PRODUÇÃO CIENTÍFICA DE CULTURA
ORGANIZACIONAL SOB A ÓTICA DAS REDES SOCIAIS NO PERÍODO DE
Giancarlo Gomes*
Denise Del Prá Netto Machado**
Marcia Regina Santiago Scarpin***
Resumo
O objetivo deste estudo foi identificar a formação das redes sociais na produ- ção científica de cultura organizacional no período de
1 INTRODUÇÃO
O estudo sobre cultura organizacional é um tema que vem sendo abor- dado por diversos autores por sua importância no meio acadêmico e profissional
*Doutor em Ciências Contábeis e Administração pela Universidade Regional de Blumenau; Rua Antônio da Veiga, 140, campus 1, sala
**Doutora em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas; profadenisedelpra@gmail.com
***Doutoranda em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas; mrs.scarpin@gmail.com
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(BORGES et al., 2008; HEINZMANN; MACHADO; ROPELATO, 2010; PE- REIRA; PASSOS; CARVALHO, 2010; HEINZMANN; GUBIANI; SCARPIN, 2010). Este estudo
Dessa forma, emerge a questão de pesquisa que norteia este estudo: quais são as redes sociais formadas a partir da produção científica sobre cultura organizacional dos periódicos de alto impacto brasileiros, listados na Coordena- ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) classificados como Qualis A1, A2, B1 e B2? Para responder a esta questão de pesquisa, o estudo tem como objetivo identificar a formação das redes sociais na produção científica de cultura organizacional no período de
Para alcançar o objetivo proposto,
Para tanto, este estudo
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Produção científica de cultura organizacional...
2 TEORIA DE REDES
O estudo de redes pode abranger desde a Ciência da Computação até a Sociologia. As redes sociais criam conexões entre pessoas no seu cotidiano (RA- POPORT; HORVATH, 1961), contatos profissionais, negócios empresariais (PO- DOLNY; PAGE, 1998; LAZZARINI, 2007) e relações acadêmicas (PRICE, 1965; REDNER, 1998; GUIMARÃES et al., 2009; ROSSONI; GUARIDO FILHO, 2009; MARTINS, 2009).
A rede fortalece tanto as relações quanto contribui para o aperfeiçoa- mento, a maturação ou mesmo a inovação do conhecimento científico, que, con- forme Kuhn (1978) e Popper (1972), é construído socialmente. As redes sociais influenciam diretamente a forma como os pesquisadores pensam e formulam suas ideias (LIU et al., 2005).
O presente estudo utiliza as redes sociais derivadas da Sociologia e da Antropologia com enfoque nas relações entre pesquisadores da área de Cultu- ra Organizacional, podendo ser chamada de análise das redes sociais (ARS) ou Social Network Analysis (SNA). Sua definição é atribuída como os conjuntos de contatos que ligam vários atores, nos quais tais contatos podem ser de diferentes tipos, apresentarem conteúdos distintos, bem como diversas propriedades estru- turais (NELSON, 1984); ou ainda como um conjunto finito de atores e as relações que ocorrem entre eles (WASSERMAN; FAUST, 1994).
As redes “[...] são sistemas compostos por ‘nós’ e conexões entre eles, que, nas Ciências Sociais, são representados por sujeitos sociais (indivíduos, grupos, or- ganizações, etc.) conectados por algum tipo de relação.” (SILVA et al., 2006, p. 77). A análise de redes sociais é baseada na premissa de que as relações entre atores sociais podem ser descritas por um gráfico (LIU et al., 2005). A formação das redes sociais se constitui de: ator, nós, laço relacional (ligações fortes ou fracas), díade, tríade, grupo e centralidade (WASSERMAN; FAUST, 1994; LIU et al., 2005).
Os atores representam os “nós” (HANNEMAN; RIDDLE, 2005). A li- gação de um ou mais tipos específicos de interdependência é considerada os laços (BERKOWITZ, 1982). Estes laços podem se caracterizar como: laços fortes, que correspondem a uma rede social formada por uma densa malha de relacionamen- tos, ou laços fracos, que são aqueles feitos fora de um círculo coeso de relaciona- mento (WASSERMAN; FAUST, 1994).
A ligação entre dois atores em uma unidade de análise é considerada uma díade, e as tríades estão presentes nas ligações entre três ou mais atores. Os
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grupos têm sua origem nas relações que possuem laços mensuráveis, caracteri-
Um dos tipos de rede que possui alto grau de agrupamento e baixa distância média entre os nós é a Small World ou “Mundo Pequeno” (MILGRAM, 1967; WATTS; STROGATZ, 1998). Esta rede remete à situação em que um indi- víduo pode acessar qualquer outro a partir de seus relacionamentos: mesmo que a maioria das pessoas não esteja relacionada diretamente entre si, elas se conectam indiretamente por meio de poucos intermediários (LAZZARINI, 2007). Watts e Strogatz (1998) sugerem que esse fenômeno ocorre quando atores em uma esparsa rede estão altamente agrupados, mas, ao mesmo tempo, conectados a atores fora de seus grupos por meio de um pequeno número de intermediários.
Várias são as maneiras de identificar a estrutura e as relações de uma rede, entre as quais se destacam: propriedades estruturais, com medidas de densi- dade e centralidade; papéis e posições, com análise de clusters; e análise estatística dos relacionamentos, com testes de proposições teóricas acerca das propriedades relacionais (WASSERMAN; FAUST, 1994).
No caso das propriedades estruturais, a densidade evidencia a propor- ção do número de laços efetivamente realizados em uma rede em relação ao nú- mero total de possibilidades entre os atores da rede (KNOKE; KUKLINSKI, 1982; SCOTT, 2000). Gnyawali e Madhavan (2001) destacam três características das redes densas: facilitam o fluxo de recursos, principalmente a informação; funcionam como sistemas fechados de confiança, gerando mais facilmente com- portamentos similares e facilitam a atribuição de sanções.
A centralidade, por sua vez,
a) centralidade de grau (degree): consiste no número de laços que um ator possui com outros em uma rede; como ela considera somente os relacionamentos adjacentes, tal medida revela somente a centralidade local dos atores;
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b)centralidade de proximidade: é baseada na proximidade ou distância de um ator em relação aos outros em uma rede; a medida de centralidade de proximidade (closeness) de um ator é obtida por meio da soma das distâncias geodésicas entre todos os outros atores;
c)centralidade de intermediação (betweenness): na qual a interação entre atores não adjacentes pode depender de outros atores, que podem potencialmente ter algum controle sobre as interações entre dois atores não adjacentes. Assim, um ator é um intermediário que se liga a vários outros os quais não se conectam diretamente (SCOTT, 2000; WASSERMAN; FAUST, 1994).
A relação entre atores ou grupos pode ser chamada de clusters, cliques, clans, componentes, cores ou ainda ciclos, e é possível ser identificada quando os laços entre os atores de um grupo identificam subgrupos coesos que podem ser formalizados expondo diferentes propriedades. Este subgrupo pode ser pensa- do como um conjunto de atores no qual todos escolhem a todos como pares em suas ligações, formadas por três ou mais atores da rede (SCOTT, 2000; WASSER- MAN; FAUST, 1994).
Os subgrupos podem ser baseados na alcançabilidade e na proximida- de de indivíduos, e são formalizados pelo conceito
E, por fim, os métodos de análises estatísticos, que possibilitam avaliar as redes tanto em nível local (díades e tríades) quanto em global. Três são as fina- lidades para a utilização de ferramentas estatísticas defendidas por Hanneman e Riddle (2005):
a)comparar duas relações no mesmo conjunto de atores;
b)explicar o impacto de atributos nos relacionamentos e
c)explicar as relações entre os atores na rede.
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A partir de um estudo pioneiro, realizado por Newman (2001), no cam- po da produção científica, o autor identificou que autores que entram na rede tendem a entrar preferencialmente a partir dos autores mais conectados. Alguns estudos recentes sobre redes sociais, como o de Martins (2009), demonstrou que no campo de gestão de operações a maioria das publicações possuiu estrutura de coautoria; o número médio de laços de coautoria entre esses pesquisadores cresceu, o que indicou que os autores tenderam a se relacionar mais agora do que no passado, porém, o volume de laços efetivamente construídos entre os autores não acompanhou o aumento de laços possíveis na rede, levando a uma maior fragmentação desta.
Rossoni e Guarido Filho (2009) levantaram artigos publicados na área de Administração e afins, dos Cursos de
3 CULTURA ORGANIZACIONAL
Cultura é o sistema de significados públicos e coletivamente aceitos de determinado grupo em determinado momento. Este sistema de termos, formas, categorias e imagens traz a interpretação da realidade de um povo para si próprio (PETTIGREW, 1979).
O conceito de cultura tem sido cada vez mais vinculado aos estudos das organizações; o termo foi emprestado da antropologia, na qual há pouco consenso sobre seu significado. Na antropologia cognitiva, a cultura consiste no conheci- mento objetivo compartilhado; na simbólica, a cultura é um sistema comparti- lhado de significados subjetivos; na antropologia estrutural e na psicodinâmica, ela é uma manifestação e expressão do funcionamento inconsciente da mente (SMIRCICH, 1983).
A cultura organizacional se manifesta nas características típicas da organização, e, portanto,
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Essas premissas são mantidas no processo contínuo de interação humana, que se manifesta em atitudes e comportamentos, em outras palavras, como o caminho certo em que as coisas são feitas ou problemas devem ser entendidos e resolvidos dentro da organização. Os componentes do comportamento que envolve as roti- nas, normas, valores, filosofia, regras do jogo e todos os sentimentos fazem parte da cultura organizacional (MARTINS; TERBLANCHE, 2003).
As organizações são vistas como instrumentos sociais que geram bens e serviços, e, como subproduto, elas também produzem artefatos culturais dis- tintos, como rituais, lendas e cerimônias. São inúmeras as definições de cultura; para Smircich (1983) ela é definida como a cola social ou normativa que mantém uma organização unida, e exprime os valores ou ideais sociais e as crenças que membros da organização partilham.
A cultura tem dois componentes básicos: a sua substância, ou as redes de significados contidos em suas ideologias, normas e valores; e as suas formas ou práticas em que estes significados são expressos, afirmados e comunicados aos membros (TRICE; BEYER, 1984). Martins e Terblanche (2003) definem cultura organizacional como os valores enraizados (muitas vezes inconscientes) e as cren- ças compartilhadas por pessoas em uma organização. A definição mais aceita é a de Schein (1984, p. 3):
A Cultura Organizacional é o modelo dos pressupostos básicos, que um dado grupo inventou, descobriu ou desenvolveu no processo de aprendizagem, para lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna. Uma vez que os pressupostos foram considera- dos válidos, eles são ensinados aos demais membros da organiza- ção como a maneira certa de se perceber pensar e sentir em relação àqueles problemas.
Para decifrar a cultura da organização, é necessário ir além das coisas visíveis e descobrir os pressupostos básicos que compõem seu cerne. Assim, é possível não somente entender a dinâmica da força evolucionária que rege a cul- tura, mas também explicar como a cultura é aprendida, repassada e modificada (SCHEIN, 1984). A prática expressiva da cultura é mais um reflexo da forma como se dizem as coisas (COFFEY; COOK; HUNSAKER, 1994; MARTINS; TERBLANCHE, 2003). A cultura organizacional preenche as lacunas entre o que é formalmente anunciado e o que realmente acontece. É o indicador de di- reção que mantém a estratégia em curso (MARTINS, 2009; MARTINS; TER- BLANCHE, 2003).
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4 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA
Quanto aos procedimentos, a pesquisa foi documental, tendo abordagem quantitativa, na qual foram aplicadas as técnicas estatísticas de análise das redes no tratamento dos dados coletados. A pesquisa documental foi utilizada no estudo bibliométrico e sociométrico. Martins e Theóphilo (2007) destacam que a pesquisa documental realiza um levantamento de material editado, como livros e periódicos, entre outros. Por sua vez, as pesquisas bibliométricas, conforme
A população da pesquisa compreendeu 116 periódicos de alto impacto, brasileiros, classificados pelo sistema Qualis da Capes. Esse é um conjunto de pro- cedimentos utilizados para a estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de
Para atender aos critérios de qualidade na escolha da amostra foram adotados os periódicos classificados como A1, A2, B1 e B2, brasileiros, de diferen- tes áreas, por se entender que o tema “cultura organizacional” pode estar presente em diversas linhas de pesquisa, além da administração. Porém,
O termo “cultura organizacional” foi pesquisado no título, no resumo e nas
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da como qualitativa e quantitativa, bem como as duas abordagens juntas, ou seja, quantitativa e qualitativa.
Quanto aos procedimentos adotados na análise quantitativa dos dados,
Todo método tem limitações. Segundo Vergara (2000, p. 59), “[...] é sau- dável
5 ANÁLISE DE DADOS
Esta seção está estruturada de acordo com os objetivos do estudo e das variáveis mensuradas. O estudo levantou o número de artigos e os autores que tiveram publicações sobre cultura organizacional nos periódicos de alto impacto do sistema Qualis Capes (A1, A2, B1 e B2), para verificar qual a rede que se esta- belece por meio deles. O Gráfico 1 apresenta a quantidade de artigos publicados no período de 2006 a 2010.
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Gráfico 1 – Quantidade de artigos publicados por ano
Fonte: os autores.
Verificando o Gráfico 1,
Gráfico 2 – Número de autores por artigo
Fonte: os autores.
De acordo com os dados apresentados no Gráfico 2, a maioria dos arti- gos pesquisados foi escrita por dois autores, em um total de 14 artigos, atingindo 42% do total. Foram encontrados oito artigos com um autor, 27% do total. A pre- ferência predominante para pesquisas com até dois autores se justifica, uma vez
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que é possível desenvolver trabalhos em conjunto do tipo
Quadro 1 – Número de artigos por periódicos
Periódico |
Qualis |
Número de |
|
artigos |
|||
|
|
||
Brazilian Administration Review (BAR) |
A2 |
4 |
|
|
|
|
|
Revista de Administração Mackenzie |
B1 |
3 |
|
|
|
|
|
Revista de Administração Contemporânea (RAC) Eletrônica |
B1 |
3 |
|
|
|
|
|
Revista de Administração de Empresas (RAE) Impressa |
B1 |
3 |
|
|
|
|
|
Perspectivas em Ciência da Informação |
B1 |
2 |
|
|
|
|
|
Psico (PUCRS – Impressa) |
B1 |
2 |
|
|
|
|
|
Revista de Administração da Universidade de São Paulo (RAUSP) |
B2 |
2 |
|
|
|
|
|
Ciência e Saúde Coletiva |
A2 |
2 |
|
|
|
|
|
Revista BASE |
B2 |
2 |
|
|
|
|
|
Revista de Administração Pública |
A2 |
2 |
|
|
|
|
|
Cadernos EBAPE.BR |
B1 |
1 |
|
|
|
|
|
Brazilian Business Review (BBR) |
B2 |
1 |
|
|
|
|
|
Organizações; Sociedade |
B2 |
1 |
|
|
|
|
|
Revista Eletrônica de Administração (REAd) |
B2 |
1 |
|
|
|
|
|
Revista Contabilidade; Finanças |
B1 |
1 |
|
|
|
|
|
Revista |
B2 |
1 |
|
|
|
|
|
Revista Panamericana de Salud Publica |
A1 |
1 |
|
|
|
|
|
Revista Turismo em Análise |
B2 |
1 |
|
|
|
|
|
Total |
- |
33 |
Fonte: os autores.
Os periódicos publicam em média quatro edições anuais, com uma va- riação de cinco a dez artigos por edição, envolvendo as mais diversas áreas da Administração. Observando o grande número de artigos publicados, o Quadro 1 evidencia que a “cultura organizacional” ainda é um tema pouco recorrente nas pesquisas. O periódico que mais publicou artigos sobre o tema foi o Brazilian Ad- ministration Review, com quatro publicações nos últimos cinco anos, seguido pela
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Revista de Administração Mackenzie, Revista de Administração Contemporânea (RAC) Eletrônica e Revista de Administração de Empresas (RAE) Impressa, com três publicações cada.
A partir desse levantamento, foi constituída uma rede social de cultura organizacional representada na Figura 1, também chamada de análise de redes so- ciais (ARS) ou Social Network Analysis (SNA), na qual apresentam as relações entre os atores, bem como os componentes isolados da rede, sendo composta de 78 auto- res, que nos estudos sobre redes sociais são denominados “atores” que representam os “nós” (HANNEMAN; RIDDLE, 2005). Estes atores produziram 140 relações entre si; essa interdependência é chamada de laços (BERKOWITZ, 1982).
Figura 1 – Análise de rede social de cultura organizacional
Fonte: os autores.
A Figura 1 apresenta os laços entre os “nós” compostos pelos diversos atores que fazem parte desta rede. Dos 78 autores pertencentes à rede de cultura organizacional, oito não estão conectados. Considerando o conceito proposto por Wasserman e Faust (1994), no qual a rede se caracteriza como um conjunto finito de atores e das relações que ocorrem entre eles, estes oito autores, ou 10% da rede, não fazem parte de tal conceito, indicando trabalhos individuais sem cooperação de outros autores. As contribuições da produção em rede estão no fortalecimento tanto das relações quanto da contribuição para o aperfeiçoamento, a maturação,
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ou ainda a inovação do conhecimento científico, que são construídos socialmente (KUHN, 1978; POPPER, 1972).
Pela análise da rede social de cultural organizacional, demonstrada na Figura 1, é possível perceber uma rede fragmentada. Sua densidade foi calcula- da em 0,0117 ou 1,7%, indicando uma rede de baixa densidade. Esta densidade evidencia a proporção do número de laços efetivamente realizados em relação ao número total de possibilidades entre os atores da rede (KNOKE; KUKLINSKI, 1982; SCOTT, 2000). Neste estudo foram levantados 140 laços realizados em 11.966 laços possíveis. Assim, esta rede é formada por laços fracos, ou seja, laços feitos fora de um círculo coeso de relacionamento (WASSERMAN; FAUST, 1994).
Um resultado parecido foi constatado no estudo desenvolvido por Gui- marães et al. (2009), no qual as redes sociais entre pesquisadores de programas de
Com o intuito de identificar a estrutura e as relações desta rede social de cultura organizacional, foram analisadas, além das medidas de densidade, o grau de centralidade, a centralidade de proximidade, a centralidade de interme- diação e a análise dos clusters. Outros indicadores podem ser utilizados para a aná- lise de uma rede, porém, por delimitação do estudo,
5.1 GRAU DE CENTRALIDADE (CENTRALITY DEGREE)
A centralidade de uma rede significa identificar a posição em que um ator se encontra em relação aos demais na rede (HANNEMAN; RIDDLE, 2005). Igualmente, ela permite avaliar o grau que um ator específico é capaz de acessar, direta ou indiretamente, outros atores na rede. O Quadro 2 apresenta o grau de centralidade (Centrality Degree), que consiste no número de laços que um ator possui com outros atores em uma rede. Dessa forma, foram separados os 11 atores com maior número de laços.
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Quadro 2 – Grau de centralidade (Centrality Degree)
Classificação |
Principais atores |
Degree |
|
|
|
1 |
Elisabete Straditto Siqueira |
4.000 |
|
|
|
2 |
Fernando Filardi |
4.000 |
|
|
|
3 |
Erlaine Binotto |
4.000 |
|
|
|
4 |
Flávio José Simioni |
4.000 |
|
|
|
5 |
Luciano Rossoni |
4.000 |
|
|
|
6 |
Erika Mayumi Kato |
4.000 |
|
|
|
7 |
Álvaro Augusto Dossa |
4.000 |
|
|
|
8 |
Antônio João |
4.000 |
|
|
|
9 |
Caio Gobara |
4.000 |
|
|
|
10 |
Mariana Vendemiatti |
3.000 |
|
|
|
11 |
Vânia Maria Goulart Lopes |
3.000 |
Fonte: os autores.
É possível observar pelo Quadro 2 que os atores Elisabete Straditto Si- queira, Fernando Filardi, Erlaine Binotto, Flávio José Simioni, Luciano Rossoni, Erika Mayumi Kato, Álvaro Augusto Dossa, Antônio João
Figura 2 – Centralidade de grau da rede de cultura organizacional
Fonte: os autores.
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Analisando a Figura 2, é possível observar que o número de laços pro- duzido por cada autor é um componente determinante para a análise de uma rede social, pois sem ele a formação da rede não ocorreria. Cada rede isolada representa um conjunto de atores que compartilha conhecimento e desenvolve trabalhos em equipe, porém, restrito ao seu grupo, limitando o conhecimento entre os seus pa- res. Isso pode gerar uma homogeneidade, criando um obstáculo ao conhecimento heterogêneo na produção do conhecimento na área de Cultura. A importância de um ator na rede não acontece somente pelo número de contatos diretos que ele mantém, mas também pelo número de contatos que intermedia (ROSSONI; GUARIDO FILHO, 2009).
É oportuno ressaltar que os laços não revelam os atores mais relevantes de uma rede, uma vez que é possível ter um número expressivo de laços, sem co- nexões com o restante da rede, indicando uma preferência de produção limitada a determinado conjunto de autores. E se há baixo acoplamento entre atores, a quantidade total de poder na rede também é baixa, pois há poucos contatos entre os atores para que este possa ser exercido (HANNEMAN; RIDDLE, 2005).
5.2 CENTRALIDADE DE PROXIMIDADE (CLOSENESS)
A centralidade de proximidade é baseada na proximidade ou distância de um ator em relação aos outros atores em uma rede. O Quadro 3 apresenta os 10 primeiros atores com maior centralidade de proximidade, porém,
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Quadro 3 – Centralidade de proximidade (Closeness)
Classificação |
Principais atores |
Closeness |
|
|
|
1 |
Mariana Vendemiatti |
1.282 |
|
|
|
2 |
Caio Gobara |
1.282 |
|
|
|
3 |
Érica Chulvis do Val Ferreira |
1.282 |
|
|
|
4 |
Elisabete Straditto Siqueira |
1.299 |
|
|
|
5 |
Luciano Rossoni |
1.299 |
|
|
|
6 |
Danielle Quintanilha Merhi |
1.282 |
|
|
|
7 |
Fernando Filardi |
1.316 |
|
|
|
8 |
Reinaldo Guerreiro |
1.282 |
|
|
|
9 |
Ana Lúcia Abrahão |
1.282 |
|
|
|
10 |
Erika Mayumi Kato |
1.316 |
Fonte: os autores.
A medida de centralidade de proximidade (Closeness) de um ator é obtida por meio da soma das distâncias geodésicas entre todos os outros atores (SCOTT, 2000; WASSERMAN; FAUST, 1994). A distância geodésica implica “[...] no caminho mais curto possível entre um ator e outro.” (HANNEMAN; RIDDLE, 2005, p. 87). Isso significa que os atores Mariana Vendemiatti, Caio Gobara, Érica Chulvis do Val Ferreira, Elisabete Straditto Siqueira, Luciano Ros- soni, Danielle Quintanilha Merhi, Fernando Filardi, Reinaldo Guerreiro, Ana Lúcia Abrahão e Erika Mayumi Kato são os atores que percorrem o menor per- curso para alcançar os outros elos da rede. Essa pequena distância significa que a informação circula mais facilmente entre estes atores, possibilitando maior com- partilhamento de informações.
5.3 CENTRALIDADE DE INTERMEDIAÇÃO (BETWEENNESS)
A centralidade de intermediação é baseada no quanto um ator facilita o fluxo de informação em determinada rede, mesmo sendo esta intermediação relativamente pequena, dado o tamanho total da rede social de cultura organiza- cional, demonstrada na Figura 3. Esses atores são os conectores que favorecem o acesso a qualquer outro na rede a partir de seus relacionamentos, mesmo que a maioria das pessoas não esteja relacionada diretamente entre si, elas se conectam indiretamente por meio desses poucos intermediários. Esse fenômeno também pode ser chamado de Small World ou “Mundo Pequeno” (MILGRAM, 1967; WATTS; STROGATZ, 1998; LAZZARINI, 2007).
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Figura 3 – Centralidade de intermediação de cultura organizacional
Fonte: os autores.
A centralidade de intermediação pode ser considerada um dos indicado- res mais importantes de uma rede social, pois por meio dela um ator interage entre atores não adjacentes (SCOTT, 2000; WASSERMAN; FAUST, 1994). Um ator é um intermediário quando se liga a vários outros atores que não se conectam a ele diretamente. A Figura 3 demonstra a intermediação dos autores Luciano Rosso- ni, Érika Mayumi Kato, Álvaro Augusto Dossa, Antônio João
Os atores que participam da rede de centralidade de intermediação com- partilham várias linhas de pensamentos diferentes, pois estendem seu conhecimen- to para além de um restrito conjunto de pesquisadores, gerando ideias sobre novos temas a serem pesquisados, ou contribuindo para estudos em andamento. Com isso, é possível dizer que o fluxo de informações que circula na rede social pode gerar inovações na produção científica que beneficiam toda uma sociedade.
5.4 ANÁLISE DOS CLUSTERES
Dos 78 atores que formaram o campo de produção científica em cul- tura organizacional, foram encontrados 12 cliques ou clusteres de tamanho igual ou superior a três, que são identificados no Quadro 4. Clique é uma
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Quadro 4 – N cliques
Max Distance
Atores: 78 12 - cliques found.
1:Mariana Vendemiatti, Elisabete Straditto Siqueira, Fernando Filardi, Erlaine Binotto e Flávio José Simioni
2:Mozar José de Brito, Sabrina Soares da Silva e Mayara Maria de Jessus Muniz
3:Denize Grzybovski, Cristhiane Oliveira da Graça Amâncio e Elcemir
4:Érica Chulvis do Val Ferreira, Antônio Martinez Fandiño, Lídia Segre e Rejane Prevot Nasci- mento
5:Ana Lucia Abrahão, Carla Macedo Martins e Adriana Geisler
6:Isaac José Obadia, Mario Cesar Rodriguez Vidal e Paulo Fernando Frutuoso e Melo
7:Danielle Quintanilha Merhi, Katia C. de Araujo Vasconcelos, Vania Maria Goulart Lopes e Al- fredo Rodrigues Leite da Silva
8:Caio Gobara, Luciano Rossoni, Erika Mayumi Kato, Alvaro A. Dossa e Antônio João Hocayen-
9:José Milton de Sousa Filho, Lilian Soares O. Wanderley e Nadir Raquel Cunha França
10:Reinaldo Guerreiro, Fabio Frezatti e Tania Casado
11:Regina Heloisa Maciel, Filadélfia Carvalho de Sena e Iratan Bezerra de Sabóia
12:Bráulio Oliveira, Marcos Cortez Campomar e Carolina Luis
Fonte: os autores.
Em qualquer rede social, alguns elos mantêm as relações mais estrei- tas. Estas relações formam subgrupos, que são baseados na alcançabilidade e na proximidade de indivíduos, e são formalizados pelo conceito
Porém, é importante lembrar que somente os laços efetivamente cons- truídos não consolidam uma rede, é necessário que eles tenham continuidade e di- versidade na produção científica. Se o número de laços não acompanhar o número possível na rede, poderá ocorrer uma maior fragmentação dela (MARTINS, 2009).
A Tabela 1 apresenta os tipos de pesquisa encontrados nos artigos: ex- ploratória; descritiva e causal. A pesquisa exploratória é indicada quando o res- ponsável pelas decisões dispõe de poucas informações. Assim, são planos que não têm a intenção de testar hipóteses específicas de pesquisa. A pesquisa descritiva tem seus planos estruturados e especificamente criados para medir as caracterís-
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Produção científica de cultura organizacional...
ticas descritas em uma questão de pesquisa. Já a pesquisa causal fornece a evidên- cia dos relacionamentos entre variáveis, a sequência em que os eventos ocorrem, e/ou para eliminar outras explanações possíveis. (HAIR JUNIOR et al., 2005). Também foram observados os artigos que usaram conjuntamente as abordagens
Tabela 1 – Tipos de pesquisa
|
Tipo de pesquisa |
Total |
% |
|
|
|
|
|
Não informada |
15 |
45 |
|
Exploratória |
9 |
27 |
|
Descritiva |
8 |
24 |
|
1 |
3 |
|
|
Causal |
- |
- |
|
Total |
33 |
100 |
|
|
|
|
Fonte: os autores. |
|
|
No que se refere ao tipo de pesquisa dos artigos selecionados, constatou-
A pesquisa qualitativa foi amplamente utilizada nas pesquisas sobre cul- tura organizacional; 26 artigos usaram essa abordagem, o que correspondeu a 79% do total, enquanto apenas sete usaram a abordagem quantitativa, sendo 21% do total.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo teve como objetivo identificar a formação de redes sociais na produção científica de cultura organizacional no período
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Na análise de redes sociais de cultura organizacional foram encontra- dos 78 autores, que representam os “nós”, os quais juntos produziram 140 rela- ções entre si, chamadas de “laços”, de 11.966 laços possíveis, indicando uma rede social formada por laços fracos, fragmentada, com a existência de 12 subgrupos e de baixa densidade. A densidade da rede é obtida pela proporção do número de nós ou ligações observadas para o número de nós possíveis teoricamente. Em pequenos grupos, a densidade é geralmente tratada como uma medida “coesão” do grupo ou, o quanto este grupo é fechado (GRANOVETTER, 1976). A baixa densidade dos 12 grupos encontrados nesta pesquisa indica que a rede é fragmen- ta em pequenos grupos fechados de pesquisadores que estudam o tema “cultura organizacional”. Por uma questão de delimitação do estudo,
No caso do grau de centralidade,
Os atores intermediários são os mais importantes em uma rede social, pois por meio deles um ator interage entre atores não adjacentes. Luciano Ros- soni, Erika Mayumi Kato, Álvaro Augusto Dossa, Antônio João
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Produção científica de cultura organizacional...
O estudo demonstrou que a rede social de cultura organizacional é composta por 12 subgrupos, que trabalham conectados com no mínimo três autores, mas que restringem sua produção entre seus pares, evidenciando uma necessidade de expansão da rede social, não somente em laços constituídos, mas também em continuidade e diversidade entre autores e, consequentemente, entre IESs, uma vez que uma rede mais densa em princípio significa difusão mais rápi- da de informações, na qual o conhecimento chega com maior agilidade e fluidez àqueles conectados a ela, contribuindo para a ampliação, a variação e as inovações do capital intelectual.
Scientific production of organizational culture in the optics of social networks in the period of
Abstract
The objective of this study was to identify the formation of social networks on the scientific production of organizational culture in the period of
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that a denser network in principle means faster dissemination of knowledge, arriving with greater agility and fluidity than those connected to it.
Keywords: Organizational culture. Social networks. Scientific production.
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Recebido em 06 de julho de 2013
Aceito em 26 de março de 2014
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