A TERAPIA COMUNITÁRIA COMO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA DE TRABALHO DAS EQUIPES DE NÚCLEO DE APOIO A SAÚDE DA FAMÍLIA (NASF) NO ATENDIMENTO A SAÚDE MENTAL
Resumo
Este é um relato de experiência do trabalho como Psicóloga de um Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) na Atenção Básica de Saúde, em atuação e cuidado de usuários em saúde mental por meio da realização de grupo de Terapia Comunitária (TC). A proposta do grupo de TC surgiu com o objetivo de possibilitar e ampliar o acesso ao atendimento e ao acompanhamento terapêutico aos usuários de saúde mental na Atenção Básica de Saúde, estabelecendo uma relação de vínculo, um espaço de escuta, acolhimento, de cuidado, participação e integração social aproximando o serviço de saúde às necessidades dos usuários. Além de desenvolver o apoio assistencial às equipes de referência, Estratégia de Saúde da Família (ESF), a partir das necessidades e dificuldades apresentadas no atendimento à demanda em saúde mental. O trabalho foi desenvolvido em um município de pequeno porte do extremo oeste catarinense, com população, segundo IBGE (2010) de 5.551 habitantes, sendo uma experiência importante no sentido de possibilitar o cuidado integral e ampliado em saúde mental no SUS. A realização de grupo de Terapia Comunitária foi desenvolvida pela equipe de Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), formado por um nutricionista, um fisioterapeuta e uma psicóloga, com a coordenação da psicóloga da equipe. Os usuários eram em sua maioria trabalhadores rurais, em agricultura familiar, advindos de uma realidade de poucos recursos econômicos, sociais e com vínculos familiares e comunitários fragilizados. O grupo era aberto e participavam dele de 12 a 15 usuários. Os encontros tinham uma periodicidade quinzenal, com dia e horário fixo, sendo realizado na sala de grupo na Unidade Básica de Saúde. O grupo terapêutico seguia a metodologia da Terapia Comunitária, com as seguintes etapas: acolhimento, escolha do tema, contextualização, problematização, rituais de agregação e conotação positiva, avaliação e encerramento. No acolhimento ao grupo utilizaram-se técnicas de dinâmica de grupo, como o intuito de estimular o conhecimento popular, de modo ao grupo escolher o tema em cada encontro e a forma de expressão, entre elas: a contação de história, o teatro, a música popular, o desenho, a pintura e a escrita. A prática do grupo de TC, como um método de trabalho da equipe de NASF, com usuários em sofrimento psíquico possibilitou a formação de vínculos entre os profissionais e aproximou o serviço dos usuários e de suas necessidades, ampliando a resolubilidade das demandas no âmbito psicossocial. A construção de relações de confiança e vínculo no grupo ampliou o sentido de equipe e o aspecto de possibilidades de cuidado no território. A partir da experiência de valorização da vida e história dos sujeitos, a autonomia e a autoconfiança dos usuários se fortaleceu, como se pode perceber pelo sentimento de aceitação pessoal, respeito e reconhecimento por si mesmo. Foi perceptível a mudança de percepção do usuário acerca do seu sofrimento, pela resignificação da "dor". A partir da experiência vivenciada pelo grupo nos encontros de TC, alguns tornaram-se multiplicadores de saúde em suas comunidades, voltando a fazer parte de um coletivo. A partir do espaço de grupo, foi possível a escuta do indivíduo em suas singularidades, o acolhimento no serviços de saúde e o desenvolvimento de propostas e estratégias para ampliar as ações de saúde mental no território. Nesse sentido, a TC se apresentou como uma importante ferramenta de trabalho do NASF e pode também ser desenvolvida por equipes de saúde da família. A experiência de terapia comunitária como uma metodologia de trabalho do NASF se apresentou como uma importante ferramenta da clínica ampliada e psicossocial na ABS. Ela é condizente com a Política Nacional de Humanização e a Política Nacional de Promoção de Saúde e pode ser classificada como uma tecnologia de cuidado em saúde, com respostas satisfatórias, segundo a literatura e a nossa experiência, aos que participam desses grupos, sejam usuários ou profissionais. É importante destacar que o apoio matricial surge como proposta de potencializar e complementar as ações das equipes de referência no trabalho com a comunidade e, principalmente em pequenos municípios, é estratégico também ao cuidado em saúde mental utilizando-se de ferramentas como a TC para atingir aos seus objetivos.
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