BRINCANDO COM A TRANSFERÊNCIA: UM ESTUDO DE CASO PSICANALITÍCO

Autores

  • Brenda Luiza Tessaro Bigoni Unoesc
  • Matias Trevisol

Resumo

INTRODUÇÃO: Neste resumo, exploraremos a transferência infantil por meio do brincar no contexto clínico, sob a perspectiva da teoria psicanalítica. Analisaremos um caso clínico atendido por uma estagiária do curso de Psicologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) durante o Estágio Curricular Supervisionado 1, realizado na Clínica de Psicologia da instituição.

DESENVOLVIMENTO: Para ilustrar o caso, em consideração ao sigilo, o paciente será mencionado pelo nome fictício Bryan. No primeiro atendimento realizado com a mãe de Bryan, ela demonstrou preocupação com o filho, pois o mesmo apresentava medo de dormir sozinho, o principal ponto frisado pela mãe foi a preocupação de quando arrumasse um namorado, como seu filho reagiria ao dar espaço para seu companheiro dormir com ela. No primeiro atendimento, Bryan, uma criança de sete anos, não demonstrou angústia ao deixar a mãe na sala de espera. Ele estava animado e fazia diversos questionamentos, buscando semelhanças entre sua vida e a da estagiária. No contexto da psicanálise com crianças, o brincar emerge como uma das principais ferramentas no atendimento infantil, sendo essencial compreender o contexto histórico. Através das contribuições Freudianas em ‘‘Escritores Criativos e Devaneios’’ (FREUD, 1907/1996a), fala sobre aspectos da vida infantil, introduzindo a ideia de que o brincar na infância corresponde à fantasia e  à escrita criativa na vida adulta, onde ambos (fantasia e escrita) criam um mundo próprio, ou possibilita que o sujeito adapte alguns elementos ao seu mundo, o tornando mais agradável. Apesar de (FREUD 1909/1996b) não ter atendido crianças diretamente, deixou algumas contribuições no texto ''Análise de uma fobia em um menino de cinco anos''. Alguns encontros com o pai do pequeno Hans, forneceu algumas especificidades sobre a psicanálise infantil com crianças. Em outro texto, ‘‘A história de uma neurose infantil’’ (FREUD 1918/1996e) também discorreu da psicanálise com criança, através dos sonhos que seu paciente adulto trazia sobre sua história na infância. A respeito do brincar, no texto ‘‘Além do Princípio do Prazer’’ (FREUD 1920/1996f), observou seu neto de um ano e meio de idade, e a partir desta observação detalhada ele reconhece e interpreta o jogo fot-da, a autor interpretou a relação do jogo ao fato de deixar a mãe ir embora sem protestar, sendo que o brincar caracterizava-se, com um modo de a criança se expressar e elaborar a ausência materna. Para (WINNICOTT 1975) por sua vez, o manejo da técnica, enquanto método de intervenção com as crianças, está atrelado ao ato de brincar, o brincar não apenas como meio de expressão, mas também como experiência criativa durante o processo analítico, as falas e as brincadeiras vão ganhando sentido, a partir do encontro entre paciente e terapeuta. No refletir sobre o brincar, é possível estabelecer uma relação com a importância do brincar no caso clínico atendido. Ao chegar para o atendimento, Byran ia diretamente ao armário para escolher um brinquedo, a estágiaria precisava participar de todas as brincadeiras em que ele escolhia. Por si só, o brincar é visto como uma terapia, (WINNICOTT 1975) sugere que o brincar tenha maior importância do que os momentos de interpretações. Durante as sessões, um vínculo foi se formando entre o paciente e a estagiária. Isso permitiu que Bryan se sentisse mais à vontade para compartilhar aspectos de sua vida pessoal durante as brincadeiras. Após algumas sessões, Bryan compartilha com a estagiaria que sua mãe arrumou um namorado. Diante disso, ele passa a brincar mais frequentemente com a casa terapêutica, criando nomes para os bonecos e montando uma casa imaginária, onde escolhe que a estagiaria seja sua namorada. Neste contexto, é relevante compreender a importância da transferência para a psicanálise.  (FREUD1996a) diz que existe uma parte de investimento pulsional ligadas, a ideias reprimidas, retiradas e impedidas de se tornar consciente, estes impulsos inconscientes, estão ligados em como o sujeito estabelece relações afetivas, desta forma, ao se relacionar com outras pessoas, já temos ideias antecipadas sobre elas, Freud nomeia esse fenômeno de transferência, o qual reforça ser um processo presente em todas as relações humanas. Portanto, a transferência permite que o paciente recrie e reviva afetos e experiências anteriores ao compartilhar sua história com o analista (MOREIRA 2018). Neste sentindo Winnicott, traz que o paciente não apenas transfere sentimentos para o analista, mas também o utiliza de forma criativa. O papel do analista é ser um instrumento para o sujeito explorar e compreender suas emoções e experiências (JANUÁRIO; TAFURI 2011). No contexto do atendimento, observamos que Bryan pode estar transferindo seus sentimentos relacionados ao novo relacionamento de sua mãe para o ambiente terapêutico por meio do brincar. Essa transferência ocorre quando ele projeta emoções e experiências passadas na relação com a estagiaria durante as sessões. O brincar, nesse caso, torna-se uma forma simbólica de expressar e processar os sentimentos. No contexto das crianças, a transferência nem sempre se manifesta por meio da linguagem verbal; muitas vezes, ela se expressa por meio de ações. Enquanto os adultos tendem a repetir experiências passadas, as crianças também incorporam o que estão vivendo no momento. Existe uma simultaneidade entre o passado e o presente em sua repetição (AZEVEDO 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante disso, compreendendo a relevância do brincar e considerando a transferência no contexto psicanalítico, observamos os sentimentos que Bryan expressava por meio do brincar e de suas fantasias. Através das vivências da criança, obtivemos uma compreensão da transferência que ela estava trazendo para o ambiente terapêutico. Desse modo, de acordo com (WINNICOTT 1975) é através do brincar criativo do analista e do analisando que a sessão acontece.

AZEVEDO, Luciana Jaramillo Caruso. A transferência na clínica psicanalítica com crianças. Rio de Janeiro. Cadernos UniFOA, dez 2018, (s.v) n.38 p.69-80.

FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer (1920). In: SALOMÃO, J. (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996f. Edição Standard Brasileira, v. 18. p. 2-75.

FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia em um menino de cinco anos (1909). In: SALOMÃO, J. (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996b. Edição Standard Brasileira, v. 10. p. 12-133.

FREUD, Sigmund. Da história de uma neurose infantil: o homem dos lobos (1918). In: SALOMÃO, J. (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996e. Edição Standard Brasileira, v. 17. p.15-129.

FREUD, Sigmund. Escritores criativos e devaneios (1907) In: SALOMÃO, J. (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996a. Edição Standard Brasileira, v. 9. p. 132-143.

JANUÁRIO, Lívia Milhomem; TAFURI, Maria Izabel. A relação transferencial para além da interpretação: Reflexões a partir da teoria de Winnicott. Rio de Janeiro. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, jul 2011, n. 2 v. 14. p. 259-274.

 MOREIRA, Fernanda Barros. A transferência na relação analítica: um retorno a Freud e Ferenczi. Londrina. Semina: Ciências Sociais e Humanas, jun 2018. V.39, n. 1, p.85-94.

WINNICOTT, Donald W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Downloads

Publicado

2024-09-09

Como Citar

Tessaro Bigoni, B. L., & Trevisol , M. (2024). BRINCANDO COM A TRANSFERÊNCIA: UM ESTUDO DE CASO PSICANALITÍCO. Anuário Pesquisa E Extensão Unoesc São Miguel Do Oeste, 9, e35348. Recuperado de https://periodicos.unoesc.edu.br/apeusmo/article/view/35348

Edição

Seção

Área das Ciências da Vida e Saúde – Resumos expandidos