http://dx.doi.org/10.18593/r.v43i3.16423

Do tradicional ao contemporâneo: representações sociais do professor construídas por alunos

From traditional to contemporary: social representations of the teacher built by students

De lo tradicional al contemporáneo: representaciones sociales del profesor construidas por alumnos

Silvia Fernandes do Vale1

Universidade de Fortaleza (Unifor), Pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Trabalho (LET) do Programa de Pós-graduação em Psicologia

Regina Heloisa Maciel2

Universidade de Fortaleza (Unifor), Professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia e Coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Trabalho (LET)

Sônia Wan Der Maas Rodrigues3

Universidade de Fortaleza (Unifor), Membro do Laboratório de Estudos sobre Psicanálise Cultura e Subjetividade (LAEPCUS) do Programa de Pós-graduação em Psicologia

Resumo: Esta pesquisa teve por objetivo caracterizar as representações sociais construídas pelos alunos do ensino fundamental acerca do professor. Participaram do estudo 75 alunos do ensino fundamental da rede pública municipal de ensino de Mossoró, RN, de ambos os sexos e faixa etária entre 9 e 15 anos. Utilizou-se como suporte teórico a teoria das representações sociais de Serge Moscovici. Na coleta utilizou-se a técnica desenho-estória com tema. Inicialmente, fez-se uma análise detalhada dos desenhos e temas. Em seguida, as produções escritas foram analisadas por meio da análise de conteúdo. Os resultados indicam que a imagem do professor foi associada a três diferentes categorias: um professor tradicional ancorado em posturas firmes, como detentor de saber, que exige uma turma obediente e silenciosa; uma segunda que representa o professor como um profissional atualizado, desejado, que utiliza diferentes estratégias de aprendizagens que ultrapassam o espaço da sala de aula; e a terceira expressa os desafios enfrentados pelos docentes, mostrando um professor que luta por melhores condições de trabalho. Essas associações são resultados tanto das vivências dos alunos quanto das informações e representações veiculadas no seu grupo de pertença.

Palavras-chave: Representação social. Aluno. Professor. Profissional desejado. Desafios da profissão.

Abstract: This research aimed to characterize the social representations that primary education students build and develop about the teachers. 75 students od public schools of Mossoró (RN, Brazil) of both sexes, with ages between 9 and 15 years-old were part of this study. The theoretical support used was Serge Moscovicci’s social representation theory. The Drawing-Story with a Theme Technique was used to collect the data. Initially a detailed analysis of the drawings and themes was carried out. Afterwards, the written productions were analyzed through content analysis. The findings indicate that the image of the teacher was associated to three different categories: a traditional teacher, rooted in firm stands, as the owner of knowledge who demands an obedient and silent classroom; a second one that represents the teacher as professionals who are up-to-date, who use different learning strategies that go beyond the classroom; and the third expresses the challenges faced by the teachers, showing a teacher who fights for better working conditions. These associations are the result of both the students’ experiences and the information and representations disseminated in the groups they belong to.

Keywords: Social representation. Student. Teacher. Desired professional. Profession challenges.

Resumen: Esta investigación tuvo por objetivo caracterizar las representaciones sociales construidas por los alumnos de la enseñanza fundamental acerca del profesor. En el estudio participaron 75 alumnos de la enseñanza primaria de la red pública municipal de enseñanza de Mossoró, RN, de ambos sexos y grupo de edad entre 9 y 15 años. Se utilizó como soporte teórico la teoría de las representaciones sociales de Serge Moscovici. En la recolección se utilizó la técnica dibujo-historia con tema. Inicialmente hizo un análisis detallado de los dibujos temas. A continuación, las producciones escritas fueron analizadas por medio del análisis de contenido. Los resultados indican que la imagen del profesor fue asociada a tres categorías diferentes: un profesor tradicional anclado en posturas firmes, como poseedor del saber, que exige una clase obediente y silenciosa, una segunda que representa al profesor como un profesional actualizado, deseado, que utiliza diferentes estrategias de aprendizaje que superan el espacio del aula; y la tercera expresa los desafíos enfrentados por los docentes, mostrando un profesor que lucha por mejores condiciones de trabajo. Esas asociaciones son resultados tanto de las vivencias de los alumnos como de las informaciones y representación vehiculadas en su grupo de pertenencia.

Palabras clave: Representación social. Estudiante. Profesional deseado. Desafíos de la profesión.

1 INTRODUÇÃO

A partir de sua prática educativa, o professor tem um importante papel na dinâmica social, política e cultural porque é um agente de mudanças, em conformidade com o pensamento de milhões de brasileiros. No Brasil, em 2016, cerca de 23 milhões de brasileiros (de 6 a 14 anos) foram matriculados no ensino fundamental de escolas públicas (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2017). Diante de um número tão expressivo de alunos, com quem o professor tem uma relação direta, ele tem a possibilidade de construir, reconstruir e trocar saberes, bem como provocar mudanças de mentalidade e, consequentemente, influenciar a realidade social.

Nessa perspectiva, é importante o trabalho do professor na sociedade, mas, ressalta Esteve (2008) com relação a uma imagem negativa desse profissional disseminada por alguns países, que resulta na falta de apoio social e no descrédito da educação como promessa de um futuro melhor. Destaca também as conclusões simplistas apresentadas pelos governos e meios de comunicação que atribuem ao professor as lacunas, falhas e imperfeições que permeiam o sistema de ensino, responsabilizando-o pelos males ocorridos no sistema educativo, sem levar em consideração as inúmeras mudanças nas condições de trabalho desse profissional.

No contexto brasileiro, recaem sobre o professor inúmeras expectativas de administradores públicos e pais de alunos quanto ao sucesso do ensino. Em contrapartida, é um profissional sem relevância social e mal remunerado (DIEB; ARAÚJO; VASCONCELOS, 2014). Cabe destacar que o baixo salário e a desvalorização da imagem social são indicadores da crise de identidade que afeta o professor (BASTOS, 2012; GARCIA, 2010).

Cárdenas e Hernández (2014) afirmam que a imagem propagada pela mídia sobre o professor está relacionada a uma série de estereótipos construídos ao longo da história da educação pública. Dentre eles, destaca-se a imagem do professor ideal, dedicado ao aluno e que domina questões técnicas de ensino, baseada no que a sociedade considera como dever desse profissional. O segundo estereótipo é o de que este propicia um contexto de ensino inadequado, com escolas desestruturadas, dificultando a promoção de uma boa aprendizagem.

É importante salientar que a divulgação da imagem do professor enquanto profissional despreparado e mal remunerado, desprestigiado socialmente, além de prejudicar o trabalho de educar, pode ser também o motivo pelo qual um número menor de jovens se interesse em assumir a docência como profissão (DIEB; ARAÚJO; VASCONCELOS, 2014; GARCIA, 2010). Esse fato é preocupante, tendo em vista que o professor é o responsável pela produção do conhecimento, pela construção de comunidades, pela formação da capacidade de inovação, da flexibilidade e do compromisso com a mudança, fatores estes importantes para o desenvolvimento da sociedade.

O professor, normalmente, desenvolve sua atividade com diferentes alunos e em contextos distintos. Nesse sentido, a ele podem ser conferidas diversas imagens por várias gerações de alunos de diferentes culturas, uma vez que essas construções perduram ao longo da história da humanidade, estando presentes nos registros de aprendizagem de cada indivíduo, sob diferentes roupagens (SEIDMAN et al., 2012). Em uma pesquisa realizada nas Filipinas, foram comparadas as representações do professor em dois momentos: no atual e no passado. Os resultados mostraram que no passado o professor tinha uma imagem estereotipada de uma pessoa com postura direta, firme e digna, com cabelos amarrados e usando óculos. O professor da atualidade, no entanto, foi representado pelos alunos como um profissional inteligente, bem-educado, de mente aberta, confiante, responsável, com caráter moral, que defende a igualdade e a justiça, comunicativo, facilitador de aprendizagem e solucionador de problemas (BALAGTAS et al., 2016). A pesquisa mostra, assim, uma mudança na imagem que os alunos constroem do docente.

Considerando o contexto brasileiro, Silva e Oechsler (2013) constataram também mudanças na imagem desse profissional, a partir de textos da Revista Nova Escola sobre o bom professor. As autoras evidenciam que as primeiras edições apresentam uma representação respaldada em aspectos de natureza afetiva, agregada a aspectos cognitivos relacionados à capacidade de pensar e avaliar a realidade (1991-1996), até chegar a noções relacionadas à prática pedagógica, compreendendo o período entre 2001 e 2006, marcadas pela efetivação do reconhecimento da docência como profissão. Nos últimos anos, as matérias estão voltadas para o saber docente e para a reflexão de sua prática. Nesse último período, as representações tendem a ser centralizadas nas características construtivistas, na capacidade do professor de interagir com seus alunos, de analisar, opinar e refletir sobre a educação.

A forma de interação entre professor e aluno evidenciada nas representações do docente constitui uma história de relação com o saber, mobilizada por conhecimentos e afetos. Segundo Osti e Brenelli (2013), nas relações estabelecidas entre o professor e o aluno os afetos (positivos ou negativos) ficam gravados e são conduzidos pelos alunos para além dos muros escolares, influenciando a representação social do professor.

Diante de um cenário contemporâneo, marcado por transformações e desafios, onde existe mais liberdade de pensamentos, comportamentos, além da inserção das novas tecnologias, a atuação do professor torna-se cada vez mais complexa, e, consequentemente, sua imagem também é afetada. Nesse contexto, é relevante identificar quais representações sociais do professor estão presentes no universo social dos alunos, dado que as representações determinam comportamentos e atitudes, bem como podem vir a interferir (positiva ou negativamente) no processo de ensino-aprendizagem, dependendo de como a relação entre professor e aluno é construída (GOIGOUX, 2016; MATIAS, 2016; MIDDLETON; PITITT, 2010; OSTI; BRENELLI, 2013).

Em relação às pesquisas educacionais, Alves-Mazzotti (2008) afirma que há necessidade de um olhar em uma perspectiva psicossocial, sugerindo a teoria das representações sociais como apropriada para o estudo do fenômeno educativo, em virtude da sua eficácia para viabilizar o planejamento de ações que melhorem a qualidade do ensino. Nesse sentido, a presente pesquisa é norteada pela Teoria das Representações Sociais (TRS).

Moscovici (2013) utiliza o termo representações sociais para se referir ao conjunto de conceitos, proposições e explicações que são originadas na vida cotidiana, no curso de comunicações interpessoais, arraigadas nas formas e normas da cultura (JODELET, 2001). Assim, elas são constituídas pelas interações sociais através de opiniões, crenças, valores, normas e estereótipos que tendem a promover atitudes (positivas ou negativas) em relação a um determinado objeto social (CAMARGO; JUSTO; ALVES, 2011; UMAÑA, 2002).

De acordo com Jodelet (2001), a representação social permite refletir sobre a realidade cotidiana, deixando algo que era desconhecido, familiarizado. Para isso, ela articula o social e o psicológico em um processo dinâmico de assimilação da realidade pelo indivíduo, a partir das suas experiências e das informações que circulam no meio em que está inserido. Assim, as representações sobre o profissional docente são construções simbólicas carregadas de marcas do tempo, do espaço e das relações nas quais ele se integra.

Na elaboração de uma representação social, estão envolvidos os processos de ancoragem e objetivação. Com relação à ancoragem, Moscovici (2013) a define como um mecanismo em que o indivíduo tenta aproximar seu objeto em uma rede de significações, incorporando elementos novos em um processo de categorização, de modo a tornar o que é novo em familiar. A objetivação é o processo pelo qual um objeto passa a ser imaginado, em que o indivíduo altera algo abstrato em concreto, deslocando para o mundo físico o que está na mente (ROCHA, 2014). Esses mecanismos estão em constante relação e são os responsáveis pela interpretação e atribuição de significados do objeto social.

Explica Jodelet (2001) que não existe representação sem um objeto a representar, pois a representação de um objeto pressupõe a relação do sujeito que representa com o objeto que, por sua vez, é representado, ou seja, não se pode falar em representação de um objeto desvinculado de uma população ou de um grupo social. Dessa forma, as representações construídas pelos alunos com relação ao professor, não poderiam ser analisadas isoladamente. Ao contrário, deve-se levar em consideração o contexto econômico, histórico e educacional, bem como as relações afetivas dos grupos, e, assim, tentar responder à seguinte questão: quais as representações sociais construídas pelos alunos sobre o professor?

No cerne dessa discussão, o objetivo desta pesquisa foi verificar, por meio de desenhos e produções escritas, as representações sociais dos alunos com relação ao professor. O estudo das representações sociais relativas ao profissional docente se justifica, em primeiro lugar, pelo fato de o professor ser uma das pessoas marcantes na vida do sujeito social. Além disso, a representação do aluno acerca do professor tem relação com as expectativas que aquele deposita neste. Refletir sobre tal representação possibilita compreender melhor a relação professor-aluno na atualidade, assim como também a prática educativa na qual ambos são elementos de suma importância.

A escola é um espaço de interação. Nesse lugar se relacionam dois importantes indivíduos: o professor e o aluno. Ambos são portadores de uma fala, de uma escuta e das representações que os sustentam. Diante disso, é importante conhecer as representações sociais acerca do professor por meio da voz do aluno, que ocupa lugar central no processo de ensino-aprendizagem, além de fornecer indicadores favoráveis ao sucesso da instituição de ensino (SCHWARTZ; BITTENCOURT, 2012), porque as representações sociais determinam comportamentos e atitudes, que influenciam a relação do aluno com o professor e, consequentemente, com a escola (MATIAS, 2016).

2 MÉTODO UTILIZADO

O presente estudo foi desenvolvido em duas escolas da rede pública de ensino fundamental, localizadas em dois bairros periféricos da cidade de Mossoró, RN. As escolas atendem do primeiro ao nono ano do ensino fundamental. O critério de escolha foi determinado em razão de ambas atenderem a uma clientela de baixa renda e pertencerem à mesma rede de ensino. Por outro lado, as escolas apresentam indicadores do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), 2013, diferentes (Escola A – 6,5 e Escola B – 3,2).

A amostra foi composta por 75 alunos do ensino fundamental (47 dos anos iniciais e 28 dos anos finais) da rede pública de ensino. Os alunos apresentavam faixa etária que variava de 9 a 15 anos (M= 11,13 anos; DP= 1,64), abrangendo ambos os sexos (47% masculino e 53% feminino). A escolha das quatro turmas ocorreu por meio de sorteio.

Foi utilizada a técnica projetiva desenho-estória com tema, desenvolvida a partir do procedimento desenho-estória (TRINCA, 1976). Uma técnica temática e gráfica que facilita a expressão da subjetividade com relação à investigação de qualquer tema, podendo ser aplicada em diferentes faixas etárias, nível econômico e mental (AIELLO-VAISBERG, 2013; COUTINHO, 2005). Trata-se de um instrumento bastante utilizado em pesquisas de representação social com crianças, porque desvenda as informações que essa clientela tem acerca do objeto social, apresentando os produtos de suas vivências, informações e representações ligadas ao grupo em que vivem, bem como seu posicionamento diante dessa questão (LOPES; PARK, 2007). Essa técnica projetiva funciona como um estímulo da apercepção temática, muito útil para analisar as informações sobre o que a criança vê, sente e pensa sobre um objeto, uma vez que desenha e conta uma história sobre o desenho feito (PROFICE et al., 2013; WINNICOTT, 1991).

Para a execução da pesquisa, inicialmente foram obtidas as autorizações das direções das escolas, dos pais e a participação voluntária dos alunos. Antes da coleta propriamente dita, foi realizada uma dinâmica conhecida como batata que passa, passa, com o tema o que eu quero ser quando crescer. Assim, cada aluno expressava a profissão do seu sonho, como também escrevia isso na folha de resposta, previamente distribuída. Em seguida, foi aplicada a técnica desenho-estória com tema sobre o professor. Para isso, foram entregues aos alunos duas folhas brancas A4, um lápis número 2, uma borracha e uma caixa com 12 lápis de cor. Após a distribuição do material, a pesquisadora apresentou o estímulo indutor: “desenhe tudo o que lhe vem à mente quando falamos a expressão: ser professor”. Quando as crianças terminavam o desenho, era solicitado que utilizassem a outra folha para escrever sua história, explicando o desenho. O tempo utilizado para a coleta foi em torno de 90 minutos. Os participantes foram identificados pela letra P para lhes garantir o anonimato.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade de Fortaleza (Unifor) (Parecer n. 1.444.016), e foram observados os parâmetros éticos com base nos preceitos instituídos pela Resolução n. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Todos os participantes foram informados sobre os objetivos e procedimentos do estudo e assinaram o Termo de Assentimento (TA).

Inicialmente, realizou-se uma observação sistemática dos desenhos e temas, em seguida, os desenhos foram selecionados por semelhança gráfica e/ou aproximação de temas, conforme propõe Coutinho (2005). Vale ressaltar que, neste estudo, as categorias temáticas emergiram do consenso de três juízes (dois psicólogos e uma professora). As produções escritas sobre os desenhos foram analisadas por meio da análise de conteúdo temática de Bardin (2011) e com base nas análises dos desenhos.

3 RESULTADOS

A partir das análises dos desenhos (N=75) e das produções escritas, foram identificadas três categorias, o que indica representações sociais distintas do professor: um profissional arraigado à cultura tradicional; um professor que se aproxima das expectativas atuais, mais contemporâneas; e uma imagem permeada pelos dilemas e tensões vivenciados pelo professor.

Foi comparada a frequência das categorias apresentadas por grupos constituídos em função do sexo e do nível de ensino (anos iniciais e anos finais). Diante disso, verificou-se que não houve diferença significativa. Observou-se, no entanto, que a linguagem utilizada, ou seja, a forma de expressar as representações sociais do professor, transcorreu de maneira mais simples para as crianças dos anos iniciais, enquanto os alunos dos anos finais eram mais questionadores.

3.1 O PROFESSOR: UM PROFISSIONAL ARRAIGADO À CULTURA TRADICIONAL

A análise gráfica dos desenhos sobre a representação do professor mostrou a presença da sala de aula na maioria das produções (n= 57, 76%), indicando que os alunos representam graficamente o professor como um profissional que desenvolve suas atividades em uma sala de aula, com carteiras e um quadro à frente, ou seja, os alunos possuem uma visão tradicional do professor. As representações refletem a percepção de um profissional que desenvolve suas aulas em posturas retas, firmes e de pé. A imagem delineada mais frequentemente é a de alguém posicionado na frente da turma, com os alunos sentados em cadeiras dispostas em fileiras e em lugares predefinidos. Essa perspectiva representa, portanto, uma escolarização verticalizada, na qual o professor é o detentor do saber (ensina) e os alunos, receptores (aprendem).

A figura do professor também aparece como um robô, programado para obedecer a comandos, ou seja, repassar conteúdos já determinados e de forma mecânica, em um ambiente não propício a imprevistos, à expressão e ao acolhimento de sentimentos e demandas. Em algumas produções, aparece como uma figura desproporcional, com cabeça enorme, olhos e braços grandes e bem abertos, a boca avantajada. Um profissional que tudo sabe, que tudo vê e que fala muito, como exemplificam os Desenhos 1 e 2.

O professor aparece como um sujeito autoritário, durão, que grita na sala de aula, transmite medo, castiga e pune seus alunos com a perda do recreio (Desenho 2). Um professor que tem problemas com o domínio da turma, exigindo sala silenciosa, turma quieta e educada (Desenho 1). No que tange a essa questão, relatam as crianças:

[...] A professora é muito marrenta e durona. [...] eu não gosto da atitude da minha professora. Os meus amigos também não gostam dela. Ela fala que vai deixar a gente sem recreio, mas ela nunca faz nada. Ela grita, e grita bem alto com todo mundo na sala de aula, depois começa a adulação, eu odeio isso (P20).

Era uma vez a professora que estava escrevendo. Ela botou todo mundo sem recreio. Ela virou para fazer o dever no quadro, se virou e continuou a fazer o dever. Aí, João estava conversando, ela botou de castigo, e depois José ficou também, aí depois Marcos ficou também. Aí, Pipoca conversou com Picolé e ficou também sem recreio, e depois todos ficaram também (P22). (informações verbais).

Desenho 1 – Desenho desenvolvido por P67

Fonte: os autores.

Desenho 2 – Desenho desenvolvido por P10

Fonte: os autores.

As produções relacionadas a essa categoria reforçam a ideia de uma escolarização centrada na aprendizagem de conteúdos em sala de aula, sem ênfase na troca de conhecimentos com os demais colegas, no jogo, na competição, na disputa, na falta de ajuda durante a busca por uma resolução de conflitos, etc. Nota-se que o professor é representado como um profissional competente, em contrapartida, chato. Talvez pelo fato de não optar por atividades mais dinâmicas em sala, que envolvam os alunos, por um ensino que atenda às expectativas e demandas do mundo contemporâneo. Reforça o aluno que o professor é um profissional “competente, mas um pouco chato. Diz que vai ter chamada oral ou prova, [...] as explicações são péssimas, às vezes eu não entendo quase nada, na verdade não entendemos nada, [...] mas nós adoramos ele.” (P76) (informações verbais).

Nessa categoria, o docente é representado em uma relação de poder, dado que 48% (n= 22) dos desenhos sugerem o perfil de um profissional em interação verticalizada com o aluno, na qual o professor é uma figura mais alta e se posiciona à frente do seu aluno, e este lhe deve obediência. Essa relação é permeada por orientações, broncas, reclamações e carões, como expressa um aluno: “[...] na sala de aula não só tem coisas boas, mas também reclamações porque os alunos teimam, mas o professor nada mais é que um pai que sempre está nos ajudando.” (P56, informação verbal). Vale ressaltar que o próprio aluno reconhece a importância da atitude do docente, como uma ação apropriada de um profissional que orienta seu aluno, relacionando a sua postura de profissional à imagem do pai/mãe. As funções da família são, de certa forma, atribuídas aos professores. Nesse sentido, os alunos justificam que o professor representa “nossa mãe ou pai, a gente aprende mais na escola do que em casa, precisa do professor para ser alguém na vida, para dar orgulho aos familiares, [...] por isso nos dá bronca” (P27), “fica no pé toda hora” (P68) e “briga para nosso bem.” (P65, informações verbais).

3.2 IMAGENS CONTEMPORÂNEAS SOBRE O PROFESSOR

A docência é desenvolvida por meio da confluência de palavras, ações, relações e sentimentos, o que aparece nas produções desta segunda categoria, como mostram os Desenhos 3 e 4. Nessas produções, o professor foi representado como mediador do processo ensino-aprendizagem, mantendo uma postura reflexiva e investigativa (Desenho 3) e se envolvendo com métodos inovadores de aprendizagem, proporcionando momentos de troca de saberes e cooperação entre os alunos (Desenho 4). O professor, nesses casos, foi representado como uma pessoa disponível, parceiro, aberto a ouvir o aluno e a oferecer novas ferramentas para o desenvolvimento da aprendizagem.

Desenho 3 – Desenho desenvolvido por P34

Fonte: os autores.

Desenho 4 – Desenho desenvolvido por P26

Fonte: os autores.

Evidencia-se nessas representações uma forte ligação do professor com o aluno e com a disciplina. Em 60% (n= 45) das produções dos alunos, o docente é representado em um espaço de relação professor-aluno, e em 38% (n= 17) dessas produções evidencia-se uma relação harmoniosa de solidariedade e afetividade (como exemplifica o Desenho 4). As produções retrataram um profissional criativo que desenvolve aulas interessantes (Desenho 3), que ensina e brinca ao mesmo tempo sem, contudo, tirá-lo do lugar de autoridade. Ele aparece alegre e próximo do aluno, como alguém que incentiva, elogia e demonstra afeto pelos alunos.

Essa relação positiva professor-aluno aparece fortemente nas produções escritas dos discentes. Segundo um deles, “tem professor que aprende com a gente e a gente aprende com ele.” (P60, informação verbal). Além disso, as relações positivas também são evidenciadas nas atividades desenvolvidas em sala e na relação extra-sala, como expressa o aluno: “o professor passava trabalhos ótimos, ele dava carona e era muito amigo da turma. Mas ele saiu do colégio, agradeço muito pelo que ele me ensinou.” (P46, informação verbal). É também representado como um profissional que proporciona diferentes formas de atividades para construção da aprendizagem, sempre pronto para esclarecer as dúvidas da turma. Relatam que o professor “explica muito bem e se o aluno não entende, ele explica de novo” (P71), “explica de um modo que todos entendam, ele se dedica com amor à profissão.” (P66). Um profissional confiante, alegre, amigo e carinhoso, que “[...] é gentil, tem carinho, amor e paixão pelo seu aluno.” (P27, P45, P47). Que desenvolve um papel fundamental na formação do aluno, representado como a “luz da esperança” (P72), para ajudar o aluno a enfrentar os problemas do dia a dia (informações verbais).

Em uma vertente mais crítica e reflexiva, a relação de poder surge, nos discursos dos alunos, como uma questão de ética, fator primordial nas relações interpessoais (Desenhos 5 a 7). O Desenho 7, por exemplo, expressa a insatisfação com relação ao uso do celular dentro da sala de aula apenas como exclusividade do professor. Esclarece o aluno que o “professor é muito legal, mas só quer ficar no whatsapp.” (P73). Outro aluno tenta justificar a violação das regras da escola, ao expressar que “o professor gosta de mexer no celular, mas ele só mexe depois que passa a atividade.” (P67). Em contrapartida, é evidenciado por alguns alunos que esse fato prejudica o andamento das atividades porque o professor “[...] deixa de dar aula para ir mexer no celular” (P71), chegando a qualificá-lo a um viciado e reclamando da não reciprocidade: “aqui na escola é proibido o uso de celular, mas ele pode usar nas aulas dele. Eu acho isso errado! Por que ele pode e nós não podemos?” (P67) (informações verbais).

Desenho 5 – Desenho desenvolvido por P77

Fonte: os autores.

Desenho 6 – Desenho desenvolvido por P62

Fonte: os autores.

Desenho 7 – Desenho desenvolvido por P73

Fonte: os autores.

O professor é representado como uma pessoa jovial, que se preocupa com sua beleza, usa batom e se maquia (Desenho 5), chega à escola bem vestido, cabelos bem arrumados, transporta seu material em malas com rodinhas (Desenho 6), mostrando a imagem dos professores em contato com o mundo atual e com as novas tecnologias. Também transmite a mensagem da importância dos alunos para o profissional, o qual oferece o que tem de melhor, tanto com relação ao saber quanto ao ser. A mala de uma bagagem enorme representa conhecimento, dedicação, valores, ética, saber, entre outros, que esse profissional precisa ter para conduzir o processo de ensino-aprendizagem.

3.3 OS DILEMAS E TENSÕES QUE CERCEIAM O PROFESSOR

Encontra-se nas representações dos alunos uma conotação negativa do ser professor, delineado pelas dificuldades presentes no contexto de trabalho, como as inúmeras obrigações que tem de desenvolver: chamadas, atividades, avaliações, tendo que enfrentar, ainda, a falta de respeito e indisciplina dos alunos (Desenhos 8 e 9). Expressam os discentes que, “[...] alguns alunos são desobedientes e fazem bagunça, e o professor fica triste” (P11), além de “[...] responder o professor e fazer tumulto nas aulas.” (P26) (informações verbais).

Desenho 8 – Desenho desenvolvido por P29

Fonte: os autores

Desenho 9 – Desenho desenvolvido por P40

Fonte: os autores.

Os dilemas e tensões traduzem a falta de respeito que o professor recebe por parte dos alunos, quando não lhe dão o valor esperado, também refletidos nas reais condições de trabalho oferecidas por parte do governo, de modo que constantemente o professor necessita fazer greves para garantir seus direitos (Desenho 9). Justifica o aluno que “os professores sofrem muito, além dos alunos pegarem no seu pé, ainda, sofrem por conta da prefeitura que não paga o que eles merecem.” (P28, informação verbal). Afirmam, inclusive, que o professor sofre em virtude das condições de trabalho às quais está submetido, com inúmeras demandas (Desenho 8). Esse fato que pode influenciar a escolha da profissão, pois em uma dinâmica complementar em que foi perguntado “O que eu quero ser quando crescer”, 92% (n= 69) dos participantes expressaram que não têm intenção de ser professor. Explica um aluno como é o trabalho do professor em sala de aula:

Ser professor de sala de aula é muito cansativo, tem que produzir prova, tem que ficar gastando sua voz reclamando com o aluno, tem que lidar com aqueles alunos que não se interessam por nada, entende. Eu, sinceramente, ser professor não dar certo para mim, porque ser professor é muito difícil; eu sei o quanto os professores sofrem. Fica à tarde e à noite escrevendo atividades para passar para os alunos entender. (P48, informação verbal).

Os alunos expressaram também que, para lidar com um contexto de trabalho com inúmeras dificuldades, é necessário “ser um guerreiro, batalhador e um vencedor para todos os dias tentar vencer, porque o único sonho do professor é ver um futuro melhor para seu aluno” (P30, informação verbal). As representações dos discentes indicam que o professor precisa ter muita energia para enfrentar os desafios da sua profissão.

4 DISCUSSÃO

A imagem de um professor tradicional, estereotipada, com características de uma postura inflexível, que pouco dialoga com o aluno, firme, digno, que castiga e que conduz o processo de ensino com aulas mecânicas, ancoradas no livro didático e na lousa pertence a um modelo tradicional de educação já ultrapassado. Essas imagens e produções escritas podem ser consideradas negativas, pois mostram certa agressividade do docente com relação ao aluno, falta de metodologias mais adequadas que possam despertar o interesse, a curiosidade e a participação do aluno.

No atual contexto de acesso à informação, não se pode conceber um único modelo de ensinar e de aprender, sem levar em consideração as diferentes formas de aprendizagem dos alunos, bem como entender que cada um aprende da sua forma (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016). Para isso, é necessário promover condições de aprendizagem e avaliação que desenvolvam a colaboração e a interação entre os alunos e o professor (COPE; KALANTZIS, 2013). É importante ressaltar que a escola é também lugar de construir relacionamentos e amizades, de demonstrar afetos, de decepcionar-se, de descobrir-se humano como os demais também o são.

A segunda categoria, por outro lado, agrupa produções dos alunos que expressam uma imagem diferente do professor. De acordo com essa nova concepção, passa a ser representado como um profissional que assume o papel de mediador do processo de ensino-aprendizagem, que desenvolve aulas dinâmicas, com uma postura reflexiva e investigativa, que encoraja e motiva, desenvolve a autoconfiança, capacita os alunos a exercerem o seu papel de cidadão (BALAGTAS et al., 2016). Um profissional que atrai e motiva seus alunos, pois sua principal função não é de transmitir o conteúdo, mas promover o sucesso dos seus alunos (PARDAL et al., 2014).

Nas representações dos alunos, portanto, aparecem duas imagens bem distintas. A primeira mostra um professor com os traços considerados mais conservadores da profissão. Já a segunda mostra um profissional com caráter relacional, que promove a interação professor-aluno, alguém aberto a mudanças, parceiro, que escuta e orienta seu aluno. É importante ressaltar que a relação professor-aluno é um fator importante no processo de ensino-aprendizagem, pois uma imagem positiva do professor e uma boa relação na sala de aula são variáveis que levam a um bom desempenho do aluno (MIDDLETON; PITITT, 2010; GOIGOUX, 2016).

A afetividade nessa relação de parceria entre docente e discentes é flagrante nas produções em que o professor é visto como uma figura materna ou paterna. Para os alunos, ele ocupa um lugar de pais substitutos, resultado de uma relação afetiva muito forte. Essa imagem tem origem no fato de o docente ser visto, historicamente, como uma pessoa vocacionada, decorrente de um período em que religião e ensino estavam intimamente ligados. Até hoje essa imagem permanece no imaginário social, em que o professor é visto como uma pessoa que tem qualidades especiais para o ensino (DAMETTO; ESQUINSANI, 2015). Nesse sentido, mesmo com as mudanças ocorridas no ensino e no ambiente escolar, a representação do professor (homem), no ensino fundamental, ainda está relacionada à figura paterna, enquanto a professora (mulher), normalmente, à figura materna (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016). Na realidade, em sala de aula, o aluno revive a relação original entre pai e filho, e é transferido para o professor todo o amor e/ou hostilidade que a criança ou jovem vivencia em sua casa com a mãe e o pai (SILVA; SOFIA, 2006).

Também é expressa, nas produções dos alunos, uma hierarquia entre professor e aluno como uma relação desigual, mas os alunos parecem compreender que esse tipo de relação com a autoridade é importante para o seu desenvolvimento (TÉNÉDOR, 2012). Algumas produções dos discentes parecem reconhecer o professor como orientador, que anseia pelo sucesso pessoal e profissional dos seus alunos. Essa representação parece, também, estar ancorada nos discursos da maioria dos pais e da sociedade.

Por outro lado, o aluno contesta quando essa posição autoritária ultrapassa os limites de uma relação ética, como no caso do uso do celular em sala de aula, como um direito que lhe é negado e assegurado ao professor. Pescarolo e Bodê de Morais (2016) explicam que é difícil ensinar ética sem vivenciá-la, ou seja, não há como ensinar respeito sem respeitar. Se não pode atender ao celular em sala de aula, porque atrapalha a aula, o princípio deve valer tanto para alunos quanto para o professor. Na prática, o que se percebe é uma intensa resistência por parte dos educadores em perceber que atitudes incoerentes com o discurso e com a prática podem ser promotoras de rebeldia nos alunos, como ficou evidenciado em alguns desenhos.

Também ficou evidenciado nas produções coletadas, o lado negativo do professor, projetado na representação de um profissional desvalorizado. Esse discurso representacional circula nas escolas e é divulgado nos meios de comunicação da sociedade. Em geral, essas representações discorrem sobre os problemas atuais que cerceiam o trabalho docente, como a indisciplina e a violência enfrentada em sala de aula. Assim, os alunos representaram o professor como um ser corajoso, guerreiro, até “louco” por escolher a docência, como afirma Oliveira et al. (2016). São discursos preocupantes que vêm se instalando sobre o magistério: a representação de que se trata de uma profissão insalubre, perigosa, desgastante, além de economicamente desvalorizada, o que pode contribuir para afastar, cada vez mais, possíveis candidatos a cursar as licenciaturas ou, em as cursando, não ingressarem na carreira do magistério (DE BARROS, 2016).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ato de representar um objeto é um processo que permite identificar as formas como os discursos se manifestam por meio de um intercruzamento de vozes sociais. O objeto representado pelo discurso deixa de existir em si mesmo e se transforma através de outras situações e relações com objetos a que foi vinculado, a partir de escolhas (conscientes ou não) dos indivíduos, que são orientados por experiências (DE BARROS, 2016).

Durante muitas décadas, a representação do professor esteve relacionada a transmitir conhecimentos baseados em conteúdos. Na atualidade, essa representação assume outras imagens, tendo em vista as profundas alterações sociais que influenciam a dinâmica de funcionamento dos grupos. Para tanto, é necessário considerar o contexto em que o professor trabalha, com uma geração munida de uma vasta quantidade de informações, conhecimentos e competências, dessa forma, exigem-se do professor cada vez mais algumas habilidades especiais.

As produções escritas e os desenhos dos alunos estudados apresentaram conteúdos e elementos que permitem acessar suas representações acerca do professor. Os dados revelaram duas representações distintas. A primeira é uma representação do professor baseada em posturas e atitudes ultrapassadas (tradicional), vinculadas à visão do professor como detentor do saber, sempre em posição firme, posto em frente aos seus alunos, mantendo a imposição da ordem e do silêncio em sala de aula. Já a segunda mostra um professor mais atualizado, uma imagem cristalizada sob um viés mais moderno. Um profissional desejado: promotor de aprendizagem, interacionista, amigo, companheiro, orientador, que possibilita o desenvolvimento de diferentes habilidades, utilizando-se, para isso, de diferentes estratégias, como a utilização de tecnologias, e que promove atividades para além do espaço da sala de aula.

Os resultados levam a refletir sobre os desafios que cerceiam a representação do professor. O desafio de superar os dogmas do modelo pedagógico tradicional que ainda está muito presente nas instituições escolares e que, provavelmente, afeta negativamente a dinâmica da sala de aula e, consequentemente, o desempenho do aluno. A partir dessas representações, é possível evidenciar o distanciamento do discurso presente nas formações pedagógicas, embasadas em práticas inovadoras, reflexivas, participativas, com a prática cotidiana do professor em sala de aula.

No movimento dos processos representacionais, emergem também imagens do professor ligadas a um perfil idealizado, pautado em relações positivas e afetuosas, práticas educativas instigantes e atrativas, que apontam para possibilidades de aprendizagens significativas. Tais práticas parecem ter influência significativa na representação do professor como orientador para um futuro promissor na sociedade, bem como incentiva a persistência do aluno nos estudos, consequentemente, favorecendo o sucesso escolar.

Os resultados mostram também os desafios que o professor enfrenta em seu contexto de trabalho. É significativo que esses fatores tenham sido identificados pelos participantes deste estudo, alunos com poder aquisitivo baixo e escolarização ainda inicial.

Enfatiza-se, ainda, que os resultados desta pesquisa mostram o processo de mudança das representações que envolvem o docente. De um lado aparece a representação de um professor tradicional, autoritário e, de outro, um profissional participativo e inovador, desejado pelos alunos. Esses resultados podem contribuir para a literatura, assim como permitirão ao professor repensar sua prática educativa, bem como oferecer pistas para a promoção de uma política de capacitação docente diferenciada, que possa propiciar verdadeira mudança de mentalidade para que os argumentos pedagógicos ultrapassem a esfera do discurso para a prática, com metodologias mais ativas e ações efetivamente dinamizadoras.

O estudo possui limitações no que se refere à desigualdade de participantes entre os grupos pesquisados (anos iniciais e finais), resultado do critério utilizado para a seleção dos alunos, isto é, haver uma participação maior de alunos dos anos iniciais. Vale ressaltar que não houve intenção de comparar as representações sociais dos diferentes níveis de ensino e nem das diferentes escolas, mas caracterizar e analisar as representações.

Sugerem-se, dessa forma, novos estudos que busquem conhecer a representação social acerca do professor em grupos de diferentes faixas etárias e níveis de ensino, como também com relação à escola pública e privada, tendo em vista que as novas imagens e informações sobre o professor que têm circulado pela sociedade, bem como as alterações na configuração etária da população, contribuem para a (re)construção das representações sociais.

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Recebido em 12 de janeiro de 2018

Aceito em 09 de agosto de 2018

Endereços para correspondência: Rua São Gabriel, 250, Apto. 201, Bairro Cocó, 60135-450, Fortaleza, Ceará, Brasil; sfvale@hotmail.com

Roteiro, Joaçaba, v. 43, n. 3, p. 861-890, set./dez. 2018 | E-ISSN 2177-6059


1 Doutora em Psicologia pela Universidade de Fortaleza; Mestre em Psicologia pela Universidade de Fortaleza.

2 Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP); Mestre em Psicologia pela University of Wales Institute of Science and Techonology (UWIST), Grã-Bretanha.

3 Doutora e Mestre em Psicologia pela Universidade de Fortaleza (Unifor).