ESTÁGIO EM PSICOLOGIA CLÍNICA NO ÂMBITO PÚBLICO EM UM MUNICÍPIO DO EXTREMO OESTE CATARINENSE

Autores

  • Francieli Baumgratz UNOESC
  • Chancarlyne Vivian Unoesc

Resumo

Introdução

O estágio foi realizado no Centro de Especialidades em um Município do extremo oeste catarinense, onde desenvolvi o atendimento clínico a população em geral. A procura pelo serviço de psicoterapia é feita por meio de consulta médica nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou através do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) que também faz a regulação da fila. Norteada pela Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), que tem por diretrizes as atitudes facilitadoras: compreensão empática, a congruência e aceitação incondicional.  A psicoterapia na visão com Conselho Federal de Psicologia é vista como um instrumento para promover mudança, requer o estabelecimento de uma relação entre duas ou mais pessoas, que é a base da intervenção. O estabelecimento de uma aliança terapêutica, a partir dessa relação, é fundamental em qualquer modelo psicoterapêutico.  Podemos definir a ACP não como uma técnica, porque ela está toda embasada na crença no potencial do outro, por meio do nosso conceito de tendência atualizante, tudo o que podemos fazer, é buscar criar condições favoráveis para que a pessoa possa se perceber de forma mais inteira e intensa e, quem sabe, perceber em si novas alternativas para lidar consigo mesma.  A congruência ou a autenticidade que é uma maneira de estar de forma inteira. E a aceitação incondicional, que trata da capacidade imprescindível que eu desejo ter em aceitar o outro levando em consideração que o outro faz o melhor que pode, ainda que aos meus olhos pareça pouco ou nada. Deste ponto em diante procuro contextualizar a experiência que vivi nesses noventa dias de estágio clínico que ocorreu no âmbito público em um municipio do extremo oeste catarinense.

Desenvolvimento

 O atendimento psicológico no âmbito da saúde  é oferecido aos cidadãos dez sessões de psicoterapia que ocorrem semanalmente com duração de quarenta e cinco minutos cada. Após esse período caso se entenda que existe necessidade de continuar o atendimento o usuário deve retornar para a fila e aguardar ser chamado novamente. Esse limite evidencia os desafios enfrentados no acesso contínuo aos serviços de saúde mental. Durante esse período os atendimentos foram realizados em salas do terceiro e posteriormente segundo andar.  Como se trata de atendimento no serviço público é compreensível que a sala não estará decorada, mas deve estar minimamente preparada para que seja possível fazer os atendimentos de forma ética e confortável. Levando em consideração que a entrevista de ajuda pode ser realizada em quase todos os lugares, mas em geral imaginamos que aconteça em uma sala, só não deve parecer ameaçadora nem ser barulhenta. A respeito de como se dará o atendimento, não existe uma regra, eu adotei o atendimento com duas cadeiras posicionadas uma na frente da outra de forma que o cliente pode me olhar, e eu também me sinto à vontade dessa forma. Quando os atendimentos foram direcionados para o segundo andar senti uma dificuldade maior no que dizia respeito a barulho e também a interrupções. Porque a entrevista inicial é o momento onde se começa o processo de criação de vínculo e necessita de concentração. Acerca das interrupções penso que devemos tomar cuidado com os avisos de porta para não assustar o próximo cliente e ainda fazer um trabalho de conscientização da equipe sobre a importância de não interromper. À medida que avançava nos atendimentos, comecei a questionar a limitação da quantidade de sessões para cada cliente. Embasada na ACP, defendo que a interrupção dos atendimentos ou mesmo a "alta" deveria ser uma decisão tomada pelo cliente, e não pelo psicólogo. Quanto isso pode impactar no processo de crescimento pessoal do cliente? A partir disso, percebi a importância de facilitar o processo a cada atendimento. Os atendimentos psicoterapêuticos iniciaram no dia seis de março do ano de 2024, recebi nove clientes, dois deles adolescentes com dezesseis e dezessete anos, os demais adultos, com idade até setenta e cinco anos. Os atendimentos foram agendados através de mensagem de texto pelo aplicativo WhatsApp. Organizei três atendimentos por turno. O contrato de prestação de serviço foi feito verbalmente. As faltas deviam ser justificadas, assim como duas faltas sem justificativa cancelariam o atendimento. Neste caso o cliente deve entrar na fila para nova solicitação de atendimento psicoterapêutico. Dos nove clientes iniciais, três perderam a vaga por falta e três cancelaram o atendimento, estes encaminharam mensagem de texto por aplicativo WhatsApp mencionando que não tinham interesse em continuar com o atendimento. Com a abertura de novas vagas, foram chamados para atendimento psicoterapêutico mais seis clientes. Os clientes foram encaminhados pelo CAPS do município de Maravilha -SC. Assim como todos os encaminhamentos vieram com queixa de ansiedade, e destes, três também relatavam depressão. Um total de sete clientes ou 77% faziam uso de algum medicamento para ansiedade ou depressão. Outro dado que considero relevante é que 77% dos clientes atendidos são do sexo feminino. E também pode-se observar que 44% tem idade superior a sessenta anos. E por último, mas não menos importante, dos nove clientes atendidos somente um já havia feito psicoterapia. Cada cliente teve um registro eletrônico no Google Drive para documentação dos atendimentos, conforme orientação do Conselho Federal de Psicologia, prezando sempre pelo sigilo. Acerca da procura por atendimentos psicológicos é importante salientar que neste município, a demanda por serviços de saúde mental no setor público excede a oferta, levando a uma longa lista de espera e a limitações na quantidade de sessões disponíveis para cada paciente. Isso ressalta a necessidade de investimentos contínuos no setor público de saúde mental para garantir que todos que precisam de ajuda possam acessá-la de forma oportuna e eficaz. No entanto se percebe que conforme o Plano de saúde municipal 2022-2025, o objetivo do governo é “manter” a estrutura vigente. Diante dos fatos apresentados entendo que o atendimento psicoterapêutico individual é somente uma das formas de atender no serviço público. Percebi que os grupos de encontro e o plantão psicológico são pouco utilizados. Atualmente não há nenhum grupo de encontro ativo. E o plantão psicológico é utilizado como ferramenta para regular a fila de espera.

Conclusão:

Atuar no serviço público foi um desafio considerável, principalmente devido à minha falta de familiaridade com a rede. Outro ponto de desafio foi lidar com a desistência e ausência dos clientes nos horários agendados minha frustração não estava relacionada à minha função como estudante de psicologia, mas sim ao funcionamento do serviço de saúde pública, onde a ausência do cliente não afeta apenas o seu próprio processo, mas também torna o sistema menos eficiente. Percebi que nem todos os casos atendidos necessitam especificamente de psicoterapia individual.  A oportunidade de vivenciar junto com os clientes experiências únicas e aprender com cada uma delas que o ser humano é singular na sua forma de ser, de se desenvolver e respeitar esse processo facilitando sempre, são aprendizados que levarei para minha jornada profissional. A aqueles que confiaram no meu trabalho e proporcionaram a oportunidade de aprender sou grata, toda minha prática está pautada no desejo de facilitar o processo para uma caminhada com respeito, buscando ser congruente, assim como espero que tenha conseguido colocar em prática a empatia, e a escuta atenta.  

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Biografia do Autor

Chancarlyne Vivian, Unoesc

Docente do curso de Psicologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC)

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Publicado

2024-09-09

Como Citar

Baumgratz, F., & Vivian, C. (2024). ESTÁGIO EM PSICOLOGIA CLÍNICA NO ÂMBITO PÚBLICO EM UM MUNICÍPIO DO EXTREMO OESTE CATARINENSE. Anuário Pesquisa E Extensão Unoesc São Miguel Do Oeste, 9, e35405. Recuperado de https://periodicos.unoesc.edu.br/apeusmo/article/view/35405

Edição

Seção

Área das Ciências da Vida e Saúde – Resumos expandidos