http://dx.doi.org/10.18593/r.v43i3.19993

EDITORIAL

Nadiane Feldkercher1

Universidade do Oeste de Santa Catarina, Professora do Programa de Pós-graduação em Educação

Priscila Monteiro Chaves2

Universidade do Oeste de Santa Catarina, Professora do Programa de Pós-graduação em Educação

Escrever, para Jean Foucambert (1994, p. 76), “é inventar algo jamais lido, porém a partir de uma teoria (na maioria das vezes implícita) que tenta organizar todos os componentes da experiência de leitor de quem escreve”. Essa diversidade na organização das experiências propostas por cada autor/pesquisador/leitor, da qual fala Foucambert, é um dos aspectos que faz com que cada edição de um periódico seja da ordem do acontecimento, algo do plano do irrepetível.

Para encerrar 2018, apresentamos a edição número três da Roteiro com oito artigos, um ensaio e uma resenha. Esses estudos, desenvolvidos por diferentes pesquisadores nacionais e internacionais, voltam-se às variadas discussões concernentes às políticas e aos processos educativos, que tratam tanto de fundamentos epistemológicos quanto das práticas atinentes à docência.

O primeiro artigo, intitulado Do tradicional ao contemporâneo: representações sociais do professor construídas por alunos, de autoria de Silvia Fernandes do Vale, Regina Heloisa Maciel e Sônia Wan Der Maas Rodrigues, objetivou “caracterizar as representações sociais construídas pelos alunos do ensino fundamental acerca do professor.” Trata-se de uma pesquisa empírica realizada em Mossoró, RN, que aponta três principais representações do professor: um professor tradicional, um professor como um profissional atualizado e um professor que luta por melhores condições de trabalho.

Em Estado da arte sobre formação de professores entre 2001 e 2016: um olhar sobre a produção brasileira a partir do Portal de periódicos CAPES/MEC, Jerry Adriano Raimundo e Mauricio Cesar Vitoria Fagundes trazem dados a respeito da quantidade, da frequência, da autoria, das origens e das correlações entre as pesquisas localizadas. Nesse segundo artigo, os autores constatam que nesse período há lacunas de assuntos e decréscimo da frequência e quantidade na pesquisa da formação de professores.

Adriane Cenci e Magda Floriana Damiani apresentam e delineiam as propostas teóricas dos autores Vygotsky, Leontiev e Engeström no artigo Desenvolvimento da Teoria Histórico-Cultural da Atividade em três gerações. Entre outras constatações, as pesquisadoras apontam que a produção e a expansão da Teoria podem ser entendidas como atividades históricas e coletivas. Sintetizam, também, que o conceito de atividade pode ser visto, em Vygotsky, como atividade mediada (mediada por signos e ferramentas), como atividade coletiva base da consciência humana em Leontiev e como sistema de atividade em transformação em Engeström.

O quarto artigo, Estrategias de diálogo y negociación de madres jóvenes para finalizar sus estudios profesionales, de Sara Alíria Jiménez García, tem como foco nove mães adolescentes e jovens que tiveram que criar estratégias para conciliar a conclusão de suas formações profissionais com a criação dos filhos. Trata-se de um estudo desenvolvido no México que demonstra que o diálogo e as negociações estabelecidos com familiares, professores e colegas da escola permitiram que as estudantes não renunciassem seus filhos nem suas profissionalizações.

André Luis Castro de Freitas e Luciane Albernaz de Araujo Freitas problematizam o exercício do diálogo crítico nas relações educativas, bem como a sua relação com os movimentos de ação-reflexão diante dos desafios que enfrenta a escola contemporânea. Com o texto O diálogo crítico nas relações educativas imbricado aos movimentos de ação-reflexão, os autores resgatam nas obras freirianas a importância do exercício do diálogo, cuja raiz está na educação popular, como relação em que os seres humanos pronunciam e modificam o mundo. Em um segundo momento do texto, os autores aproximam a discussão aos desafios vividos pelos seres humanos no momento contemporâneo em que tanto educadores quanto educandos estão tomados por fragmentos impostos pelos modelos de produção e consumo vigentes. Mediante o descrito percurso, os propositores elaboram aproximações e distanciamentos entre a educação popular e a educação formal, fundamentados na razão de que o educando aprende quando, pelo conhecimento científico trabalhado, ressignifica seus saberes do cotidiano e consegue gerar ações que venham a provocar transformações no meio em que está inserido.

O sexto artigo discute a formação do professor que ensina matemática nos anos iniciais, em especial no que se refere ao ensino de frações. O corpus de análise do estudo foi composto pelo caderno de matemática do Programa de Formação Continuada de Professores dos Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental, por uma entrevista e um caderno de planejamento de uma professora de Didática da Matemática que atuou na formação de professores na década de 1970. Para realizar as análises, Marta Cristina Cezar Pozzobon e Cláudio José Oliveira adotaram uma perspectiva teórica pós-crítica associada aos estudos de Ludwig Wittgenstein. Em Como ensinar frações? Práticas que (in)formam o professor que ensina matemática, os autores defendem que os conceitos são produzidos a partir dos usos, em conformidade com suas regras gramaticais, e que os significados das proposições matemáticas são produzidos nos diferentes jogos de linguagem. Sugerem eles que o professor tenha conhecimento da natureza das proposições matemáticas e se responsabilize pelo ensino de suas regras, não trazendo a utilidade dos conceitos, mas as convenções produzidas pela linguagem matemática.

Em Política pública e educação integral no Brasil: do nacional-desenvolvimentismo ao neodesenvolvimentismo, Magda Cruz dos Santos Leonardo Dorneles Gonçalves e Conceição Paludo evidenciam as contradições das principais políticas de educação integral na escola pública de Educação Básica, problematizam suas relações com o desenvolvimento do capitalismo no Brasil e, para tanto, recorrem à primeira versão do Programa Mais Educação, que, lançada em 2007, vigorou até 2016. O estudo lhes permitiu analisar a política de educação integral no Brasil como um instrumento que cumpre papéis distintos em cada período histórico, mas que tem se efetivado na relação com os objetivos apresentados pelas diferentes formas de sociabilidade capitalista, distanciando-se radicalmente dos referenciais históricos, teóricos e práticos que sustentam a educação integral na perspectiva anticapitalista e da emancipação humana.

Michelle Dantas Ferreira e Adrianne Ogêda Guedes discutem as práticas recorrentes nas instituições de ensino que atendem a Educação Infantil e que acabam por gerar tensões entre os profissionais que lá atuam. Em Arte, estética e o diálogo na educação infantil: registros invisibilizados e sentidos (des)sensibilizados, a proposta das autoras é discutir as discrepâncias existentes entre os documentos oficiais e o que é praticado no cotidiano das escolas de educação infantil, na perspectiva da formação docente, dos registros utilizados como instrumentos de avaliação e do diálogo estabelecido com a arte.

O nono trabalho é um ensaio de Paulo Nogueira, intitulado Escritores, relação com a escrita e experiência: um campo em educação artística, que apresenta uma investigação narrativa e biográfica realizada com escritores portugueses, tendo como foco a relação com a escrita. Entre outros, o estudo contribui para algumas reflexões em educação artística.

Encerrando este número, apresentamos a resenha do livro Educação Superior como bem público: perspectivas para o centenário da Reforma de Córdoba, de Marcos Antonio Rodrigues Dias, elaborada por Pablo Pereira.

Desejamos aos nossos interlocutores uma excelente leitura.

Referência

FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

Roteiro, Joaçaba, v. 43, n. 3, p. 857-860, set./dez. 2018 | E-ISSN 2177-6059


1 Doutora e Mestre em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas.

2 Doutora e Mestre em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas.