ESQUECERAM DE MIM: OS AFETOS EM FILHOS DE PAIS DIVORCIADOS

Autores

  • Mateus Zardo Unoesc São Miguel do Oeste
  • Matias Trevisol

Resumo

INTRODUÇÃO: O presente resumo tem por objetivo analisar algumas
perspectivas de filhos com pais divorciados, através dos relatos das
experiências de estágio de um acadêmico do 10º período da graduação.
Como objetivos específicos temos: Refletir acerca das considerações que os
filhos possuem sobre seus pais divorciados; Considerar os vínculos dos filhos,
perante a separação dos pais; Perceber os afetos produzidos nos filhos de pais
divorciados. As sessões foram desenvolvidas pelo componente de Estágio
Curricular Supervisionado II, sendo esta, uma disciplina do curso de Psicologia
da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), sob supervisão e
orientação de professor com CRP ativo. DESENVOLVIMENTO: A análise dos
conteúdos fez-se através de um enfoque psicanalítico, sendo que os dados
foram obtidos ao longo do segundo semestre de 2022, em atendimentos
semanais, com duração de 45 à 50 minutos, com dois pacientes (aqui
chamados de paciente 01 e paciente 02), respectivamente com 14 e 15 anos
de idade, na clínica-escola da universidade. Considerando as famílias como
sistemas que possuem indivíduos, porém, que também se relacionam entre si,
ao acontecerem mudanças com alguns dos membros dessa família, os outros
participantes também percebem/sentem essas mudanças, provocando
movimentos nessa conjuntura. Destarte, o divórcio também pode ser
considerado uma experiência, a qual pode gerar implicações no contexto
familiar. Assim como discorre Martínez e Matioli (2012), ao divorciar-se, muitas
vezes, o movimento pulsional que era dirigido ao antigo parceiro, agora é
dirigido aos filhos, por meio de outras demandas. Ao analisar um caso da
clínica escola, através da paciente número 01, uma situação pode ser
relacionada a este movimento, onde o pai, que não possui a guarda da filha
e reside em outro estado, traz em várias mensagens relatadas pela paciente,
reprovação frente ao recente namoro iniciado com um adolescente da
mesma idade. Essa reprovação por parte do pai da paciente pode nos trazer
algumas reflexões, como por exemplo: De que maneira a relação pai e filha
se alterou? Qual a possível nova posição da filha, frente ao pai? A pulsão que
antes era dirigida a mãe da paciente e agora se conduz a filha, torna o
namorado da filha uma possível ameaça para o pai, onde o medo do
abandono pode ser um sentimento presente, um segundo abandono, perdese a esposa e então perde-se a filha. E nesse meio de pulsões, entre pai e mãe,
encontra-se uma filha, que fica muitas vezes desamparada, entrelaçada
entre sentimentos como medo, raiva, e uma rígida confusão frente aos
acontecimentos que lhe são alheios. Outra situação passível de análise que
ocorreu durante os atendimentos na clínica, trouxe as luzes das sessões, os
resquícios de um divórcio na infância, em um paciente no momento,
adolescente. O paciente 02, relata que o divórcio de seus pais aconteceu no
período em que estava passando pela fase fálica do desenvolvimento
psicossexual, elaborado inicialmente por Sigmund Freud, e discutido por Farias
et al (2015), que representa a fase onde surgem na criança as primeiras
fantasias, e o contexto sexual é explorado, existem conflitos entre atração
erótica, medo, rivalidade e ciúmes. Atualmente, com 15 anos, descreve o
namoro que mantém, com muito ciúmes envolvido e o medo de abandono
aparente, como se houvesse um sentimento de posse na relação, e que pode
ser relacionado ao divórcio experienciado na infância. A maneira como o
paciente 02 internalizou essa experiência nos evidencia que, ao perceber o
divórcio como uma experiência de abandono, essa pode causar no indivíduo
alterações em suas maneiras de viver e se relacionar com os outros, no caso,
em seus relacionamentos amorosos, vivenciado um ciúme patológico, que
deve ser percebido pelo paciente, para que possa ser elaborado. Ainda sobre
o mesmo paciente, esse diz que não se recorda muito da situação do divórcio
que presenciou no passado, pois ainda era uma criança muito pequena,
relata que essa experiência o irritou muito no inicio, mas por fim, acredita que
foi o melhor que pôde ter acontecido, pois os pais não tinham uma boa
relação. Ao expor isso, Villanova et al (2019), retratam que a criança precisa
enfrentar a situação do divórcio quando essa acontece, elaborando e
formulando novas maneiras e estratégias de lidar com o contexto, até então
desconhecido, em que agora se encontra. Dessa forma, enfrentar essas
mudanças, é entrar em contato com os sentimentos acerca da situação, o
que pode provocar uma gama ainda mais complexa de sentimentos, muitas
vezes, sentimentos considerados negativos pelo indivíduo (como o medo do
abandono, já exposto anteriormente), o que pode dificultar o enfrentamento
da circunstância. Algumas percepções sobre o paciente 02, durante os
atendimentos, estão relacionadas a essas exposições, uma vez que, em seus
relatos o paciente aparenta ter dificuldades em encarar os sentimentos
advindos do divórcio dos pais, como quando diz que já não se importa mais
com o acontecido, pois acredita que foi a melhor decisão que poderia ser
tomada pelos pais, quando claramente, apresenta dificuldades em seus
relacionamentos atuais, que apontam uma provável relação com a
separação conjugal que vivenciou. Nos escritos de Trindade e Molinari (2011),
os autores dissertam sobre o processo de elaboração do luto nas conjunturas
de um divórcio, onde perder a pessoa que ama, produz uma dor psíquica,
fraturando os vínculos que muitas vezes, estão relacionados com os processos
culturais e entendimentos sobre o casamento, onde este deve ser eterno,
destinado até a morte, e o rompimento desse contrato, produz certo
sofrimento, abarcando o processo de luto. Esse luto pode ser estendido aos
filhos, uma vez que a relação pais-filhos, também percorre tais processos
culturais de entendimento do senso-comum, levando a dificuldades no
processamento das situações envolvendo o rompimento desse vínculo. Se
tratando de um processo de luto, podemos perceber a negação, como
característica presente nos atendimentos do paciente 02, pois, nota-se a
resistência frente a discussão do divórcio dos pais, trazendo muitas vezes, falas
que denotam a suposta superação da separação, e ideias de que, esse
divórcio já não o afeta. Em contrapartida, na paciente 01, percebe-se uma
maior abertura para discussão das vivências da paciente relacionadas a esse
contexto, possivelmente, também, pela separação dos pais de tal paciente,
ser um fato recente em sua vida, e que mobiliza muitas das suas questões
atuais. Além disso, referente a paciente 01, durante os atendimentos
puderam-se perceber algumas mudanças frente as percepções de seus pais,
uma vez que a partir de situações que ocorriam entre sessões, essas
percepções se alteravam, muitas vezes quebrando com a visualização
idealizada de um de seus pais. Esses acontecimentos, evidenciam os
processos de reformulação que acontecem nos filhos, a partir da separação
de seus pais. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A partir das exposições, trago a mesa,
a necessidade de reflexões a partir das considerações dos filhos, sobre os
processos de divórcio dos pais, uma vez que, também são parte do grupo
familiar , portanto, também são afetados por essas experiências. Não se pode
excluir os filhos dessas reflexões, estes envolvem-se nessa trama, apesar de não
serem participantes ativos na separação, também não são meros
visualizadores do contexto, visto isso, faz-se necessário a realização de
propostas e estratégias para a aproximação dessas crianças e adolescentes,
frutos de pais separados, para com o enfrentamento desses cenários.

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Publicado

2023-06-19

Como Citar

Zardo, M., & Trevisol, M. (2023). ESQUECERAM DE MIM: OS AFETOS EM FILHOS DE PAIS DIVORCIADOS. Anuário Pesquisa E Extensão Unoesc São Miguel Do Oeste, 8, e32798. Recuperado de https://periodicos.unoesc.edu.br/apeusmo/article/view/32798

Edição

Seção

Área das Ciências da Vida e Saúde – Resumos expandidos