CLÍNICA E PSICANÁLISE: A CRIANÇA E O BRINCAR

Autores

  • Mateus Zardo Unoesc São Miguel do Oeste
  • Matias Trevisol

Resumo

INTRODUÇÃO: O presente resumo tem por objetivo analisar a utilização de
atividades lúdicas na prática clínica infantil, através do relato da experiência
de estágio. Como objetivos específicos temos: Compreender as possíveis
percepções através das atividades lúdicas; Entender a elucidação do desejo
da criança com métodos lúdicos; Perceber as diferenças a partir de diferentes
atividades. As sessões foram desenvolvidas pelo componente de Estágio
Curricular Supervisionado I, sendo esta, uma disciplina do curso de Psicologia
da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) sob supervisão e
orientação de professor com CRP ativo. DESENVOLVIMENTO: A análise se fará
através da perspectiva da psicanálise,e os dados foram obtidos em um
período de 12 atendimentos, acontecendo de forma semanal, com duração
de 45 minutos. O paciente aqui será chamado de Icaro, sendo uma criança
do sexo masculino com idade de 07 anos. As sessões perduraram por um
período de 06 meses. Icaro em seus primeiros atendimentos demonstrava
interesse por uma espada de plástico ao qual sempre se direcionava no inicio
dos atendimentos, a espada era desembainhada e a bainha entregada ao
terapeuta, com o intuito de iniciar uma disputa entre os dois. Ao decorrer das
sessões a espada pôde ser relacionada ao falo, segundo Bonfim e Costa
(2014), Freud nos coloca o falo, em termos gerais, com um papel
representante do desejo. Icaro se mostrava muito agressivo nas brincadeiras
com a espada, de forma a agredir o terapeuta. A importância da brincadeira
é aparente em momentos que se percebe a associação livre como inviável
em crianças e se faz necessário o uso das atividades lúdicas como forma de
obtenção de resultados. De acordo com Winnicott (1975), a brincadeira
ocorre em uma área que não é externa nem interna, mas intermediária a ela,
como se o uso de objetos externos transpussesem a realidade interna do
indivíduo. A brincadeira com a espada foi uma situação interessante, e para
fins terapêuticos, a espada foi retirada da sala ao fim de um atendimento. Ao
retornar ao atendimento em sua próxima sessão, Icaro notou a falta da
espada e durante o decorrer dos 45 minutos, demonstrou uma postura
diferente das demais sessões, aparentando calma e possibilitando a
realização de outras atividades. Após essa retirada do falo, onde outras
atividades puderam ser utilizadas, houve o uso dos desenhos como
brincadeira sugerida pela criança. O desenho em si, deve ser considerado,
assim como diz Souza (2011), como uma forma de diálogo com a criança,
visando a produção do desenho como resultado de um trabalho psíquico,
trabalho este que deve ser interpretado, construindo a subjetividade do
paciente. Uma dessas reproduções em desenho pela criança, foi a do
terapeuta ao lado do pai de Icaro, onde o terapeuta era de um tamanho
menor que o pai, sendo que, após algumas sessões, outro desenho foi
realizado onde o terapeuta possuía um tamanho maior que o pai. Tal
característica após explorada, foi descoberta como uma possibilidade da
relação com a mudança do pai, que já é divorciado da mãe de Icaro, para
outro estado, diminuindo o contato com o filho. Como diz Genzler e
Pereverzieff (2017), a transferência na clínica infantil está mais sujeita a relação
transferencial que estabelece-se entre os pais e o psicoterapeuta. No caso
observado, o terapeuta se apresenta na relação transferencial possivelmente
como pai de Icaro. Outra manifestação obtida em desenho, foi a
representação do cocô, e também por diversas falas do paciente em sessão,
relacionadas a fase anal. A fase anal é onde a criança aprende a controlar
os esfincteres anais e a bexiga, sendo a região do ânus a mais prazerosa,
sentindo prazer ao produzir as fezes e a urina (ROMAGNANI et al, 2011).
Mantendo o foco na palavra controle, foi possível relacionar, essa fixação na
fase anal com aspectos e características demonstradas por Icaro durante as
sessões, tentando dominar o terapeuta nas diversas atividades conduzidas,
por exemplo, ao subir nos ombros do terapeuta a criança tentava manipular
os passos do terapeuta pela sala de atendimento, conduzindo com palavras
a direção do caminho percorrido, outro exemplo se demonstra durante as
brincadeiras, onde em nenhum momento o terapeuta possui a chance de
vitória, pois regras são criadas, ao bel prazer de Icaro. Outros momentos
presenciados durante sessão, fazem relação ao uso dos bonecos terapêuticos
aliados a brincadeira terapêutica, sendo, o brinquedo terapêutico uma
técnica que se utiliza de um brinquedo previamente estruturado, para
possibilitar a criança, alívio dos sintomas, como o medo e a ansiedade.
(FERRARI; ALENCAR; VIANA, 2012). Nessas atividades pôde-se perceber a
relação das brincadeiras com os bonecos terapêuticos disponíveis na sala de
atendimento, com a contagem de histórias pelo paciente e terapeuta,
momentos em que a criança direcionava bonecos mortos em lutas realizadas
na história, para o céu imaginário da brincadeira. Esse céu fictício, remete a
falas da mãe da criança, durante entrevista inicial, sobre a dificuldade de
Icaro em lidar com mortes recentes na família. Onde fica esse céu? Quem são
essas pessoas indo para o céu? Quem próximo da criança, teve um destino
parecido? São questões que se apresentam a partir das atividades realizadas
em sessão e demonstram a importância da brincadeira na terapia, como
forma de visar o bem-estar do paciente. Mesmo considerando a criança
como um sujeito completo, procurando sua voz e seu desejo dentro do
tratamento, ainda deve-se compreender o contexto social, pois como diz
Lacan (1969), o sintoma da criança pode responder ao que há de sintomático
na estrutura familiar. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante disso, ao abordar o tema
das brincadeiras, não somente como método de recreação, mas com
finalidades terapêuticas, emergem reflexões frente ao posicionamento da
psicologia em relação as crianças e a maneira como lidamos com elas,
trazendo respeito e sensibilidade ao cuidado infantil. Desse modo, é importante entender a dinâmica infantil na clínica, para que se torne possível
visualizar a criança de maneira holística, possibilitando mudanças norteadas
pela psicologia.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Downloads

Publicado

2023-06-19

Como Citar

Zardo, M., & Trevisol, M. (2023). CLÍNICA E PSICANÁLISE: A CRIANÇA E O BRINCAR. Anuário Pesquisa E Extensão Unoesc São Miguel Do Oeste, 8, e32797. Recuperado de https://periodicos.unoesc.edu.br/apeusmo/article/view/32797

Edição

Seção

Área das Ciências da Vida e Saúde – Resumos expandidos