FATORES ASSOCIADOS À DEPRESSÃO EM INDIVÍDUOS COM DIAGNÓSTICO AUTORREFERIDO DE DIABETES MELLITUS – UM ESTUDO DA PESQUISA NACIONAL DE SAÚDE
Resumo
O diabetes mellitus (DM) é uma doença crônica complexa que requer cuidado médico contínuo com estratégias multifatoriais de redução de risco, além de adequado controle glicêmico. Assim como a depressão, aumenta a incapacidade funcional, reduz a qualidade e a expectativa de vida. No presente trabalho objetivou-se identificar a presença de fatores de risco associados à depressão em indivíduos com DM. Tratou-se de estudo descritivo, utilizando dados da Pesquisa Nacional de Saúde (BRASIL, 2013), cuja amostra foi composta por 64.348 domicílios. Para a identificação dos fatores de risco envolvidos na ocorrência de depressão em diabéticos foi realizada a análise de regressão logística com cálculo do odds ratio (OR) e diferenças estatisticamente significativas no nível de 5% foram consideradas na ausência de sobreposição dos IC95%. A ocorrência de depressão foi relatada em 464 indivíduos com diagnóstico autorreferido de DM, dos quais 79,52% (n=383) eram mulheres. Tal proporção pode estar, em parte, relacionada ao fato de que as mulheres tendem a se cuidar mais e, frequentando os serviços de atenção primária, são mais facilmente diagnosticadas (SANTOS et al., 2015). Os sintomas depressivos foram mais relacionados às complicações microvasculares do diabetes, com destaque para problemas visuais e renais, evidenciado por um OR (IC95%) = 2,28 (1,53-3,40) indo de encontro ao proposto por Michels (2010), o qual observa que o impacto da depressão parece ser maior nas doenças macrovasculares. Porém, Egede e Ellis (2010) salientam que tanto complicações microvasculares quanto macrovasculares do diabetes são maiores entre os indivíduos com depressão associada. No presente trabalho revelou-se, também, que diabéticos residentes da região Sul brasileira apresentam uma maior tendência ao desenvolvimento da depressão, com OR (IC95%) = 1,87 (1,21-2,90). Uma hipótese para esse dado seria que as condições climáticas influenciariam sobre a etiologia do respectivo achado. Hartig, Catalano e Ong. (2007) apontam o clima frio e chuvoso e a baixa incidência de raios solares como fatores que propiciam isolamento social e desenvolvimento de sintomas depressivos. Sabe-se que a exposição solar contribui para a liberação de serotonina e, portanto, sua falta, associada à hipovitaminose D, constitui fator agravante para a depressão (MILANESCHI et al., 2014). Neste trabalho constatou-se, ainda, que a cada ano demorado para o diagnóstico de DM há uma redução de 2% no risco de desenvolver depressão: OR (IC95%) = 0,98 (0,97-0,99). Estudos sugerem que a duração do DM aumenta significativamente o risco de complicações relacionadas à doença, além de internações hospitalares e dietas restritas; esses quadros geram, então, diminuição na qualidade de vida e possível desenvolvimento da depressão (SIDDIQUI, 2014). Considerando que diariamente portadores de DM são acolhidos na atenção primária e, infelizmente, o reconhecimento e o tratamento de depressão são inferiores ao ideal, conclui-se que é importante a suspeição clínica na detecção precoce dos sintomas depressivos, a fim de evitar possíveis complicações. É por meio dessa perspectiva que, com a identificação dos grupos sob maior risco, os profissionais da atenção primária podem elaborar estratégias para a conscientização sobre o agravo da depressão no DM, além de implantar políticas públicas visando à prevenção nos grupos mais vulneráveis.
Palavras-chave: Diabetes mellitus. Depressão. Fatores de risco.
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Referências
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