A CULPA, OS CONFLITANTES E FREUD
Resumo
Introdução: O presente estudo tem como finalidade estudar e compreender
acerca dos sentimentos de culpa, também sobre o id, ego e superego, e o
significado da culpa com base na visão psicanalítica. O caso que faz
relação com o estudo foi atendido pela estagiária do curso de Psicologia da
Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) no campus de
Pinhalzinho, ao realizar o componente de Estágio Curricular Supervisionado I.
A culpa é um sentimento complexo e intenso, frequentemente abordado na
psicanálise como um fenômeno psicológico central na formação e
desenvolvimento do sujeito. Tem origem nas interações entre o inconsciente,
o superego e as experiências de vida, a culpa pode ser entendida como
uma resposta emocional à transgressão de normas e valores internalizados.
Desenvolvimento: A culpa é um tema recorrente nas obras de Sigmund
Freud, o fundador e pai da psicanálise. Ele propôs que a culpa surge do
conflito entre o id, o ego e o superego. O id representa os impulsos instintivos
e desejos primitivos; o ego, a parte racional e mediadora; e o superego, a
internalização das normas sociais e morais. Falando sobre o superego, este
desempenha um papel crucial na experiência da culpa. Ele é descrito como
uma estrutura que se desenvolve a partir da resolução do complexo de
Édipo, onde a criança internaliza as proibições e demandas dos pais. Esta
internalização cria um sentido de moralidade e autocontrole. Quando o ego
falha em mediar entre os impulsos do id e as exigências do superego, surge a
culpa como uma forma de punição interna. Nesse sentido, Freud explica:
O sadismo do Super-eu e o masoquismo do Eu complementam um
ao outro e se juntam para produzir as mesmas consequências.
Apenas assim, creio, pode-se compreender que da repressão
instintual resulte — com frequência ou em todos os casos — um
sentimento de culpa, e que a consciência venha a ser mais severa e
mais sensível quando o indivíduo mais se abstém da agressão a
outros. (Freud, 1923, p. 178).
É possível perceber na atuação em clínica que a culpa aparece em
diversas ocasiões, como entre sentimentos conjugais e entre relação aos
pais, é notável que os pacientes trazem sentimentos de culpa de forma
complexa e que precisam ser muito bem elaboradas, como por exemplo a
culpa pelo sentir desejo de uma pessoa que representou o amor no passado,
em conflito com a pessoa de desejo atual e a culpa também pelas pressões
que vinham da figura paterna no passado.
O fato de o Eu, na defesa contra determinadas excitações
desprazerosas vindas do seu interior, utilizar os mesmos métodos de
que se vale contra o desprazer vindo de fora, torna-se o ponto de
partida de significativos distúrbios patológicos. (Freud, 1930)
Conforme a citação de Freud (1930) acima, na clínica podemos ver
alguns dos mecanismos de defesa que aparecem na tentativa do sujeito de
lidar com a própria culpa, esses mecanismos podem ser a repressão e a
projeção, assim, é notável que o paciente tende a excluir os sentimentos e
pensamentos culpáveis da consciência e projetar os próprios sentimentos de
culpa em outra pessoa. É necessário também verificar, pois a culpa também
pode estar relacionada ao processo da depressão, que segundo Freud, a
melancolia pode estar interligada ao processo de identificação com objeto
perdido, ademais, pode-se tornar uma culpa neurótica que é persistente e
provinda de pensamentos repetitivos e desejos inconscientes.
Dessa forma, a psicanálise procura auxiliar os pacientes a
compreender e resolver a culpa inconsciente. Através da análise dos sonhos,
da associação livre e da exploração das transferências, os terapeutas
trabalham para trazer à consciência os conflitos latentes e promover a
adaptação dos impulsos reprimidos. A terapia busca equilibrar a culpa
saudável, que incentiva o comportamento ético, e a culpa neurótica, que
paralisa o indivíduo.
Considerações Finais: A culpa, segundo a psicanálise, é uma emoção
complexa que resulta da dinâmica entre as várias estruturas psíquicas e a
internalização de normas sociais. Compreender a culpa é essencial para a
prática clínica, pois ela desempenha um papel central em muitos distúrbios
psicológicos. Através da exploração e resolução dos conflitos inconscientes
relacionados à culpa, é possível promover o bem-estar psicológico e a
autocompreensão. A culpa não deve ser vista apenas como um peso a ser
eliminado, mas como uma oportunidade de crescimento e evolução.
Ao aprofundarmos na teoria psicanalítica, observamos que a culpa
não é apenas uma emoção negativa, mas também um elemento crucial no
desenvolvimento moral e ético do indivíduo. Em resumo, na prática clínica, é
fundamental que os terapeutas ajudem os pacientes a diferenciar suas
culpas, promovendo uma autoavaliação mais equilibrada e adaptativa. A
psicanálise, com sua profunda compreensão das dinâmicas inconscientes,
oferece valiosas ferramentas para essa jornada de autodescoberta e
crescimento.
REFERÊNCIAS
FREUD, S. O ego e o id. In: Obras Completas. v. 16. Rio de Janeiro: Imago,
1923.
FREUD, S. A repressão. 1915. Disponível em:
https://joaocamillopenna.wordpress.com/wp-content/uploads/2014/09/a-re
pressc3a3o.pdf. Acesso em: 19 jun. 2024.
FREUD, S. O mal-estar na civilização. In: Obras Completas. v. 21. Rio de
Janeiro: Imago, 1930.
GONÇALVES, Davidson Sepini. O sentimento de culpa em Freud: entre a
angústia e o desejo. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 25, n. 1, p.
278-291, jan. 2019. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-116820190
00100016&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 18 jun. 2024.
https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2019v25n1p278-291.
Downloads
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à Editora Unoesc o direito da publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.