http://dx.doi.org/10.18593/r.v42i1.13078

Dossiê: Docência Universitária

APRESENTAÇÃO

Tratar da docência universitária tornou-se um tema inadiável e intransferível para todos aqueles que se ocupam da Educação Superior no cenário de sua expansão, ocorrido nas últimas três décadas. Não se pode projetar e efetivar uma Educação Superior de qualidade sem dar atenção à docência universitária, pois ela constitui e possibilita o diálogo entre o saber historicamente produzido e os aprendentes que buscam nas Instituições de Ensino Superior (IES) um lugar para completar sua formação profissional.

De fato, a oferta progressiva de instituições, cursos e vagas na Educação Superior, acompanhada de políticas públicas que facilitaram o acesso à Universidade, possibilitaram de certa forma um ajuste de contas com um passado injusto de exclusão que afastou dos bancos universitários milhares de jovens. No entanto, o acesso à Educação Superior não é garantia que ocorra uma efetiva e qualificada formação profissional para o exercício da cidadania e para a construção de uma nação justa e próspera. É necessário que o acesso seja acompanhado de um qualificado processo de ensino e de aprendizagem, a fim de que os acadêmicos possam, de um lado, usufruir dos saberes historicamente elaborados, de outro constituir a autonomia intelectual, imprescindível à formação de cidadãos críticos e responsáveis. Para tanto, é intransferível e imprescindível o papel do docente universitário. Mas quem é ele? Como ocorre sua formação?

A formação dos professores para o exercício da docência na Educação Superior continua sendo uma discussão relevante, tendo em vista que as próprias políticas educacionais defendem percentuais de mestres e doutores para o credenciamento e recredenciamento de Instituições de Educação Superior. No entanto, sabemos que tanto o mestrado quanto o doutorado primam pela formação do pesquisador e pouco ou quase nada agregam ao desenvolvimento de habilidades e competências pedagógicas, tão importantes quanto o conhecimento técnico para o desempenho da docência, limitando-se, na maioria das vezes, à oferta de uma disciplina optativa a respeito da metodologia do ensino superior.

Pesquisas recentes constataram que os profissionais que se dedicam à docência e ao cotidiano onde atuam evidenciam que a formação pedagógica para o exercício no ensino superior é necessária e ajudaria na qualificação da intervenção docente e na mediação para a construção da aprendizagem. Nesse sentido, não é nada incomum observar nas avaliações institucionais o reconhecimento dos estudantes quanto à experiência, titulação e domínio do conhecimento pelo professor, ao mesmo tempo que denunciam que o professor apesar de “saber tanto”, não consegue ensinar, não tem uma boa didática e nem uma boa metodologia, enfim, não contribui para a construção da aprendizagem. Tal contexto coloca desafios aos docentes que, além de bagagem intelectual e domínio do conhecimento, precisam combinar habilidades pessoais, metodológicas e didáticas a fim de dar conta das expectativas dos estudantes e promover a construção da aprendizagem em ambientes variados.

Diante dessas exigências faz-se necessário um perfil de docente que mescle os atributos do pesquisador e do professor, de modo que ambas as dimensões se integrem no cotidiano educativo formal. Porém, nem sempre esse mesmo profissional condensa as habilidades pedagógicas necessárias para definir objetivos claros, selecionar conteúdos, projetar sequências didáticas, selecionar estratégias adequadas, organizar a avaliação, tendendo mais para a reprodução de modelos tradicionais experienciados nos diversos níveis de ensino pelos quais passou ou, com sorte, em ações de professores que lhe causaram admiração ou que conseguiram despertar seu prazer pelo estudo.

Almejando contribuir com este debate tão importante e necessário, Roteiro dedica o dossiê deste número à “Docência Universitária” reunindo sete artigos de pesquisadores nacionais e internacionais que tratam do assunto. São experiências, reflexões teóricas, relatos investigativos, resultados de pesquisas, convergências e divergências das áreas de conhecimento, avaliações externas das instituições de educação, processos formativos nas licenciaturas, discussões sobre o papel da didática no exercício da docência nos cursos da área da saúde e provocações para pensar a docência universitária na perspectiva da formação do espírito científico. Com isso a Roteiro reafirma cada vez mais seu compromisso de incentivar a pesquisa e contribuir com o debate educacional.

A todos uma boa leitura.

Altair Alberto Fávero

Carina Tonieto

Organizadores

Roteiro, Joaçaba, v. 42, n. 1, p. 9-10, jan./abr. 2017 | E-ISSN 2177-6059