REPETIÇÃO PARA FREUD NO DISCURSO PSICOTERAPÊUTICO

Autores

  • Juciani Rigotti unoesc pinhalzinho
  • Matias Trevisol Unoesc

Resumo

O objetivo geral deste estudo é investigar o papel da repetição no discurso psicoterapêutico, aprofundando a compreensão dos fundamentos teóricos e analisando sua aplicação clínica. Para alcançar esse objetivo, estabelecemos os seguintes objetivos específicos: (1) analisar as concepções de repetição desenvolvidas por Freud e Lacan; (2) investigar como a repetição se manifesta no processo terapêutico, considerando suas relações com a transferência, resistências e padrões repetitivos; (3) examinar a influência da interpretação analítica na superação da repetição e na promoção da transformação psíquica.

A metodologia adotada neste trabalho consiste em uma revisão de literatura, baseada em uma busca sistemática por artigos científicos, livros e obras relevantes sobre o tema da repetição no discurso psicoterapêutico. A seleção dos materiais utilizou critérios de relevância, considerando autores clássicos como Freud e Lacan, bem como estudos contemporâneos que abordam a temática.

O conceito de repetição no discurso psicoterapêutico remonta às ideias pioneiras de Sigmund Freud. Em suas obras, Freud explora o papel da repetição na dinâmica psíquica dos pacientes, relacionando-a à recorrência de sintomas e à manifestação de resistências durante o processo terapêutico (FREUD, 1914/1996). Em seu trabalho inicial com o médico Josef Breuer, Freud utilizou a técnica da catarse, na qual o paciente recordava eventos passados para alcançar a descarga emocional e a resolução dos sintomas (FREUD, 1914/1996).

No entanto, sob uma nova técnica psicoterapêutica, a repetição assume uma forma distinta daquela observada na catarse. Freud observa que o paciente não se recorda diretamente dos eventos esquecidos e reprimidos, mas os expressa por meio da ação, atuando-os inconscientemente (FREUD, 1914/1996). Essa repetição, diferentemente da recordação, ocorre sem o conhêutico vai além da mera reprodução de eventos passados. Ela envolve a manifestação inconsciente de padrões e resistências que demandam a intervenção interpretativa do analista para possibilitar o encontro do sujeito com o real, transcender a repetição automática e promover transformações significativas no processo terapêutico (Miller, 2005).O conhecimento do paciente, tornando-se uma repetição inconsciente dos padrões passados.

Lacan, ao abordar a teoria da repetição freudiana, destaca que a repetição não deve ser confundida com a reprodução de eventos passados (LACAN, 1988). Ele enfatiza que a repetição envolve algo que escapa à lembrança consciente, algo excluído da cadeia significante, mas em torno do qual essa cadeia gira (FINK, s.d.). O analisando se esforça para articular o que está em questão, porém, muitas vezes não consegue localizá-lo sem a orientação do analista (FINK, s.d).

Para Lacan, a repetição está relacionada ao encontro com o real, que vai além do funcionamento automático do sujeito (LACAN, 1988,). O real interrompe a seriação automática dos significantes e atua como o nível causal que perturba o equilíbrio do Autômaton, a máquina psíquica regida pelo princípio do prazer (LACAN, 1988). Nesse sentido, a repetição na psicoterapia é um fenômeno que escapa à identificação com a transferência, indo além da mera rememoração aguda (LACAN, 1988).

A interpretação analítica desempenha um papel crucial na superação da repetição. Enquanto os pensamentos do analisando continuam a girar em torno do real sem atingi-lo, a interpretação possibilita um encontro com o real, levando o sujeito a uma experiência de confronto com a causa inconsciente (FINK, s.d.). Dessa forma, a repetição, tal como abordada por Freud e desenvolvida por Lacan, evidencia a relação entre o pensamento e o real, que só pode ser alcançada por meio da análise (LACAN, 1988).

Conclui-se que a repetição desempenha um papel central no discurso psicoterapêutico, conforme elucidado por Freud e desenvolvido por Lacan. Através do processo terapêutico, torna-se evidente que a repetição não se limita à simples reprodução de eventos passados, mas manifesta-se como uma ação inconsciente que reflete padrões e resistências do sujeito. A compreensão dessa dinâmica repetitiva possibilita ao analista identificar as lacunas e os impasses presentes na vida do paciente, levando-o a um encontro com o real e permitindo a transformação psíquica.

 

 

REFERÊNCIAS

 

FINK, Bruce. A causa real da repetição. Para ler o Seminário, v. 11, p. 239-245, 1997.

 

FREUD, Sigmund. Sobre a psicanálise. S. Freud, Obras completas, v. 12, 1996.

 

LACAN, Jacques. O Seminário-Livro II: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Jorge Zahar, 1990.

 

MILLER, Jacques-Alain. Silet: Os paradoxos da pulsão, de Freud a Lacan. Rio de Janeiro: J. 2005.

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Publicado

2023-07-18

Como Citar

Rigotti, J., & Trevisol, M. (2023). REPETIÇÃO PARA FREUD NO DISCURSO PSICOTERAPÊUTICO. Anuário Pesquisa E Extensão Unoesc São Miguel Do Oeste, 8, e32897. Recuperado de https://periodicos.unoesc.edu.br/apeusmo/article/view/32897

Edição

Seção

Área das Ciências da Vida e Saúde – Resumos expandidos