ESTUDO DE CASO DE UM PACIENTE COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: UM OLHAR PARA O TRATAMENTO MEDICAMENTOSO E PSICOTERÁPICO

Autores

  • Lucas Ferreira da Silva
  • Tiago Coldebella
  • Hygor Phelipe Dal Moro Alves
  • Gustavo Donatti
  • Fabiana Piccoli D'Agostini
  • Felipe Vanz (48)99815-5930

Resumo

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por alterações na comunicação social e padrões comportamentais restritivos e repetitivos. Reconhecido por sua heterogeneidade, o TEA apresenta manifestações diversas, que podem variar de quadros leves, com altas habilidades cognitivas, até casos severos, associados a déficits intelectuais significativos. A prevalência global do TEA tem aumentado nos últimos anos, o que reforça a necessidade de uma compreensão ampla e interdisciplinar do transtorno. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de uma em cada 100 crianças em todo o mundo está no espectro do autismo, evidenciando a importância de políticas públicas voltadas à inclusão e ao suporte adequado. Indivíduos com TEA frequentemente enfrentam comorbidades que podem impactar ainda mais na sua qualidade de vida e desenvolvimento. Entre as comorbidades destacam-se o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), a epilepsia, os distúrbios do sono, os transtornos de ansiedade e a depressão. Essas comorbidades não apenas dificultam o diagnóstico, como também tornam mais complexos os processos terapêuticos e educacionais. Dessa forma, a abordagem do TEA requer uma avaliação abrangente, que considere as especificidades do indivíduo, levando em conta tanto os aspectos clínicos quanto às demandas sociais e educacionais. O apoio familiar tem um papel fundamental no desenvolvimento e bem-estar dos pacientes com TEA. As famílias frequentemente enfrentam desafios significativos, incluindo barreiras no acesso a diagnósticos precoces, serviços especializados e inclusão social. Nesse contexto, o suporte emocional e informativo fornecido aos familiares é essencial, pois fortalece sua capacidade de compreender o transtorno, apoiando o paciente que possui o TEA a buscar estratégias que favoreçam sua autonomia. Esse suporte se torna ainda mais relevante quando complementado por organizações como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que atua diretamente na assistência e inclusão de pessoas com deficiência, incluindo aquelas no espectro autista. A APAE desempenha um importante papel no processo de inclusão e reabilitação de pacientes com TEA, oferecendo atendimentos multidisciplinares que englobam educação especial, terapias ocupacionais, acompanhamento psicológico e fisioterapia. A instituição também proporciona suporte contínuo às famílias, promovendo ações de sensibilização e capacitação para lidar com os desafios do transtorno. O tratamento do TEA também inclui o uso de medicamentos direcionados para a redução dos sintomas individuais do TEA e comorbidades associadas. Assim, o objetivo do presente estudo foi discutir o caso de uma criança diagnosticada com TEA, enfatizando o seu tratamento medicamentoso, e destacar, em âmbito teórico, a importância das intervenções terapêuticas realizadas pelo profissional psicólogo. Paciente do sexo masculino, 4 anos de idade, diagnosticado com TEA associada à epilepsia, esta sob acompanhamento de uma APAE da sua região. A terapia medicamentosa do paciente envolve o uso de dois anticonvulsivantes: o ácido valpróico (250 mg – 1 comprimido, duas vezes ao dia) e o levetiracetam (250 mg – 5 mL, três vezes ao dia). O ácido valpróico é um medicamento que ajuda a estabilizar a atividade elétrica cerebral através de múltiplos mecanismos, tal como pelo aumento dos níveis de GABA (ácido gama-aminobutírico), controlando as crises epilépticas. O ácido valpróico pode atuar também como estabilizador de humor, o que auxilia na regulação emocional, facilitando a interação social do paciente com TEA. Já o levetiracetam ajuda a reduzir a hiperexcitabilidade neuronal através da modulação da transmissão sináptica, prevenindo crises epilépticas e promovendo um ambiente cerebral mais favorável para o desenvolvimento de áreas envolvidas com a atenção, a linguagem e a motricidade. O levetiracetam também pode atuar sobre o comportamento de crianças com TEA, reduzindo a irritabilidade e promovendo maior engajamento social. Apesar dos benefícios associados com o uso destes dois medicamentos anticonvulsivantes, é necessário ficar atento aos possíveis efeitos adversos, em especial, aqueles que acometem o sistema nervosa central. O ácido valpróico pode causar sonolência ou sedação, tremores e tontura. Já o levetiracetam pode causar sonolência ou fadiga, tontura, dor de cabeça e alterações no comportamento: irritabilidade, agitação ou agressividade e mudanças de humor. O papel do psicólogo em um caso como este é essencial para ajudar tanto o paciente quanto a sua família. A abordagem do psicólogo deve ser personalizada e integrada com outros profissionais, como neurologistas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos, a fim de alinhar as intervenções, garantindo que todas as áreas do desenvolvimento sejam trabalhadas. Também seria interessante realizar intervenções no desenvolvimento cognitivo e motor do paciente, por exemplo, a estimulação cognitiva com jogos, brincadeiras e atividades que promovam habilidades como atenção, memória e resolução de problemas. Outro ponto interessante de intervenção seria no desenvolvimento de habilidades sociais, como intervenção precoce utilizando terapias baseadas em jogos para fomentar interações sociais e comunicação. Também é possível incluir o treino de habilidades sociais para ensinar comportamentos específicos, como compartilhar, esperar a vez e pedir ajuda, frequentemente usando reforço positivo. Além disso, a redução de barreiras sociais pode ser trabalhada em conjunto com a família e a escola, criando um ambiente mais inclusivo e acolhedor. Hoje em dia, está sendo muito utilizada também a abordagem comportamental para o TEA como a Análise Aplicada do Comportamento (ABA), que ajuda a identificar comportamentos problemáticos, como irritabilidade ou agressividade, e ensinar alternativas funcionais e utiliza-se do reforço de comportamentos positivos, como seguir instruções ou interagir com outras crianças para melhorar dessa maneira a qualidade de vida da criança. É necessário dar suporte emocional à família também utilizando da psicoeducação para ajudar os pais a entenderem o TEA, os impactos das crises epilépticas e as limitações e possibilidades da criança e orientar sobre como interagir com a criança de maneira que estimule o seu desenvolvimento. Deve-se dar atenção também para o monitoramento e a avaliação. A avaliação periódica verifica o progresso nas áreas de desenvolvimento, ajustando as intervenções conforme necessário e a identificação precoce de dificuldades ajuda a observar sinais de regressão, comportamentos repetitivos exacerbados ou dificuldades emocionais que possam surgir. Com esse estudo foi possível realizar a investigação de como a rotina de uma criança diagnosticada com TEA pode ser impactada de maneira benéfica com a utilização da terapia associada: os medicamentos para amenizar os traços desadaptativos do transtorno, porém, com o vislumbre atento dos efeitos adversos; o psicólogo para contribuir no tratamento e no amparo à família em situações como estas, e com um olhar minucioso em todas as contingências variáveis do comportamento humano, incluindo os efeitos dos fármacos no corpo do ser humano.

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Publicado

2024-12-18

Como Citar

Ferreira da Silva, L., Coldebella, T., Phelipe Dal Moro Alves, H., Donatti, G., Piccoli D’Agostini, F., & Vanz, F. (2024). ESTUDO DE CASO DE UM PACIENTE COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: UM OLHAR PARA O TRATAMENTO MEDICAMENTOSO E PSICOTERÁPICO. Anuário Pesquisa E Extensão Unoesc Videira, 9, e36815 . Recuperado de https://periodicos.unoesc.edu.br/apeuv/article/view/36815

Edição

Seção

Área das Ciências da Vida e Saúde – Resumos expandidos