A COMUNIDADE COMO INIBIDORA DA VIOLÊNCIA NO OESTE DE SANTA CATARINA
Resumo
Nas frentes agrícolas das antigas colônias de imigração alemã dos séculos XIX e XX do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina formou-se um padrão cultural desvinculado da estrutura do Estado. Povos isolados geográfica e culturalmente, por meio de ações coletivas, instalaram e mantiveram um modelo comunitário de vivência, no qual a maioria das normas era estabelecida a partir das lideranças constituídas. Os núcleos foram projetados para acolher todas as formas associativas da comunidade (Igreja, clubes, escola, cemitério e áreas de lazer). Em meio à selva, onde a sobrevivência somente foi possível mediante a criação de um laço social horizontal, as 100 famílias, as quais, em média, compunham uma comunidade, construíram escola, sedes sociais, estradas, hospitais e estabeleceram um conjunto de normas que atravessou todo o tecido social. No universo pioneiro, algumas características serviam de andaime e alicerce, ideais se cruzavam no espaço da família, na escola e na vida social. Regras sociais e costumes foram paulatinamente incorporados a partir de mecanismos de coerção social. Sem parâmetros exógenos, as instâncias da família, escola, comunidade e religião transmitiram os valores e os ideais da cultura. A comunidade, por intermédio de sua coesão, controle e coerção, foi determinante na imposição de valores e de um conjunto de normas que disciplinava a vivência coletiva e, por conseguinte, inibia a violência. A presença do Estado e a entrada mais agressiva do capitalismo destituiu o modelo de autocontrole comunitário na segunda metade do século XX. E, nesse turbilhão, as práticas econômicas, sociais, religiosas e educacionais ganham nova subjetivação. O objetivo deste artigo foi apresentar as características do modelo tradicional de comunidade e do autocontrole da violência a partir do mecanismo de coesão social. A escritura apresenta dois blocos teóricos: o primeiro, de cunho histórico, apresenta uma retrospectiva acerca da criação do Estado e sua relação coercitiva sobre a população, e o segundo enfatiza o poder comunitário e o autocontrole da população sobre os membros que a constituem.
Palavras-chave: Comunidade. Homogeneização. Significações. Autocontrole.