TRANSFERÊNCIA NO PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO SEGUNDO LACAN: UMA ABORDAGEM NA CLÍNICA PSICANALÍTICA

Autores

  • Leticia Helen Crivilatti da Silva Crivilatti da Silva Universidade do Oeste de Santa Catarina
  • Matias Trevisol

Resumo

INTRODUÇÃO: O presente resumo tem por objetivo geral analisar a
concepção de transferência no processo psicoterapêutico segundo Jacques
Lacan e suas implicações para a prática clínica psicanalítica a partir de um
caso atendido pela estagiária do curso de Psicologia da Universidade do
Oeste de Santa Catarina (UNOESC), ao realizar o componente de Estágio
Curricular Supervisionado I. O local de atendimento foi a Clínica de Psicologia
da UNOESC. Ainda, tem como objetivos específicos: compreender a definição
de transferência na teoria lacaniana e explorar seus mecanismos de
manifestação no contexto terapêutico, assim como investigar a importância
da transferência na relação analista-paciente discorrendo sobre as suas
implicações clínicas.
DESENVOLVIMENTO: A transferência é um conceito fundamental na
psicanálise, inicialmente desenvolvido por Sigmund Freud e posteriormente
aprofundado por Jacques Lacan. Na perspectiva lacaniana, a transferência
não é apenas um fenômeno a ser observado, mas uma ferramenta essencial
para a revelação do inconsciente do paciente. Para o autor, a transferência
é um fenômeno estruturante no processo analítico, onde os desejos
inconscientes do paciente são projetados no analista. Tem-se, a partir disso, a
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ANUÁRIO PESQUISA E EXTENSÃO UNOESC SÃO MIGUEL DO OESTE - 2024
transferência como uma repetição simbólica das relações primárias do
paciente, revelando a verdade do sujeito através do seu discurso, uma
construção que possibilita a emergência do inconsciente na fala do paciente.
Nesse caminho, a associação livre é outro conceito central na prática
psicanalítica, introduzido por Freud e utilizado por Lacan em sua abordagem
teórica. Essa técnica permite ao paciente expressar pensamentos e
sentimentos sem censura, facilitando o acesso ao material inconsciente.
Durante a associação livre, os desejos e conflitos inconscientes do paciente
começam a se manifestar no discurso. É nesse contexto, que a transferência
se torna evidente, pois os conteúdos emergentes são frequentemente
projetados no analista. Lacan (1998) sugere que a transferência se alimenta
da associação livre, já que esta última possibilita que o inconsciente do
paciente se revele através de suas associações, permitindo que os elementos
transferenciais sejam identificados e trabalhados na análise (FREUD, 1976).
Nesse sentido, observou-se o processo terapêutico da paciente Rosa,
ilustramente identificada e inspirada na filósofa polonesa Rosa Luxemburgo,
em consideração ao sigilo paciente-analista. Observou-se, desde o início dos
atendimentos, que Rosa, uma mulher de 34 anos, demonstrou através de suas
falas uma busca por certa aprovação e reconhecimento. Em seu discuro,
Rosa frequentemente procurava reafirmações positivas da analista,
demonstrando ser importante receber validação. Essa postura tornou-se
perceptível também em suas narrativas sobre eventos diários, onde buscava
confirmação de que suas ações e escolhas estavam corretas. Dessa forma,
Lacan argumenta que a transferência se manifesta principalmente através do
discurso do paciente, no qual o analista é colocado no lugar de "sujeito
suposto saber", permitindo que o discurso do paciente guie o processo
analítico. Esta posição permite ao paciente transferir seus conflitos, fantasias e
desejos inconscientes para o analista, conferindo a emergência e
interpretação desses conteúdos. A partir disso, pode-se identificar que Rosa
projetou na analista, um desejo inconsciente relacionado a suas figuras
parentais, especialmente na necessidade de obter aprovação, validação ou
reconhecimento, como buscou em seus pais durante a infância. Ainda, Lacan
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adverte contra os perigos da contratransferência, onde o analista pode
projetar seus próprios conflitos no paciente. Por conseguinte, evidencia-se a
importância da transferência na relação analista-paciente, de modo que se
apresenta como vital para o progresso da análise, considerando que o
analista pode acessar o inconsciente do paciente e promover a elaboração
psíquica. Lacan, vê a transferência como uma encenação que deve ser
manejada com cuidado pelo analista para evitar a estagnação do processo
terapêutico. Em suma, esse estudo destaca a importância de uma
abordagem teórica sólida e uma aplicação prática cuidadosa da
transferência na prática clínica psicanalítica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Ao refletir sobre o processo terapêutico de Rosa e
perceber o movimento da transferência, adotou-se uma postura por parte da
analista de não fornecer imediatamente a aprovação que a mesma
buscava. Ao invés disso, optou-se por utilizar interpretações para ajudar a
paciente a reconhecer essa necessidade como uma repetição de seus
desejos infantis. Nesse sentido, a analista tem a possibilidade de interpretar
que a constante busca de aprovação na análise reflete uma busca similar na
relação com os pais, facilitando a paciente a elaborar esses desejos
inconscientes. Tem-se como processo importante o questionar, realizar
perguntas que ajudam a paciente a explorar e entender as raízes de sua
busca por validação. Através da análise dessas respostas, pode-se guiar a
paciente a reconhecer a repetição desses padrões em outras áreas de sua
vida. Com o decorrer do processo psicoterapêutico, a paciente pode
começar a entender que sua necessidade de aprovação está enraizada em
desejos inconscientes relacionados às suas figuras parentais. Esse
reconhecimento pode levar a uma elaboração desses desejos, permitindo à
paciente desenvolver uma maior autonomia emocional e reduzir a
necessidade de validação externa. O processo analítico facilita a
emergência de novos significantes, ajudando a paciente a reestruturar sua
relação com a busca de aprovação.
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REFERÊNCIAS
FREUD, Sigmund. A dinâmica da transferência. Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
LACAN, Jacques. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
O seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de
Janeiro: Zahar, 1985.

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Publicado

2024-07-08

Como Citar

Crivilatti da Silva, L. H. C. da S., & Trevisol, M. (2024). TRANSFERÊNCIA NO PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO SEGUNDO LACAN: UMA ABORDAGEM NA CLÍNICA PSICANALÍTICA. Anuário Pesquisa E Extensão Unoesc São Miguel Do Oeste, 9, e35158. Recuperado de https://periodicos.unoesc.edu.br/apeusmo/article/view/35158

Edição

Seção

Área das Ciências da Vida e Saúde – Resumos expandidos