Artigo Original

CONVÍVIO DE ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO ENTRE IDOSOS: UM ESTUDO DE BASE POPULACIONAL NO SUL DO BRASIL

Living with pets among the elderly: a population-based study in southern Brazil

https://doi.org/10.18593/eba.24966

Recebido em 1 de agosto de 2020 | Aceito em 1 de dezembro de 2020

Karla Machado* Michele Krolow Nicole Xavier Camila Leal§ Tatiane Gonzalez Adrieli Oliveira** Louriele Wachs†† Mariangela Soares‡‡ Pamela Volz§§ Marciane Kessler¶¶ Elaine Thumé***

Resumo:

Durante o envelhecimento a convivência com animais de estimação pode ajudar a pessoa idosa a atravessar situações difíceis, tornando os animais de estimação um suporte social. O objetivo do estudo foi conhecer a prevalência de idosos em convívio com animais de estimação e sua associação com características sociodemograficas e de saúde. Estudo transversal de base populacional. A coleta de dados ocorreu por meio de inquérito domiciliar com idosos de 60 anos ou mais, residentes na área urbana do município de Bagé, RS, no ano de 2008. A variável dependente foi convivência com animais de estimação e as independentes incluíram características sociodemograficas e de saúde. Foram realizadas análises descritivas e bivariadas, para verificar as associações foi utilizado o teste de exato de Fisher para heterogeneidade. O nível de significância estatístico utilizado foi de 5% para testes bicaudais. Todas análises foram realizadas no programa Stata versão 14.0. A amostra foi de 1.593 idosos. A prevalência geral de convívio com animais de estimação foi de (69,0%; IC 95%: 66,6; 71,2). As variáveis associadas com o desfecho foram: sexo masculino (72%), menor faixa etária (60 a 74 anos - 72,9%), viver com companheiro (72,9%), não morar sozinho, não receber aposentadoria (72,9%) e não ter referido queda no último ano (70,7%). Encontrou-se uma elevada prevalência de idosos em convívio com animais de estimação, contudo mais estudos são necessários para melhor compreender como a convivência com os animais se reflete em melhorias de saúde para a população idosa.

Palavras-chave: Idoso. Vínculo Homem-Animal de Estimação. Animais domésticos. Saúde do idoso. Estudos transversais.

Abstract:

During aging, living with pets can help the elderly to go through difficult situations, making pets a social support. The objective of this study was to know the prevalence of elderly people living with pets and its association with sociodemographic and health characteristics. Methods: Cross-sectional population-based study. Data collection took place through a household survey with elderly people aged 60 or over, living in the urban area of the municipality of Bagé, RS, in 2008. The dependent variable was living with pets and the independent ones included sociodemographic and health characteristics. Descriptive and bivariate analyzes were performed and, to verify associations, Fisher’s exact test for heterogeneity was used. The level of statistical significance used was 5% for two-tailed tests. All analyzes were performed using the Stata version 14.0 program. The sample consisted of 1,593 elderly people. The general prevalence of living with pets was (69.0%; 95% CI: 66.6; 71.2). The variables associated with the outcome were: male gender (72.0%), younger age group (60 to 74 years - 72.9%), living with a partner (72.9%), not living alone, not receiving retirement (72.9%) and not having reported a drop in the last year (70.7%). There was a high prevalence of elderly people living with pets, however more studies are needed to better understand how living with animals is reflected in health improvements for the elderly population.

Keywords: Aged. Bonding Human-Pet. Animals domestic. Health of the elderly. Cross-sectional studies.

@Autor correspondente: Mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal do Rio Grande; Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Pelotas; Professora na Universidade Federal de Pelotas, Rua Gomes Carneiro, 1, Centro, 96010-610, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil; https://orcid.org/0000-0003-1765-1435; karlamachadok@gmail.com

1 INTRODUÇÃO

São diversas as particularidades que pautam a dinâmica do envelhecimento e suas dimensões. As situações vivenciadas e escolhas que são feitas ao longo da vida acabam por, muitas vezes, individualizar o processo de envelhecimento.1 Nesse sentido, seja por hábitos remanescentes ao longo da vida ou por ordem fisiológica, o processo de envelhecimento possibilita o surgimento ou agravamento de doenças crônicas que afetam a qualidade de vida do idoso. No entanto, não é só a doença em si que compromete a condição do bem viver da pessoa, o desgaste físico também pode contribuir com danos psíquicos, como a depressão e o estresse, podendo afetar a vida social do idoso.2,3

Assim, durante o envelhecimento, a posse e o convívio entre idosos e animais de estimação tornam-se especialmente importantes. A convivência com esses animais pode ajudar a pessoa idosa a atravessar situações difíceis, pois é nessa fase da vida que se vive a ausência de parentes, a perda de entes queridos, o distanciamento dos colegas de trabalho, a alteração dos papéis sociais e a aceitação da própria velhice, como isso os animais de estimação tornando-se um suporte social.4,5 Além de companhia, esses também estimulam a responsabilidade, promovem o bem-estar, com melhoria na qualidade de vida das pessoas, e contribuem nos aspectos biopsicossociais, como diminuição do estresse, diminuição da dor e da ansiedade, aumento de endorfina e melhoria no relacionamento interpessoal.5-9

O convívio com um animal de estimação pode trazer inúmeros benefícios a saúde do idoso, dentre eles o alívio da rotina, momentos de lazer, companhia, redução da ansiedade, demonstração de afeto, momentos de relaxamento e alegria.10 Ainda, motiva a sociabilidade e promove o incentivo à realização de atividades físicas. Esses fatores certamente contribuem com a qualidade de vida da pessoa idosa, que muitas vezes convive com características fisiológicas procedentes do processo de envelhecimento, representando melhorias na saúde, fomentando a participação e bem-estar na comunidade.11

Apesar da importância de convívio doméstico de animais com idosos e dos benefícios que essa convivência propicia, esse ainda é um assunto pouco abordado na literatura, portanto, o objetivo do estudo foi conhecer a prevalência de idosos em convívio com animais de estimação e sua associação com características sociodemograficas e de saúde no município de Bagé, Rio Grande do Sul.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal de base populacional, realizado com indivíduos de 60 anos ou mais, residentes na área de abrangência dos serviços de atenção básica à saúde da zona urbana de Bagé, município situado no interior do Rio Grande do Sul. Em 2008, ano da coleta de dados, o município possuía aproximadamente 115.755 habitantes,12 deste total 82,0% viviam na zona urbana. No mesmo ano, havia 15 Unidades de Saúde da Família (USF), totalizando 19 equipes, responsáveis por 51,0% da população urbana do município e cinco unidades mantinham o modelo tradicional de atenção básica e atendiam o restante da população.

O tamanho de amostra foi calculado considerando 10% de perdas e recusas, um efeito de delineamento de 1.3, 80% de poder para detectar riscos relativos de 1.5 de exposições que afetavam, no mínimo, 4% da população. Para garantir a representatividade da amostra, o processo de amostragem foi realizado em múltiplos estágios. Inicialmente, a amostra foi localizada a partir da área de abrangência de cada uma das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e, posteriormente, dividida em microáreas, com identificação numérica de cada quadra, sorteando aleatoriamente o ponto inicial de coleta de dados. Com o intuito de garantir que todos os domicílios tivessem a mesma probabilidade de compor a amostra, foi empregado o pulo sistemático de uma a cada cinco residências. Este procedimento garantiu que fossem amostrados quatro em cada cinco domicílios. Todos os moradores com 60 anos ou mais foram convidados a participar do estudo e incluídos mediante leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

A coleta de dados foi realizada de julho a novembro de 2008, por nove entrevistadoras previamente treinadas. As entrevistas foram feitas no domicílio selecionado, com todos os moradores elegíveis, por meio de um questionário estruturado, previamente testado, com questões pré-codificadas. Foram consideradas perdas/recusas as entrevistas não realizadas após três tentativas em dias e horários diferentes. E, foram excluídos os indivíduos que, no momento da entrevista, estavam viajando, privados de liberdade por decisão judicial ou residindo em instituição de longa permanência. No caso de pessoas sem condições físicas ou mentais para responder o questionário, este foi aplicado ao cuidador principal.

O desfecho do estudo, convívio com os animais foi investigado por meio da questão O (a) Sr. (a) tem algum animal de estimação em sua casa? - com opção de resposta dicotômica (não/sim), em caso afirmativo era questionado qual animal de estimação o entrevistado possuía.

O contexto demográfico e socioeconômico foi analisado por meio das seguintes variáveis independentes: sexo (masculino; feminino), idade (60 a 74; 75 anos ou mais), cor da pele (branca; preta/amarela/parda/indígena), situação conjugal (casado ou com companheiro; viúvo; solteiro ou separado), escolaridade - em anos completos de estudo (nenhum; um a sete; e oito ou mais), classificação econômica - ANEP (A/B; C; D/E), aposentadoria (não; sim), morar sozinho (não; sim). As variáveis de saúde utilizadas foram: autopercepção de saúde (ótima/boa; regular; ruim péssima), presença de sintomas de depressão - avaliada através da Escala de Depressão Geriátrica,13 com os resultados divididos em depressão presente (de 0 a 5) e ausente (≥ 6) e história de queda no último ano (não; sim).

Para a análise dos dados, foi utilizado o programa Stata® versão ١٤.٠ (StataCorp/CollegeStation, Estados Unidos). Foi utilizada a estatística descritiva com o cálculo de distribuição proporcional. Para avaliar a diferença estatística entre os grupos foi empregado teste de exato de fisher para heterogeneidade (p-valor <0,05).

2.1 APROVAÇÃO ÉTICA

O projeto foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da UFPel, através do ofício nº. 015/08. Os princípios éticos foram respeitados, a partir da apresentação aos entrevistados do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, assinado por todos, de maneira a garantir o direito de não participação na pesquisa e o anonimato dos participantes.

3 RESULTADOS

Foi localizado um total de 1.713 idosos elegíveis e 1.593 foram entrevistados. A proporção de resposta foi de 93%, com 4% de perdas e 3% de recusas. A maioria dos entrevistados era do sexo feminino (62,8%), a cor da pele branca foi predominante (78,6%), a média de idade foi de 71,2 anos (DP±8,2) e os idosos viúvos correspondiam a 33,8% da amostra. Referente à classificação socioeconômica, 27,1% dos entrevistados pertencia à classe D/E, quase um quarto da amostra não possuía nenhum ano de estudo completo (23,7%) e aproximadamente três quartos (71,7%) estavam aposentados. Quanto a autopercepção de saúde, 58,8% consideraram seu estado de saúde bom ou muito bom, 14,9% de idosos tiveram rastreio para depressão e 28,0% relataram queda no último ano (Tabela 1).

Tabela 1Distribuição proporcional das características sociodemográficas e de saúde na amostra. Bagé, RS, 2008 (N=1.593).

Variáveis

N

%

Sexo

Masculino

593

37,2

Feminino

1.000

62,8

Idade

60 a 74 anos

1.096

68,8

75 anos ou mais

497

31,2

Cor da pele

Branca

1.252

78,6

Preta/ parda/ amarela/ indígena

341

21,4

Situação Conjugal (n=1.592)

Casado(a) ou com companheiro

816

51,3

Solteiro(a) ou separado(a)

238

14,9

Viúvo(a)

538

33,8

Classificação Econômica (ANEP) (n=1.581)

A/B

537

34,0

C

615

38,9

D/E

429

27,1

Anos de estudo (em anos completos) (n=1.572)

Nenhum

342

21,8

1 a 7

858

54,6

≥ 8

372

23,6

Aposentadoria

Não

451

28,3

Sim

1.142

71,7

Morar Sozinho

Não

1.313

82,4

Sim

280

17,6

Autopercepção de Saúde (n=1.540)

Péssima/ruim

109

7,1

Regular

525

34,1

Boa/ótima

906

58,8

Depressão (n=1.512)

Não

1.240

82,0

Sim

272

18,0

Queda no último ano (n=1.591)

Não

1.145

72,0

Sim

446

28,0

Nota: N=frequência absoluta; %=frequência relativa. ANEP=Associação Nacional de Empresas de Pesquisa.

O convívio com os animais de estimação foi referido pela maioria dos idosos (69,0%; IC 95%: 66,6; 71,2), destes 87,7% referiram ter cachorro como animal de estimação, 37,4 % gato, 11,1% pássaro, 5,4% cavalo e 7,3% referiram outros animais (Figura 1).

Figura 1 – Distribuição proporcional do tipo de animal de estimação entre os idosos. Bagé, RS, 2008 (n=1.593).

As maiores proporções de idosos em convívio de animais de estimação foram observadas entre os idosos do sexo masculino (72,0%), com idade de 60 a 74 anos (72,9%), casados ou que viviam com companheiro (72,9%), que não recebiam aposentadoria (72,9%), que não moravam sozinho (70,9%), que não apresentavam rastreio para depressão (70,3%) e por fim, nos idosos que não tinham sofrido queda o último ano (70,7%) (Tabela 2).

Tabela 2 – Distribuição proporcional entre a população idosa em convívio com animais de estimação segundo características sociodemográficas e de saúde. Bagé, RS, 2008 (N=1.593).

Variáveis

Idosos em convívio com animais de estimação

Não

Sim

Valor p*

N

%

N

%

Sexo

0,050

Masculino

166

28,0

426

72,0

Feminino

238

32,8

671

67,2

Idade

0,001

60 a 74 anos

297

27,1

799

72,9

75 anos ou mais

197

39,8

298

60,2

Cor da pele

0,129

Branca

400

32,0

850

68,0

Preta/ parda/ amarela/ indígena

94

27,6

247

72,4

Situação Conjugal (n=1.592)

0,003

Casado (a) ou com companheiro

221

27,1

593

72,9

Solteiro (a) ou separado (a)

84

35,3

154

64,7

Viúvo (a)

188

34,9

350

65,1

Classificação Econômica (ANEP) (n=1.581)

0,808

A/B

162

30,2

375

69,8

C

196

32,0

417

68,0

D/E

134

31,2

295

68,8

Anos de estudo (em anos completos) (n=1.572)

0,295

Nenhum

116

31,3

255

68,7

1 a 7

256

29,9

601

70,1

≥ 8

118

34,5

224

65,5

Aposentadoria

0,035

Não

112

27,1

328

72,9

Sim

327

32,6

769

67,4

Morar sozinho

≤0,001

Não

382

29,1

929

70,9

Sim

112

40,0

168

60,0

Autopercepção de Saúde (n=1.540)

0,404

Péssima/ruim

39

35,8

70

64,2

Regular

154

29,3

371

70,7

Boa/ótima

274

30,2

632

69,8

Depressão (n=1.512)

0,070

Não

368

29,7

872

70,3

Sim

96

35,3

176

64,7

Queda no último ano (n=1.591)

0,019

Não

335

29,3

808

70,7

Sim

158

35,4

288

64,6

Nota: *teste exato de Fisher.

4 DISCUSSÃO

O presente estudo verificou elevada prevalência de idosos em convívio com animais de estimação. Entre esses, ser do sexo masculino, mais jovem ou de menor faixa etária, viver com companheiro, não morar sozinho, não receber aposentadoria e não ter referido queda no último ano foram as variáveis associadas ao convívio com animais de estimação.

O aumento da presença de animais de estimação nos lares brasileiros já foi relatado por outros autores.5,6,14 Ao longo dos anos os bichos de estimação conquistaram um espaço, sendo inclusive considerados membros da família.15 Muitos donos de animais destacam a pacificidade e a leveza desse convívio, pois esses trazem distração e são recíprocos nas demonstrações de afeto, bem como, estão disponíveis como companhia na maior parte do tempo.15

Heiden e Santos6 identificaram que mais de 70% dos idosos consideravam os animais de estimação como membros da família, prevalência similar ao nosso estudo. Da mesma maneira, estudo realizado em Paragominas, Pará, no ano de 2015, constatou que 81% dos entrevistados possuíam algum animal de estimação e que a proporção de animais por moradores no domicílio era de um para quatro.16 Uma informação que chama a atenção nos nossos achados é que além dos animais usualmente citados, como cachorro e gato, aparecem outros animais, dentre eles pássaro e cavalo. Uma possível explicação para tal achado pode ser atribuída às características do município, dentre elas a relevante atividade agropecuária desenvolvida, que predomina como principal fonte econômica da região e da própria cidade. Além disso, os limites entre as áreas urbana e rural são muito próximos, sendo mais comum a presença e posse de animais de estimação menos usuais.

Em nosso estudo encontramos uma maior prevalência de convívio com animais de estimação entre os idosos do grupo etário mais novo, supostamente o grupo mais ativo e independente. A menor posse entre os idosos mais velhos poderia ser decorrente de que com o avançar da idade alguns idosos necessitam de cuidados e apresentam maior grau de dependência e diminuição da autonomia. Além do que, para os cuidadores, o animal de estimação pode ser mais uma responsabilidade atribuída a eles.7,17

Na cidade de São Bento do Sul, Santa Catarina, um estudo realizado com idosos mostrou que aqueles que conviviam com animais domésticos apresentavam mudanças positivas no humor, tornando-os mais alegres e felizes. Ainda, 12% dos idosos relataram que após a chegada do animal o sentimento de solidão diminui.5 Para os idosos, ter um animal de estimação pode promover conforto em momentos complicados dessa fase da vida, além de melhorar a autoestima e a convivência social.14 Em nosso estudo os idosos que referiram conviver com animais de estimação tiveram as menores prevalências de depressão e referiram sua saúde como regular ou boa/ótima, porém essas associações não foram significativas, como apontadas em outros estudos.18 Diferenças metodológicas, como o tipo de instrumento e delineamento, podem justificar a falta de associação encontrada.

O convívio com animais não traz só benefícios para a saúde mental, mas também para a saúde física, pois os animais podem estimular a realização de exercícios, prática da mobilidade e esquecimento de dores físicas.10 Nosso estudo mostrou que os idosos com maior prevalência de posse de animais de estimação tiveram uma menor ocorrência de quedas. Por outro lado, alguns autores indicam que os animais podem estar ligados ao risco de quedas.7,19 Estudo realizado em Pernambuco, com idosas frequentadoras do Núcleo de Atenção ao Idoso, mostrou uma associação entre o medo de se machucar ou cair e momentos de interação com os bichos. Porém, o convívio entre idosos e animais pode propiciar mais horas de lazer e atividade física, pois a presença de um animal de estimação pode trazer segurança e confiança para o idoso, desde que tomadas as devidas medidas de proteção.20

Algumas limitações deste estudo devem ser ponderadas. É possível que algumas associações estejam sujeitas à causalidade reversa, quando o desfecho modifica a exposição. Outro fator limitante é a ausência de análise ajustada, assim algumas associações encontradas na análise bruta podem ser fruto de fatores de confusão. Porém, a maior limitação do nosso estudo é a escassa quantidade de artigos publicados sobre a temática, o que certamente restringe e prejudica a comparação e discussão dos achados, principalmente os de caráter quantitativos como este.

Outra limitação do artigo é que se trata de dados coletados no ano de 2008, porém ao se comparar a população de idosos residentes no município no ano da coleta de dados e no ano de 2020, a proporção permanece estável, próxima a 14%. Portanto, provavelmente, a prevalência do desfecho não variou muito nesse período, o que justifica a publicação do artigo.21

Como pontos positivos, destaca-se o delineamento de base populacional, com baixa proporção de perdas e recusas, além do rigor metodológico empregado no planejamento e coleta de dados.

5 CONCLUSÃO

Encontrou-se uma elevada prevalência de idosos em convívio com animais de estimação, contribuindo para o conhecimento desse desfecho numa população de idosos, sendo um dos únicos estudos de base populacional que avalia essa temática. Contudo mais estudos são necessários para melhor compreender como a convivência com os animais se reflete em melhorias de saúde para a população idosa.

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* Mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal do Rio Grande; Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Pelotas; Professora na Universidade Federal de Pelotas.

Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal de Pelotas.

Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal de Pelotas.

§ Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal de Pelotas.

Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande; Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Pelotas; Professora na Universidade Federal do Rio Grande.

** Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal de Pelotas.

†† Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Pelotas; Professora na Universidade Federal de Pelotas.

‡‡ Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Pelotas; Professora na Universidade Federal de Pelotas.

§§ Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Pelotas; Professora na Universidade Federal de Pelotas.

¶¶ Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Pelotas; Professora na Universidade Federal de Pelotas.

*** Doutora em Epidemiologia pela Universidade Federal de Santa Catarina; Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina; Professora na Universidade Federal de Pelotas.