PERCEPÇÃO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA COMO CONSTRUÇÃO SOCIAL DE GÊNERO

Autores

  • Danieli Covalski
  • Joseani Bandeira
  • Crhis Netto de Brum
  • Samuel Spiegelberg Zuge Universidade do Oeste de Santa Catarina

Resumo

Introdução: a procura por parcerias e atores sociais participativos na busca de uma nova forma de conceber e atuar em saúde aponta que a escola é um ambiente a ser explorado pelos profissionais de saúde. A escola é um espaço adequado para desenvolver estratégias de cuidado no qual os educandos e os educadores possam usufruir de programas interativos e dinâmicos que proporcione momentos para fornecer e sanar dúvidas sobre as mais diversas temáticas, como a orientação sexual. Essa estratégia poderá auxiliar na diminuição de agravos relacionados à vida sexual e reprodutiva dos educandos ao inserir o educador com um mediador nesse processo, uma vez que seu tempo no cotidiano escolar é permeado pela presença do educando (OLIVEIRA; MAIO, 2012). Objetivos: identificar a percepção dos educadores sobre a temática da orientação sexual na escola. Método: pesquisa de campo com abordagem qualitativa, descritiva exploratória. Os sujeitos da pesquisa foram 15 educadores que atuavam na Escola de Educação Básica Antônio Morandini, do município de Chapecó/SC. Os critérios de inclusão foram: educadores que ministram aula para ensino fundamental e/ou médio para adolescentes dos 10 aos 19 anos. Como critérios de exclusão: educadores que estivessem fazendo gozo de férias ou estivessem de licença. A coleta dos dados ocorreu por meio de uma entrevista, individual, semiestruturada, com um roteiro previamente elaborado. As entrevistas foram audiogravadas em um aparelho do tipo MP3 e, posteriormente, transcritas.. Os dados foram analisados em conformidade com a Análise de Conteúdo proposta por Bardin. O período de produção dos dados foi de setembro a outubro de 2014. O projeto passou pela aprovação da Secretaria de Educação do Município de Chapecó e do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal da Fronteira Sul/Campus Chapecó (UFFS/SC), o qual teve sua aprovação pelo registro número 753.432. Resultados: a percepção dos educadores sobre a orientação sexual na escola, como construção social de gênero, contempla duas perspectivas de atuação, uma centrada na corporeidade dos educandos e na concepção da distinção de gênero, e outra se encontra pautada na visibilidade da homossexualidade. Quanto à abordagem do tema, a forma mais confortável que os educadores encontram para trabalhar a orientação sexual com os adolescentes foi separando os meninos das meninas, pois muitos se sentiam envergonhados ao falar do tema. Em relação à construção de gênero, uma prática atrelada citada foi o fato de trabalharem em suas ações as diferentes estruturas familiares, não mais somente homem e mulher, instituindo o dia da família como forma de abranger todas as diversidades. Os educadores apontam a necessidade de se trabalhar a orientação sexual a partir da valorização do corpo, principalmente das meninas, uma vez que, na fase da adolescência, existem inúmeras descobertas, sentimentos, desejos e anseios que necessitam ser discutidos na escola. Ainda acreditam que a orientação deve ser trabalhada desde crianças, mas que isso muitas vezes não acontece, não havendo o diálogo com o jovem sobre as transformações que ocorrem no corpo, à sexualidade que cada vez aflora mais cedo e as opções sexuais que emergem. Apontam que a orientação sexual é uma questão de acreditar no que seja melhor para cada um, independente do sexo. Os educadores destacam a necessidade de trabalhar na orientação sexual com temas que abordem a homossexualidade e a homofobia. Entretanto, apontam que, além disso, seja trabalhado com o preconceito que envolve estes temas. Alguns educadores, ao trabalharem com o preconceito, o fazem dentro da sua disciplina, tentando encaixar com os conteúdos programáticos, buscando trazer um posicionamento crítico sobre o tema. Por fim, os educadores sinalizam que os meios de comunicação têm grande influência sobre os adolescentes, de tal forma que impõem as questões sobre a homossexualidade, regendo o comportamento das pessoas. Assim, percebem que a mídia acaba dificultando a orientação sexual, pois banaliza estereótipos sobre a sexualidade e quanto às escolhas sexuais dos adolescentes. Discussão: a análise aponta que o educador vislumbra o tema da orientação sexual como construção social de gênero relacionadas ao homem, a mulher e ao homossexual, sendo necessário ampliar essa concepção. Gênero engloba todas as várias formas da construção implicadas com processos de diferenciar mulheres de homens, e também privilegia os processos de construções biológicas, comportamentais e psíquicas percebidas entre homens e mulheres (NOGUEIRA, 2010). Conforme Avila, Toneli, Andalo (2011) pôde-se verificar que vários educadores não abordam as diversas e complexas faces da sexualidade e das performances de gênero, muitas vezes por que não as conhecem, por medo de incitarem o despertar da sexualidade e, também, por julgarem que este assunto deveria ser tratado pela família ou então por um professor especialista, por isso esse tema, em diversas vezes, é evitado ao máximo ser abordado em sala de aula. Tanto os pais quanto os educadores têm dificuldades em conversar com os adolescentes sobre orientação e sexual, não permitindo que eles tenham uma fonte segura para esclarecimento de seus questionamentos, fazendo com que esses jovens estejam mais vulneráveis a agravos como doenças sexualmente transmissíveis e gravidez precoce. Para que essas dúvidas sejam amenizadas os jovens buscam resposta nos meios de comunicação, sociedade e circulo de amigos que representam outros espaços de informação sobre diversos assuntos, mas que nem sempre trazem informações corretas e confiáveis (BASTOS et al, 2010). Os educadores vêem a mídia como fontes de informações muitas vezes errôneas, pois esta trás conteúdos por vezes inadequados a idade de crianças e jovens que se encontram na fase de formação dos valores, conceitos, modelos de conduta e comportamento sexual, criando confusões e distorcendo a verdade (SANTOS; RUBIO, 2013). Para Bastos et al (2010) os meios de comunicação devem ser levados em consideração como influências a estimular a sexualidade, pois é por meio destes os adolescentes têm acesso rápido a informações, que se difundem como formas agressivas e hiperestimulantes de marketing, gerando dúvidas e desconforto sobre temas como virgindade, fidelidade, namoro, casamento, entre outros. Por isso o educador tem que orientar e fazer refletir de forma crítica e questionadora estas questões que são disseminadas pelos vários meios de comunicação, buscando evitar que os adolescentes se tornem pessoas com valores e condutas orientadas exclusivamente pelo mercado, num comportamento vulgarizado e socialmente inconveniente. Conclusão: ao concluir este estudo pôde-se perceber que ao serem indagados sobre o tema orientação sexual, os educadores a identificaram como questão de gênero e quanto à valorização do corpo, mantendo por vezes a perspectiva do enfoque biológico. Diante disso, salienta-se que a escola é o espaço onde busca-se formar o indivíduo por inteiro, sem preconceitos e sem tabus. Uma proposta de educação sexual, em nível escolar, torna-se indispensável, pois abre caminho para jovens e crianças ampliarem a educação recebida anteriormente. Tendo em vista que os educadores apresentam dificuldades ao abordarem a orientação sexual, mostrando ser um limite a ser vencido pelos mesmos, vemos a possibilidade de a Enfermagem, por meio do seu olhar holístico, reflexivo e crítico, estar auxiliando a escola, educadores e família nesse processo de orientação sexual, seja na forma de capacitações, sensibilizações, conversas, debates, dinâmicas e, também, abrindo espaço nos serviços de saúde para que a equipe multiprofissional se insira na escola ou ,então, que a escola, educador, família e adolescente busque o serviço de saúde para além das suas necessidades individuais. PALAVRAS CHAVE: Educação. Orientação Sexual. Enfermagem.

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Biografia do Autor

Samuel Spiegelberg Zuge, Universidade do Oeste de Santa Catarina

Enfermeiro. Doutorando em Enfermagem pelo PPGENF Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS). Mestre em Enfermagem pela UFSM/RS. Licenciado em Educação pelo curso de Formação de Professores para a Educação Profissional da UFSM/RS e Especialista em Gestão de Organização Pública em Saúde pela UFSM. Pesquisador colaborador do Grupo de Pesquisa em Psicologia da Saúde da UFRGS e participante do Grupo de Estudo e Pesquisa Interdisciplinar Saúde e Cuidado da UFFS. Bolsista de Doutorado/CAPES. Professor colaborador da Universidade do Estado de Santa Catarina. Professor Efetivo da Universidade do Oeste de Santa Catarina - Campus SMO. Tem experiência profissional na área da Enfermagem com ênfase em Clínica Cirúrgica e Médica, Centro Cirúrgico, CME e Sala Recuperação Anestésica. Atua nos seguintes temas: abordagem quantitativa, saúde do adulto e idoso,Centro Cirúrgico, Diagnóstico de Enfermagem, Processo de Enfermagem, Condições Crônicas de Saúde, Adesão ao tratamento medicamentoso e questões relacionadas a vulnerabilidade.

Referências

AVILA, A. H; TONELI, M. J. F; ANDALO, C. S. de A.Professores/as diante da

sexualidade-gênero no cotidiano escolar. Psicologia em. estudo. v. 16, n.2, p.

-298, 2011.

BASTOS, V.C. et al. Educação sexual com mitos e verdades da sexualidade.In:

Seminários de Pesquisa em Educação da Região Sul – ANPEDSUL.2010.

Disponível

em:http://www.portalanpedsul.com.br/admin/uploads/2010/Educacao_e_G

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NARDI,H.C. Educando para a diversidade: desafiando a moral sexual e

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NOGUEIRA, D.M. Gênero e sexualidade na educação.In: ANAIS DO I SIMPÓSIO

SOBRE ESTUDOS DE GÊNERO E POLÍTICAS PÚBLICAS, 24 e 25 de junho de 2010.

SANTOS, I.A; RUBIO, J.de A.S. A Orientação Sexual nos anos iniciais do Ensino

Fundamental: Possibilidades e Desafios. Revista Eletrônica Saberes da

Educação. v. 4, n. 1, 2013

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Publicado

2017-11-01

Como Citar

Covalski, D., Bandeira, J., Brum, C. N. de, & Zuge, S. S. (2017). PERCEPÇÃO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA COMO CONSTRUÇÃO SOCIAL DE GÊNERO. Anuário Pesquisa E Extensão Unoesc São Miguel Do Oeste, 2, e15780. Recuperado de https://periodicos.unoesc.edu.br/apeusmo/article/view/15780

Edição

Seção

ACV Resumos expandidos