https://doi.org/10.18593/evid.34645

A DIMENSÃO DO CUIDADO DO PÓS-OPERATÓRIO DE FRATURA DE FÊMUR EM IDOSOS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Fernanda Fernandes Coan1, Sabrina de Sousa Campelo2, Caio Brandão e Vasconcelos3 , Cristina Maria Douat Loyola4

Resumo: Trata-se de uma revisão integrativa que busca enumerar e compreender pelas revisões de literatura as circunstâncias que permeiam o pós-operatório da fratura de fêmur. A revisão do processo baseou-se nas recomendações da lista de conferência do Rayyan Enterprise, Faster Sistematic Review. Foram examinados artigos publicados entre 2010 e 2023 que fizessem estudo qualitativo relacionado à fratura de quadril em idosos. As buscas ocorreram em agosto nas bases de dados Pubmed, MEDLINE, Scopus e Capes. A seleção compreendeu três etapas: busca, pré-seleção e inclusão de artigos. Foram utilizados os seguintes descritores em ciências da saúde (DeCS): (hip fracture) AND (elderly) AND (qualitative). Foram identificados 41 artigos nas bases de dados pesquisadas através das estratégias de busca. Após leitura dos títulos e resumos, 25 artigos foram considerados potencialmente elegíveis para inclusão no estudo e foram recuperados para leitura na íntegra. Após a leitura completa, os 9 artigos foram selecionados mediante aplicação dos critérios de inclusão e exclusão estabelecido. O pós-operatório da fratura de fêmur em idosos é um momento frágil que gera a experiência de uma nova rotina e a incerteza de uma recuperação de suas atividades fisiológicas do passado. A concepção dos profissionais de saúde e cuidadores são decisivos para sua melhor recuperação.

Palavras-chave: Fratura de fêmur; idosos; qualitativo.

Abstract: This is an integrative review that seeks to enumerate and understand through literature reviews the circumstances that permeate the postoperative period of femoral fracture. The process review was based on recommendations from the Rayyan Enterprise conference list, Faster Sistematic Review (“Rayyan - AI Powered Tool for Systematic Literature Reviews”, 2021). Articles published between 2010 and 2023 that carried out a qualitative study related to hip fractures in the elderly were examined. The searches took place in August in the Pubmed, MEDLINE, Scopus and Capes databases. The selection comprised three stages: search, pre-selection and inclusion of articles. The following descriptors in health sciences (DeCS) were used: (hip fracture) AND (elderly) AND (qualitative). 41 articles were identified in the databases searched through the search strategies. After reading the titles and abstracts, articles were considered potentially eligible for inclusion in the study and were retrieved for reading in full. After complete reading, the 9 articles were selected by applying the established inclusion and exclusion criteria. The postoperative period of femur fracture in the elderly is a fragile moment that generates the experience of a new routine and the uncertainty of recovering their past physiological activities. The conception of health professionals and caregivers is decisive for your better recovery.

Keywords: Hip fracture; elderly; qualitative.

Recebido em 28 de março de 2024

Aceito em 29 de março de 2024

INTRODUÇÃO

As fraturas de quadril em idosos são lesões comuns em países de alta renda e 30% delas morrem dentro de 1 ano após a lesão por fratura de quadril. Quase metade dessas pessoas idosas após uma lesão por fratura de quadril não retornam ao seu local de residência habitual e precisam de assistência para as atividades da vida diária. Vários estudos estabeleceram que o atraso na cirurgia de fratura de quadril aumenta a mortalidade e a auditoria do Banco de Dados Nacional de Fratura do Quadril (NHFD) do Reino Unido, incluindo mais de 250.000 pacientes, demonstrou melhores resultados por cirurgia precoce. (TEWARI et al., 2015)

A fratura de quadril é vivida como um momento de ruptura de vida, o que implica uma incerteza sobre o futuro e o que melhor apoiaria seu processo de recuperação. Destacou-se o quanto as experiências de ter que se adaptar a rotinas e procedimentos traziam um sentimento de passividade e de fazer o que a equipe mandava. Os participantes evidenciaram a importância da postura profissional e pessoal dos profissionais de saúde para que possam se recuperar de uma situação de vulnerabilidade. ((BRUUN-OLSEN; BERGLAND; HEIBERG, 2018). A maioria das pessoas que já tiveram fratura de quadril não recupera seu nível funcional de pre fratura (HUANG; ACTON, 2009).

Esses pacientes correm alto risco de complicações com resultados devastadores, perda de independência, diminuição da mobilidade e redução da qualidade de vida. Após a alta, a maioria desses pacientes frequenta ambulatórios ortopédicos, que estão localizados em hospitais onde o acesso pode ser difícil, pois os pacientes dependem de serviços familiares ou de ambulância para atender. Isso geralmente leva a caminhos de atendimento desconectados, contribuindo para a descontinuação de cuidados apropriados devido à falta de integração entre os diferentes serviços. A dificuldade relacionada ao cuidado contínuo também pode ser devido ao baixo empoderamento entre pessoas idosas com fraturas de quadril ou consumidores de serviços de saúde, em geral. (YADAV et al., 2019)

Após a alta hospitalar, os participantes sentiram que havia uma lacuna definitiva entre as expectativas que tinham para sua própria recuperação e a realidade eles conheceram. Uma concepção dominante entre os sujeitos foi que a recuperação dependia de fatores pessoais como mobilizar sua própria vontade, motivação e engajamento no exercício.

Um quadril quebrado pode ser visto como um evento menor pelos profissionais de saúde, mas é vivenciado como um evento perturbador para muitos pacientes. Se faz necessário, um foco no tratamento individualizado e no cuidado de cada paciente. (BRUUN-OLSEN; BERGLAND; HEIBERG, 2018). O objetivo do trabalho é demonstrar quais são as dificuldades vividas pelos pacientes durante o pós-operatório da fratura de fêmur.

MATERIAIS E MÉTODOS

O método escolhido para o presente estudo foi a revisão integrativa da literatura (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008), seguindo o procedimento preconizado de seis etapas (WHITTEMORE; KNAFL, 2005): identificação do tema e seleção da hipótese, estabelecimento da estratégia de pesquisa, definição e coleta de dados, análise dos dados coletados, interpretação e apresentação dos resultados. A revisão do processo baseou-se nas recomendações da lista de conferência do Rayyan Enterprise, Faster Sistematic Review (“Rayyan - AI Powered Tool for Systematic Literature Reviews”, 2021).

A pesquisa de artigos foi feita com acesso às seguintes bases de dados eletrônicas: PubMed, MedLine, Capes e Scopus. Realizadas buscas manuais nas referências dos artigos selecionados. As buscas ocorreram entre julho e Agosto de 2023. Foram utilizados os seguintes descritores em ciências da saúde (DeCS): hip fracture (and): elderly (and): qualitative. Optou-se pelo termo hip fracture ao invés de femur fracture, por ter maior associação com o objeto de estudo. Ao utilizar o termo elderly, se observou que se tratava de indivíduos acima dos 50 anos de idade, na maioria dos estudos. O termo qualitative restringiu a busca para pesquisas com o interesse comum à pergunta desta revisão.

Foram aplicados filtros de busca conforme os critérios de inclusão e exclusão determinados. Os critérios de inclusão adotados foram: ser artigo científico, publicado em periódicos, entre os anos de 2010 e 2023, oferecer texto para leitura na íntegra e tópico que realizasse pesquisa qualitativa em idosos com fratura do quadril. Foram excluídos artigos duplicados, revisões sistemáticas, teses, dissertações, editoriais, cartas e similares.

A pré-seleção de artigos foi feita pela leitura preliminar de títulos e resumos. Os estudos pré-selecionados foram lidos na íntegra para seleção final dos artigos para análise. Esta fase está representada na figura ١. Os dados dos artigos selecionados foram registrados individualmente, em uma matriz de coleta de dados, com destaque para objetivo, metodologia, resultados, conclusão, relevância/recomendações para gestão (tabela ١).

RESULTADOS

Foram identificados 41 artigos nas bases de dados pesquisadas através das estratégias de busca (figura 1). Após leitura dos títulos e resumos, 15 artigos foram considerados potencialmente elegíveis para inclusão no estudo e foram recuperados para leitura na íntegra.

Após a leitura completa, os 9 artigos foram selecionados mediante aplicação dos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos.

Fluxograma da seleção de estudos sobre fratura de quadril em idosos: pesquisas qualitativas publicadas entre 2010 e 2023.

Publicações encontradas nas bases de dados pelos critérios de busca: artigos - 23 PubMed, 6 MedLine, Scopus 2, Capes 10.

Publicações selecionadas pela leitura de títulos e resumos: artigos - 7 PubMed, 5 MedLine, Scopus 0, Capes 5.

Publicações selecionadas após leitura do texto integral: artigos - 1 PubMed, 5 MedLine, Scopus 0, Capes 3.

Exclusões: por duplicidade, por apresentarem algum tipo de revisão e por não atenderem o tema da pesquisa, por avaliarem o paciente exclusivamente após o tratamento e já com alta hospitalar para a reabilitação. A tipologia de todos os artigos foi qualitativa.

Figura 1 - fluxograma da seleção de estudos sobre fratura de quadril em idosos: pesquisa qualitativa publicados entre 2010 e 2023.

Forma

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Tabela 1 - Matriz de coleta de dados de artigos qualitativos que tratamento de fraturas do quadril em idosos

ARTIGO/DATA

(ref)

OBJETIVO

MÉTODOS

RESULTADO

CONCLUSÃO

1. Patient perspectives of recovery after hip fracture: a systematic review and qualitative synthesis

Teve como objetivo sintetizar as evidências das perspectivas de recuperação dos pacientes após fratura de quadril ao longo do processo de cuidado.

Entre JUNHO/2020 e JULHO/2020, foi realizada uma busca sistemática, com foco em dados qualitativos de pacientes com fratura de quadril.

Nos pacientes, foi observado sentimentos de vulnerabilidade independentemente do tempo de fratura de quadril e só diminuíram quando a recuperação da função e das atividades permitiu a participação em atividades valorizadas, por exemplo, mobilidade ao ar livre

As perspectivas dos pacientes destacaram a fratura de quadril como um evento importante na vida, exigindo apoio profissional de saúde e social para superar sentimentos de vulnerabilidade e permitir o engajamento ativo na recuperação.

2. Exploration of Informal Caregiving Following Hip Fracture

Explorar as experiências de cuidadores informais com o cuidado a idosos ao longo dos primeiros 6 meses de recuperação da fratura de quadril e suas necessidades de apoio. 

Entrevistas em profundidade foram realizadas duas vezes nos primeiros 6 meses após a fratura de quadril (0–2 e 5–6 meses) usando perguntas de entrevista abertas. A abordagem fenomenológica holandesa30,31 foi utilizada para orientar esta pesquisa.

A fratura de quadril foi constatada como ponto de virada para um estado mais frágil, sensação de cansaço, frustração com problemas de comunicação na prestação de cuidados de saúde e falta de informação sobre as atividades relacionadas ao cuidado.

Embora a fratura de quadril seja um problema de saúde, ela deve ser compreendida de acordo com a condição de saúde subjacente de cada adulto. Sendo assim, os idosos podem recuperar seu nível físico e funcional anterior.

3. Cocreation of a digital patient health hub to enhance education and person-centred integrated care post hip fracture: a mixed-methods study protocol.

O estudo visa desenvolver um “modelo de cuidado” usando uma solução de saúde digital que permitirá a entrega de informações de alta qualidade e centradas no paciente, integradas ao processo existente entregue no ambiente comunitário.

Métodos quantitativos explorarão a alfabetização em saúde e a alfabetização em e-saúde entre idosos com fraturas de quadril internados nos dois hospitais públicos de cuidados terciários em Adelaide, Austrália do Sul. Os métodos qualitativos fornecerão uma compreensão dos aspectos de conteúdo e contexto necessários para que a plataforma digital de saúde seja desenvolvida, a fim de fornecer informações de saúde de qualidade. 

Este estudo demonstrou que, após um evento de fratura de quadril, os pacientes não apenas têm mobilidade restrita, mas também perdem sua confiança e autoeficácia devido ao complexo processo de recuperação que consiste em esforço físico e psicológico. O estudo concluiu ainda que, mesmo após 4 meses pós-cirurgia, os indivíduos previamente saudáveis e independentes sentiram fraturas de quadril afetaram sua vida diária, mas que tem altas expectativas quanto ao tratamento.

Dessa forma, com o avanço da moderna tecnologia da informação, deve ser possível integrar perfeitamente o fornecimento de informações educacionais desejadas para idosos com fratura de quadril, desde cuidados hospitalares agudos (terciários) até reabilitação e gerenciamento comunitários.

4. Ways to Maintain Independence Among Taiwanese Elderly Adults with Hip Fractures: A Qualitative Study

O objetivo deste estudo foi explorar maneiras pelas quais idosos mantêm a independência durante o enfrentamento de fraturas de quadril. Utilizou-se abordagem qualitativa com entrevistas semiestruturadas realizadas com 15 pacientes.

A amostra para este estudo consistiu em 15 idosos recrutados de um estudo de coorte maior em um centro médico no noroeste de Taiwan investigando desfechos para idosos hospitalizados que sofreram uma fratura de quadril de janeiro a dezembro de 2005.

Uma amostra proposital de 15 idosos da comunidade que sofreram fratura de quadril no último ano foi entrevistada. Os dados mostram 3 maneiras principais de manter a independência: por meio do apoio social, resiliência e aceitação do processo natural.

Este estudo mostrou que os clínicos precisam determinar como podem promover melhor o apoio social para ajudar os idosos a manter altos níveis de um senso positivo de si mesmos e envolvê-los em conversas sobre envelhecimento, incluindo os aspectos positivos e negativos do processo de envelhecimento, para promover a independência em pessoas idosas.

5. Improved 1-year mortality in elderly patients with a hip fracture following integrated orthogeriatric treatment

O estudo teve como objetivo avaliar o efeito de um modelo de tratamento ortogeriátrico em pacientes idosos com fratura de quadril na taxa de mortalidade em 1 ano e identificar fatores de risco associados.

Este estudo incluiu doentes com idade igual ou superior a 70 anos, internados com fratura da anca e tratados de acordo com o modelo de tratamento ortogeriátrico integrado do CvGT do Hospital Group Twente (ZGT) entre abril de 2008 e outubro de 2013.

A análise demonstrou que a taxa de mortalidade em 1 ano foi de 23,2% (n = 197) no grupo CvGT em comparação com 35,1% (n = 188) no grupo de controle histórico (p < 0,001).

Após o tratamento ortogeriátrico integrado, foi observada uma diminuição significativa na taxa de mortalidade de 1 ano em pacientes idosos frágeis com fratura de quadril em comparação com os pacientes de controle históricos que foram tratados com cuidados padrão. A conscientização dos fatores de risco que afetam a mortalidade em 1 ano pode ser útil para otimizar os cuidados e os resultados.

6. “I struggle to count my blessings”: recovery after hip fracture from the patients’ perspective

Tem como objetivo explorar como os pacientes idosos com fratura de quadril inscritos em um ECR em andamento vivenciaram seu processo de recuperação.

O estudo teve um desenho qualitativo. Oito idosos frágeis em recuperação após fratura de quadril (69-91 anos) foram entrevistados em sua casa quatro meses após a fratura. As entrevistas cobriram questões relacionadas às suas experiências de facilitadores e barreiras ao longo das diferentes etapas do processo de recuperação.

Os resultados revelaram que as experiências dos pacientes no processo de recuperação se enquadraram em três temas principais: “Sentir-se vulnerável”, “Um intervalo entre a autossuficiência e a dependência” e “Interrupção de uma vida normal”.

Conclui-se que estar em recuperação após fratura de quadril foi vivenciado como um evento que acabou com a vida. Com base nessas descobertas, deve-se enfatizar o aumento do foco no tratamento individualizado para cada paciente em cada etapa do processo de recuperação.

7. Impact of frailty on the results of the treatment of geriatric femoral neck fracture: an analysis of the dataset of the national program for surgical quality improvement

Este artigo objetivou estudar retrospectivamente o efeito da fragilidade nos resultados pós-operatórios após artroplastia total do quadril (ATQ) e hemiartroplastia (AH) para fratura do colo do fêmur em um conjunto de dados nacional.

A fragilidade foi avaliada por meio do índice de fragilidade modificado (IMF) derivado do Estudo Canadense de Saúde e Envelhecimento. O desfecho primário foi mortalidade em 30 dias e os desfechos secundários foram morbidade em 30 dias e falha no resgate (FTR).

Dos 3.121 pacientes, a idade média dos pacientes foi de 77,34 ± 9,8 anos. A mortalidade geral em 30 dias foi de 6,4% (3,2%-ATQ e 7,2%-HA). Uma ou mais complicações graves (classe Clavien-Dindo-IV) ocorreram em 7,1% dos pacientes (6,7%-ATQ vs. 7,2%-HA).

O mFI é um preditor independente de mortalidade entre pacientes submetidos a AH e ATQ para fratura do colo do fêmur, além dos fatores de risco tradicionais, como idade, classe ASA e outras comorbidades.

8. Understanding patient and relative/carer experience of hip fracture in acute care: A qualitative study protocol

Este estudo teve como objetivo explorar a experiência de pacientes que sofreram uma fratura de quadril e as experiências de recuperação de seus familiares/cuidadores durante e após a hospitalização.

A metodologia escolhida é a fenomenologia utilizando os métodos de entrevista e observação participante. Está planejado recrutar uma amostra proposital de até 40 pacientes, incluindo aqueles com perda de memória que sofreram fratura de quadril, e até 30 de seus familiares/cuidadores, e até 20 funcionários podem optar por participar das sessões de observação.

O estudo baseou-se nos fatores que influenciam a tomada de decisão da família na busca de cuidados para idosos com fratura de quadril, a escolha do local de atendimento, a influência da equidade e do gênero no recebimento de cuidados adequados no tempo.

Este estudo ampliará o conhecimento explorando o que é importante para os pacientes e seus familiares/cuidadores na fase inicial de recuperação. Princípios baseados na prática que podem ser integrados no caminho da fratura de quadril e melhorar os cuidados futuros serão desenvolvidos a partir dos resultados do estudo.

9. Care seeking pathways of older adults with hip fracture in India: exploratory study protocol

Determinar os processos de tomada de decisão, identificar causas para a demora na obtenção de cuidados e identificar potenciais barreiras e facilitadores para a busca de atendimento adequado em tempo hábil.

Trata-se de um estudo qualitativo. Propõe-se a realização de 30 entrevistas em profundidade em dois distritos administrativos de Orissa. Os participantes serão pacientes e seus cuidadores em sete unidades de saúde - quatro hospitais públicos, dois hospitais privados e uma instalação tradicional de fixação de ossos.

Identificar fatores que influenciam a tomada de decisão da família em buscar atendimento a idosos com fratura de quadril, a escolha do local de atendimento, a influência da equidade e do gênero no recebimento de cuidados adequados no tempo. 

Este estudo exploratório proporcionará uma compreensão aprofundada dos processos envolvidos na busca de atendimento para idosos com fratura de quadril na área de recrutamento.

DISCUSSÃO

A fratura de quadril é um esforço duradouro que pode envolver um sentimento inesperado de vulnerabilidade, e que a recuperação é percebida tanto como dependente da autoconfiança quanto de fatores externos a si mesmo. Em suma, estar em recuperação é visto como uma pausa na vida normal. (BRUUN-OLSEN; BERGLAND; HEIBERG, 2018). Em todos os estudos apresentados durante este artigo, os participantes consideraram a recuperação como um retorno às atividades pre-fratura ou “normal’’ permitindo a independência. Como apresentado na citação abaixo:

“Para mim, é óbvio, em primeiro lugar, que me tornei independente em todos os sentidos.” [mulher de 66 anos morava sozinha em casa pre-fratura, entrevistada 7 dias de pós-operatório no hospital] [Citação13]. (BEER et al., 2022)

Essas atividades foram frequentemente descritas em termos de mobilidade, como caminhar ao ar livre; Atividades da vida diária, como ir ao banheiro, jardinagem, cozinhar e tarefas domésticas; bem como a participação em eventos sociais, como encontrar amigos e familiares frequentando o teatro, trabalhando como voluntário, compras, e participação no esporte.

Os participantes descreveram vivenciar consequências negativas, como tédio, angústia, solidão e sintomas depressivos até 1 ano após a fratura. Muitos atribuíram esses sentimentos à mobilidade reduzida e à incapacidade de participar de atividades fora de casa com amigos e familiares que persistiu no longo prazo.

“Me faz sentir horrível... Estou perdendo muita coisa. Quer dizer, era da minha neta – bem, eu disse, aniversário dela hoje. E eles estão fora, você sabe. Muitas coisas... Eu não queria ficar assim. Eu queria ser, quando terminasse o trabalho, queria continuar e fazer as coisas” [mulher de 80-89 anos morando sozinha em casa, entrevistada em casa com 2,5 meses de pós-operatório] [Citação30]. (BEER et al., 2022).

Os participantes em todos os estudos reconheceram a necessidade de uma perspectiva positiva e engajamento ativo em seu processo de recuperação. Esse engajamento dependia de uma compreensão clara de seu processo de recuperação, com expectativas realistas específicas e metas adaptadas às suas necessidades e atividades. Essas expectativas alimentaram a motivação para o engajamento e, juntamente com o feedback positivo, permitiram a transição para a propriedade independente de seu processo de recuperação. Expectativas irrealistas ou feedback generalizado percebido foram prejudiciais à recuperação, levando a sentimento de frustração, decepção e engajamento reduzido.

A necessidade de conduzir sua própria recuperação independentemente dos profissionais de saúde quando seus cuidados não estavam focados em suas expectativas e metas de recuperação. Isso foi particularmente evidente quando os participantes descreveram sentir-se passivos em relação à recuperação com decisões tomadas por eles e não com eles deixando de considerar suas prioridades individuais. Para superar isso, os participantes relataram completar atividades de forma independente que sentiam estar apoiando sua recuperação.

“Fui sozinha para o treino e saí do andador sozinha e disse à enfermeira que agora tenho de começar a lavar-me porque vou para casa. Sim, disse a enfermeira, sem demonstrar interesse” [mulher de 85-89 anos, entrevistada em casa 3-4 meses pós-fratura] [Citação36]. (BEER et al., 2022)

Os participantes relataram dependência de apoio profissional e apoio social em todos os estudos incluídos na revisão atual. A dependência de apoio profissional foi fortemente observada para aqueles em fase pós-operatória precoce e diminuiu ao longo do tempo, o que pode refletir mais a retirada do serviço do que uma diminuição da necessidade.

Os participantes relataram frustrações quando a reabilitação não foi iniciada precocemente ou regularmente, sentindo que isso impedia sua recuperação, mas essa decisão estava fora de seu controle.

Muitos consideraram sua fratura de quadril como um evento em um declínio mais amplo em suas habilidades “normais”. Esse “novo normal” era aceitável para muitos se um senso de independência pudesse ser preservado. No entanto, uma definição para esse “novo normal” não foi explorada por nenhum dos estudos da presente revisão. A incerteza decorrente pode servir para reforçar sentimentos de vulnerabilidade, pois, sem uma visão clara e positiva de quem se tornará após a fratura, muitos pacientes consideram o pior cenário – declínio, perda da independência, transição para os cuidados de enfermagem e morte (BEER et al., 2022)

Foi observada a importância da postura profissional e pessoal dos profissionais de saúde para que possam se recuperar de uma situação de vulnerabilidade. Concomitantemente, a confiança nos profissionais de saúde foi percebida como uma espécie de facilitador em seu próprio processo de recuperação:

“No hospital, tive que me recompor e fazer o que me mandavam. Eu entendi que tinha que ouvir o que os profissionais de saúde diziam para me recuperar rápido. E recebi a ajuda deles com gratidão”. F3

“Durante a internação eles me incentivaram a ir ao banheiro. O encorajamento foi importante; fora isso era fácil ficar quieto na cama e não fazer nada, por causa da dor...” F2

Após a alta hospitalar, os participantes sentiram que havia uma lacuna definitiva entre as expectativas que tinham para sua própria recuperação e a realidade eles conheceram. Uma concepção dominante entre os sujeitos foi que a recuperação dependia de fatores pessoais como mobilizar sua própria vontade, motivação e engajamento no exercício (BRUUN-OLSEN; BERGLAND; HEIBERG, 2018)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As fraturas de fêmur mudam todo o contexto psicossocial do idoso. O declínio de atividades básicas do cotidiano, junto com a dependência profissional do pós-operatório, as frustrações e incertezas da recuperação geram um sentimento de vulnerabilidade no idoso.

Com isso, há uma necessidade de os profissionais terem um tratamento que tenha a participação do paciente na decisão a ser realizada. Isso dará mais clareza e esperança aos pacientes.

É necessário enfatizar que o tratamento e cuidado sejam individualizados.

REFERÊNCIAS

TEWARI, A. et al. Care seeking pathways of older adults with hip fracture in India: exploratory study protocol. International Journal for Equity in Health, v. 14, n. 1, p. 130, 14 nov. 2015.

NAHM, E.-S. et al. Exploration of Informal Caregiving Following Hip Fracture. Geriatric Nursing, v. 31, n. 4, p. 254–262, 1 jul. 2010.

BRUUN-OLSEN, V.; BERGLAND, A.; HEIBERG, K. E. “I struggle to count my blessings”: recovery after hip fracture from the patients’ perspective. BMC Geriatrics, v. 18, n. 1, p. 18, 19 jan. 2018.

SALETTI-CUESTA, L. et al. Understanding patient and relative/carer experience of hip fracture in acute care: A qualitative study protocol. International Journal of Orthopaedic and Trauma Nursing, v. 25, p. 36–41, 1 maio 2017.

DAYAMA, A. et al. Impact of frailty on outcomes in geriatric femoral neck fracture management: An analysis of national surgical quality improvement program dataset. International Journal of Surgery, v. 28, p. 185–190, 1 abr. 2016.

FOLBERT, E. C. et al. Improved 1-year mortality in elderly patients with a hip fracture following integrated orthogeriatric treatment. Osteoporosis international: a journal established as result of cooperation between the European Foundation for Osteoporosis and the National Osteoporosis Foundation of the USA, v. 28, n. 1, p. 269–277, jan. 2017.

HUANG, T.-T.; ACTON, G. J. Ways to Maintain Independence Among Taiwanese Elderly Adults with Hip Fractures: A Qualitative Study. Geriatric Nursing, v. 30, n. 1, p. 28–35, 1 jan. 2009.

HUANG, T.-T.; ACTON, G. J. Ways to Maintain Independence Among Taiwanese Elderly Adults with Hip Fractures: A Qualitative Study. Geriatric Nursing, v. 30, n. 1, p. 28–35, 1 jan. 2009.

BEER, N. et al. Patient perspectives of recovery after hip fracture: a systematic review and qualitative synthesis. Disability and Rehabilitation, v. 44, n. 21, p. 6194–6209, 9 out. 2022.


  1. 1 Graduanda do curso de Medicina, cursando o nono período da Universidade CEUMA. São Luís-MA, Brasil. Email: fernanda110775@ceuma.com.br

  2. 2 Graduanda do curso de Medicina, cursando o nono período da Universidade CEUMA. São Luís-MA, Brasil.

  3. 3 Mestrando em Gestão de Programas e Serviços de Saúde da Universidade CEUMA. São Luís-MA, Brasil.

  4. 4 Professora Doutora do Mestrado em Gestão de Programas e Serviços de Saúde da Universidade CEUMA. São Luís-MA, Brasil.