VULNERABILIDADE PROGRAMÁTICA: OS SERVIÇOS OFERECIDOS E SUAS FRAGILIDADES NO CONTEXTO DO HPV
Resumo
Introdução: a partir das primeiras décadas do século XX a atenção à saúde da mulher passou a fazer parte das políticas públicas de saúde no Brasil. Ao longo dos anos, vem sendo discutida com o intuito de assegurar o direito a uma vida digna e com saúde. Como demonstra o resultado da pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, as mulheres representavam mais da metade da população, cerca de 51,03%, em vista disso se percebe a necessidade de atenção, de prevenção e promoção a esta importante parcela da população, principalmente, no que se refere a sua saúde. Nesta perspectiva, a mulher adolescente, também demanda de atenção especial por parte dos profissionais de saúde, principalmente nas questões sexuais e reprodutivas, pois este é um período de transição da infância para idade adulta, no qual as transformações ocorrem tanto no aspecto físico, quanto no psicológico. O início sexual sem o conhecimento necessário propicia um aumento da vulnerabilidade em relação às doenças sexualmente transmissíveis, especialmente, a infecção pelo Papiloma Vírus Humano (HPV) (CIRINO et al, 2010). O HPV é um DNA-vírus que pode induzir uma grande variedade de lesões proliferativas na região anogenital. Atualmente, há mais de 200 tipos de HPV descritos, as infecções podem apresentar-se sob a forma de verrugas genitais ou cristas de galo, é uma das IST mais frequentes no mundo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015). A maioria das mulheres que procuram a unidade de saúde para realizar a coleta do preventivo, são em sua maioria adultas e com idade acima dos vinte e quatro anos, visualiza-se um quantitativo aquém de mulheres, abaixo desta faixa etária que procuram a unidade, observa-se que a maior parte das ações de prevenção estão voltadas para mulheres que estão em situação vulnerável. Assim, tem-se a vulnerabilidade como uma possibilidade de considerar as diferentes situações de suscetibilidade das pessoas à infecção pelo HPV como resultante não apenas de aspectos individuais, mas também coletivos e programáticos (PADOIN et al, 2006). As vulnerabilidades das adolescentes tendem a aumentar à medida que as campanhas se distanciam dos sujeitos. Na vulnerabilidade programática, os recursos sociais que os indivíduos necessitam para se proteger devem ser disponibilizados de modo efetivo, quanto maior for o grau de qualidade, compromisso, programas nacionais de prevenção, maiores serão as chances de proteger os indivíduos contra os agravos (CZERESNIA, FREITAS, 2009). Objetivo: identificar as vulnerabilidades programáticas acerca do HPV, na percepção de universitárias. Método: Tratou-se de um estudo de cunho qualitativo, na modalidade exploratóriodescritiva, desenvolvido em uma Universidade Chapecó/SC, em setembro de 2015. Os sujeitos da pesquisa foram universitárias, com idade entre 17 e 24 anos matriculadas da segunda a oitava fase e em qualquer curso de graduação. Foram excluídas: as primeiras fases e as universitárias a partir da nona fase dos seus referidos cursos. Inicialmente, o projeto foi apresentado para as coordenações dos cursos de graduação, por meio de um e-mail explicativo. A aproximação com o cenário e com os potenciais participantes da pesquisa foi realizada durante as aulas, a partir de conversas informais com as universitárias. Para a produção dos dados foi utilizada a Dinâmica de Criatividade e Sensibilidade (DCS), fundamentada no Método Criativo e Sensível (MCS), foi desenvolvida a dinâmica do Mapa Falante, que consiste na construção de um mapa desenhado pelos participantes, propondo um espaço de discussão coletiva. O local e o horário foram definidos em conjunto com as participantes. O projeto recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP), sob parecer número1.163.155. As discussões referentes às dinâmicas foram audiogravadas em um aparelho digital do tipo MP3 playere e posteriormente transcritas, os sujeitos foram codificados com nome de flores. Resultados e Discussão: a partir do relato das universitárias constatou-se que as instituições de ensino se encontram despreparadas para trabalhar a orientação sexual em suas metodologias. Como destacado pelas universitárias a falta de uma orientação sexual de qualidade na educação básica foi prejudicial para o seu desenvolvimento e entendimento sobre a sexualidade. Outra questão relatada é a diferenciação entre o ensino nas escolas católicas para as escolas “normais”, sendo que nas escolas católicas o conteúdo sobre sexualidade é muito limitado, com uma visão fechada, levando a um distanciamento da realidade, atualmente o assunto é mais discutido, porém esse tema nem sempre é abordado de forma correta, causando desinteresse do adolescente. Segundo Lopes, (2015), o tema Educação Sexual em escolas públicas ainda é pouco abordado, levando os alunos a um insuficiente ou nenhum conhecimento sobre as formas de contágio, prevenção e tratamentos sobre as doenças sexualmente transmissíveis, em especial sobre o Papiloma Vírus Humano (HPV). A orientação sexual abordada por grande parte das escolas restringe-se apenas as aulas de ciências e biologia, onde as explicações concentram-se na anatomia e fisiologia do corpo humano. Quanto ao acesso aos serviços de saúde, exames e consultas podem ser agendados e a vacinação para evitar o HPV é disponibilizada e realizada nas escolas, o que é uma ótima forma de prevenção e também de abranger o público alvo. No entanto, quando ressaltada a idade estipulada pelo Ministério da Saúde para a realização do preventivo, os sujeitos de estudo destacaram que não concordam com a faixa etária preconizada de vinte e cinco anos, segundo elas o exame deveria ser realizado após o primeiro contato sexual, pois neste momento já acontece exposição ao vírus, salientam, que quanto mais cedo for detectado menor é o risco de desenvolver complicações decorrentes do HPV. Levando em conta a idade que o Ministério da Saúde preconiza, pode ficar subtendido que a contaminação e desenvolvimento do câncer e outras complicações só ocorreram a partir dessa faixa etária, há falta de informação, fazendo com que a adolescente deixe de fazer o exame e consequentemente de se prevenir. As universitárias afirmam que este exame deve ser exigido desde o início da atividade sexual. Conclusão: apesar das iniciativas em termos de políticas de saúde voltadas à saúde da mulher, como as campanhas de conscientização e divulgação para realização do preventivo, com acesso facilitado e gratuito, considera-se que este é um grupo altamente vulnerável às ISTs. Nesse sentido, no ambiente escolar se faz importante a educação em saúde e orientação sexual com jovens e docentes, que é imprescindível para prevenção das ISTs. O suporte educacional das instituições de ensino ou serviços públicos de saúde, buscando estratégias educacionais nas escolas que incentivem adolescentes a realizarem o exame preventivo após a primeira relação sexual, além de orientações a respeito do uso de métodos contraceptivos torna-se de grande relevância entre o público de adolescentes. Também é preciso associar às campanhas do preventivo à atividades educativas com o enfoque adequado a cada faixa etária, e com uma linguagem direita e apropriada, quebrando mitos e desmistificando tabus. Portanto é necessário o desenvolvimento de práticas de promoção de saúde.Palavras-chave: Saúde da Mulher. Vulnerabilidade em Saúde. Infecções por Papillomavirus. Pesquisa Qualitativa.Downloads
Referências
CIRINO, Ferla Maria Simas Bastos et al. Conhecimento, atitude e práticas na prevenção do câncer de colo uterino e HPV em adolescentes. Esc. Anna Nery. Rio de Janeiro. v.14, n.1, 2010. CZERESNIA, Dina; FREITAS, Carlos Machado de. Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. 2. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009. 229p. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA- IBGE. Estimativas de população para o Brasil em 2010. Brasília: Ministério da Saúde; Datasus 2010. LOPES, Marta Marques de Carvalho; ALVES, Fabiana. Conhecimento de adolescentes do ensino médio sobre DST, em especial sobre Papilomavírus humano-HPV. NBC-Periódico Científico do Núcleo de Biociências. Vol. 4, n 8, p. 15-26. 2015. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis, Brasilia DF, 2015.
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