http://dx.doi.org/10.18593/r.v41i2.7541

A INTENCIONALIDADE DO PROJETO DE SI E DA FORMAÇÃO DOCENTE DE PROFESSORAS FORMADORAS DO CURSO DE MAGISTÉRIO EM CATALÃO/GOIÁS

LA INTENCIONALIDAD DEL PROYECTO PARA SI MISMO Y DE LA FORMACIÓN DE LAS PROFESORAS FORMADORAS DEL CURSO DE MAGISTERIO EN CATALÁN/ GOIÁS

THE INTENTIONALITY OF HIMSELF PROJECT AND TEACHER’S FORMATION OF TRAINING TEACHERS OF THE MAGISTERIUM COURSO IN CATALÃO-GOIÁS

Wolney Honório Filho*

Professor da Unidade Acadêmica Especial - Universidade Federal de Goiás; Líder do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação de Catalão

Mara Rúbia Guardieiro Costa**

Professora aposentada da rede pública estadual do Estado de Goiás

Rita Tatiana Cardoso Erbs***

Professora da Unidade Acadêmica Especial - Educação na Universidade Federal de Goiás; Integrante do Grupo de Profissionalização Docente e Identidade – Narrativas na Primeira Pessoa

Resumo: Este texto situa-se no campo das histórias de formação de professores. Busca-se a formação a partir do que os formadores entendem ser a formação para si e para o outro. Este veio analítico insere-se no campo de pesquisa (auto)biográfico crescente no país, que busca dar voz ao professor e às suas histórias formativas. Reflete sobre a concepção do projeto de si e a formação docente a partir das biografias narrativas de cinco professoras formadoras do Curso Técnico em Magistério do Colégio Estadual João Netto de Campos, estabelecido em Catalão – GO, nos anos 1970. A metodologia utilizada foi a das Histórias de Vida, por meio das biografias educativas. Fizemos coleta de dados por meio de entrevistas semiestruturadas e escritas de memoriais. Observamos que apesar do fato de se tornar professor, em alguns casos, apareça como fruto do acaso, motivado por forças externas, há sim uma intencionalidade, um caráter de consciência sobre a profissão, quando o professor lhe confere um sentido para si e para a vida.

Palavras-chave: Intencionalidade. Projeto de si. Formação docente.

Resumen: Este texto se encuentra en el campo de las historias de la formación de los profesores. Buscase la formación a partir do que los entrenadores entienden que es la capacitación para usted y a otro. Esta parcialidad analítica en el campo de la búsqueda (auto) biográfica creciente en el pais, que busca dar voz a las profesoras y sus historias de formación. Refleja sobre la concepción del proyecto para si y la formación de profesoras a partir de las biografías narrativas de cinco profesoras formadoras en la carrera técnica de la enseñanza del Colegio Estadual João Netto de Campos, establecida en Catalán - GO, en los años de 1970. La metodologia utilizada fue la historia de la vida, a través de biografías educativas. Recopilamos los datos a través de las entrevistas semiestructuradas y las memorias escritas. Observamos que a pesar del hecho de convertirse en un profesor, en algunos casos, aparecen como resultado de la casualidad, motivado por fuerzas externas, pero hay si una intencionalidad, un carácter de la consciência sobre la profesión, cuando el profesor le da un sentido para ellos mismos y para la vida.

Palabras clave: la intencionalidad. Proyecto de sí mismo. la formación del profesorado.

Abstract: This article fits in the field of teacher’s formation history. Search the formation from what formers consider being the best training to themselves and for each other. This came analytical is part of the (auto) biographical search field, now growing in Brazil, and seeks to give voice to the teacher and their formative stories. This article also reflects about the itself project and teacher’s formation from five teachers forming narrative biographies of the Technical Course in State College Magisterium of João Netto de Campos, established in Catalão – GO, in 1970. We used the Life Stories methodology, through educacional biographies. The data collection was through semi-structured interviews and written memorials. We note that despite the fact of becoming a teacher, in some case, appear as a haphazard result, motivated by external forces, there is an intentionality, a character of awareness about the profession, when the teacher gives a sense for himself and for life.

Keywords: Intentionality. Himself project. Teacher’s formation.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo busca refletir sobre a concepção do projeto de si e a formação docente a partir das biografias narrativas de cinco professoras formadoras do Curso Técnico em Magistério do Colégio Estadual João Netto de Campos. Essas professoras se dispuseram a partilhar suas histórias de vida, evidenciando a escolha da profissão e os desafios da formação. Nosso objetivo é compreender como o projeto de si torna-se intencional e é articulado com o desenvolvimento pessoal e profissional no decorrer das narrativas, ou seja, como o tornar-se professora vai paulatinamente tomando forma de um projeto de si e para si intencional ao longo da trajetória de vida e formação de professores.

Este questionamento nos inquieta como professores formadores, pois com o trabalho de memoriais ao longo dos anos de docência, percebemos o quanto, em algumas vezes, o projeto de ser professor acaba sendo descrito como fruto do acaso, da situação financeira e familiar, das oportunidades locais, ou seja, algumas vezes percebemos o processo de formação externo aos desejos e anseios do próprio sujeito em formação e em alguns casos colocando o professor como uma vítima do seu próprio destino. Com essa perspectiva nos propomos a analisar as narrativas para compreender alguns dos aspectos desse processo para podermos salientar em nossas práticas de formação a importância desse projeto, trazendo-o para o campo da intencionalidade e do desenvolvimento pessoal e profissional do professor.

2 COMO REALIZAMOS A COLETA DAS NARRATIVAS

As histórias de vida foram utilizadas como fontes colhidas por meio da escrita de um memorial e como fonte oral, a partir de entrevistas1 semiestruturadas que foram analisadas à luz de conhecimentos teóricos de autores, como Nóvoa (1988, p. 15), que apresenta a concepção de que a “formação deve ser entendida como uma tomada de consciência reflexiva (presente) de toda trajetória de vida percorrida no passado” Bragança (2012) afirma que

[...] a formação é um processo interior; ela liga-se à experiência pessoal do sujeito que se permite transformar pelo conhecimento. Assim, podemos afirmar que, potencialmente, todos os espaços e tempos da vida são espaços e tempos de formação, de transformação humana. (BRAGANÇA, 2012, p. 158).

Outros autores, como Josso (2010b), Chené (1988), Delory-Momber (2006, 2012), Dominicé (1988), e Tardif (2010) também se constituem como referencial teórico para a discussão proposta sobre o projeto de si e a formação a partir da perspectiva do sujeito e da narrativa de vida. Quanto ao trabalho com esta forma de narrativa, Bragança (2009, p. 37) explica que ela “coloca o pesquisador diante de uma epistemologia do diálogo, da partilha, da empatia entre dois sujeitos que aprendem, que formam em comunhão, assim, uma nova epistemologia de investigação e formação.”

Diante disso, a metodologia que fundamentou as reflexões deste artigo foi a das Histórias de Vida2, por meio das biografias educativas. De acordo com Dominicé (1988, p. 103), “a biografia educativa é um instrumento de investigação e, ao mesmo tempo, um instrumento pedagógico. Esta dupla função da abordagem biográfica, caracteriza a sua utilização em ciências da educação.” As narrativas, enquanto instrumento de investigação, representam a perspectiva, o olhar do sujeito sobre as várias dimensões formativas que atravessaram sua vida, dando pistas, preenchendo lacunas que nos levam a compreender suas escolhas, e, principalmente, o profissional que se tornou. Para Nóvoa (1988),

A abordagem biográfica reforça o princípio segundo o qual é sempre a própria pessoa que se forma e forma-se na medida em que elabora uma compreensão sobre o seu percurso de vida: a implicação do sujeito no seu próprio processo de formação torna-se assim inevitável. Deste modo, a abordagem biográfica deve ser entendida como uma tentativa de encontrar uma estratégia que permita ao indivíduo-sujeito tornar-se actor do seu processo de formação, através da apropriação retrospectiva do seu percurso de vida. (NÓVOA, 1988, p. 117).

As histórias de vida, portanto, abrem a possibilidade aos sujeitos envolvidos nesta pesquisa de estabelecerem um diálogo com o passado, dando-lhe visibilidade ao trazerem para o tempo presente, por meio de suas narrativas, as histórias que foram se constituindo em experiências formativas.

Para Moita (2007, p. 117), “cada história de vida, cada percurso, cada processo de formação é único. Tentar elaborar conclusões generalizáveis seria absurdo.” A autora chama a atenção para a singularidade contida na história de vida de cada sujeito: “só uma história de vida põe em evidência o modo como cada pessoa mobiliza os seus conhecimentos, os seus valores, as suas energias, para ir dando forma à sua identidade, num diálogo com os seus contextos.” (MOITA, 2007, p. 116).

Acreditamos que os contextos pelos quais passaram as professoras entrevistadas foram importantes em seu processo de constituição como educadoras. Essa relação entre o sujeito e o seu mundo é imprescindível para melhor compreensão das suas histórias de vida.

Com o propósito de conhecer como as professoras interpretam os diferentes aspectos de seu mundo, primeiro3 solicitamos que escrevessem suas autobiografias, ou seja, que construíssem um memorial, que escrevessem algo sobre si mesmas, algo que nos contasse como elas se viam: Quem eram e quais lembranças pessoais e formativas traziam em suas memórias? Esta narrativa deveria contemplar as diferentes etapas formativas de suas vidas. Sobre isso, Passeggi (2008, p. 27) esclarece que:

Auto-bio-grafar-se é aparar a si mesmo com as próprias mãos. Aparar é aqui utilizado em suas múltiplas acepções: segurar; aperfeiçoar; resistir ao sofrimento, cortar o que é excessivo e, particularmente, como se diz no Nordeste do Brasil, aparar é ajudar a nascer. Esse verbo rico de significado permite operar a síntese do sentido de bio-grafar-se, aqui entendido, ao mesmo tempo, como a ação de cuidar de si e de renascer de outra maneira pela mediação da escrita.

O uso do memorial pela “mediação da escrita” possibilita que o sujeito faça recortes sobre o próprio processo formativo, englobando aspectos, como a vida familiar, escolar e profissional, o que nos permite a compreensão de sua história de vida. Desse modo, conforme Passeggi (2008, p. 29), “biografar-se faz parte do processo civilizatório, pois introduz, por um lado, a escrita como aparato tecnológico e, por outro, implica o ato social de se colocar no centro da história.”

A autora atribui poder ao ato de ser o próprio sujeito quem faz as escolhas do que vai ser contado por meio de sua escrita, é ele quem decide o que pode ou não ser revelado. Baseado nas reflexões da autora, buscamos encontrar nas histórias de vida de cada uma das professoras evidências que mostrassem serem elas o centro de suas histórias. Tanto nos memoriais quanto nas entrevistas a preservação das memórias surgia como um ato de alta importância social para elas.

Halbwachs (2006, p. 30) explica que:

Nossas lembranças permanecem coletivas e nos são lembradas por outros, ainda que se trate de eventos em que somente nós estivemos envolvidos e objetos que somente nós vimos. Isto acontece porque jamais estamos sós. Não é preciso que outros estejam presentes, materialmente distintos de nós, porque sempre levamos conosco e em nós certa quantidade de pessoas que não se confundem.

Conforme o autor, o fato de não estarmos mais a sós em nossas lembranças faz com que os fatos do passado tenham uma importância maior. São as nossas lembranças que “levamos conosco”. As memórias pessoais se entrelaçam com as de outras pessoas. Embora vivenciadas em lugares e situações diferentes, elas carregam um sentimento de pertencimento como algo comum. Ao serem compartilhadas e significadas elas perdem o status de algo individual, transformando-se em memórias coletivas.

Outro recurso que utilizamos na coleta das narrativas foi gravar as entrevistas, o que nos permitiu ouvi-las atentamente e transcrevê-las. Desta feita, passamos à próxima etapa que se constituiu em analisar e refletir sobre as histórias de vida de cada uma das participantes.

À medida que as histórias iam fluindo, percebemos que se entrelaçavam em determinado tempo de suas vidas, como professoras de formação do Curso Técnico em Magistério do Colégio Estadual João Netto de Campos, situado em Catalão – GO.

3 A PROFESSORA CLARA – COM A INTENÇÃO E A FORMAÇÃO EM SUAS MÃOS4

A professora Clara consegue em sua narrativa evidenciar pontos de formação e pontos de nascimento do projeto de si. Alguns momentos de sua vida são cruciais para tomada de decisões conscientes em direção ao seu projeto de si como mulher, trabalhadora e professora. Quando questionada: Em que momento da sua vida nasce a professora Clara? De imediato a resposta: “no momento em que fui começar a trabalhar com o magistério.”5

Deparar-se como formadora de formadores parece ter sido o ápice para o seu projeto de si. Como no seu relato o curso de magistério não teve o efeito formador que ela almejava, ou seja, fazer com que, para suas alunas, a experiência fosse formativa e motivadora para um projeto inicial, parece ter sido a sua meta.

A professora Clara já se encontra aposentada após completar 32 anos trabalhando na educação. Filha primogênita de sete filhos, ela nasceu em 27 de julho de 1955 em uma fazenda do município de Catalão, onde passou sua infância e estudou até a 4ª série primária. Seu primeiro professor foi um tio, irmão de sua mãe. Depois foi D. Emília, sua professora e de seus irmãos até a 4ª série primária.

A escola possuía apenas uma sala de aula, era multisseriada, ou seja, apenas uma professora dava aula para alunos de séries diferentes em um mesmo espaço. Quando a escola começou era de palha, depois, foi refeita com tijolos. Pelos relatos feitos em relação a este período de sua vida, percebemos que suas lembranças remetem a uma comunidade pequena, familiar, em que a escola é um ponto de referência das famílias que ali moraram. Clara diz que a escola tinha muitos alunos, a maioria eram seus primos. Mesmo sendo uma criança, já demonstrava ter noção dos conflitos familiares vividos por sua professora, D. Emília, o que, para a aluna, justificava a postura severa da professora.

Quando questionada sobre as lembranças que possuía da infância, da escola, dos professores e do ensino daquela época, Clara explica:

Eu não me lembro muito assim, como ela ensinava não. Era brava demais, nossa! Tinha dia que ela fazia a gente fazer fila de joelho. Era uma pessoa cheia de dificuldades, marido alcoólatra, ela era bonita. Ele bebia, ela tinha que chegar em casa e derramar a bolsa assim para ele, era sofrida! Foi bom assim porque todos nós que estudamos com ela têm letra bonita. Ela era muito exigente com a caligrafia. Lembro-me da mamãe falar que a gente fazia teatro. Mamãe fazia roupinha para eu apresentar naquele tempo de princesa e de rainha. Ela foi professora do meu irmão também, ele foi muito bom na matemática. Foi um tempo bom! Com a gente ela não tinha assim, esse nervoso. (informação verbal).

As memórias de Clara em relação às suas primeiras experiências escolares são bem diversificadas, revelando a rigidez disciplinar da professora em relação aos alunos, atitude marcante e característica dos professores daquele período. Em outro momento, ela consegue perceber a escola como um lugar prazeroso, contando-nos, com um brilho especial nos olhos, sobre as roupas feitas por sua mãe para representar os personagens da literatura infantil, como princesas e rainhas, no teatro da escola.

Clara se mudou para Catalão para continuar os estudos, indo estudar no Colégio Estadual “João Netto de Campos”, onde fez a 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries do curso ginasial. “Após o ginásio tínhamos os Cursos Normal e Científico (hoje ensino médio). Na época eu já estava trabalhando fora e então optei pelo curso normal”.6 Nesse tempo, ela já trabalhava em um escritório e teve que estudar no período noturno. Ao narrar sobre o curso de magistério, confessa-nos que a escolha aconteceu por acaso, não sabia ainda o que queria fazer: “A visão de ter um futuro na educação não foi em mim despertada, nunca pensei em ser professora.”7 (informação verbal). Quanto aos professores do curso, Clara demonstrou dificuldades em lembrar seus nomes, demonstrando que a maioria não marcou sua formação nesta etapa. As memórias vieram carregadas de alguns ressentimentos e insatisfação em relação aos professores e ao curso,

Quem dava aula no magistério, era quem se formava no Colégio Mãe de Deus, que era a escola formadora de professores. Porque quando eu fiz o normal, eu nunca fui aluna média, eu sempre puxei, sempre exigi um pouco mais de mim. Quando me formei eu nunca recebi um convite, uma orientação assim: “Clara você quer ser professora? Ou você quer lecionar em tal lugar? Tem uma vaga em tal lugar!” Nem uma vez! Nenhum dos meus professores. Eu não dei uma aula de prática no meu curso. O curso era feito mesmo para pobre, para quem não precisava dar aula. Eu vejo dessa maneira hoje, mas na época eu não sabia questionar isso. (informação verbal).

A professora Clara se casou e teve três filhas, afastando-se do trabalho. Ela nos relata que, como estava acostumada a trabalhar e precisava ganhar para ajudar na despesa da família, tentou fazer vários trabalhos em casa. Anos depois, fez um concurso público para professora e começou a dar aulas para as séries iniciais em uma escola estadual de Catalão. Sentindo necessidade de dar continuidade à sua formação, a professora nos relata: “fiquei no 4º ano primário uns quatro anos e me veio a vontade de fazer o curso superior, senti necessidade de estar na educação, eu senti muita necessidade de estudar novamente.8” (informação verbal). Diante disso, prestou o vestibular na Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão, onde fez o curso de Letras.

Logo que se formou, a professora deixou a escola primária para ministrar aulas no curso Técnico em Magistério. Esta oportunidade ocorreu a partir de um convite feito por Lívia Abrahão, sua professora no curso de Letras, que era também professora no Curso Técnico em Magistério do Colégio Estadual João Netto de Campos.

A professora Clara afirma que, ao chegar ao Colégio Estadual João Netto de Campos para dar aula, a princípio se sentiu excluída do grupo de professores, pois acreditava que lá havia um grupo que era considerado a “elite” da escola. A professora explica que, “quando a gente entrava, os mais antigos rejeitavam falavam para os alunos que a gente era humilde demais.” (informação verbal). Ela nos conta que foi um grande desafio dar aulas em um curso de formação de professores sem possuir a mínima experiência.

Na narrativa da professora há fatos interessantes que marcaram a história do magistério do Colégio Estadual João Netto: conflitos internos, as preferências que demarcavam o status profissional e social que cada um dos professores ocupava naquela instituição. A visão da professora é subjetiva, uma vez que são interpretações que envolvem sentimentos, medos, anseios diante do novo.

Clara guarda boas recordações do bom relacionamento que mantinha com os alunos e colegas de profissão. Ela se identificou muito com o curso de magistério e lamentou o seu término, destacando a valorização do mesmo: “trabalhar no magistério foi muito bom, foi assim, parece que eu fui crescendo com o magistério.” Em relação à contribuição da graduação em sua formação, Clara afirma: “com o Curso de Letras que fiz aqui9 eu aprendi a ter coragem de ser eu.” (informações verbais).

Na história de Clara, compreendemos que a formação universitária encaminhou o projeto de si, pois quando relata ter aprendido a ter coragem de ser eu, fica evidente uma mudança de postura em relação à sua formação e ao seu processo de ser professora. Podemos perceber também o quanto a sua graduação desempenhou o papel de formação e de conscientização do processo de ser professora.

A professora Clara também consegue perceber o quanto o curso de Magistério pode ser formador e incentivador do projeto de tornar-se professora, pois mesmo com as poucas marcas que ela relata da sua época de aluna do magistério, provavelmente, foram essas marcas que a impulsionaram a pensar e a agir para que suas alunas, no curso de magistério, pudessem tomar para si o seu processo de tornarem-se professoras.

Neste relato também podemos evidenciar a inseparatividade do eu-pessoal do eu-profissional, pois quando Clara afirma ter aprendido a ter coragem de ser ela mesma, também teve coragem de ser professora e de enfrentar as dificuldades iniciais da carreira docente.

4 A PROFESSORA GABRIELA10 – A ESCOLA É O MEU LUGAR

Eu te falo se eu voltasse provavelmente eu seria professora de novo, eu não me imagino no hospital, eu não me imagino em um consultório de psicologia não me imagino nunca! Eu gosto é de escola. Na hora que eu chego que assim eu vejo aquele tanto de jovens, eu falo ali é o meu lugar11. (informação verbal).

A professora Gabriela tem formação em Ciências Sociais e licenciatura em História pela Universidade Federal de Goiás – Regional Goiânia. Dos 27 anos trabalhados na educação, 17 foram como professora de formação do Curso Técnico em Magistério do Colégio Estadual João Netto de Campos, constituindo, assim, o maior tempo de suas experiências formativas.

A professora nos contou que é filha única, nasceu em 1947, em Pontalina, uma pequena cidade do interior do estado de Goiás, onde passou toda a infância. Seu pai era agricultor e sua mãe, além de fazer os serviços domésticos, era costureira. Suas lembranças desta época são de um tempo feliz, com muitas brincadeiras entre amigos e familiares. Gabriela assim nos descreve: “Eu tive uma infância assim inesquecível, maravilhosa!” Enquanto filha única foi uma criança acostumada a ter tudo e todos girando em torno dela, sendo descrita por ela mesma como uma pessoa egocêntrica: “Eu não dividia nada com ninguém! Mamãe ia fazer um bolo, o bolo era todo meu! Fazia um pudim o pudim era todo meu! Fazia rosca era toda minha! Eu demorei aprender, mesmo depois de adulta, a dividir as coisas.” (informações verbais).

Gabriela começou a estudar no grupo escolar Dr. Pedro Ludovico, em Pontalina, Goiás, onde fez da 1ª a 4ª série primária. Ao se referir a este tempo ela sorri e diz: “o grupo parecia um monstro, um castelo! Agora eu chego lá e acho-o pequeno, um grupinho! Escolinha pequena, mas no meu tempo de criança eu achava lá assim o prédio maior do mundo!” (informação verbal). Gabriela estudou também na escola Santa Rita de Cássia, que leva o nome da padroeira da cidade de Pontalina, onde cursou do 1º ao 4º ano ginasial.

Em 1963, deixou sua cidade natal para morar em Goiânia com o objetivo de dar continuidade aos estudos. Ela nos relata que em sua cidade as mulheres não tinham opção, a maioria se casava, tinha filhos e cuidava da casa. O estímulo recebido para que fosse embora para estudar é atribuído a sua mãe:

A minha mãe foi uma pessoa que tinha uma visão diferenciada para a época dela. Porque ela também teve muito pouca oportunidade. Mas ela falava, eu escutava muito ela falar: eu não estudei, mas a minha filha vai estudar! A minha filha vai estudar! Então isso era uma coisa que ela batia muito e realmente quando eu saí em 1963 de Pontalina pra Goiânia ninguém saía pra estudar fora. Então eu fui assim como uma pioneira ao sair. (informação verbal).

Gabriela foi estudar em Goiânia indo morar, em regime de internato, com as irmãs Salesianas no Colégio Santo Agostinho, onde fez o curso de magistério. Quanto à escolha por este curso ela nos disse que foi por força das circunstâncias, a mãe havia aconselhado que o fizesse para que fosse lecionar e ganhar seu sustento, assim poderia dar continuidade aos estudos. A influência da mãe na educação de Gabriela foi marcante, todas as referências neste sentido estão voltadas para as orientações da sua mãe.

Nas narrativas das duas professoras entrevistadas, Clara e Gabriela, percebemos a diferença entre ter alguém que nos oriente nas escolhas formativas e não ter ninguém. Desse modo, enquanto Gabriela teve todo o apoio dos pais, em especial da mãe, nos relatos de Clara verificamos a presença de um lamento em relação a este direcionamento. Nosso intuito é chamar a atenção quanto às afirmativas das professoras e interpretações dadas por elas às suas experiências. Nesse sentido, Gonzalez Rey (2010, p. 126) nos ajuda a refletir quando esclarece que

A subjetividade é um sistema complexo e, como tal, suas diferentes formas de expressão no sujeito e nos diferentes espaços sociais são sempre portadoras de sentidos subjetivos gerais do sistema que estão além do evento vivido, o do contexto em que se centra a representação consciente do sujeito em suas ações concretas.

Nas considerações feitas por Clara e Gabriela vemos essas representações com sentidos subjetivos, uma vez que estão falando de sentimentos, de algo já vivenciado há muito tempo. Ao trazerem tais lembranças para serem refletidas, elas lançam um olhar diferenciado em relação a tais fatos.

De acordo com a professora Gabriela, o motivo de sua mudança de Goiânia para Catalão foi por ter se casado. Como já era professora concursada, pediu sua transferência e foi dessa forma que iniciou sua trajetória como professora de formação no Colégio Estadual João Netto de Campos.

São interessantes as narrativas da professora Gabriela a respeito de suas experiências em relação ao curso de magistério, uma vez que ela expõe os limites tanto materiais quanto relativos à falta de preparo dos professores. Nesse aspecto, a professora traz uma visão mais idealizada ao dizer: “O magistério era tudo naquela escola, parece que o magistério carregava aquele colégio, precisava fazer uma ornamentação, tudo que precisava era o magistério. A vida da escola era o magistério!” Essas diferenças talvez se justifiquem pela trajetória de vida e formação acadêmica de cada uma delas. Enquanto Clara veio de um meio rural e com formação em Letras, Gabriela, apesar de ter vivido e estudado até a 8ª série em uma cidade pequena, logo depois foi estudar na capital do estado de Goiás, graduando-se em Ciências Sociais.

Gabriela mostrou ser uma professora realizada pela escolha da profissão, porém insatisfeita com a falta de reconhecimento financeiro e social. No seu relato, evidenciamos que o seu projeto de si foi impulsionado pela vontade e determinação de sua mãe, Gabriela intencionalmente deu continuidade aos desejos de sua mãe e de sua família, dando vida e tornando realizáveis esses desejos, inicialmente utópicos e distantes. Sua formação profissional foi o foco de sua criação, direcionando seus estudos, moradia e vivências longe da família, mas perto do sonho de todos. Em virtude de seu empenho e esforço para seguir a carreira docente o retorno financeiro não lhe pareceu satisfatório, porém isto não a fez desistir ou perceber que o seu lugar era outro, ou que a sua atribuição não era outra que não a de professora.

Podemos compreender que quando Gabriela fala que não se imagina em um hospital, ou em um consultório, está tentando salientar que seus estudos foram tão importantes quanto de um médico, ou de qualquer outro profissional, mas o seu projeto de si a encaminhou para a docência e nela conseguiu toda a realização possível para um profissional, embora sinta que social e financeiramente sua escolha não tenha o mesmo impacto.

5 A PROFESSORA MARIA RITA – A CONTRIBUIÇÃO DA RIGIDEZ E DA ORGANIZAÇÃO

Mas eu me identifiquei muito com a escola pública e hoje eu tenho uma assim, a gente fica muito gratificada quando encontra com as pessoas na rua e elas lembram detalhes da sua época de escola. Então foi uma das melhores coisas que eu fiz na minha vida, eu acho que nem como música eu teria me realizado tanto quanto foi com escola12. (informação verbal).

A professora Maria Rita graduou-se em Pedagogia pela Universidade Católica de Goiás. Sua primeira experiência com a carreira docente foi no curso normal, concluído no ano de 1968 no Colégio Nª Sª Mãe de Deus.

Maria Rita nasceu em Catalão no ano de 1951, é a filha mais velha de quatro irmãos. Teve uma infância tranquila e estudou no Colégio Nª Sª Mãe de Deus até a 4ª série primária. Aos 13 anos foi enviada pela mãe para estudar em São Paulo, onde ficou em regime de internato. Durante a entrevista, a professora demonstrou um ressentimento por ter sido retirada do convívio da família tão nova. Lamenta a morte do pai e o pouco tempo de convivência familiar:

Na época aqui o pessoal ia para lá e não sei por que a minha mãe, era sempre a minha mãe nesta parte aí de escola. Inclusive até eu relatei ali no meu histórico eu acho muito sofrido porque eu fui para São Paulo em um regime muito rígido. Num colégio de freira onde a Madre superiora passava e você tinha que abaixar a cabeça, você não podia olhar no olho dela. [...] Era internato! Colégio interno você ia, você só vinha aqui uma vez em julho. Eu me lembro bem. Uma vez meu pai chegou lá em Santa Marcelina, São Paulo. Era meu aniversário, ele saiu daqui para levar um bolo para mim e acho que chegou atrasado, eu pude ficar cinco minutos com ele. Então é muita coisa da minha vida, muito rigor, eu acho que foi isso ai. A gente vai moldando por aí, pelo que você vai passando pela vida. Inclusive no colégio estadual eu era muito enérgica, não é Mara? O pessoal tinha até medo de mim. E eu acho que essa questão dessa disciplina minha que eu tive a minha vida toda foi isso aí, porque lá era [...] Eu lembro mais dessa fase da minha vida do que da primeira que você me perguntou, no começo da alfabetização. E para você ter uma ideia, para tomar banho, uma coisa que marcava muito, a gente sentava no local do chuveiro, aí a irmã tocava o sino. Você tirava a roupa, tocava o sino. Você abria o chuveiro, outro sininho você tinha que fechar o chuveiro e ensaboar. Então era tudo super metódico!

As narrativas da professora Maria Rita evidenciam as memórias de caráter disciplinar, a rigidez do processo educativo a que foi submetida. Identificamos, em vários momentos, uma forte influência da formação recebida na adolescência em seu convívio com as freiras do Colégio Santa Marcelina, em São Paulo, nas atitudes profissionais tomadas por esta professora em seu cotidiano no Colégio Estadual João Netto de Campos. Pensamos no grande desafio que caracteriza as narrativas em seu processo de desvendar o outro, afinal, a história contada não é necessariamente a história vivida. Sobre isso, Josso (2010b, p. 47, grifo do autor) explica que “falar das próprias experiências formadoras é, pois, de certa maneira, contar a si mesmo a própria história, as suas qualidades pessoais e socioculturais, o valor que se atribui ao que é ‘vivido’ na continuidade temporal de nosso ser psicossomático.” Percebemos nas narrativas de Maria Rita este ato reflexivo, como se estivesse se descobrindo enquanto compartilhava sua história de vida. É como se contássemos a nós mesmos a nossa própria história (JOSSO, 2010a). É um momento em que atribuímos valor às experiências formadoras vividas.

Maria Rita é casada, tem três filhos e um neto a quem se refere carinhosamente, contando-nos que, apesar da pouca idade, ele tem se mostrado curioso para tocar seu piano: “quem sabe meu neto vai herdar meu lado musical.” Em suas narrativas a professora nos revelou que a música, particularmente o piano, é uma das suas grandes paixões na vida.

Quanto ao aspecto profissional, a professora deixou transparecer em suas narrativas o gosto pela gestão da escola em que foi coordenadora e diretora. Foi professora do curso Técnico em Magistério por imposições políticas e não por escolha, embora tenha reconhecido que, no final, foi uma experiência boa. Maria Rita, ao se aposentar, deixou a educação com muitas mágoas pela falta de reconhecimento ao trabalho dedicado ao Colégio Estadual “João Netto de Campos”.

Observamos que a professora possui características diferentes das outras duas professoras entrevistadas. Clara e Gabriela se identificam mais com a sala de aula, com a docência, enquanto Maria Rita se sente atraída pela parte burocrática da escola: “Eu me identifiquei mais nessa parte na faculdade desde a época lá dos estágios, passei pela sala de aula e não gostei, antes de vir pra cá. Então acho que foi isso. Eu gostava da administração, eu gostava da organização da escola.”

Na narrativa da professora temos informações valiosas sobre a organização interna do Colégio Estadual João Netto de Campos. Estes são marcos que nos revelam como foram organizados e estruturados os vários cursos ali administrados. Quando assumiu a direção da escola, por exemplo, a professora verificou que os cursos de secretariado e magistério não tinham documentação, os cursos não eram reconhecidos. Os alunos, ao terminarem os cursos, saíam da escola sem receber o diploma do curso que frequentavam.

Para você ter uma ideia nem diploma não saía lá no colégio, os alunos terminavam os cursos e ficava por isto mesmo. Aí nós começamos a ir para Goiânia, ir ao Conselho de Educação para fazer a legalização. Então o que mais deu trabalho foi essa questão de legalização dos documentos da escola.13 (informação verbal).

Atualmente, a professora continua trabalhando em outra atividade burocrática, ela conta, com muito orgulho, que é muito boa nesta área, faz parte de sua personalidade e atribui isso à formação recebida. “Eu acho que trouxe essa rigidez do colégio Santa Marcelina.14

A professora Maria Rita parece não ter tornado consciente as marcas do internato em sua vida, temos a sensação de que quando ela percebeu a rigidez e a organização já faziam parte de sua forma de ser e de resolver as situações do dia a dia. Outro aspecto que nos chama atenção é o tempo, na sua narrativa o sofrimento de estar fora de sua cidade e longe da família com uma rotina metódica e rígida faz parecer que sua estadia no internato foi muito maior que dois anos, período que permaneceu no internato. Percebemos que as freiras e seus métodos penetraram em um tempo psicológico onde dias e anos perdem a lógica cronológica e ganham o tempo presente da memória e dos sentimentos acionados de forma imediata.

6 A PROFESSORA LEDA - “TORNA-SE SUJEITO DA SUA HISTÓRIA”15

Começamos a falar da professora entrevistada a partir da epígrafe por entender que esta traduz bem a narrativa da professora Leda sobre suas histórias de vida. À medida que a professora começa a narrar suas trajetórias formativas entendemos que ela literalmente buscou se tornar sujeito da própria história, nela se reconhecendo, atribuindo-lhe significados a cada escolha feita. A busca pela formação foi e continua sendo uma proposta de vida que esta professora persegue.

Leda nasceu em Paracatu, no estado de Minas Gerais, mudou-se para o município de Catalão quando tinha quatro anos. Com formação em Ciências Sociais, cursou licenciatura e bacharelado em Geografia, ambos no Campus Catalão da Universidade Federal de Goiás. Foi alfabetizada por seu pai, que era professor na zona rural onde moravam. Sua primeira experiência como formadora ocorreu aos 12 anos como professora substituta do pai. Aos 16 anos já era professora de um pequeno grupo de alunos na zona rural, mesmo tendo como formação apenas o 4º ano primário:

Eu já tinha uma experiência com meu pai, a minha didática aprendi com ele. Então a gente tinha um quadro, esse aqui é provável que desse uns três quadros. Ele era bem pequenininho, aí você dividia e fazia o seguinte, eu trabalhava colocava a 4ª série para fazer leituras e interpretações de texto. Dividia o quadro entre o 2º e 3º ano e trabalhava, por exemplo, matemática com o 3º ano, que já tinha trabalhado naquele dia anterior. Eles iam fazer as tarefas. Com o 2º ano eu trabalhava, por exemplo, Ciências e já levava o texto, passava no quadro, eles copiavam e já iam estudar o texto. Aí eu ficava com o 1º ano e aquele 1º ano já lia, já estava começando a ler. Aqueles alunos que estavam sendo alfabetizados estavam começando a assinar o nome entendeu? Era mais ou menos assim, era um pouquinho complicado, mas dava para trabalhar, dava pra conciliar. (informação verbal).

No início da entrevista, solicitamos que Leda falasse um pouquinho sobre ela, inclusive sobre as lembranças das primeiras experiências de vida com sua família. Observamos que suas primeiras memórias formativas remetem às influências do pai na escolha da profissão, pois este também era professor. Indagada sobre quando começou a pensar em ser professora, ela nos disse que por volta dos 12 ou 13 anos, por influência do pai.

Em 1972, fez curso de magistério no Centro de Formação de Professores, em Catalão. Fez também, dando continuidade à formação, licenciatura curta em Ciências Sociais, concluindo o curso no ano de 1977. Além disso, sentindo necessidade de continuar seu aperfeiçoamento profissional, concluiu a graduação e o bacharelado em Geografia.

Compreendemos que o processo de profissionalização de Leda foi bastante conturbado, sendo realizado entre a casa e o trabalho. Casada e com três filhos para criar a professora se dividia entre a escola e os dois cursos superiores, ambos no período noturno. Nos finais de semana exercia outras atividades extras para complementar a renda familiar.

Em 1977, começa a ministrar aulas no Colégio Estadual João Netto de Campos. Quanto às disciplinas que lecionava neste período ela esclarece: “eu trabalhei com história, geografia, ciências, técnicas agrícolas, educação moral e cívica, expressão gráfica. Tinha naquela época canto também, então eu desenvolvi todas essas disciplinas.” (informação verbal). A partir do ano de 1989, passa a dar aulas também no curso Técnico em Magistério com as disciplinas de História e Geografia.

Em seus relatos, Leda considera que foi importante esclarecer para seus alunos, enquanto futuros professores, sobre as dificuldades que permeiam a educação, como a falta de recursos materiais e o baixo salário. Por outro lado, apresenta uma concepção idealizada do ofício de ser professor, podemos dizer que possui uma visão “missionária.” Nesse sentido, ela diz: “O que eu tentei passar para os meus alunos foi isso, antes de tudo amor! Que não buscasse só um salário porque o salário do professor eu acho que nunca foi bom e nunca será.” (informação verbal).

Enquanto professora do Colégio Estadual João Netto de Campos ela explica que esta instituição foi sua segunda casa pela quantidade de horas vivenciadas ali todos os dias. Desta feita, ela complementa dizendo: “Sempre comento, o Estadual foi meu segundo lar e parece que não tinha cansaço a gente trabalhava, mas trabalhava com gosto.” (informação verbal).

Esta afirmativa da professora expressa a dura realidade vivenciada pela maioria dos professores que por questões de sobrevivência passam mais tempo em seu local de trabalho do que com suas famílias. Ainda hoje vivenciamos esta prática, jornadas de dois ou três períodos em uma ou mais instituições de ensino.

Atualmente, a professora Leda continua a dar aulas nas escolas do município, embora já tenha um bom tempo que se aposentou na rede estadual. No final de suas narrativas nos conta que é aluna do curso de Direito, curso que há muito tempo sonhava em fazer.

Além do fato de serem professoras, Leda, Clara, Gabriela e Maria Rita trazem de comum em suas histórias de vida a experiência de terem sido professoras de formação no Curso Técnico em Magistério do Colégio Estadual João Netto de Campos no período de 1972 a 2002. Cada uma destas professoras traz lembranças singulares de fatos, pessoas e lugares que marcaram seus percursos ali vivenciados.

7 A PROFESSORA HELENA – A PROFESSORA JUSTA, ENÉRGICA E COM O DOMÍNIO DAS PALAVRAS

Éramos tidas como professoras enérgicas, mas nunca fomos tidas como professores maus! Energia é uma coisa. Minhas aulas eram boas de dar, não tinha problemas, não tinha nada. O aluno falava assim: fulano tá colando, pode colar não me deixando ver! Se eu vir, sou obrigada a tomar atitude, porque se eu não tomar atitude perco a autoridade. Não é que eu beneficiei o aluno nem nada, se eu deixar de agir, eu perdi a minha autoridade porque eu não fui justa. Então é aí que eu acho, o professor tem que ser justo e enérgico. São duas coisas e tem que medir muito as palavras porque as palavras que a gente diz não voltam! Então a gente tem que ter domínio das palavras. Eu acho que essas são as três características do professor.16 (informação verbal).

A quinta e última professora entrevistada foi Helena, que estudou desde a 1ª série até o curso normal em uma única escola, o Colégio Nossa Senhora Mãe de Deus de Catalão. Seu primeiro contato com a carreira docente foi em uma sala de 2ª série no Grupo Escolar 29 de outubro, onde hoje é o Colégio Estadual Rita Paranhos Bretas. Helena nasceu no dia 2 de setembro de 1926, em Catalão.

A história desta professora é uma história contada por outros professores, em razão das contribuições de sua família para a criação do Colégio Estadual João Netto de Campos. A irmã de D. Helena, juntamente com um grupo de professores, idealizou e articulou juntos aos políticos influentes da década de 1960, em Catalão, a criação desta instituição de ensino.

D. Helena aceitou o convite de narrar a sua história dizendo-se receosa de não se lembrar com precisão dos fatos e datas em virtude da idade avançada.

Em uma pequena sala estavam os livros e alguns objetos que pertenceram à sua irmã, demonstrando o zelo e o empenho em preservar a memória da família. A residência da professora Helena também nos conta uma história com sua bela arquitetura, despertando em nós a curiosidade em conhecer as pessoas que por ali transitam, ou transitaram.

No início da entrevista, quando solicitada a nos contar como foram seus primeiros contatos com os livros e com a escola, D. Helena diz:

Meu primeiro contato com a escolarização é que eu sou irmã de Terezinha, [...] então ela em casa, ela abriu uma escola para ajudar a manter a nossa família. Ela tinha uma escolinha pequena, e nesta escolinha ela lecionava. [...] Então quer dizer que a gente viveu sempre dentro da educação. (informação verbal).

Interessante observar a forma como ela nos respondeu, pois todo referencial de educação é voltado para a própria irmã, que era professora. Ao longo de sua narrativa ressalta que tudo que aprendeu foi com a irmã, observando-lhe o modo de ser, a forma de lidar com o cotidiano da escola, a didática apreendida para dar suas aulas:

A minha irmã Terezinha foi uma educadora, mas uma educadora mesmo! Ela não foi uma professora, ela foi uma educadora. Ela dava suas aulas e eram muito bem recebidas suas aulas e ela educava o aluno. Ela era uma pessoa respeitadíssima! E eu fui criada sob a tutela dela, mamãe era viva, mas mamãe naquela época era bem doente. Então eu acho que eu herdei isso dela, eu via aquilo, simplesmente via, mas não participava. Mas eu tive essa felicidade de ter condições de passar para o aluno aquilo que eu queria. O que eu ensinava era pouco, mas eu tinha consciência do que eu estava ensinando. (informação verbal).

As memórias formativas de D. Helena sem dúvida nenhuma apresentam fortes reflexos da educação rígida recebida, a princípio, de sua irmã D. Terezinha, depois, das irmãs agostinianas do Colégio Nossa Senhora Mãe de Deus onde estudou. Sua dinâmica de trabalho como professora, e que norteou as demais experiências, dentre elas como docente do Curso Técnico em Magistério foi marcada pela rigidez disciplinar vivenciada como aluna. Em seus relatos fica evidenciada a forma de lidar com o aluno, marcada por certo distanciamento e respeito. Essa era uma prática comum entre os professores das décadas de 1960, 1970 e 1980.

Sua experiência como professora de português no curso Técnico de Magistério (normal naquela época) é avaliada por ela como boa. Além disso, ela demonstra consciência das dificuldades na implantação do curso:

Naquela época era tudo muito precário, tudo muito fundação, e uma fundação precária, mas tudo tem que ter um começo. Apesar de não ter sido uma coisa no meu modo de pensar e de ser e de avaliar que não foi uma coisa assim 100%. Uma coisa boa, 100% é como se fala porque hoje não tem nada 100%, isso é força de expressão. Mas por ser uma coisa assim que a gente queria, foi um pouco aquém, um tanto aquém, mas eu acho que teve seu valor! Teve o seu valor porque com aquilo começou e depois eu saí logo e não tomei conhecimento. (informação verbal).

As percepções diferentes relativas a cada época demonstradas pela professora Helena nos ajudam a compreender os significados a elas atribuídos. Apesar de reconhecer que o curso teve seu “valor17”, ela não possui uma visão idealizada do curso de magistério.

Helena compartilhou de outras experiências formativas importantes para a história da educação em Catalão. Em 1960, participou de um curso em Minas Gerais que lhe conferiu o cargo de orientadora urbana das escolas primárias de Catalão na Campanha para a Erradicação do Analfabetismo. Durante o ano de 1965, foi professora no Centro Formação de Professores de Catalão. Helena relata que: “a fundação do Centro de Formação foi assim: a Campanha de Erradicação ia terminando, com isso sentimos a necessidade das professoras leigas se aperfeiçoarem. E para o aperfeiçoamento dessas professoras fazíamos cursos em julho, em dezembro.” (informação verbal).

Outro relato interessante feito pela professora diz respeito às interferências da política partidária na educação de Catalão, experiência vivenciada por ela e sua irmã, também professora, quando foram colocadas à disposição do Colégio Estadual João Netto de Campos. Tal fato a marcou profundamente, sendo considerado como uma das piores recordações daquele tempo. “Nós fomos colocadas à disposição, a cadeira primária à disposição do Estadual.” (informação verbal).

Nas aproximações entre esta professora e as demais entrevistadas vemos que, embora D. Helena tenha dito que nunca pensou em ser professora, na verdade, sua trajetória de vida familiar a conduziu a este ofício. Talvez isso se justifique pelo fato de ter nascido em um ambiente fortemente marcado pela educação.

Sobre o seu ser professora, ela nos esclarece: “Você quando quer uma coisa, você não fala, já é! Você vê que o imperativo é energia, é ordem, é pedido, é súplica. Então para mim o imperativo é uma maneira de fazer.” (informação verbal).

Quando a questionamos sobre o que considera ter sido o fato mais importante para sua formação, ela diz: “Eu acho que foi meu lar.” (informação verbal).

8 NOSSAS VIDAS E A INTENÇÃO DE SERMOS PROFESSORES E PROFESSORAS

A articulação deste artigo com a história de vida dos professores que dispuseram as suas narrativas para o nosso conhecimento e agora para o conhecimento dos leitores foi um exercício de lembranças e de ressignificações. Ao lermos as histórias das professoras nos deparamos com as nossas próprias histórias e com as histórias da nossa formação e, é claro, que em cada narrativa a nossa intenção em sermos professores foi reforçada, ou elucidada em alguma palavra, em algum gesto, em alguma situação das entrevistas.

Consideramos essas narrativas importantes, pois marcam e fecham um ciclo na história da educação do Brasil e de Catalão, um ciclo marcado pela força da formação nos cursos Técnicos de Magistério. No trio formado para este estudo, duas autoras tiveram a sua formação marcada por um curso de Técnico de Magistério e puderam compartilhar com as entrevistadas as lembranças e os relatos de formação.

Nas histórias de vida destas professoras vimos como cada uma delas apresenta as estratégias que utilizaram no sentido de superar as dificuldades encontradas e, como ressalta Gonzalez Rey (2010), o homem cresce nas adversidades da vida, nem sempre fazemos apenas aquilo que gostamos, na maioria das vezes, como nos revelam em suas narrativas, não houve uma escolha de se tornar professora, ou mesmo da escola que foram trabalhar. Em geral, foram movidas por imposições políticas e sociais que as levaram a se deslocarem de um lugar para outro, de escolas e de cidades. Com certeza, o que nos foi revelado foram experiências relevantes, aquelas que de alguma forma marcaram suas vidas, positiva ou negativamente, denunciadas ou pela demora em responder, ou mesmo pelo silêncio das professoras.

Quando pensamos na intencionalidade não sabíamos com o que íamos nos deparar, pensávamos que em alguns relatos essa intencionalidade poderia estar encoberta, debaixo de escombros que a vida poderia ter tratado de depositar em cima de uma intenção frágil ou remota, mas quando fomos coletando os relatos e relendo os depoimentos percebemos que alguns escombros haviam tentado encobrir uma intenção, mas em nenhum caso eles conseguiram soterrar a intenção de ser professor.

Deparamo-nos com intenções e identidades construídas e reconstruídas em cada obstáculo, em cada momento da vida e podemos, como Josso (2010a), compreender “a vida como um campo de formação.” Então, as escolhas profissionais, a formação acadêmica, as relações com as pessoas determinam e ao mesmo tempo são contingências que podem definir quem somos e o que fazemos no mundo sempre em constante movimento. Nas palavras da autora:

O passado (a trajetória de vida centrada em sua formação) explica a intencionalidade presente, permite compreender o que pode vir a acontecer, e, por seu turno, a intencionalidade presente explica o passado e permite compreender o que ainda não ocorreu. É o encontro desses dois procedimentos interpretativos que se postula a possibilidade de emergência de uma tomada de consciência do sujeito descobrindo sua margem de liberdade, no próprio centro das determinações que a limitam, tanto no que ainda não ocorreu e que recusou a ser como no que pode vir a acontecer e que procura ser. (JOSSO, 2010b, p. 99).

Refletir sobre como a vida se apresenta a cada um de nós e o que fizemos com esse convite incessante constituem o fundamento da nossa busca quando nos posicionamos para ouvir, acolher e analisar as narrativas e histórias de vida de professores. Neste estudo, vimos respostas sobre o esquema humano de cada uma das entrevistadas, as dimensões da vida que levam em conta a constante busca por harmonização das dimensões pessoais, profissionais, políticas e sociais (JOSSO, 2010b). Percebemos que a munição da intencionalidade surge de diversas formas, na família, nas relações da escola, na comunidade e na vontade íntima e pessoal de querer ser professor, em cada minuto do dia.

Munidos da nossa intencionalidade na construção deste artigo partimos de alguns pressupostos que povoam o nosso dia a dia na coleta de narrativas, como: o projeto de ser professor ser fruto do acaso, os processos de formação serem externos aos desejos e anseios do próprio sujeito, ou o professor ser uma “vítima do destino” na sua trajetória de formação. Como a nossa fundamentação está pautada no entendimento trazido por Nóvoa (1988), em que a formação deve ser entendida como uma tomada de consciência reflexiva (presente) de toda a trajetória de vida percorrida, nossa problematização está focada em elucidar como, quando ou por que o projeto de si torna-se intencional.

Para responder a nossa problematização, além das narrativas espontâneas, perguntar no momento da entrevista, quando foi que você começou a pensar “eu sou professora”? Ou, em que momento da sua vida nasce a professora? Foram perguntas fundamentais para percebermos o quanto as professoras entrevistadas já tinham se deparado com esse questionamento e o quanto já haviam identificado, mesmo que de forma provisória, uma resposta para o momento em que se perceberam professoras. Compreendemos tanto a intencionalidade quanto a identidade como construções mutantes. Hall (2011) salienta a partir de Mercer (1990) que a identidade se torna uma questão quando algo posto, fixo é transformado em incerteza, a experiência de dúvida gera esse deslocamento. Nas entrevistas conseguimos perceber muito bem esses deslocamentos, os momentos de dúvidas, de incertezas que geraram a transformação e que fizeram as professoras responderem prontamente: “quanto comecei a dar aula no magistério” (Professora Clara) ou “quando eu tinha 13 anos” (Professora Leda).

Josso (2010a, p. 42) explica que

As experiências de transformação das nossas identidades e de nossa subjetividade são tão variadas que a maneira mais geral de descrevê-las consiste em falar de acontecimentos, de atividades, situações ou de encontros que servem de contexto para determinadas aprendizagens.

As memórias narradas são tão complexas que remetem ao que Josso (2010b) chama de experiências de transformação das nossas identidades.

Com esse estudo percebemos nas narrativas o quanto essas transformações mudaram a ordem do instituído, principalmente se considerarmos as questões de gênero, pois em dois dos relatos percebemos a força, o empenho e o sofrimento gerado por uma escolha simples, como continuar os estudos, para uma mulher no interior de Goiás. Embora já na década de 1960, isso não era uma tarefa fácil, gerando mudança de cidade, afastamento da família e enfrentamento do senso comum sobre a condição e a profissionalização feminina.

A possibilidade inicial de seguir os estudos, possibilitando uma profissionalização e as suas atribuições, transformou a ordem familiar, pessoal das professoras entrevistadas e das suas relações. A partir dessa análise, favorecer as transformações, gerando o instituinte, ou seja, o que pode ser transformado com a partir das escolhas pessoais e com a própria prática profissional foi recorrente nos relatos. Nas palavras de Schaffel (2000, p. 103), “a socialização se constitui em um processo de identificação, de construção de identidade, ou seja, de pertença e de relação.” A mesma autora, que aborda a questão da construção da identidade, refere que “a identidade não é jamais concedida. Ela é sempre construída e reconstruída em um ambiente de incerteza, mais ou menos grande e mais ou menos, durável.” (SCHAFFEL, 2000, p. 105).

Nas narrativas percebemos que a intenção de cada escolha foi construindo a identidade de ser professora e fez com que todas as professoras entrevistadas pudessem responder sobre o momento que se perceberam professoras. Nas histórias de vida vimos que não houve algo concedido, e sim uma construção transformadora que rompeu com o instituído do feminino e possibilitou a transformação do papel e da formação de mulheres do nosso século.

Como falamos de escombros que poderiam ter soterrado as intenções, nas narrativas eles apareceram claramente na forma de dificuldades de gênero, desvalorização social e financeira da profissão, na dificuldade de romper com o estabelecido, ou com o esperado em uma época e em um certo espaço (social, familiar, profissional). Sem dúvida, os escombros foram utilizados na construção de novas intenções e identidades e, em alguns momentos, também foram impulsionadores de deslocamentos, causadores de crises que necessitavam de uma resolução e a resolução encontrada foi ser professora, tornando o seu projeto de si intencional, sem deixar de ser duvidoso, incerto, flexível e transformador.

Notas explicativas

1 Para Delory-Momberger (2012, p. 526), o que a entrevista da pesquisa biográfica procura apreender e compreender é justamente a configuração singular de fatos, de situações, de relacionamentos, de significações, de interpretações que cada um dá à sua própria existência e que funda o sentimento que tem de si próprio como ser singular.

2 As histórias de vida, ou abordagem auto(biográfica), ganham expressão a partir dos anos 1970, desenvolvendo-se durante os anos 1980 com práticas desenvolvidas simultaneamente em Montreal por Pineau, Genebra por Dominicé, Paris por Courtois/Bonvalot, Louvain-la-Neuve de Villeres. Essa corrente permite que a abordagem biográfica seja utilizada como um instrumento, simultaneamente de formação e pesquisa, baseando-se na experiência de vida dos sujeitos. Neste sentido, ela se distingue, conforme nos diz Josso (2010a, p. 133) “radicalmente dos outros usos em ciências do humano, no sentido de que a produção de conhecimentos pelos participantes para si mesmo prevalece sobre a produção de um saber científico.”

3 Para a coleta das narrativas buscamos estabelecer um ambiente amigável entre pesquisadores e professoras colaboradoras, realizando uma visita preliminar para explicar os objetivos da pesquisa. A experiência das visitas na casa das professoras evidenciou a importância de reservarmos um tempo para nos aproximarmos, para ouvirmos e estabelecermos um elo de confiança com as professoras colaboradoras, tendo em vista a realização posterior das entrevistas.

4 Todos os nomes são fictícios e foram adotados pseudônimos para preservar as identidades das professoras entrevistadas.

5 Entrevista realizada com a professora Clara, em Catalão/GO no dia 24 de janeiro de 2014.

6 Trecho retirado do memorial escrito por Clara.

7 Trecho retirado do memorial escrito por Clara.

8 Entrevista realizada com a professora Clara, em Catalão/GO no dia 24 de janeiro de 2014.

9 Curso de Letras realizado na Universidade Federal de Goiás - Regional Catalão.

10 Pseudônimo escolhido pela própria professora entrevistada.

11 Entrevista realizada com a professora Gabriela, em Catalão/GO no dia 28 de janeiro de 2014.

12 Trecho retirado da escrita feita com Maria Rita.

13 Afirmativa da professora Maria Rita.

14 Conforme escreveu Maria Rita em seu memorial, ela estudou e morou em sistema de internato por dois anos no Colégio Santa Marcelina em São Paulo, o qual era dirigido por freiras.

15 Delory-Momberger (2006, p. 362).

16 Entrevista realizada com a professora Helena, em Catalão/GO no dia 14 de fevereiro de 2014.

17 Retirado da entrevista com a professora Helena em Catalão/GO no dia 25 de fevereiro de 2014. (segunda parte da entrevista).

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Recebido em 22 de junho de 2015

Aceito em 06 de janeiro de 2016

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