http://dx.doi.org/10.18593/r.v40i2.9325

EDITORIAL

Embalado pelo lema “Pátria Educadora”, o primeiro ano do novo mandato da presidente Dilma Roussef mantém incerto o futuro da educação brasileira. Após mais de um ano de aprovação do novo Plano Nacional de Educação (PNE-2014-2024), pouco se avançou no cumprimento das metas traçadas para o primeiro ano. Estados e municípios tiveram de elaborar seus planos para a próxima década sem que fosse instituído o Sistema Nacional de Educação e ressentindo-se pela falta de referenciais que permitam a concretização da tão propalada qualidade social da educação. O contexto internacional da educação também é desafiador. Pesquisadores de países com diferentes experiências apontam um quadro bastante adverso no que se refere às expectativas educacionais nutridas pela comunidade educacional.

Motivados por esse cenário e tendo em vista diferentes perspectivas e intencionalidades para a educação de muitos países, os textos que encerram o segundo volume da quadragésima edição da Roteiro trazem temas candentes da área da educação nacional e internacional como foco de estudo e reflexão.

O artigo Formación universitaria y práctica comunitaria: la curricularización de las prácticas comunitarias en universidades argentinas, de Pedro Gregorio Enriquez e Marisol Martín, propõe uma análise da extensão universitária em seis universidades situadas na Argentina, tendo como eixo a dimensão pedagógico-curricular das práticas extensionistas por elas realizadas.

Ainda com olhar voltado à realidade educacional internacional, mas com foco no contexto europeu, o ensaio de Maria Pinto Antunes intitulado Da educação escolar à educação para o desenvolvimento: fundamentos filosófico-culturais, procura evidenciar a necessidade de uma recontextualização da narrativa cultural e filosófica da modernidade como condição para uma nova concepção e ação educativas.

Tomando a educação brasileira como referência, o artigo Para uma genealogia da escola primária rural: entre o espaço e a configuração pedagógica (São Paulo, 1889 – 1947), de Virgínia Avila e Rosa Fatima Souza, problematiza a configuração da escola primária rural no estado de São Paulo, no período de 1889 a 1947, destacando como a diferenciação espacial se converteu em propostas pedagógicas específicas e inovadoras decorrentes do ruralismo pedagógico.

Seguindo com referenciais que tomam a educação brasileira como foco, o artigo Formação docente na perspectiva das competências, de Amarildo Luiz Trevisan e Dirceu Alberti, discute o caráter instrumental da formação docente presente na pedagogia das competências. A análise dos autores toma a teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas como referência e busca evidenciar a teia que amarra a educação aos interesses do sistema, especialmente, na tarefa de adaptar a sociedade e os cidadãos à ordem econômica vigente.

No artigo Ciência(s) no contexto “pós”: aspectos transicionais na produção do conhecimento científico, a autora Graziela Fatima Giacomazzo apresenta o resultado de um estudo sobre os aspectos transicionais entre a Ciência Acadêmica e Pós-Acadêmica; a Ciência Normal e Pós-Normal; a Ciência Moderna e Pós-Moderna; e a Ciência Modo 1 e Modo 2, tendo como foco as pesquisas científicas e tecnológicas a respeito das mudanças produzidas a partir da segunda metade do século XX. A autora defende em seu texto que a Ciência se apresenta em transição e, portanto, há mudanças na produção do conhecimento científico.

Na sequência desse debate, Sirley Lizott Tedeschi e Ruth Pavan analisam, a partir de uma perspectiva pós-estruturalista, os fundamentos da educação moderna e as implicações na produção das identidades e diferenças dos sujeitos por meio do artigo Os fundamentos da educação moderna sob suspeita: a crítica pós-estruturalista e a produção de identidades diferenças. Com base nos estudos de Nietzsche e Foucault, contestam as identidades hegemônicas produzidas pela racionalidade moderna.

Buscando contribuir com essa discussão, em seu artigo Educação e democracia: formação política para a convivência numa sociedade plural, o autor Telmo Marcon aponta alguns desafios postos às instituições sociais, particularmente à escola, no sentido de cumprir sua função de formadora intelectual e política dos cidadãos. Defende que a democracia, concebida como organização política e como modo de vida, constitui-se numa perspectiva fecunda para o enfrentamento e a superação de conflitos e para uma convivência social fundamentada no diálogo.

No artigo Autorregulação: o uso de diários de estudo por alunos do 5º ano do ensino fundamental, Maria Fernanda Kosour de Oliveira e Jussara Cristina Barboza Tortella analisam a utilização dos diários de estudo no âmbito dos processos da autorregulação e procuram demonstrar a importância da utilização de diários de estudo para compreender como ocorre a aprendizagem no ensino fundamental. 

As dificuldades de aprendizagem é o foco do debate promovido por Elaine Cristina Bortolatto Serafin e Antonio Serafim Pereira, no artigo Dificuldades de aprendizagem no contexto das produções acadêmicas brasileiras (2001-2011). No artigo, os autores analisam concepções de dificuldades de aprendizagem nas produções acadêmicas em educação, no período compreendido entre os anos de 2001 e 2011. A partir dos levantamentos efetuados, reconhecem três ênfases temáticas nos trabalhos analisados: dificuldade de aprendizagem diferente de distúrbio ou transtorno; dificuldade como distúrbio ou transtorno e fatores implicados (intrínsecos e extrínsecos).  Destacam que a primeira ênfase é a que se sobressai nos trabalhos analisados, por meio da qual as dificuldades de aprendizagem são tomadas como temporárias e associadas a fatores extrínsecos à escola, nomeadamente os de origem social. 

A Formação de professores da América Latina no contexto do mundo globalizado é o título do artigo de Marilandi Maria Mascarello Vieira e Ivan Carlos Bagnara, que propõe uma discussão sobre as declarações e recomendações da Unesco para a formação de professores nos países da América Latina, aprovadas em reuniões do Promedlac e Prelac, realizadas entre os anos de 1981 a 2007. Em seu artigo, os autores destacam o papel central da Unesco na definição de políticas educacionais para a região nas décadas de 1980 e 1990 e a perda de seu poder de atuação em momento posterior, por organismos financeiros de dimensão global, que assumiram o protagonismo na tarefa de definir princípios e estratégias em todos os âmbitos da vida política, econômica e cultural dos países da região.

Por fim, o artigo Experiência estética e formação na percepção de arte-educadores da educação básica: um desafio contemporâneo, de autoria de Clênio Lago e Andressa Cristina Vani, tece uma discussão sobre a arte, a estética, a experiência estética e a relação destas com a formação em meio aos desafios contemporâneos da educação de um ponto de vista da hermenêutica filosófica. Fundamentados em estudos empíricos, os autores destacam compreensões pouco apuradas quanto à experiência estética em si e a relação desta com a formação, dada a falta de referenciais éticos e morais oriundos da família e da sociedade falta essa atribuída à necessidade de uma formação de professores para além da distinção estética, no âmbito da compreensão profunda da relação ética e estética.

Compreende essa edição da Roteiro uma resenha do volume 1 da obra Fundamentos da educação: recortes e discussões, organizada por Paulo Gomes Lima. A resenha tem como título Algumas pontuações fundamentos da educação: recortes e discussões e foi elaborada por Meira Chaves Pereira.

Agradecemos aos avaliadores ad doc que, por meio de um trabalho anônimo mas engajado e comprometido, contribuem com a qualificação de nosso periódico selecionando o material que compõe cada uma das edições da Roteiro. Agradecemos também aos autores, pela confiança depositada no trabalho realizado pela Comissão Editorial da Revista e por contribuírem com mais essa edição da Roteiro.

Desejamos uma boa leitura a todos.

Marilda Pasqual Schneider

Editor-chefe

Roteiro, Joaçaba, v. 40, n. 2, p. 241-244, jul./dez. 2015