não se identificou a espécie, e 80,7% dos acidentes foram classificados como leve. Em relação aos escorpiões, a ficha de notificação não traz informações sobre a identificação, o qual pode ser em decorrência de, no Brasil, haver apenas um gênero peçonhento. Dos acidentes com escorpiões, 89,2% foram classificados como leves. Um pouco mais da metade dos acidentes causados por aranhas (52%) foi em pacientes do sexo feminino, já 57% dos acidentes com escorpião foram em pacientes do sexo masculino. A faixa etária mais acometida foi entre 20 e 39 anos (32% para aranha, 34,3% para escorpião), seguida de 40 a 59 anos (30,75% para aranha e 29,4% para escorpião). Apenas 42% dos pacientes acometidos por aranhas procuraram atendimento no intervalo de tempo de até três horas, e por escorpiões, 83%. Em 48,4% dos casos de acidentes com aranhas, os membros inferiores foram as regiões anatômicas mais atingidas. Diferentemente, nos acidentes com escorpiões, 59% dos casos foram os membros superiores os mais acometidos. Para ambos, o maior número de acidentes com aranhas e escorpiões ocorreu em ambiente urbano, sendo 56,2% e 65,3%, respectivamente. Em relação às manifestações locais, 96,8% dos acidentes com aranhas e 93,4% dos acidentes com escorpiões apresentaram reações locais, como dor (90,7% aranha e 91,7% escorpião) e edema (71,62% acidentes com aranhas 46% dos acidentes com escorpião) e menos de 9% tiveram manifestações sistêmicas. Registraram-se seis óbitos para pacientes com araneísmo e um para escorpionismo. As informações sobre a soroterapia utilizada foram inconsistentes e impossibilitaram a análise dos dados. Conclusão: O número de acidentes reportados permite diagnosticar a necessidade de se disseminarem informações sobre o tema, pois nem sempre são corretamente notificados pelas unidades de saúde, bem como a população geralmente acaba aderindo às práticas empíricas para o tratamento. Além disso, verifica-se escassez de pesquisas voltadas à fauna regional de aracnídeos.
Palavras-chave: Animais peçonhentos. Notificação compulsória. Sistema de Informação em saúde.