VULNERABILIDADE A INFECÇÃO PELO HIV ENTRE UNIVERSITÁRIAS
Resumo
Introdução: nas últimas décadas a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) tem passado por modificações em seu perfil epidemiológico, podendo ser caracterizado pela feminização e juvenização da epidemia. Cabe salientar que a relação desigual de gênero é hoje uma das principais causas do aumento da aids na população feminina. As dificuldades da mulher em negociar um sexo protegido permeiam a desigualdade de gênero e o estatuto de confiança e cumplicidade das parcerias estáveis, isso se dá independentemente do seu grau de instrução, poder aquisitivo ou autonomia financeira. Esta passividade no que tange as decisões da vida sexual e reprodutiva do casal está associada ao receio de prejudicar a relação conjugal e a vergonha de discutir assuntos ligados à sexualidade com companheiro. Além disso, as questões referentes à sexualidade feminina estão comumente relacionadas ao planejamento familiar deixando de lado às questões referentes à prevenção do HIV/aids (ALBUQUERQUE et al. 2010; SANTOS et al. 2009). O ingresso no ensino superior é uma transição que traz potenciais repercussões para o desenvolvimento psicológico das universitárias. O universitário vivencia este momento de dois modos: como algo difícil, em virtude de se sentirem sozinhos, e também como algo importante, devido à independência conquistada (TEIXEIRA et al. 2008). Neste período a sensação plena de liberdade, o distanciamento dos familiares e a sensação de desamparo, podem levar a necessidade de se aproximar de novos grupos de convivência e estabelecer novas relações de amizade e afetividade o que acaba expondo as universitárias a inúmeras possibilidades, que por vezes, as submete a situações de vulnerabilidade, inclusive no âmbito da vida sexual, como a exemplo, a exposição ao vírus HIV. Assim, a inquietação para a escolha deste assunto partiu de experiências/vivências pessoais e acadêmicas advindas do contato com mulheres adolescentes em atividades de ensino, pesquisa e extensão. Na condição de acadêmica e relembrando do ingresso na universidade, percebe-se que este momento se trata de um período onde os universitários ficam muito fragilizados, sentindose desamparados e buscam se inserir em grupos para construir laços de amizade e afetividade para se adaptar a esta nova realidade, o que poderá os tornar mais vulneráveis. Objetivo: identificar a percepção das adolescentes universitárias sobre a vulnerabilidade à infecção pelo HIV. Método: o estudo trata-se de uma investigação qualitativa, exploratório-descritiva, desenvolvida em uma Universidade de Chapecó/SC. Os sujeitos foram oito universitárias que ingressaram em algum dos cursos de graduação, com idade entre 18 e 24 anos, matriculadas na segunda e terceira fase e que estivessem em qualquer curso de graduação. Foram excluídas: universitárias que estivessem na primeira fase. Como a produção de dados foi por uma dinâmica grupal, as universitárias foram reunidas em um grupo que totalizou oito pessoas. A etapa de campo contou com dois momentos: a aproximação e ambientação com o cenário da pesquisa. E, a produção dos dados contou com a Dinâmica de Criatividade e Sensibilidade, a partir das seguintes questões geradoras de debate: O que tenho feito para cuidar do meu corpo em tempos de HIV/aids?. No presente estudo, foi desenvolvida uma dinâmica intitulada Mapa Falante, que se caracteriza como produção artística, pois se trata da construção de um mapa desenhado pelos participantes. Tal dinâmica propõe um espaço de discussão coletiva onde as experiências vivenciadas são representadas por uma Produção Artística. A distribuição do tempo de cada dinâmica foi aproximadamente de 1 hora, sendo 15 minutos para a Apresentação e Esclarecimento sobre a Dinâmica Criattiva e Sencibilidade - 1° e 2° momentos; 15 minutos para a PA - 3° momento; 30 minutos para a apresentação da PA, análise coletiva e validação - 4°e 5° momentos. Os dados foram analisados em conformidade com a Análise de Discurso Francesa. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos sob o número 1.163.155 e CAAE: 46412815.3.0000.5564. Os dados foram discutidos a partir do referencial de vulnerabilidade o qual contempla três planos interdependentes: individual, social e programático. Resultados: a categoria 1) Vulnerabilidade social: necessidade de informação e estratégias de prevenção, apontou que mesmo diante das maneiras de prevenção elencadas o que prevaleceu nos discursos, foi a questão da confiança no outro que foi considerada como uma medida preventiva, pautada na estabilidade da relação e no conhecimento do outro. A convivência e a intimidade construída nos relacionamentos parecem afastar, para grande parte das universitárias, o risco da infecção pelo HIV ou qualquer outra DST. As universitárias demonstraram não se perceberem vulneráveis ao HIV/aids por terem parceiros fixos ou por julgarem conhecer a pessoa com quem se relacionam. Relatam ser importante saber com quem se esta e estabelecer uma relação de confiança com o parceiro. Uma forma apontada para se estabelecer esta confiança foi através da conversa franca entre o casal, estando ligada ao caráter dos envolvidos, ao conhecimento e as atitudes que um tem com o outro. Associado a isso apontaram para a importância da limitação do número de parceiros sexuais. Já para algumas universitárias a confiança é algo que não funciona, pois algumas pessoas que vivem com aids não aceitam o diagnóstico e se propõem a transmitir a doença para outras pessoas, usando como artifício a confiança estabelecida ao longo do relacionamento. No que se refere ao uso do preservativo o discurso das universitárias vem de encontro a colocações de outros autores, que associam vários fatores durante os relacionamentos afetivo-sexuais. Mesmo com a melhora do nível de conhecimento sobre as DST e sobre o uso do preservativo, ainda é frequente a opção por não usar o preservativo durante as relações sexuais, diante disso a prevalência de pessoas infectadas pelo vírus HIV continua aumentando (BRUM, et al. 2012). Esta situação ficou evidente também nos discursos das universitárias deste estudo que parecem se eximir do cuidado relacionado ao HIV/aids uma vez que o uso do preservativo feminino não é citado como forma de prevenção, atribuindo esse cuidado ao parceiro. Isso mostra um baixo poder de negociação das mulheres ao uso do preservativo, portanto, uma maior vulnerabilidade às DST/aids. Conforme mencionado pelas universitárias, outros estudos também apontam para a resistência ao uso da camisinha principalmente pelo sexo masculino que justifica a escolha pelo fato de não sentir prazer durante a relação sexual com preservativo, pois sentem incômodo (uma pressão do preservativo sobre o pênis) e percebem a lubrificação diminuída (SANTOS et al. 2009). Essa situação pode ser confirmada também no presente estudo uma vez que a confiança foi o assunto mais explanado pelas universitárias nos discursos. Conclusão: os resultados apontam para a necessidade de ações efetivas para minimizar a condição de vulnerabilidade dessas universitárias, tais como: a implementação de um cuidado integral e efetivo, embasado em reflexões e discussões acerca das situações de vulnerabilidade das mesmas, a construção de novos conhecimentos sobre as suas situações de vulnerabilidade e o desenvolvimento de estratégias para melhor acolher essas acadêmicas nos serviços de saúde, além de promover espaços de troca de conhecimentos na universidade de modo a diminuir as situações de vulnerabilidade das mesmas. Palavras-chave: Saúde da mulher. HIV. Vulnerabilidade em saúde. Pesquisa qualitativa. Dinâmica da criatividade e sensibilidade.Downloads
Referências
ALBUQUERQUE, Verônica Santos; MOÇO, Ednéia Tayt-Sohn Martuchelli;
BATISTA Cláudio Sergio. Mulheres Negras e HIV: determinantes de
vulnerabilidade na região serrana do estado do Rio de Janeiro. Saúde soc.
[online]. Vol.19, suppl. 2, pp. 63-74. 2010.
BRUM, Crhis Netto de et al. Metodologia de pesquisa para a enfermagem a
saúde da teoria a pratica. Porto Alegre. 511p. 2015.
SANTOS, Naila J. S. et al. Contextos de vulnerabilidade para o HIV entre
mulheres brasileiras. Cad saúde pública.25(2): 321-33. 2009.
TEIXEIRA, Marco Antônio Pereira et al. Adaptação à universidade em jovens
calouros. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e
Educacional (ABRAPEE). Volume 12 Número 1 Janeiro/Junho 185-202, 2008.
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