http://dx.doi.org/10.18593/r.v41i3.12248

EDITORIAL

A última edição de 2016 da Roteiro traz uma seleção de oito artigos que versam sobre políticas educacionais, formação dos profissionais da educação, processos educativos e aprendizagem. Completam essa edição duas resenhas, que versam sobre políticas educacionais, desigualdades e violência no espaço escolar. Na capa está estampada uma imagem que procura retratar o pensamento de Paulo Freire sobre a mulher, temática trazida por um dos artigos que compõem a edição. A seção Sobre a Capa traz tematizada a ilustração da capa, na tentativa de prestar uma singela homenagem a esse que foi um dos maiores educadores do século XX.

Convidamos nossos leitores e demais interessados a debruçar-se sobre os manuscritos dessa edição e usufruir do conteúdo dos textos publicados, disseminando o conhecimento produzido e aqui socializado de forma irrestrita.

No manuscrito Construindo uma tipologia das políticas de educação integral em tempo integral, a autora Cláudia da Mota Darós Parente categoriza alguns modelos de oferta de educação integral em tempo integral no Brasil. A sistematização desses modelos permite à autora traçar uma tipologia dessas políticas, tendo em vista contribuir na caracterização, sistematização e análise das políticas públicas na área. Trata-se de um tema candente, que tem produzido debates acalorados no âmbito das iniciativas pela melhoria da qualidade na educação básica brasileira.

O artigo Infraestrutura Escolar: interface entre a Biblioteca e as possibilidades de aprendizagem dos alunos apresenta o resultado de um estudo sobre as possibilidades de aprendizagem dos alunos a partir do uso da biblioteca escolar. A partir de um estudo em escolas de ensino fundamental da região do Grande ABC paulista, o autor Paulo Sérgio Garcia agrupa um conjunto representativo de projetos pedagógicos que podem auxiliar os diretores na organização do espaço escolar tendo em vista melhorar o desempenho dos alunos nas atividades de leitura.

No ensaio Paulo Freire e a condição da mulher, Balduíno Antonio Andreola traz uma importante reflexão sobre o papel da mulher na sociedade. Utilizando obras publicadas por Paulo Freire sobre o tema, o autor alega que mudanças gramaticais não surtirão efeitos sobre os problemas de gênero, nomeadamente, em relação às mulheres, enfrentados historicamente no Brasil e outros países. Para o autor, é a realidade opressora que precisa mudar. Mudando a realidade, a língua, com sua gramática anacrônica e autoritária, também mudará.

A partir dos dados do Censo Escolar de 2013, Leonete Luzia Schmidt, Maria da Graça Nobrega Bollmann e Camile Martineli Silveira propõem uma discussão sobre A formação inicial dos professores alfabetizadores das escolas públicas de Santa Catarina. Para as autoras, a formação dos professores é mediada pelo contexto sociocultural em que está inserida e definida pela política educacional através de dispositivos legais. Assim sendo, consideram que, no estado de Santa Catarina, há ainda muito que fazer para atender à formação mínima exigida por lei para o professor de classe de alfabetização, assim como para alcançar a qualidade social de educação.

Tocando também no tema da formação dos professores, Alexandre Vanzuita e Tânia Regina Raitz analisam a construção da identidade profissional em Educação Física, na relação com a educação e trabalho, por meio do ensaio A construção de identidade(s) profissional(is) em educação física: uma revisão de literatura. Defendem que a construção da identidade do professor de Educação Física é resultado de uma rede de complexidades a partir da qual ocorre a configuração e a reconfiguração das identidades profissionais.

No ensaio Políticas e processos de formação pedagógica no ensino superior: aportes e inflexões, Edite Maria Sudbrac e Janaíne Souza Gazzol exploram políticas e práticas de formação pedagógica no Ensino Superior. Para as autoras, o saber pedagógico tem a mesma importância do saber da ciência específica. Desse modo, a superação da cultura de omissão da necessidade de formação pedagógica para a atuação docente no ensino superior passa, necessariamente, por mudanças na concepção dos professores já atuantes e pela reflexão constante sobre a própria prática.

Em seu texto, A dinâmica interlocutiva na sala de aula e o aprendizado de ciências na educação infantil, Camila Alvares e Carlos Toscano propõem um debate sobre o ensinar e aprender na educação infantil. Para os autores, a educação infantil constitui espaço privilegiado para a aprendizagem dos conhecimentos sistematizados. Defendem, por outro lado, que é preciso instaurar uma mediação pedagógica que busque incorporar a reflexão sobre os dizeres que se apresentam no processo, de modo que estes sejam explicitados em sua significação inicial e se tornem objeto de análise progressiva, tendo em vista permitir avançar na compreensão daquilo que está sendo objeto de estudo e que tem como referência os conceitos científicos. É nesse sentido que, para os autores, o aprendizado da ciência é fundamental para que os alunos possam se apropriar dos conhecimentos sistematizados ao longo da história da humanidade.

Por fim, no manuscrito “Imigrantes” versus “nativos” digitais: o discurso de tecnologias digitais em políticas curriculares, Carla Cristiane Loureiro, Viviane Grimm e Geovana Mendonça Lunardi Mendes propõem um debate sobre a inclusão de tecnologias digitais (TD) nas escolas, influenciada pela ideia de viverem-se profundas mudanças sociais e geracionais. Tendo por referência esse tema, problematizam os discursos de “nativo” e “imigrante digital” pela análise de documentos curriculares exarados pelo Governo Federal. Os resultados do estudo evidenciam uma visão naturalizada e determinista sobre a tecnologia em detrimento de usos mais significativos e possibilidades de empoderamento de professores e crianças.

Duas resenhas, Re (leituras): novos caminhos para a política educacional, de autoria de Sandra Fernandes Leite, Tayná Victória de Lima Mesquita e Andressa Luiza de Souza Mafra, e O social e as políticas educacionais na contemporaneidade: das desigualdades à violência no espaço educacional, de autoria de Marizete Santana dos Santos, completam a quadragésima primeira edição da Roteiro. As resenhas têm como foco a análise de políticas educacionais na relação entre ensino e pesquisa.

A todos, uma boa leitura.

Marilda Pasqual Schneider

Editor-chefe

Roteiro, Joaçaba, v. 41, n. 3, p. 559-562, set./dez. 2016