MENTES ENJAULADAS: RESENHA CRÍTICA DO FILME "SI PUÒ FARE"
Resumo
INTRODUÇÃO: Este resumo é resultado das discussões e resenha crítica realizadas a partir do filme "Si può fare". A resenha crítica foi uma atividade avaliativa do componente curricular de Psicologia Institucional, do Curso de Psicologia, da Unoesc, Campus São Miguel do Oeste. O filme foi assistido por todo o Curso de Psicologia, como disparador das discussões realizadas no Dia da Luta Antimanicomial, 18 de maio. SOBRE O FILME SI PUÒ FARE: é de origem italiana, possui direção de Giulio Manfredonia, e foi inspirado nas experiências cooperativistas na Itália, na década de 1980. O filme permite reflexões quanto as dificuldades e preconceitos da sociedade para com as pessoas com transtornos mentais. No filme, o personagem Nello, dirige a Cooperativa 180, juntamente com seus sócios (ex-pacientes de um Hospital Psiquiátrico) que trabalham, num primeiro momento na colagem de selos em cartas (atividade assistencialista). O personagem, acreditando nas potencialidades de cada um, propõe um trabalho formal às pessoas com transtoros mentais, fugindo, assim, das assistências do Estado. Após uma assembléia, os sócios decidiram que a Cooperativa trabalhará com parquet. REFLEXÕES: A tradução literal do longa seria “Dá para fazer”, captando assim, para certos momentos em que não encaixam-se ou dão errado, permitindo realizar de outras formas, como a cena em que mudam a forma como constroem os parquets, antes sendo de maneira casual, e depois empregando o uso da estrela, com sobras dos parquets, sendo assim, visto como arte, moderno e exclusivo. Segundo Baremblitt (1992, p. 25) "as instituições são lógicas, são árvores de composições lógicas que, segundo a forma e o grau de formalização que adotem, podem ser leis, podem ser normas e, quando não estão enunciadas de maneira manifesta, podem ser hábitos ou regularidades de comportamentos." A partir disso, a Instituição visada ao pensamento manicomial é retratado no filme como lógicas de ser e estar da sociedade (regras, valores morais, leis) e que são levadas com o passar das gerações. Não tendo em vista a construção do Hospital Psiquiátrico, mas sim da concepção real que caracteriza e persiste sobre pessoas “fora dos padrões da normalidade” e que por este motivo que a Luta Antimanicomial deve perdurar aos olhares ignorantes da sociedade. Outro fator muito importante retratado no filme foi quando o diretor Nello entra na Cooperativa 180 e depara-se com os pacientes colando selo nas cartas destinadas a prefeitura. O que podemos relacionar com a descrença sobre suas capacidades de realizar trabalhos “normais” frente ás suas características que o levaram ao estabelecimento do Hospital Psiquiátrico. No filme, as falas chamam muito a atenção do telespectador, pois são fortes e carregadas de emoção, diferentemente de filmes americanos. O que atrai também é saber que o filme é baseado em cooperativas, que surgiram na década de 80 com o intuito de oferecer emprego a pessoas que saiam de manicômios. Trazendo a tona a questão de humanizar pessoas que geralmente não conseguiriam entrar no mercado de trabalho por não satisfazer o padrão aceitável. Luisa é uma intensa personagem, que interpreta uma jovem mãe com uma história de amor no bolso, por onde gera sua filha que nunca chega a conhecê-la. Foi espancada por seu pai por ser “imunda” e relacionar-se, concebendo uma criança com alguém que foge das suas responsabilidades. Logo, pela análise da cena, ocorre a lembrança do livro Holocausto Brasileiro, no qual, a jornalista conta histórias que foram ceifadas, principalmente de mulheres que foram levadas a força pela sua família ao conceber filhos bastardos de homens que as estupravam (ARBEX, 2013). Com o passar das cenas, surgem demandas prejudiciais ao grupo, como por exemplo, a elevada medicação, onde por sinal deixava-os lentos, com sono e até agressivos. A partir desta observação, Nello solicita ao médico Del Vecchio (Giorgio Colangeli) a diminuição dos medicamentos. Nisso, o médico responde que não há cura para doença mental. CONSIDERAÇÕES FINAIS: E é diante deste cenário que nos deparamos em como o uso de medicamentos e a atuação de profissionais de saúde pode aprisionar pessoas, taxar personalidades e estigmatizar pessoas em reabilitação. O fato de Nello tratar todos os “sócios” com igualdade e não com um olhar preconceituoso sobre suas características, faz com que o conjunto construa um favorável ambiente grupal entre os participantes. O personagem é um verdadeiro propulsor, ou seja, alguém que faz acontecer fora dos parâmetros de Hospital Psiquiátrico com o objetivo de questionar as logicas de funcionamento e também da promoção de saúde. Por fim, apesar de ser um filme do ano de 2008, observa-se que pouco se tem avançado em “tratamentos mentais” adequados que visam o bem-estar psíquico. Sendo que a Psicologia e a Medicina ainda se encontram distantes uma da outra. Se houvesse uma maior aproximação das duas profissões, poderíamos ter menos enjaulados em hospitais psiquiátricos.
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Referências
BAREMBLITT, Gregório. Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática: Sociedade e Instituições. 5.ed. Belo Horizonte: Instituto Felix Guattari, 2002.
ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro. 1.ed. São Paulo: Geração Editorial, 2016.
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