http://dx.doi.org/10.18593/r.v42i3.16318
Editorial
A última edição de 2017 da Roteiro conta com a seleção de dez artigos que versam sobre políticas educacionais, formação dos profissionais da educação, processos educativos e aprendizagem. Completa esta edição uma resenha, que aborda formas de relacionar conhecimento e informação na educação contemporânea. Valendo-se das palavras de Michel Löwy1, é possível dizer que Roteiro tem laborado contra a racionalidade limitada, contra o espírito mercantilista e contra a lógica mesquinha. Nesse mesmo sentido, a capa busca problematizar o contraponto entre o acúmulo do efêmero e a constituição de uma consciência plena. Seja como aspiração utópica de mudar a vida, seja empreitada intelectual ou política.
O trabalho de final de curso foi tomado como objeto de estudo por Canhici, Leite e Fernandes. As autoras, por meio de entrevistas com alguns formadores de professores, buscaram conhecer as razões e a importância do trabalho de fim do curso (TFC) no currículo das licenciaturas do Instituto Superior de Ciências da Educação de Cabinda, Angola. Apesar do reconhecimento de que a elaboração de um TFC contribui com o preparo dos professores para enfrentar os problemas que atravessam a educação em Angola, as autoras indagam se essa é a melhor opção curricular para a formação inicial de professores – que deve oferecer condições de vivência com a profissão.
Em A pedagogia do estético na formação docente, o autor problematiza as concepções de família ideal e família desestruturada de professores da educação básica da rede pública de ensino. Para atender ao objetivo proposto, Oliveira Júnior valeu-se da transmissão de obras fílmicas, cuja temática central era famílias não convencionais. Nesse artigo, são dialogados e enfatizados os resultados obtidos mediante aplicação do inventário com ênfase no trabalho de Associação Livre de Palavras (ALP). Os dados obtidos foram discutidos com base na Teoria das Representações Sociais (TRS), com apoio da Teoria do Núcleo Central (TNC). Oliveira Júnior infere que o cinema, associado a outras estratégias que problematizem o conceito de família, possibilita mobilizar e ressignificar sentidos associados aos conceitos de família ideal e família desestruturada.
O empenho em compreender como as universidades vêm se movimentando na implantação do processo da internacionalização é motivador do artigo A internacionalização do ensino superior. Zanchet, Selbach e Vighi abordaram as concepções e ações presentes nos movimentos de duas universidades do Extremo-Sul do país e notaram que a noção de internacionalização passa pela perspectiva dos acordos nacionais e internacionais, incluindo a participação de alunos em programas de mobilidade estudantil com expressivo interesse dos gestores em relação ao significado desse processo mais amplo de internacionalização no contexto do ensino superior. As autoras destacam uma frágil compreensão dessa temática no contexto das universidades pesquisadas e um forte indício da necessidade de potencializar outras ações que ampliem oportunidades de internacionalização.
Chikunda, Chikunda e Castro apresentam reflexões sobre um processo de “aprendizagem de fronteiras”, conduzido em uma iniciativa voltada a contribuir com a transformação do currículo sensível ao gênero em uma instituição de formação de professores situada no Zimbábue. O trabalho foi desenvolvido como apoio na Teoria Histórico-Cultural da Atividade. Dentre os resultados, o estudo aponta lacunas nas políticas públicas e algumas tensões referentes à transformação do currículo da formação de professores no contexto estudado.
As escolas municipais (fundamental I) de Jataizinho (PR) foram tomadas como campo empírico da pesquisa de Ruiz e Bugança. No seu estudo, objetivaram identificar as principais políticas para a gestão da educação implementadas a partir de 2003 e analisar como estas impactaram na gestão das escolas municipais. A análise dos documentos, de entrevistas com a representante do Departamento de Educação Municipal e com diretores das escolas possibilitou identificar que as políticas concebidas no período interferiram na gestão das escolas, mesmo que, em alguns aspectos, de maneira tênue.
Por meio de pesquisa bibliográfica e análise documental, no texto Gestão democrática e participação na composição de Conselhos Municipais de Educação no Paraná, Flach e Sakata discutem o entendimento e a efetivação da gestão democrática nesses Conselhos. Para tanto, apresentam discussões a respeito da democracia e as possibilidades de sua efetivação na educação, a forma como a composição e o funcionamento de Conselhos Municipais de Educação colaboram (ou não) para o princípio constitucional, e como essa ocorre em um dos municípios pesquisados. Inferem que tanto a composição quanto a atuação dos órgãos colegiados são contraditórias, pois, ainda que possibilitem a participação de diferentes segmentos sociais, sofrem interferências políticas locais limitantes da atuação coletiva.
No estudo Indícios do civismo na cultura do grupo escolar Costa Carneiro: O jornal “O Estudante Orleanense” (1949-1973), Massiroli e Rabelo analisam os ideais de civismo disseminados pelo jornal e que fizeram parte da cultura do referido Grupo Escolar. Trata-se de uma pesquisa documental, situada no campo da história da educação. Constataram, entre outros, que tanto antes quanto durante a ditadura civil-militar o jornal escolar foi um instrumento e uma prática de disseminação do civismo para os envolvidos tanto com sua produção quanto com sua divulgação.
Os discursos de classificação de normalidade do sujeito com deficiência, com base nos modelos médico e social, são peças centrais do artigo O Ensino de Geografia na perspectiva do modelo social da deficiência. Nesse sentido, os autores problematizam a deficiência visual com base na referência conceitual dos estudos de Vygotsky, nomeadamente no que diz respeito à mediação, compensação, conceitos e funções psicológicas superiores. À luz desse contexto, é enfocada uma experiência que investigou potencialidades da oficina pedagógica no ensino de Geografia. Os resultados evidenciam que os estudantes com deficiência constroem sua aprendizagem por meio de tarefas diferenciadas que promovem e valorizam seu potencial, seu modo de aprender, seu ritmo, suas habilidades e seus talentos.
Por meio de uma abordagem qualitativa, o manuscrito proposto por Nicolielo e Sommerhalder buscou compreender o modo como o brinquedo foi explorado por crianças da educação infantil em momentos de brincadeira livre em sala, e que funções foram atribuídas para esse objeto lúdico. As autoras verificam que o brinquedo, tanto o industrializado quanto o objeto transformado em brinquedo, faz-se consideravelmente presente nas brincadeiras oportunizando o enriquecimento das experiências pelas crianças. Além disso, as autoras destacam a necessária qualificação da mediação docente nas manifestações de estereótipos de gênero em brincadeiras, na oferta de outros ambientes para brincar e na disponibilização dos objetos lúdicos, a fim de contribuir para os processos de criação, exploração e enriquecimento das experiências das crianças.
A Literatura na seção infantil da biblioteca pública do Paraná, último artigo desta edição, é resultante de um estudo realizado na “Hora do conto” da seção infantil da Biblioteca Pública do Paraná (BPP). Em seu trabalho, as autoras problematizam a formação do leitor ainda na infância por meio da análise qualitativa de registros documentais. Entendem que as práticas educativas ocorrem de maneira lúdica e que a “Hora do conto” tornou o espaço da Biblioteca em um polo de encontro cultural, fomentando o interesse pela leitura, colocando as crianças em contato direto com o universo literário.
Convidamos nossos leitores e demais interessados a debruçar-se sobre os manuscritos desta edição e a dialogar com as problemáticas dos textos publicados nesta edição, difundindo e ampliando o conhecimento produzido e aqui socializado.
Priscila Monteiro Chaves
Nadiane Feldkercher
Editoras assistentes da Roteiro
Roteiro, Joaçaba, v. 42, n. 3, p. 423-426, set./dez. 2017 | E-ISSN 2177-6059
1 LÖWY, M. A Estrela da Manhã: surrealismo e marxismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.