Sífilis congênita: a incidência no Brasil e seus determinantes
Resumo
Introdução: A Sífilis Congênita é uma doença infecciosa de notificação compulsória causada pela bactéria espiroqueta Treponema pallidum, a qual se dissemina por via hematogênica, infectando o feto por meio da placenta quando a gestante infectada segue um tratamento inadequado ou é isenta dele. Objetivo: Apresentar um panorama comparativo e regional sobre os atuais índices de casos de sífilis congênita do Brasil e os principais fatores que vêm contribuindo para a permanência da alta incidência. Metodologia: Foram analisados sete artigos científicos publicados durante os últimos seis anos, por meio de pesquisa bibliográfica nas bases de dados Scielo, Revista Panam Salud Pública e Datasus. Resultados: A transmissão vertical é possível em qualquer período da gestação ou durante o parto vaginal/amamentação, havendo lesões. Segundo dados do SINAN, entre 1998 e 2016 foram notificados 142.961 casos de sífilis congênita em menores de um ano de idade, 45,0% na região Sudeste, 30,8% no Nordeste, 10,0% no Sul, 8,3% no Norte e 5,8% no Centro-Oeste. Houve aumento de casos entre 2006 e 2015 de dois para 6,5 casos/1.000 nascidos vivos, sendo que em Santa Catarina, entre 2014 a 2015, esse número ampliou-se em 67.2%. Entre os estados com taxas superiores à nacional encontra-se o Rio de Janeiro, com 12,4 casos, e o Rio Grande do Sul, com 11,5 casos, destacando a cidade de Porto Alegre, com 30,2 casos por 1.000 nascidos vivos. O diagnóstico materno é realizado durante o 1º e 3º trimestre da gestação pelo exame Venereal Disease Research Laboratory. Em 2015, 78,4% das gestantes realizaram o pré-natal e dentre elas, 51,4% tiveram o diagnóstico de sífilis, entretanto 34,6% descobriram a doença no momento do parto/curetagem. Em 2015, 56,5% das gestantes receberam tratamento inadequado, 27,3% não receberam tratamento, e apenas 4,1% tiveram tratamento adequado. A ausência da terapia materna leva a diversas consequências, como óbito fetal ou perinatal, prematuridade, baixo peso e sequelas neurológicas. Nos últimos 11 anos, a taxa de mortalidade infantil por sífilis congênita passou de 2,4 para 7,4. Entre 2005 e 2016 a maioria das mulheres não tratadas possuía entre 19 e 29 anos (51,6%), declaravam-se pardas (46,7%) e de baixa escolaridade (20,9%). Enfatiza-se que por 62,3% dos parceiros não realizarem tratamento, tem ocorrido com frequência a reinfecção nas gestantes. Conclusão: Por meio do estudo realizado foi possível constatar que a incidência de Sífilis Congênita no Brasil triplicou nos últimos 10 anos e teve alto índice na região de maior densidade demográfica entre a população menos favorecida. Isso demonstra que houve diminuição da subnotificação, entretanto, ineficiência no diagnóstico precoce e no tratamento adequado materno e de seu parceiro. Esse resultado é preocupante já que a sífilis gestacional é diagnosticada e tratada rapidamente por um baixo custo e com fácil acesso nas Unidades Básicas de Saúde, demonstrando que há falhas na implementação das medidas de prevenção e de controle na Atenção Primária a Saúde.
Palavras-chave: Doença infecciosa. Treponema pallidum. Sífilis Congênita.
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Referências
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