"A CRIANÇA NA CONDUTA DA TERAPIA: UM ESTUDO SOBRE A LUDOTERAPIA CENTRADA NO CLIENTE"
Resumo
A ludoterapia, com base nos pressupostos da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), estabelece que um processo psicoterapeutico ocorre fundamentalmente através da relação humana. Estas relações, devem ser permeadas de respeito, com crença nas potencialidades da criança, estimulando-as a se sentirem valorizadas neste momento de crescimento. Neste contexto, a ludoterapia pode ser compreendida como um método de ajudar crianças a se ajudarem, já que o jogo é o meio natural de auto expressão. (Axline, 1972).
Para tanto, deve-se utilizar o recurso da brincadeira, pois, conforme afirmam Viana, Imbrizi e Jurdi (2017), brincar é uma manifestação de vida, um exercício pleno de imaginação e criatividade, um meio para contornar lógicas opressivas, e uma potência para criar caminhos e dispositivos para novos agenciamentos.
A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), desenvolvida por Carl Rogers, baseia-se em princípios fundamentais como a consideração positiva incondicional, a empatia e a congruência. Na ludoterapia, esses princípios podem ser aplicados para criar um ambiente seguro e acolhedor para a criança. A consideração positiva incondicional consiste em aceitar a criança sem julgamentos, permitindo que ela se sinta valorizada independentemente de suas ações ou sentimentos. A empatia exige que o terapeuta busque compreender profundamente as experiências e emoções da criança. A congruência implica que o terapeuta seja genuíno e autêntico, expressando-se de maneira verdadeira e transparente. Na prática da ludoterapia, esses princípios se refletem na maneira como o terapeuta interage durante as brincadeiras, criando um espaço onde a criança pode explorar livremente seus sentimentos e experiências, promovendo assim seu desenvolvimento emocional e psicológico.
Este estudo busca compreender a ludoterapia e a sua importância durante atendimentos psicoterapêuticos com crianças, baseado nas demandas práticas da Clínica Escola de Psicologia. Tendo como, um vislumbre das discussões teóricas dentro das práticas clínicas, com relatos de vivências pessoais da autora principal.
Na prática de ludoterapia na abordagem centrada na pessoa (ACP), segundo Dorfman (1992), a hora terapêutica pertence exclusivamente à criança, diferentemente de outras ocasiões em sua vida, onde ela pode ser solicitada a atender aos desejos dos pais, da escola ou de outras pessoas. Dorfman (1992) traz que geralmente a criança é trazida à terapia devido ao fato de ter desagradado ou preocupado algum adulto. Desta forma, raramente chega ao encontro terapêutico com desejo de auto explorar-se. “Ela se lança nessa experiência singular do mesmo modo que penetraria em outras novas experiências – amedrontada, entusiasmada, cuidadosa, ou de qualquer outra maneira que lhe seja típica em sua reação ante situações novas”.( Axline, 1984, p.68).
De uma forma generalizada, as crianças demonstravam no primeiro atendimento muita desconfiança, pois além do desconhecimento do que seria este espaço, demonstravam uma certa confusão daquele momento. Fazendo-se necessário duas a três sessões com conversas para que se sentissem à vontade para explorar o espaço, e aprofundar-se nas brincadeiras.
Dorfman (1992) expõe que uma das coisas que uma criança vivencia na ludoterapia é que há formas de descarga aceitáveis para seus sentimentos, não sendo necessário negá-los. Desta forma, a ludoterapia constitui-se em uma experiência socializante para a criança.
Alguns clientes em determinados momentos, “testavam os limites” dos quais eram impostos pela sociedade, dentro da sala de ludoterapia, e ao observarem que não havia repreensão daquilo que expressavam, se sentiam confortáveis para ser quem são.
O reconhecimento e a reflexão dos sentimentos da criança compõe um dos princípios da ludoterapia. Axline relata que “o terapeuta fica em alerta para reconhecer os sentimentos que a criança está exprimindo e os reflete de maneira tal que possibilite, a ela, uma visão interior do seu comportamento”. (p. 91). Durante os atendimentos, foi possível perceber que a utilização do reflexo de sentimento para com os clientes, é recebida de forma leve, tornando-se não ameaçadora e proporcionando um olhar mais amplo.
Axline (1984) afirma que o terapeuta não deve indicar o caminho que considera melhor, mas sim acreditar no potencial da criança para encontrar suas próprias soluções. Isso está alinhado com o sexto princípio da ludoterapia, que diz: "o terapeuta não tenta dirigir os atos ou a conversa da criança, de maneira alguma. É ela quem o faz. O terapeuta a acompanha" (Axline, 1984, p. 111).
Na prática percebe-se que cada atendimento é único, assim como cada criança. Pode-se perceber mudanças de comportamentos ao passar das sessões, e do vínculo terapêutico estabelecido. As brincadeiras tornaram-se mais autênticas, assim como a estipulação das regras e dos limites. Alguns clientes sentiram-se a vontade para buscar, e explorar outros espaços além da sala de ludoterapia, tendo a liberdade de criar o seu setting terapêutico, utilizando de brincadeiras diretas com o terapeuta, sem objetos ao meio.
Axline (1984) menciona que os limites estabelecidos são necessários para que a criança situe a terapia no mundo real e tome consciência de sua responsabilidade nesse ambiente. Concordando com Dorfman (1992), acredita-se que a definição dos limites da terapia varia conforme a capacidade do terapeuta de aceitar incondicionalmente o cliente de maneira autêntica e congruente. A utilização da ludoterapia no atendimento de crianças aproxima o terapeuta ao mundo do cliente, permitindo que a criança se expresse livremente por meio do brincar. As atitudes básicas do terapeuta, como congruência, empatia e aceitação incondicional do cliente, devem estar presentes, assim como a percepção dessas atitudes por parte da criança.
Conclui-se que, desde os primeiros momentos de interação com o ambiente e seu ciclo social a criança recorre ao ato de brincar como uma maneira de se comunicar, experimentar situações e compreender o mundo ao seu redor. Por fim, é importante ressaltar a relevância do profissional de psicologia como facilitador no processo terapêutico, especialmente na ludoterapia.
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