https://doi.org/10.18593/r.v47.28232

Jornal do professor: a voz do magistério do estado de Pernambuco (1955-1962)

Jornal do professor: la voz del magisterio del estado de Pernambuco (1955-1962)

“The teacher’s newspaper”: the voice of teaching in the state of Pernambuco, Brazil (1955-1962)

Iracema Santos Carvalho dos Anjos1

Universidade de Pernambuco; Professora e Pesquisadora.

https://orcid.org/0000-0001-7361-2102

Virgínia Pereira da Silva de Ávila2

Universidade de Pernambuco; Professora Associada/Livre-docente.

https://orcid.org/0000-0002-2634-1474

Resumo: Este texto propõe analisar as características e as principais notícias veiculadas no Jornal do Professor, com enfoque na divulgação das ações do Centro de Professorado Primário de Pernambuco (CPPP), no período entre os anos de 1955 e 1962. O exame ocorreu nas matérias publicadas nas 84 páginas dos exemplares do periódico, localizado no Arquivo Público Estadual de Pernambuco, em Recife (PE). A delimitação temporal compreende o primeiro ano de circulação do Jornal do Professor até o último disponível neste arquivo. Trata-se de pesquisa histórico-documental, que se insere na perspectiva da História Cultural e da História e Historiografia da Educação. O conjunto de matérias do Jornal do Professor evidencia as fragilidades das políticas educacionais destinadas ao magistério pernambucano, entre elas, a diferença nos vencimentos conforme a delimitação espacial. Além disso, os professores e professoras que viviam na zona rural sofriam com a desvalorização, o que gerou uma situação de descrédito do magistério, e a condição de povo esquecido em matéria de educação, justamente em um momento de expansão da educação e do ensino elementar no Brasil.

Palavras-chave: Jornal do Professor; História da Educação; Magistério; Profissionalização docente.

Resumen: Este texto se propone analizar las características y las principales noticias transmitidas en el ‘Jornal do Professor’ (‘Periódico del Profesor’), con enfoque en la divulgación de las acciones del Centro de Profesorado Primario de Pernambuco (CPPP), entre los años 1955 y 1962. Este análisis fue realizado a partir de los artículos publicados en las 84 páginas de los ejemplares del periódico, localizados en el Archivo Público Estadual de Pernambuco, en la capital del estado, Recife. La delimitación temporal abarca desde el primer año de circulación del periódico hasta el último disponible en este archivo. Se trata de una investigación histórica-documental que se inserta en la perspectiva de la Historia Cultural y de la Historia e Historiografía de la Educación. El conjunto de artículos del ‘Jornal do Professor’ pone en evidencia las fragilidades de las políticas educativas destinadas al magisterio pernambucano, entre ellas, una diferencia en los sueldos a lo largo del estado. Además, los profesores y profesoras que vivían en la zona rural sufrían una desvalorización de la profesión, lo que generó el descrédito del magisterio y una condición de abandono del pueblo en materia de educación por parte de las autoridades, justo en un momento de expansión de la educación y de la enseñanza elemental en Brasil.

Palabras clave: Jornal do Profesor; Historia de la Educación; Magisterio; Profesionalización docente.

Abstract: This paper analyzes the characteristics and the main news published in the “Teacher’s Newspaper”, focusing on the dissemination of the activities of The Primary Teacher Center of the state of Pernambuco, Brazil (CPPP) between 1955 and 1962. We analyzed all the 84 pages of the copies of the newspaper that are stored in the Pernambuco State Public Archive, which is in the state’s capital, Recife. The period ranges from the first year of circulation of the newspaper until the last one available in the Public Archive. We carried out a historical and documentary research that falls within the fields of Cultural History and Historiography and the History of Education. The set of articles published in the Teacher’s Newspaper sheds light on the deficiencies of the education policies formulated in the state of Pernambuco, including the spatial wage gap across the state. Moreover, teachers who lived in rural areas suffered the depreciation of the profession, which led to the discredit of teaching and to the condition of abandonment by the authorities in terms of education at a time when education, especially primary education, was expanding in Brazil.

Keywords: The Teacher’s Newspaper; History of Education; Teaching; Teacher professionalization.

Recebido em 12 de agosto de 2021

Aceito em 28 de março de 2022

1 INTRODUÇÃO

“A voz do ideal comum do professorado”

(Jornal do Professor, 15 de março de 1955, p. 1)

O Jornal do Professor foi criado em 1955 como órgão de divulgação das ações do Centro de Professorado Primário de Pernambuco (CPPP) e parte estratégica de um conjunto de Centros de associação profissional de professores e de professoras no país3. O CPPP foi criado em 1951 pela professora Maria Elisa Viegas de Medeiros4 e teve a sua licença de funcionamento concedida durante o período de intervenção no estado de Pernambuco no governo de Agamenon Magalhães. Contudo, as atividades só iniciaram no ano de 1955 com a publicação do Estatutos do CPPP no Jornal do Professor.

Como observa Carvalho (2014), o movimento associativo de trabalhadores no Brasil vivenciou entre a década de 1950 até o golpe militar, em 1964, uma experimentação democrática e de incentivo à sindicalização e à representação profissional, além de certa liberdade da imprensa editorial. No exame de Carvalho (2014) e de Ferreira (2008), esse período tem como característica o desenvolvimentismo com base na industrialização e avultado investimento na educação que se formou em observância a mudanças culturais, políticas e as econômicas em andamento nas sociedades, e de modos diferentes nas regiões brasileiras até os primeiros anos da década de 1960.

No campo educacional, a criação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP)5, em 1937, permitiu a elaboração de pesquisas e de levantamentos de dados que subsidiassem a implementação das políticas públicas educacionais, exemplo disso foi a criação dos Centros Regionais de Pesquisas Educacionais (CRPEs), pelo Decreto n.º 38.460, de 28 de dezembro de 1955, instalados no Distrito Federal e nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia e no Rio Grande do Sul. Do ano de 1955 até 1962 é possível dizer que priorizou-se a educação elementar (ensino primário) e a técnica profissional (agrícola e a industrial) no país, com a cooperação do capital estrangeiro. Destaca-se a Campanha Nacional de Educação Rural (CNER)6, o Movimento de Educação de Base (MEB)7, Decreto n.º 50.370 de 21 de março de 1961, e a tramitação e promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei n.º 4.024 de 20 de dezembro de 1961 (BARREIRO, 2010).

Neste estudo, nos detivemos nas 84 (oitenta e quatro) páginas dos exemplares do Jornal do Professor localizados no Arquivo Público Estadual de Pernambuco Jordão Emerenciano, em Recife (PE). Há um conjunto de 33 (trinta e três) exemplares em formato impresso posteriores ao ano de 1962 na Biblioteca da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FAUSP), em São Paulo capital, Brasil8. O Jornal do Professor circulou entre os anos de 1955 e 1989.

Nos anos 1950 até o início dos 1960 do século XX o Jornal do Professor publicou matérias9 próprias do periódico e do CPPP nas quais foram assinadas pelos professores e professoras do magistério pernambucano associados10 ao CPPP, além de autoria de colaboradores locais, do estado de Pernambuco, e de outros profissionais colaboradores de diferentes regiões do país e áreas do conhecimento científico correlacionadas à educação e ao ensino, como engenheiro agrícola, psicólogos, nutricionistas e sociólogos.

Conforme Vicentini e Lugli (2009, p. 117) em “Um ano após a sua fundação, o CPPP já contava com mais de mil associados e, em março de 1957, o Jornal do Professor apresentava uma tiragem de 3 mil exemplares mês”, todavia, em termos de representatividade docente o CPPP pernambucano era formado por pequena parcela de professoras e professores. De acordo com os dados estatísticos do Anuário Estatístico de Pernambuco publicado no ano de 1955 o quantitativo perfazia um total de 6.592 professores em âmbito estadual, municipal e particular.

Para Tenório da Silva (2011), a criação do CPPP e do Jornal do Professor era parte das ações introdutórias do corporativismo do governo interventor de Agamenon Magalhães (1951-1952) no estado de Pernambuco. No Brasil, a interpretação do corporativismo fez-se pela “institucionalização de uma estrutura corporativa, vertical e hierarquizada, abrindo espaço à representação de interesses dos novos atores ligados à ordem industrial emergente”, de acordo com Gomes (1999, p. 12).

Enquanto objeto ideológico-institucional, a título de exemplo, o corporativismo no período do Estado Novo (1937-1945) brasileiro, inaugurado com a Constituição de 1937, em parte associação a modelos circulantes no mundo11, no tocante à imprensa editorial, fora papel do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), pela doutrinação, divulgar a educação como via de adaptação a uma nova sociedade. Depois, no tempo da industrialização do governo do presidente Juscelino Kubistchek de Oliveira (1956-1961)12, os princípios do corporativismo, ainda presentes se transfiguraram em forma mais civilizada e tolerante. Kubistchek quando assumiu a presidência em janeiro de 1956 solicitou ao Congresso a abolição do estado de sítio, a fim de realizar um governo mais democrático, em seguida suspendeu a censura à imprensa no país e a imprensa editorial brasileira não se dispôs às medidas de exceção do estadonovista (GOMES, 1999).

Com relação aos aspectos metodológicos, o delineamento da pesquisa é de cunho histórico-documental. Esse tipo de pesquisa recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, conforme assinala Fonseca (2002, p. 32), citado por Gerhartd e Silveira (2009).

O referencial teórico-metodológico está ancorado nas obras de Carla Bassanezi, Pinsky e Tania Regina de Luca (2008, p. 111-154; 2009) sobre a análise historiográfica, documentos históricos, fontes e em especial, a imprensa editorial como fonte documental histórica à produção do conhecimento científico. De acordo com Ferreira (2009, p. 62-63), a princípio a concepção de fonte pautou-se na Teologia e no Direito no sentido de “determinação e de fixidez” desses conhecimentos, e de escrita oficial, depois, para este autor, nos séculos XIX e XX “não mais circunscritas aos documentos políticos oficiais”. Por conseguinte, nesta orientação, concedeu-se a inclusão de fontes como as que indicam Fonseca (2002, p.32) e Gerhartd e Silveira (2009). Em conjunto, os autores e as autoras deste estudo entreveem no alargamento do conceito de fonte documental histórica a possibilidade de uma renovação dos temas a historiografia e a perspectiva de se focalizar os sistemas culturais.

Valemos de Vicentini e Lugli (2009, p. 105) que trazem a vista um panorama das associações de classe e da história da profissão docente no Brasil. O estudo indica que o movimento de professores no país constituiu-se em modelo de associações da classe de professores docentes e de uma organização profissional em nome da categoria. As autoras compreendem que o movimento docente se configurou em modo de representações dos grupos de interesse solidários, sobre as questões em torno do trabalho e como elemento social. Os primeiros movimentos associativos de docentes foram de professoras e professores primários, na segunda metade do século XIX na cidade do Rio de Janeiro, no estado de Pernambuco e no Rio Grande do Sul. No século XX, especialmente após o tempo do Estado Novo, a situação educacional era favorável a criação de associações de docentes, constituídas de magistério primário, de professores de formação em nível médio, nos estados do país, entre eles, no de Pernambuco. Conforme as autoras, as associações da classe de trabalhadores foram “no âmbito do movimento docente um modelo associativo que, até o final de 1970, foi predominante” (VICENTINI E LUGLI, 2009, p. 105).

O artigo está estruturado em quatro seções incluída está introdução, a segunda Características do Jornal do Professor do estado de Pernambuco (1955-1962), apresenta a estrutura organizacional e jornalística. A terceira, A voz legítima de nossa classe13: tipologias dos textos e autoria das matérias, com a classificação dos tipos de textos e a identificação e resumida descrição de determinados autores. E, por último, as Considerações Finais.

2 CARACTERÍSTICAS DO JORNAL DO PROFESSOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO (1955-1962)

[...] os jornais são antes de tudo ambientes de sociabilidade entre pares, espaços de visibilidade de determinados grupos e de silenciamento de outros; locais privilegiados para a constituição de distinções simbólicas e para a construção, reconfiguração e exposição de valores, ideias e sensibilidades (CAMPOS, 2012, p. 64).

A imprensa editorial de acordo com Luca (2008, p. 132), no final da década de 1960 passou à condição de fonte primária não somente a título de se obter informações, mas a possibilidade de compreensão de interesses e da sua função social e de intervenção na vida das sociedades. A historiadora aponta que no trabalho com os jornais deve-se observar os seus aspectos: na apresentação física e na estruturação do seu conteúdo, em consonância com Campos (2012), a veiculação dos sentidos assumidos no momento de sua circulação e associados a seu público-alvo (LUCA, 2008).

Com relação ao tratamento do jornal, incialmente ocorreu a digitalização de 84 (oitenta e quatro) páginas do Jornal do Professor do período de 1955 a 1962, disponíveis no Arquivo Público de Pernambuco Jordão Emerenciano, em Recife (PE). E na sequência, o mapeamento das matérias e a sistematização por assunto, depois de lidas e de selecionadas com base na aderência ao tema e à questão do estudo.

Após o mapeamento, as matérias selecionadas foram grifadas por assuntos de destaque. Por último, os dados copilados foram organizados em 33 (trinta e três) quadros: período do exemplar, número da página, título e a(s) autoria(s) dos textos, tipologia dos textos e destaques nas matérias. A classificação das matérias por tipologia textual se apoiou no trabalho da pesquisadora portuguesa Aurea Adão (2012, p. 22), Repertório de periódicos educacionais portugueses do século XX: um repertório cronológico, temático e onomástico, que categorizou os jornais portugueses de 1945 até 1969 de acordo com os gêneros jornalístico e os tipos dos textos das matérias, em síntese estabeleceu-se:

Em 1955, a impressão do Jornal do Professor era realizada na sede e oficina do A Tribuna14 na Rua do Riachuelo n.º 105, em Recife. No ano de 1958 mudou para a Rua Padre João Ribeiro, n.º 49, na mesma cidade. Em 1959 passou a funcionar na Rua da Matriz, em prédio da sede do CPPP na capital pernambucana, Recife. Nos exemplares a partir do ano de 1960 até 1962, não constam endereços da sede e da oficina. Não obstante, em 1959 observou-se outro tipo de mudança no exemplar n.º 2 do periódico do bimestre agosto-setembro, quando a nomenclatura Centro de Professores Primários de Pernambuco (CPPP) passou a Centro dos Professores de Pernambuco (CPP). Em 1980 o então governador do estado de Pernambuco, Marco Antônio de Oliveira Maciel (1940-2021), doou terreno para a construção da sede do CPP, inaugurada em 1986, que ainda se encontra à Rua Souza Bandeira, n.º 54, no bairro Zumbi, em Recife.

Como evidencia Campos (2012) citando Sevcenko (1989, p. 94), a materialidade do jornal impresso é breve e, no Brasil, a imprensa editorial constituiu-se lentamente, por meio de novos parâmetros “de impressão e de edição” que possibilitou “o seu barateamento, um melhor acabamento e tratamento literário”. As diferentes transformações deram-se mais fortemente a partir do início na década de 1950, na pequena imprensa editorial brasileira, e no estado de Pernambuco a produção do Jornal do Professor seguiu-as em grande parte.

No visual de impressão a partir do seu exemplar n.º 25 de maio de 1957 até o ano de 1962, com as mudanças visuais: no cabeçalho, o tipo de letras, mais definidas e suaves; nas cores das letras, azuis em títulos de alguns exemplares; no nome da diretora e endereço sede, removendo-os; nas colunas, espaço diagramado fixo com o título e o cabeçalho das seções, a dimensão a mais igual; nas imagens: em maior dimensão e melhor definição. Ainda sobre o cabeçalho, conservou-se a identificação do periódico de órgão do CPPP e a frase Señor: Dame el Amor Único de mi Escuela, extraída de La Oracion de La Mestra da poetisa e educadora chilena Gabriela Mistral (1889-1957). Seguem, portanto, os visuais de impressão do Jornal do Professor de antes e de depois das modificações (Figuras 1 e 2).

Figura 1 – Jornal do Professor (1955)

Texto

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Arquivo Público Estadual de Pernambuco, 2017.

Figura 2 – Jornal do Professor (1957)

Jornal com texto preto sobre fundo branco

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Arquivo Público Estadual de Pernambuco, 2017.

Por outro lado, pelo exame contextual do periódico, vale mencionar que nos exemplares do ano de 1957 ocorreram mudanças na estruturação do conteúdo dos discursos e dos pronunciamentos15. Em primeiro, pela criação de espaço editorial de colunas a matérias que veiculassem temas antes não demandados, como as seções Patrono de Nossas Escolas, destinadas a biografias de pessoas representativas da sociedade cujos nomes foram cedidos às escolas públicas do estado de Pernambuco e a Metodologia da História da Pátria que se autodefine. Outra coluna foi inserida em 1958 a seção Relatórios, a descrição dos professores e das professoras do magistério sobre as suas práticas na sala de aula das escolas.

De 1959 até 1962 observou-se a recorrência de matérias cujas temáticas eram unidas pelos novos sentidos educacionais em circulação no país, preliminarmente vistas na seção Novos Planos de Trabalho, a uma série de matérias publicadas em 1959 que acompanhavam o progresso da Educação e os métodos de ensino, e enumeravam e analisavam os seis cursos de formação técnica disponíveis à época no estado de Pernambuco. E outras que ofereciam cursos ao aperfeiçoamento das professoras e dos professores do magistério pernambucano em serviço.

As matérias publicadas nos exemplares de n.º 57 até o n.º 62, nas páginas n.º 4, no semestre janeiro a junho de 1962, traziam informações sobre a necessidade de formação do magistério pernambucano no Curso Intensivo de artes industriais. A revisão da formação docente para o ensino primário, industrial e o agrícola, com base nas matérias (disciplinas) básicas do ensino pela LDB n.º 4.024/1961, acordado entre a Secretária de Educação de Pernambuco e o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP).

Com relação aos aspectos da estruturação associativa de administração do Jornal do Professor, essa era composta por uma presidente, a professora Maria Elisa Viegas de Medeiros, e duas diretoras, as professoras Armiragi Brenckenfeld Lopes Afonso (educacional) e Inalda Guerra (gerente), que gerenciou o setor comercial de circulação e de venda dos exemplares: a docente e aos colaboradores associados ao CPPP o valor de compra era de CR$2,00 (dois cruzeiros)16, aos leitores em geral o avulso era de CR$35,00 (trinta e cinco cruzeiros) e as assinaturas mensais, de CR$20,00 (vinte cruzeiros).

Quanto à organização do conteúdo editorial para circulação no estado de Pernambuco, o ano, a periodicidade, os números dos exemplares e outras especificidades sofreram mudanças ao longo do tempo, como se observa na Tabela 1:

Tabela 1 – Sistema de publicação do Jornal do Professor (1955-1962)

Ano

Periodicidade de circulação

Periodicidade dos exemplares

Número dos exemplares

Quantidade total de páginas dos exemplares

I

Quinzenal

15 mar. 1955 a 15 jan. 1956

1-4; 6; 8-10

26

II

Quinzenal

15 mar. 1956 a 15 fev.1957

11-13; 15-18 e 22

16

III

Quinzenal

15 mai. 1957 a 15 dez. 1958

25; 26; 28; 31-33

20

IV

Bimestral

15 fev. E mar. 1959

15 abr. E mai. 1959

15 jun. e Jul. 1959

15 ago. E set. 1959

15 out. E nov.1959

38-42

12

V

Bimestral

15 fev. E mar. 1960

15 abri. E mai. 1960

15 jul. E ago. 1960

44 e 45

04

VI

Bimestral

15 abr. E mai. 1961

15 ago. E set. 1961

s/n.

03

VII

Semestral

15 jan. E jun. 1962

57 a 62

03

Fonte: Jornal do Professor (1955-1962), 2018.

O Jornal do Professor adotou a mesma forma de produção dos impressos da pequena imprensa editorial do seu tempo, de formato standard17composta de seis páginas e de diagramação das seções em colunas. No ano 1955, na primeira página, uma coluna central para a seção Editorial e mais duas laterais, uma a seção Problemas Escolares e a outra reversava-se periodicamente entre três seções: Clubes Agrícola; Educação e Escola Rural; e Educação e Extensão Rural. Nas demais páginas: o quadro Expediente, a designação da direção e valor comercial dos exemplares; e as principais seções Editorial, Comentários, Notícias do Legislativo, Relatórios, e De Colega para Colega (JORNAL DO PROFESSOR, 1955-1962).

Os autores das matérias tratavam principalmente de questões em torno da formação profissional de professoras e de professores docentes do estado de Pernambuco, da legislação educacional e das condições de trabalho do magistério pernambucano, além de tendências metodológicas de ensino e das práticas pedagógicas que formaram um panorama do magistério, da educação, e do ensino da área urbana e da rural. A priori é possível dizer que no conjunto de matérias publicadas no Jornal do Professor destaca-se a divulgação docente de dificuldades vivenciadas pelo magistério, pela ausência de infraestrutura nas escolas e de ordem pessoal de professores do magistério, pela diferença salarial entre o magistério rural e o urbano.

3 “A VOZ LEGÍTIMA DE NOSSA CLASSE”: TIPOLOGIAS DOS TEXTOS E AUTORIA DAS MATÉRIAS

A organização das matérias do Jornal do Professor, com base na metodologia utilizada pela pesquisadora Áurea Adão (2012), resultou em uma ordenação por tipologias textuais conceituadas com base no conhecimento do jornalismo: artigos de opinião, estudo, editorial, reportagem, notícia, discursos, entrevistas, biografias, legislação e mesa redonda, que gerou o gráfico (1).

Gráfico 1 - Tipologia dos textos das matérias

Fonte: Jornal do Professor (1955-1962), 2018.

O gráfico (1) apresenta meio ponto percentual maior em quantidade de matéria do tipo notícias em relação a artigos de opinião. As matérias do tipo estudo e as de reportagem estão em terceira e quarta posição de publicação no Jornal do Professor. Essas últimas, em maior quantidade de publicação no ano de 1955 até 1958. Acontece que esse período foi das primeiras atividades do periódico e dele consolidar-se como entidade de uma parcela de docentes em um cenário nacional de intensas transformações pela valoração da educação primária e a expansão do ensino, além de ações governamentais para formação educacional e técnica profissional do magistério.

Por outro lado, na ocorrência do declínio quantitativo de matérias no período, que se percebeu desde os derradeiros exemplares de 1957, é possível vinculá-la a um novo interesse editorial observado nos discursos de fundo a atrair os votos do eleitorado docente e da sociedade pernambucana destinados à campanha da Maria Elisa Viegas de Medeiros, presidente do periódico, à reeleição para o legislativo estadual de mandato de 1959 a 1963, diga-se, a qual não logrou êxito.

Outra variante que pode reforçar essa possibilidade é que em março de 1957 o periódico “apresenta uma tiragem18 de 3 mil exemplares por mês, o que pode dar uma ideia aproximada da influência da entidade, e indicam uma significativa adesão do magistério diplomado pernambucano” de acordo com Vicentini e Lugli (2009, p. 117). Tendo em vista que “apenas 3.549 docentes haviam passado pelo curso normal” segundo Gonçalves e Vasconcelos (1962), citados por Vicentini e Lugli (2009).

Com relação aos autores das matérias publicadas no Jornal do Professor, segue uma demonstração na tabela (2), e depois uma breve identificação das especificidades das publicações nos quadros do quantitativo de publicações que se apresenta na tabela (2).

Tabela 2 - Sistematização da autoria e quantitativo de matérias. Jornal do Professor

Publicação

Autoria

Quantitativo

Centro de Professorado Primário de Pernambuco (CPPP)

Maria Elisa Viegas de Medeiros

32

Jornal do Professor

Maria Elisa Viegas de Medeiros

19

Colaborador 1

Jair Furtado de Meireles

10

Jornal do Professor

Armiragi A. Breckenfeld Lopes Afonso

05

Colaborador 2

Marcia Carlota Breckenfeld Lopes Afonso

02

Colaborador 3

Stela Breckenfeld Carvalho Afonso

02

Colaborador 4

Ruty Ivoty Torres da Silva

02

Fonte: Jornal do Professor (1955-1962), 2021.

A professora Maria Elisa Viegas de Medeiros concentrou-se em temas, como: a legislação educacional, estadual e Federal; a formação profissional do docente e as condições de trabalho, em específico sobre a questão de vencimentos, a salarial e de benefícios; sobre os docentes da área rural, a preocupação era garantir a moradia das professoras e dos professores do interior do estado de Pernambuco, e de suas famílias, aos que fossem designados ao magistério na capital, Recife.

Em 1963 a professora Maria Elisa Viegas de Medeiros deixou a presidência e a função de diretora responsável pelo Jornal do Professor, aposentou-se do serviço público estadual de Pernambuco em 1968, deixou a presidência do CPPP em 1970, e depois transferiu-se para o Rio de Janeiro onde residiam seus familiares. Ainda em 1962, Maria Elisa publicou no Jornal do Professor a matéria de Editorial Esquecimento do povo e de sua Educação, com base em dados organizados por Anísio Teixeira, então diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos do Ministério da Educação e Cultura19, e menciona como fato grave a questão da educação rural e urbana no estado de Pernambuco, fato que põe o povo como realmente esquecido em matéria de educação, isto é, com percentagem mínima de privilegiados (JORNAL DO PROFESSOR, 1962). Enquanto presidente e diretora responsável pelo periódico, Maria Elisa foi a autora que mais publicou matérias, no total de 51(cinquenta e uma), em nome dela, do CPPP, e do Jornal do Professor, seguem então exemplificadas no quadro (1):

Quadro 1 - Matérias de Maria Elisa Viegas de Medeiros. Jornal do Professor

Ano

Período

Autoria(s)

Título

Tipologia

Destaques

1955

15 de fevereiro

Jornal do Professor

Razões deste Jornal

Editorial

Lançamento do periódico como “voz do ideal comum”

15 de março

Maria Elisa Viegas de Medeiros

Aos que me elegeram

Editorial

Agradecimento aos professores pelo seu êxito na eleição para deputada

15 de março

Maria Elisa Viegas de Medeiros

Instalado o Centro de Professorado Primário de Pernambuco

Notícia

Estatutos do CPPP

15 de abril

CPPP

Proposito de União

Discurso

Consideração sobre se pensar coletivo pelo bem comum

15 maio

Jornal do Professor e CPPP

Maternidade e infância

Editorial

Solicitação de assistência do setor privado a maternidade e infância

15 de maio

CPPP

Centenário do Ginásio Pernambucano

Editorial

Homenagem a instituição educacional

15 de julho

CPPP

A Missão do nosso Centro

Artigo de Opinião

Inquietação com a ausência de união do professorado para concretizar o estabelecido no Estatutos

1956

15 setembro

Maria Elisa Viegas de Medeiros

“Tricas e Futricas” ou a realidade?

Notícia

Exposição do plano de reestruturação do funcionalismo do estado de Pernambuco

15 setembro

CPPP

Contribuição para programa de municipalização da educação

Estudo

Esclarecimento sobre o déficit na educação do município, devido as péssimas condições das unidades escolares de educação de base

1957

15 fevereiro

CPPP

Seguro de vida

Artigo de opinião

Proposição de apólice de seguro de vida coletivo oferecido pela Cia Internacional de Seguros

Maio [sem data / dia]

CPPP

A prefeitura de Garanhuns e a casa de férias do CPPP

Notícia

Doação de terreno cedido pela prefeitura ao CPPP para lazer do professorado

1958

Março

Jornal do Professor

Terceiro aniversário do Jornal do Professor

Reportagem

Apresentação de retrospectiva e sobre a importância do periódico para o CPPP

Sem Data / mês

CPPP

Reestruturação do Funcionalismo

Notícia

Reinvindicação salarial e da classe de professoras e de professores primários do magistério

1959

Fevereiro e março

CPPP

Discurso da Deputada Maria Elisa Viegas de Medeiros

Editorial

Transcrição de discursos de vários políticos em homenagem a deputada pelo final de mandato

Outubro e novembro

CPPP

Indenizações pagas a segurados do CPPP

Notícia

Exposição da listagem dos valores pagos por acidentes pessoais de professores até agosto de 1959

Fonte: Jornal do Professor (1955-1959), 2021.

Maria Elisa Viegas de Medeiros era reconhecida pelos seus pares – os professores –, políticos e jornalistas do estado de Pernambuco, bem como de outras regiões do país pelo seu constante envolvimento em lutas pela educação e ensino. Em algumas ocasiões foi tema de matéria, a exemplo da Bacia de Pilatos publicada no periódico pernambucano Folha da Manhã, depois da campanha dela para deputada. Essa matéria foi assinada pelo jornalista Guerra Holanda que dá mérito a posição da professora como deputada pelas lutas em uma tribuna corrompida pelas vantagens na campanha, segundo Guerra “[...] que fazia medo aos próprios homens afeitos e feitos na pontaria” (JORNAL DO PROFESSOR, 1955, p. 5). Apesar da professora ser pessoa reservada, um detalhe pessoal e incomum à época veio a público em novo texto de Holanda “[...] me lembro de tê-la visto, duas ou três vezes, passando dirigindo um automóvel” (JORNAL DO PROFESSOR, 1956 p. 1, transcrição da Folha da Manhã).

Aliado ao projeto do CPPP e do Jornal do Professor, outro colaborador importante foi o engenheiro agrônomo e professor universitário Jair Furtado de Meireles, formado na turma de 1936 da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Recife. Meireles defendia os Clubes Agrícolas como lugar ideal para educação rural de ensino técnico-pedagógico, e nos seus artigos de opinião tecia críticas ao modelo nacional das Escolas Típicas Rurais (ETRs), pela falta de infraestrutura e inadequação ao ensino da prática agrícola, largamente adotado no estado de Pernambuco. Jair Meireles foi presidente do Conselho Pernambucano dos Clubes Agrícolas e integrante do Conselho Nacional de Clubes Agrícolas pelo estado de Pernambuco. O agrônomo interessava-se em discutir o ensino rural, criticava a vivência de professores do magistério nas escolas da área rural e o ensino elementar e agrícola nas Escolas Típicas Rurais (ETR). Uma parte do publicado por Meireles segue demonstrada no quadro (2) abaixo:

Quadro 2 - Matérias de Jair Furtado Meireles. Jornal do Professor

Ano

Período

Título

Tipologia

Destaques

1955

15 de janeiro

Plano de Ação para as Escolas Rurais

Artigo de opinião

Discussão sobre o plano estadual de Pernambuco de ensino rural, e a escassez de alimentos na região que deveria ser suprida pelo cultivo na área rural das escolas rurais.

15 de janeiro

A escola rural

Artigo de opinião

Considerações sobre as 400 Escolas Típicas Rurais (ETRs) no estado de Pernambuco, e a carência delas nas fazendas.

1959

Junho e julho

Clubes Agrícolas

Artigo de opinião

Valorização da escola dos Clubes Agrícolas como de maior influência na área rural, e que no estado de Pernambuco são em número de 391 nos clubes nas escolas.

1962

Janeiro a junho

Instrução Rural

Estudo

Apresentação das experiências da educação elementar no estado de São Paulo, em período da campanha de expansão da instrução primária no país.

Fonte: Jornal do Professor (1955-1962), 2021.

Na sequência de colaboradores, destaca-se a presença da professora Armiragi Argimira Breckenfeld Lopes Afonso20, pós-graduada mestra, candidatou-se em 1955 ao Legislativo Municipal de Recife (PE), porém, não logrou êxito. A diretora educacional do Jornal do Professor publicou 5 (cinco) matérias sobre temas que alertavam a necessidade de formação profissional mais completa do magistério. Breckenfeld incentivou a participação do magistério em eventos educacionais locais e nacionais, a visitar os museus, a frequentar o cinema e comparecer a lançamentos de livros e a ler. Armiragi Breckenfeld entendia ser essencial conhecer melhor a legislação educacional do estado de Pernambuco e do país, sobretudo, as alusivas às condições de trabalho do docente. Em 1957, foi convidada a participar como relatora de uma comissão coordenada pelo intelectual brasileiro da Educação Paulo Freire21, na realização do II Congresso Nacional de Educação de Adultos em Pernambuco no ano de 1958. No quadro (3), podem-se observar suas publicações.

Quadro 3 - Matérias de Armiragi Breckenfeld. Jornal do Professor

Ano

Período

Título

Tipologia

Destaques

1955

15 de abril

Entrevista com a Professora Nair de Andrade

Entrevista

Educação primária e do hábito de ler. A professora Nair de Andrade expôs plano para formação do magistério.

15 de maio

Esplendida realidade cultural o “Museu de Arte Popular” No Horto de Dois Irmãos.

Reportagem / Estudo

Demonstração dos hábitos regionais e a história da região sertaneja pernambucana.

Fonte: Jornal do Professor (1955-1962), 2021.

Outro destaque são as publicações da professora Marcia Carlota Breckenfeld Lopes Afonso, em sua maioria estudos cujo foco principal era a análise teórica das instituições escolares, e outros que se utilizaram da metodologia comparada a fim de esclarecer os aspectos da educação escolar no Brasil e em outros países. A professora era universitária da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católica de Pernambuco para a Cadeira de Educação Comparada. Um aspecto da sua vida particular, o parentesco sanguíneo fraterno de irmã da então diretora educacional do Jornal do Professor, Armiragi A. Breckenfeld Lopes Afonso.

Quadro 4 - Matérias de Marcia C. Breckenfeld. Jornal do Professor

Ano

Período

Título

Tipologia

Destaques

1957

15 de junho

Considerações em torno da comparação entre a Educação Brasileira e a Norte-americana

Estudo

Análise do currículo e do sistema de ensino.

15 de novembro

Instituições Escolares

Estudo

Exame das instituições escolares, como auxiliares poderosas a obra educativa.

Fonte: Jornal do Professor (1955-1962), 2021.

A professora Stela Breckenfeld Carvalho Afonso, por sua vez, publicou matérias de estudos e artigos de opinião fundadas pelas concepções da área da psicologia e da educação, em volta do processo de desenvolvimento educacional da criança e do adolescente. Em 1960, Stela Breckenfeld ministrou aulas de Redação Oficial nos cursos do Departamento Técnico de Educação Primária, em Recife. Um distintivo era a sua ligação também de parentesco de irmã com Armiragi Argimira Breckenfeld Lopes Afonso e Marcia Carlota Breckenfeld Lopes Afonso, esse fato, configurou-se emblema em termo de crédito22 do corpo colaborador do periódico. Seguem amostras das matérias no quadro (5).

Quadro 5 - Matérias de Stela Breckenfeld Carvalho Afonso. Jornal do Professor

Ano

Período

Título

Tipologia

Destaques

1955

15 de julho

A educação da ambidextria entre os escolares

Estudo

Considerações sobre as crianças que escrevem com a mão esquerda, as professoras entendem que esse uso é defeito. Cientificamente as professoras deveriam no seu trabalho orientar o uso das duas mãos.

1962

Janeiro a junho

Interesse da adolescência e da juventude

Artigo de Opinião

Discussão de base teórica sobre os cuidados dispensados na atualidade ao lado psicológico do adolescente, não só mais à criança, como ocorria, sendo grande a relevância para os mestres que com eles lidam todos os dias.

Fonte: Jornal do Professor (1955-1962), 2021.

Já as publicações de Ruth Ivoty Torres da Silva, dirigente do Clube Agrícola no estado do Rio Grande do Sul, nas matérias de artigos de opinião, teciam críticas às condições de trabalho do magistério, ora em apoio ao estado de Pernambuco, que as legalizou, avaliando-as como um ponto pacífico em termo de subordinação geográfica territorial e salarial do magistério, ora em amparo ao magistério pernambucano que sofria com as dificuldades das escolas, sobretudo na área rural, orientando-os a ato contínuo à aprovação em concurso conhecer as características existentes na localidade das escolas – e as escolas – para só depois escolher a unidade escolar.

Ruth Ivoty era professora colaboradora da Revista do Ensino, uma imprensa de interesse do magistério, publicação de circulação mensal da Editora Globo, fundada em 1951, com a sede e oficina na cidade de Porto Alegre (RS) à Rua das Andradas. E ainda redatora da Revista Infantil Cacique, da Secretaria de Educação e Cultura, de circulação quinzenal, fundada em 1954, com sede da redação à Rua Vigário José Inácio, também em Porto Alegre. As matérias assinadas pela professora podem ser identificadas no quadro (6) a seguir.

Quadro 6 - Matérias de Ruth Ivoty Torres da Silva. Jornal do Professor

Período

Título

Tipologia

Destaques

1955

Não se consta o período da publicação

Por que Educação Rural?

Artigo de Opinião

Enaltecimento a se proporcionar estradas e meios de transporte, criar verdadeiras escolas rurais e levar até elas a educação técnica e social. E não se confundir com a urbanização.

1957

15 de novembro

A Escolha de Unidade Didática

Artigo de Opinião

Aconselhamento ao magistério rural a se adaptar ao meio para atender às necessidades das crianças. Que os docentes deveriam sentir as vivências rurais para depois escolher a unidade escolar no interior do estado de Pernambuco. E que o professor terá de se adaptar ao programa para desenvolvê-lo em situações reais.

Fonte: Jornal do Professor (1955-1962), 2021.

Na lógica de observação trazida por Luca (2008) e Campos (2012), sobre os aspectos da apresentação física e estruturação do conteúdo dos jornais, e os sentidos assumidos para circulação em associação ao seu público-alvo, as matérias de anúncio23 publicadas no Jornal do Professor, segundo Casaqui (2011, p. 133) são discursos produzidos “[...] com a influência das linguagens, das plataformas e das tecnologias de cada época”, permitiram a divulgação de mercadorias e de corporações de 1955 a 1962. Entre os anúncios de livrarias, destacam-se, da Livraria Imperatriz ainda em atividade no mesmo local à Rua da Imperatriz nº 17, em Recife, e outros de camisaria, movelarias e lojas de tecidos, e de grupos como a Editora Nacional (Filial Recife), o Banco Comercial de Pernambuco e a Cooperativa de Professores Primários de Pernambuco.

O Jornal do Professor foi especial impressa editorial para a divulgação dos interesses de professoras e de professores do magistério pernambucano, associados ao CPPP, pela sua configuração de impressão e discursiva24 com uma interlocução de acordo com o período histórico e a cultura de grupo de especificidades em comum.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo teve como objetivo analisar as características e as principais notícias veiculadas no Jornal do Professor, sobretudo no que diz respeito à divulgação das ações do Centro de Professorado Primário de Pernambuco (CPPP), entre os anos de 1955 e 1962, e tendo em conta a pesquisa documental e o trabalho metodológico nos jornais pontuado por Pinsky e Luca (2008; 2009) e o assinalado por Vicentini e Lugli (2009) sobre o modelo de associações da classe de professores docentes e de uma organização profissional em nome da categoria.

O exame no Jornal do Professor (1955-1962) mostrou que o periódico se modificou ao longo do tempo na estruturação física e no editorial a partir do segundo ano de existência, em 1957, em observância às transformações sociopolíticas, socioeconômica e as culturais iniciadas na década de 1950 no país. Em primeiro, foram criados espaços na apresentação física do periódico e, por nexo, para circulação e divulgação de novos assuntos de interesse de uma parcela do magistério, da educação e do ensino escolar do estado de Pernambuco. Segundo, pela reorganização da sua estrutura a novos conteúdos com vista a atender à demanda dos temas cernes das discussões educacionais em curso no país e no estado de Pernambuco.

O conjunto de matérias veiculadas no Jornal do Professor demonstra que, como instrumento especializado a divulgação das ações de docentes em associação, o periódico foi uma representação de caráter opinativo editorial à nível estadual de Pernambuco que se atualizou em defesa das questões educacionais em torno do magistério.

A circulação do periódico no estado de Pernambuco permitiu a exposição das dificuldades do magistério com vínculo com o Estado de se constituírem pela ausência de infraestrutura nas escolas urbanas e rurais, e de ordem pessoal do professorado pela diferença de condições salariais na área rural e urbana, que os diferenciavam nos vencimentos conforme a delimitação espacial.

Os professores e professoras que viviam na zona rural sofriam com a desvalorização. Isso gerou uma situação de descrédito do magistério e a condição de povo esquecido em matéria de educação, justamente em um momento de expansão da educação e do ensino elementar e técnico profissional. As autoras e os autores das matérias publicadas no Jornal do Professor teceram críticas assíduas ao modelo nacional das Escolas Típicas Rurais (ETR), em número de 400 unidades no território pernambucano, em regra, que não atendiam às carências consequentes do isolamento e de desamparo do magistério.

REFERÊNCIAS

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BARREIRO, Í. M. F. Políticas de educação no campo: para além da alfabetização (1952-1963). São Paulo, Cultura Acadêmica, 2010.

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CASAQUI. V. Por uma teoria da publicização: transformações no processo publicitário. Significação – Revista de Cultura Audiovisual, nº 36, p. 131-151, 2011.

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1 Mestra em Educação pela Universidade de Pernambuco; Especialista em Gestão Pública pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco.

2 Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; Mestra em Educação pela Universidade do Estado de Santa Catarina.

3 Na década de 1960, o termo Centro foi substituído por Associação, em alguns estados brasileiros, conforme demonstram estudos realizados por Vicentini e Lugli (2009).

4 Maria Elisa Viegas de Medeiros foi professora por 30 trinta anos no magistério do estado de Pernambuco, e diretora da primeira escola rural Alberto Torres, em Recife. Também foi gestora pública como diretora Técnica do Ensino Primário Rural na Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco.

5 Para saber mais: https://www.gov.br/inep/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/historia.

6 Decreto n.º 38.955, de 27 de março de 1956.

7 Cf. http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/movimento-de-educacao-de-base-meb.

8 Não foi possível analisar os exemplares posteriores ao ano de ١٩٦٢, devido à ausência de financiamento, impossibilitando, dessa forma, o deslocamento até a capital paulista.

9 Na linguagem jornalística são textos, títulos e ilustrações.

10 A condição a associados do Centro de Professora Primário de Pernambuco (CPPP) era de serem professoras e professores diplomados em instituição de formação educacional oficial no Curso Normal.

11 Na Itália em 1922 Mussolini implantou o fascismo; Salazar foi primeiro-ministro de Portugal em 1932 e inaugurou uma longa ditadura; Hitler na Alemanha em 1933 foi o chefe do nazismo. A guerra civil espanhola, de 1936 a 1939, conflito que desestruturou a Espanha, e depois Franco passou a governar o país com tirania.

12 A saber: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/biografias/juscelino_kubitschek.

13 Jornal do Professor, março de 1955, p. 5.

14 A Tribuna foi periódico de caráter político, literário e noticioso que começou a circular em 1881.

15 Considerando uma análise interna no Jornal do Professor, articulando-os ao mundo social e cultural do período.

16 O salário-mínimo no ano de 1956 para o trabalhador na área urbana, de Recife e do município vizinho de Olinda, o valor era de Cr$2.700 (dois mil e setecentos cruzeiros), para os de municípios da área rural o valor era de Cr$2.200 (dois mil e duzentos reais).

17 Tamanho padrão de 55 centímetros, que equivale a 22 polegadas, nos jornais produzidos a época no continente Europeu e nos Estados Unidos (EUA).

18 É o nome que se dá na linguagem do jornalismo à quantidade de exemplares de uma publicação que são depois distribuídos.

19 Para saber mais: https://www.gov.br/inep/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/historia.

20 Armiragi Argimira Breckenfeld Lopes Afonso nasceu em 1900 e faleceu em 1984, em Recife. Publicou livro no estilo comédia - Até quando Deus quiser - em 1962 - DOC. Nº 009040, pela editora Sociedade Brasileira de Autores Teatral (SBAT).

21 Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 19 de setembro de 1921, em Recife (PE). Advogado e doutor em Educação em 1954, trabalhou no Serviço Social da Indústria (SESI) como diretor de educação e cultura. E foi superintendente dessa instituição em 1957, e no ano de 1961, foi diretor da Divisão de Cultura e Recreação do Departamento de Documentação e Cultura da capital do estado de Pernambuco, em Recife.

22 Na linguagem jornalística é a referência que se faz na imprensa aos autores ou à procedência do texto.

23 Discursos de feição híbrida, pois resultam de outros discursos.

24 Na perspectiva de Casaqui (2011) e de Fiorin (1995), as formações discursivas são a materialidade linguística que correspondem ao plano das ideologias, posto que a visão de mundo não existe desvinculada da linguagem.